HOLD THE LINE - Livro #01 escrita por Lyra


Capítulo 21
CAPÍTULO 21 - Maniac




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Trancada dentro do banheiro da família Byers, Louise esfregava desesperadamente suas mãos e braços embaixo da pia aberta utilizando muita água corrente e sabão em barra. Suas expectativas com aquele ato não era somente retirar qualquer resquício de terra e sujeira que carregava, mas afastar a estranha sensação que sentia na ponta dos dedos ao recordar da pancada dada em seu perseguidor.

Por não ter medido sua força ao utilizar a peça de ferro pesada e enferrujada como arma branca contra a cabeça do homem, duvidava que tinha apenas o desmaiado. E mesmo que a pancada não tivesse o matado logo de cara, a queda sobre o algoz teria finalizado com o serviço.

Louise compreendia que aquele era um ato necessário para a ocasião, sendo essa a única forma de evitar que ela, o irmão e as outras crianças acabassem dentro de um caixão de pinus. Entretanto saber que poderia ter destruído a vida de alguém de modo literal a assustava. Diferente do que os filmes de ação e jogos mostravam bancar a heroína não era tão divertido no final das contas.

Quando os arranhados dos braços começaram a arder devido à força que utilizava para limpá-los, ela retirou os últimos resíduos de sabão e encarou o próprio reflexo no espelho enquanto fechava a torneira. Odiava o que via. Seus cabelos estavam bagunçados e sujos, metade do nariz estava levemente roxa devido à cotovelada recebida no dia anterior e as olheiras fundas declaravam seu cansaço. Sentia como se tivesse sido atropelada pela viatura de Hopper, completamente acabada.

Ao notar que permanecia utilizando o uniforme de serviço e que o mesmo estava arruinado, Louise voltou a sentir-se sufocada com seus próprios pensamentos. Para tentar eliminar parte dessa sensação horrível, ela arrancou a gravata borboleta que utilizava no pescoço, retirou o colete jogando para o lado e abriu os dois primeiros botões da camisa que um dia havia sido branca.

Respirando ofegante pela segunda vez desde que ingressou no banheiro, ela apoiou ambas as mãos na pia enquanto tentava recuperar o fôlego. Ela precisava se acalmar para poder regressar até a sala, tinha de dar explicações sobre a confusão, incrementar coisas a metáfora da "pulga e o acrobata" que os meninos pudessem ter deixado passar e, principalmente, tinha de se mostrar forte para as crianças. Mesmo que agora tivessem Hopper, Joyce, Jonathan e até Nancy para ajuda-los, ela havia encabeçado o plano de deixar Eleven na casa do Mike e estava com os pré-adolescente desde o começo dos problemas, tinha de agir como líder dos pirralhos, ou melhor, como co-piloto de Mike. Afinal, tinha feito uma promessa com cuspe ao se tornar um membro honorário do grupo e nunca se quebra uma promessa dessas.

Utilizando da mesma tática realizada dentro do ônibus quando aguardava por resgate, Louise decidiu cantarolar uma de suas músicas favoritas do David Bowie até sentir parte do peso do mundo aliviar seus ombros e estar pronta para combate. A escolhida da vez foi "Life on Mars?" que apesar de não ser muito animada a letra condizia com a situação, principalmente as duas primeiras estrofes.

No instante que voltou a sentir-se mais segura Louise jogou um pouco de água gelada sobre a cara, pegou emprestado um dos agasalhos de Jonathan que estava pendurado atrás da porta do banheiro e regressou para sala de estar. Onde chegou em tempo de pegar a explicação de Mike sobre a "pulga e o acrobata", o menino tinha narrado todos os eventos enfrentados pelo grupo, desde a fuga de casa que resultou no encontro com Eleven até as coisas que descobriram pelo caminho.

— Louise, você está bem? — Perguntou Mike olhando preocupado para a adolescente, a qual apenas assentiu com a cabeça sentando no braço da poltrona ao lado do Hopper e gesticulou para que ele prosseguisse — 'Tá bem. Então nesse exemplo somos o acrobata, Will, Barb e aquele monstro são essa pulga. — Prosseguiu o menino mostrando o desenho feito com canetinha vermelha — E esse é o mundo invertido, onde o Will está escondido. O Sr. Clarke disse que a forma de chegar lá é uma dobra no espaço tempo.

— Um portal — Completou Louise para que aquilo fizesse mais sentido no mundo real.

