HOLD THE LINE - Livro #01 escrita por Lyra


Capítulo 23
CAPÍTULO 23 - Heroes




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No instante que Louise se acomodou com Eleven nas arquibancadas do colégio, as outras crianças aproximaram sentando ao redor das meninas para dar suporte a mais nova enquanto ela recuperava lentamente suas energias. Todos respiravam mais aliviados por saberem que Will não tivera o mesmo final trágico de Barb, que apesar do melhor amigo permanecer preso dentro do mundo invertido ele continuava vivo aguardando pelo resgate. As probabilidades de sucesso estavam a favor do bem estar do Byers mais novo, já que o delegado Hopper e Joyce Byers fariam de tudo para o trazerem em segurança para casa.

Enquanto acariciava com ternura os ombros e braços de Eleven por cima da toalha na tentativa de aquecê-la ao mesmo tempo em que a secava, Louise começou a recordar dos tempos de infância, mais precisamente de quando ela, Barb e Nancy eram melhores amigas. Por mais que andasse frequentemente ao lado das duas amigas antes de brigar com a Wheeler, vez ou outra ocorria de sobrar nas brincadeiras. Não era algo feito propositalmente por Nancy, pelo menos naquela época, mas ela e Barb tinham uma forma única de comunicação que Louise raramente compreendia. As meninas eram capazes de se comunicarem através do olhar, chegando a passar piadas internas e mensagens subliminares em questões de segundos. Por conta disso Lola não ficou surpresa quando Barb preferiu passar seu tempo com Nancy ao invés dela. Se a morte de Bárbara estava tendo um impacto negativo em sua vida, deixando-a chateada, para Nancy aquilo deveria estar sendo o próprio inferno na Terra.

— Merda... — Murmurou Louise balançando a cabeça negativamente enquanto sentia um pouco de remorso pelas coisas ditas. Não estava arrependida por ter falado o que pensava, mas pela forma que havia dito. — Fiquem com a El, já volto — Ela olhou para os meninos enquanto levantava, Mike aproveitou a ocasião para sentar no lugar dela e dar o seu ombro para Eleven apoiar. — É sério, não saiam daqui sem mim.

— Aonde você vai? — Perguntou Dustin fitando a irmã com preocupação.

— Falar com a Nancy — Respondeu Lola revirando os olhos enquanto deixava a quadra coberta indo até o corredor.

Não foi necessário Louise andar muitos metros para encontrar Nancy sentada sobre o chão frio abraçando as próprias pernas e com as costas na parede. Ela estava tão acabada quanto Louise, seus os olhos azuis estavam vermelhos e inchados de tanto chorar e o sentimento de culpa a invadia, principalmente por ter ouvido as duras palavras da velha amiga e atual inimiga.

— Veio falar mais coisas horríveis para mim? — Perguntou Nancy encarando o chão ao notar que Lola havia se aproximado.

— Não, eu vim pedir desculpas — Disse Lola cruzando os braços na frente do corpo e fazendo caretas, ao ouvir a palavra "desculpas" Nancy ergueu os olhos — Mas eu não me arrependo do que eu disse, é mais pela forma que falei.

— Esse é seu pedido de desculpas? — Perguntou Nancy voltando a encarar o chão.

— É o máximo que vai conseguir de mim — Lola deu com os ombros. — Por isso não fode, Wheeler.

— Eu não quero discutir, Lola — Disse Nancy mirando a ex-amiga em pé com frieza.

— Mas não vim discutir, vim pedir desculpas pela forma que falei com você, mas não pelas coisas que eu disse — Falou a menina após bufar pela boca, queria deixar claro suas intenções. — Não podemos mudar os fatos do que houve com a Barb e de que parte disso foi sua culpa.

— Lola... — Jonathan chamou enquanto aproximava lentamente das meninas. Não queria que uma discussão iniciasse entre elas, principalmente por conhecer o quanto Louise tinha uma língua feroz em seus momentos de fúria.

— Ai, pelo amor de Deus, Jonathan — Louise revirou os olhos encarando o amigo com quem estava brigada — Eu vim pedir desculpas para a sua nova namo...