— Que rastreamos até o laboratório — Disse Lucas.

— Com nossas bússolas — Falou Dustin, todos que não sabiam como a bússola funcionava naquele plano olharam com estranheza para as crianças.

— Explica, Dusty — Disse Louise gesticulando para que o irmão desenvolvesse o raciocínio. Apesar de ela própria poder narrar, não queria retirar o crédito do irmão mais novo pela descoberta científica.

— 'Tá bem — Concordou o menino — O portal tem um campo eletromagnético muito forte e isso pode mudar a direção da agulha de uma bússola.

— Esse portal é no subsolo? — Perguntou Hopper atraindo a atenção dos demais.

— É — Assentiu Eleven falando pela primeira vez desde que chegaram até a casa dos Byers.

— Perto de um tanque grande de água? — Novamente Hopper perguntou.

— É — Assentiu Eleven pela segunda vez.

— Como sabe disso? — Perguntou Louise franzindo o cenho enquanto olhava para o homem ao seu lado.

— Ele já viu — Respondeu Mike quando Hopper apenas respirou fundo, como se a pergunta fosse algo levemente estúpido.

— Tem alguma forma de você alcançar o Will? De falar com ele nesse... — Perguntou Joyce carinhosamente para Eleven, a qual olhava com estranheza par Hopper ao descobrir que o mesmo já esteve perto do portal.

— Mundo invertido — Completou Eleven antes que Joyce terminasse a frase.

— Invertido... — Repetiu a matriarca da família Byers estando assustada com toda a situação. Eleven balançou a cabeça positivamente sem dizer uma única palavra.

— E a minha amiga Barb? Consegue encontrar ela? — Perguntou Nancy.

— Não me diga que a Barb foi levada durante aquela festa idiota — Louise fuzilava Nancy com o olhar, fazendo com que a morena ficasse ainda pior com a situação. — Sabia que isso era culpa sua.

— Não foi culpa dela — Protestou Jonathan antes que Nancy pudesse dar qualquer resposta em defesa própria.

— Cale sua boca que não estou falando com você — Ordenou Louise erguendo o dedo em direção a Jonathan — A culpa da Barb ter sido levada é toda da Nancy, se usasse um por cento do cérebro teria percebido o desconforto da menina e não teria a deixado sozinha na piscina, Barb estava sobrando. Mas ela sempre pensou primeiro no próprio umbigo...

— Chega, Henderson! — Ordenou Hopper levantando da poltrona e olhando severo para Louise antes que uma discussão entre os adolescentes dessem início, por conhecer Louise a tempo suficiente ele sabia que ela não pararia de falar até ter dito todas as coisas que pensava — Esse não é o momento de ficar apontando dedos, sei que está com os nervos a flor da pele depois do que aconteceu no ferro velho. Mas precisamos achar uma solução. Então.. — Ele virou na direção de Eleven — Você consegue encontrar Barb?

A mais nova assentiu positivamente com a cabeça e levantou do chão, caminhando lentamente até a mesa da cozinha depois de ter tomado a foto de Barb das mãos de Jonathan. Por terem conhecimento prévio sobre como funcionava os poderes de Eleven na hora da busca as crianças não tardaram de ajudar a menina com a preparação, enquanto aqueles que nunca a viram utilizar de seus dons sobrenaturais olhavam impressionados e cheios de curiosidade.

Enquanto todos estavam se reunindo ao redor de Eleven para procurarem por Barb, Louise permaneceu levemente afastada dos demais. Sentada de cabeça baixa sobre o sofá da sala, ela acariciava as têmporas tentando afastar as dores de cabeça e as lágrimas que insistiam em regressar. Por mais que tentasse desviar os pensamentos, não conseguia crer que havia perdido outro melhor amigo para Nancy Wheeler. Dentre todas as pessoas do mundo, o último que imaginava ignorar toda sua história de vida para unir-se com o inimigo era Jonathan Byers.

— Hey, Lou — Suspirando, Jonathan aproximou da melhor amiga e sentou ao seu lado do sofá.

— Se está aqui para defender a Nancy quero que você vá tomar no olho do seu cú — Sussurrou a menina frustrada mantendo o olhar fixo sobre o chão e sem parar de acariciar as têmporas.

— Só quero conversar — Insistiu Jonathan sussurrando para não atrapalhar Eleven na busca por Barb.

— Se é sobre a Nancy, também não tenho nada a dizer — Resmungou Louise relutante em ouvir qualquer coisa que Jonathan tivesse para falar. — Aliás, desde quando vocês são melhores amigos?

Ao escutar a pergunta raivosa da melhor amiga, Jonathan sabia que teria de pensar cuidadosamente em suas próximas palavras. Seu último desejo era irritar Louise mais do que a adolescente estava, conhecia a melhor amiga tempo suficiente para reconhecer seus hábitos e ter noção de que ela se transformava em outra pessoa quando irritada, além de que o perdão não viria com facilidade dependendo de sua resposta. Ele queria que as coisas ficassem bem entre eles, que Louise compreendesse que Nancy não passava de uma companheira de aventura momentânea e que a última coisa que pretendia era perder Louise em sua vida quando foi grosseiro com ela no cemitério, talvez parte de sua resposta ríspida dava-se por ciúmes de Eddie e dos outros meninos.

Jonathan chegou a abrir a boca para respondê-la cuidadosamente de modo calmo depois de escolher sabiamente as palavras, mas foi impedido quando todas as luzes da casa piscaram. Louise levantou cheia de preocupação do sofá, metade de suas aflições dava-se em relação à Barb e a outra metade com a saúde de Eleven, a qual já vinha utilizando bastante dos seus poderes e não teve muito tempo para "recarrega-los".

— Desculpa — Pediu Eleven com pesar ao abrir os olhos.

— O quê que houve? — Perguntou Joyce nervosa olhando da criança em sua frente, para Louise que acariciava a cabeça de Eleven.

— O quê que aconteceu, El? — Louise abraçava a mais nova com ternura para lhe mostrar apoio.

— Não consegui encontrar — Respondeu Eleven chorosa.

— Está tudo bem, está tudo bem... — Louise forçou um sorriso enquanto a ajudava levantar da cadeira, não queria que Eleven pensasse que estava decepcionada por seus poderes não ter funcionado direito — Você deve estar cansada. Vá ao banheiro, lave o rosto e mais tarde tentamos novamente, pode ser? — Eleven assentiu em resposta — Muito bem.

Gentilmente Louise acompanhou Eleven até a porta do banheiro onde havia estado chorando alguns minutos atrás, ela esperou a mais nova entrar no ambiente fechando a porta atrás de si sem trancar. Quando El se situou, ela voltou para a cozinha unindo-se com os outros.

— Ela está cansada — Avisou cruzando os braços na frente do corpo. — Sempre que ela usa os poderes fica fraca.

— Quanto mais energia ela usa, mais cansada ela fica — Falou Dustin complementando a explicação da irmã.

— Tipo, ela virou uma van mais cedo — Disse Lucas contando sobre o feito chocante.

— Foi muito maneiro — Disseram Dustin e Louise em uníssono.

— Mas é como a Lola disse, ela está cansada — Complementou Mike antes que mudassem o foco da conversa.

— Como uma bateria ruim — Falou Dustin.

— 'Tá e como fazemos ela melhorar? — Perguntou Joyce estando desesperada para encontrar Will e salvá-lo do mundo invertido.

— Esse é o problema, não fazemos — Respondeu Louise sorrindo sem humor e balançando a cabeça negativamente — Temos que esperar ela estar pronta e tentar de novo.

— Quanto tempo? — Perguntou Nancy preocupada.

— Não sabemos — Respondeu Mike.

— A banheira — Eleven surpreendeu a todos quando voltou para a cozinha. Ela parecia mais segura e determinada para continuar com as buscas por Barb e Will.

— O que? — Perguntou Joyce virando na direção da menina.

— Posso achar eles na banheira — Respondeu Eleven olhando para Louise ao responder, já que além do Mike a adolescente era o seu porto-seguro desde que foi encontrada na floresta das trevas.

— Que banheira? — Perguntou Joyce olhando da Eleven para Louise.

— Como você disse que era o tanque mesmo? — Perguntou Louise colocando as mãos na cintura e virando-se para Hopper.

— Era de metal e estava cheio de água — Respondeu Hopper confuso com a pergunta. — Porque quer saber?

— Não é um simples tanque, é um tanque de privação sensorial — Louise caminhou apressada até a sala de estar, onde estavam às folhas de caderno e canetas utilizadas por Mike para explicar a metáfora da "Pulga e o acrobata". Ela recolheu os objetos e voltou para cozinha, sentando na mesa enquanto fazia algumas anotações — Lembram quando perdi o meu prémio do clube de ciências graças aos amigos da Nancy? Então, a maquete era uma versão "faça você mesmo" de um tanque de privação sensorial, passei dias estudando sobre o assunto com o senhor Clarke e agora é o meu momento de brilhar.