A adolescente estava prestes a completar sua frase com fúria e sarcasmo quando foi surpreendida por Jonathan. Ao invés do rapaz repreende-la com seus discursos prontos como ela imaginava, ele tomou outra atitude, a qual fugia levemente de sua personalidade maçante de bom moço. Sabendo que somente palavras não eram suficientes para que Lola entendesse que havia a protegido e tinha interesse de ter algo futuramente com ela, Jonathan resolveu ser ousado. Antes que Lola terminasse a frase, ele segurou seu rosto com uma das mãos enquanto com a outra agarrou sua cintura envolvendo-a em um abraço no instante que beijava seus lábios apaixonadamente.

A princípio Louise ficou travada sem reação, estando embasbacada ao conhecer o novo traço de personalidade do melhor amigo. Porém não tardou muito para fechar os olhos e corresponder ao beijo com a mesma intensidade. Durante anos havia imaginado o momento que Jonathan assumiria seus verdadeiros sentimentos e, para sua alegria, as coisas estavam fluindo mesmo que aquele fosse o pior momento possível.

— Estamos bem agora? — Perguntou Jonathan quando findou o beijo, mas mantendo a menina em seus braços e suas testas coladas.

— Acho que vou precisar de mais provas como essa com o tempo — Disse Louise mordendo os próprios lábios e tentando não sorrir. Rindo fraco, Jonathan roubou outro beijo da amiga, dessa vez mais rápido e sútil.

— Precisamos voltar para a delegacia — Disse Nancy quebrando o clima entre o mais novo casal.

— Que? — Jonathan soltou Louise e olhou na direção de Nancy sentada no chão.

— A sua mãe e o Hopper tão indo até lá como iscas — Respondeu Nancy chorosa — Aquela coisa ainda está lá e não podemos deixar ela pegar eles também. Não podemos.

— Você ainda quer tentar? — Perguntou Jonathan para Nancy enquanto segurava a mão de Louise.

— Eu quero terminar o que começamos — Respondeu Nancy erguendo os olhos para Jonathan — Quero matar aquela coisa.

Quando escutou o plano de Nancy, Jonathan virou para Louise em busca de aprovação. Apesar de Louise considerar aquele um plano suicida, Jonathan e Nancy precisavam terminar o que haviam começado. Além de que a Wheeler estava certa sobre Hopper e Joyce estarem correndo risco de tornar a próxima vítima fatal do Demogorgon.

— Vão — Disse Louise soltando a mão de Jonathan e cruzando os braços na frente do corpo. — Você está com a minha arma, use contra o Demogorgon.

— Mas e as crianças? — Perguntou Jonathan assentindo positivamente, aquela era mais uma pergunta retórica do que alguém que estava preocupado com o bem estar dos mais novos.

— Eu cuido delas, é a minha função — Respondeu Lola dando com os ombros — Só toma cuidado, está bem?

— Vou tomar — Jonathan beijou os lábios de Lola pela terceira vez na noite.

— É bom mesmo, ainda me deve desculpas de joelho como o Steve fez — Brincou a menina sorrindo fraco.

Por mais que tentasse manter o bom humor, Louise estava preocupada com o nível de estupidez existente no plano formulado por Nancy, temendo que jamais voltasse a encontrar a ex-amiga e o atual namorado com vida após enfrentarem o monstro maligno.

Com expressões aflitas e ambas as mãos dentro dos bolsos laterais da jaqueta que havia pegado emprestada de Jonathan mais cedo, Louise assistiu os dois se afastarem até deixarem a escola de ensino fundamental. Quando a porta de entrada fechou, a adolescente se uniu com as outras crianças na quadra coberta.

— Tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. Qual vocês querem primeiro? — Perguntou Lola para os meninos enquanto suspirava profundamente.

— A boa — Disseram Lucas e Dustin ao mesmo tempo.

— Me entendi com o Jonathan e acho que estamos namorando — Comemorou Louise sorrindo animada.

— Isso! — Comemorou Lucas trocando a mão do Dustin acima da cabeça.

— E a notícia ruim? — Perguntou Mike preocupado.

— Ele e Nancy foram ganhar tempo com o Demogorgon — Respondeu Lola desmanchando o sorriso e curvando os lábios.

— E você deixou? — Perguntou Mike olhando horrorizado para a irmã do melhor amigo.