— Você acha que consegue fazer algo assim em poucas horas? — Perguntou Hopper levemente descrente das capacidades mentais de Louise para resolver o problema.

— Hopper meu querido, eu não acho tenho certeza. — Respondeu Louise orgulhosa e olhando de canto para o delegado por alguns segundos.

Caso existisse algo que os irmãos Henderson dominavam além do fato de viverem entrando em confusões, esse algo eram a ciência e qualquer área envolvendo o assunto. Viciados em filmes de ficção-cientifica, eles passavam horas estudando e teorizando sobre os mais diversos assuntos, chegando até a entrar em discussões fervorosas quando seus pontos de vista não batiam.

É claro que como qualquer pessoa Louise tinha dificuldade em outras áreas do conhecimento, principalmente naquelas que não atraiam sua atenção. Ela era excelente em química, mas uma péssima cozinheira e não suportava a ideia de ter que lidar com o fogão. Passava horas lendo livros de terror e fantasia no seu quarto, mas qualquer texto acadêmico obrigatório a irritava com todas suas forças e vivia entregando com atrasos os trabalhos de literatura. Deixou de participar da banda do colégio depois de três meses por não compreender as partituras e impaciência para aprender a tocar qualquer instrumento. Suas notas na educação física eram baixas graças ao ritmo sedentário, o que a fazia sentir orgulho da aventura por ter sido capaz de pedalar longas distâncias e correr pela sua vida. Participava dos clubes do colégio, mas somente dos que envolviam seu cérebro e quase nenhuma interação social.

Por isso quando tratava de suas áreas de conhecimento, Louise transformava-se na pessoa mais presunçosa e envaidecida existente na face da Terra. Ela sabia que era considerada a aluna mais inteligente e dedicada da sala de aula, que seria capaz de ingressar em uma ótima faculdade quando terminasse o colégio graças as suas notas e que ninguém a abatia quando o assunto era ciência, a não ser talvez o seu irmão mais novo.

— Pra que você decora esse tipo de coisa? — Perguntou Hopper olhando incrédulo para a quantidade de conta que Louise fazia no papel envolvendo 'mol' e fórmulas básicas dos elementos.

— Diversão — Respondeu Louise sorrindo sem tirar os olhos do papel. — Primeiro vocês precisam saber que na construção do tanque é necessário utilizarmos Sal de Epsom, que não é sal de verdade, mas composto de magnésio, enxofre e oxigênio. Como sei que não teremos tempo de arrumar uma grande quantidade desse sal a tempo, teremos que utilizar sal de cozinha, de preferência sal grosso. Por isso a conta de avogrado e de relação equivalente. Não vou entrar em detalhes para não explodir o cérebro de vocês.

— Está nos chamando de burros? — Perguntou Nancy descrente de que havia sido ofendida nas entrelinhas. Invés de responder a pergunta da ex-amiga de infância, Lola sorriu de escárnio.

— Tia Joyce, a senhora tem aquela piscina que usávamos para pescar maçãs? — Perguntou Louise virando para a matriarca da família Byers, a qual assentiu positivamente com a cabeça. — Ótimo! Jonathan vá busca-la que é ela que vamos usar essa noite.

— Certo! — Concordou Jonathan obedecendo as ordens da melhor amiga.

— Agora terei de medir a quantidade de sal para os litros de água e aviso que vamos precisar de MUITO sal. — Explicou Louise voltando a trabalhar em suas equações.

— Muito quanto? — Perguntou Hopper enquanto assistia Louise fazer as contas em outro pedaço de papel.

— Hum... Setecentos quilos, aproximadamente — Respondeu Louise mostrando o pedaço de papel para que todos conferissem suas belas equações.

— Aonde a gente vai achar tanto sal? — Perguntou Nancy descrente de que aquilo realmente funcionaria.

— Eu sei onde. Vamos! — Ordenou Hopper pegando o pedaço de papel das mãos de Louise e levantando da mesa da cozinha.

— Quando ia nos contar que você era um gênio, Lolinha? — Perguntou Lucas acompanhando a menina para fora da casa junto com os demais.

— Qual é? Eu nunca disse que era burra, se pensaram isso, pensaram errado — Respondeu Louise balançando a cabeça do Lucas enquanto sorria mais animada.


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