— Minha responsabilidade são vocês, não eles — Rebateu Lola apontando para as quatro crianças em sua frente — A ideia foi da sua irmã e pela primeira vez ela teve uma ideia boa que não fosse mesquinha.

— Você fez isso como vingança — Reclamou Mike levantando de onde estava sentado e aproximando de Louise — Não acredito que eu te defendi para a Nancy.

— Não fiz isso como vingança — Protestou Louise relaxando os braços — Se tivesse feito não teria permitido que o Jonathan fosse junto com eles.

— Mas você também brigou com o Jonathan — Recordou Dustin levantando da arquibancada e aproximando da irmã mais velha, a qual lançou um olhar severo em sua direção — Talvez não tenha feito propositalmente.

— Não. Foi. Vingança. — Respondeu Louise pontuado as palavras. — A Nancy estava certa, tinham de fazer algo contra o monstro caso contrário Hopper e a tia Joyce não vão ter chance de recuperar o Will.

— Nós também temos que fazer algo — Disse Mike nervoso — Isso é uma loucura, não podemos ficar esperando.

— Mike, meu anjo — Louise aproximou do menino o segurando pelos ombros — Caso tenha esquecido, ainda somos fugitivos, os homens maus ainda estão nos caçando.

— É! E a gente nem sabe onde sua irmã está — Disse Dustin complementando a explicação da irmã.

— A El encontra eles — Falou Mike apontando para Eleven sentada sozinha na arquibancada, mas sem tirar os olhos de Louise — Podemos criar outra banheira, não podemos? Já sabemos toda fórmula.

— Primeiro, montar outra banheira levaria a madrugada inteira. Segundo, olha para a El — Louise curvou o lábio e apontou com o queixo para a menina abraçada nos próprios joelhos — Ela está acabada Mike, sem um pingo de energia. Vamos continuar com o plano do Hopper e vamos permanecer aqui, juntos.

— Exatamente, ficamos aqui, mantemos a El segura e escondida — Disse Lucas concordando com Louise. — É a coisa mais importante, se lembra?

— Além disso ela está bem, está com o Jonathan e ele tem a minha arma — Disse Louise abraçando Mike pelos ombros com apenas um braço.

— E ela está ficando muito maneira agora — Dustin deu com os ombros e começou a andar em direção a uma das saídas da quadra, ignorando o olhar enciumado lançado pela irmã.

— Pra onde você está indo? — Perguntou Mike franzindo o cenho ao ver o amigo se afastar. — Não vamos continuar com o plano.

— Eu vou, só vou pegar um pudim de chocolate na cozinha. Sei que tem, a Louise estava comendo mais cedo — Disse Dustin diminuindo o ritmo dos passos, mas sem parar de caminhar.

— A merendeira Phyllis tem um estoque daquela coisa — Respondeu Louise sorrindo fraco e soltando Mike — Vamos juntos, acho que um lanchinho não vai fazer mal para ninguém.

— Estão falando sério? — Perguntou Mike horrorizado com a mudança de foco da conversa.

— A El precisa ser recarregada — Disse Dustin esperando a irmã juntar-se a ele na caminhada.

— Venham, vamos andando — Falou Louise gesticulando para que os outros os seguissem até o refeitório.

O quarteto cruzou os corredores vazios da escola de ensino fundamental conversando sobre futilidades que não envolviam homens maus ou monstro de outra dimensão, Lucas estava interessado em saber sobre os detalhes que desenrolaram o relacionamento recente entre Louise e Jonathan, enquanto Dustin tentava entender como Lola havia perdoado o Byers mais velho facilmente já que a mesma jurava fielmente que não havia o enviado propositalmente para as garras do Demogorgon.

— Ainda não faz sentido — Insistiu Dustin balançando a cabeça negativamente enquanto abria a geladeira em busca dos pudins de chocolate — Você ter perdoado o Jonathan rápido.

— Eu não perdoei — Falou Louise sentando sobre um dos balcões da cozinha, local em que conseguia ficar de olho tanto no irmão mais novo com Lucas, quanto em Mike e Eleven sentados no refeitório. — Mas ele tendo amizade com a Nancy, eu posso ter amizade com Eddie e os meninos. Jonathan não vai poder me cobrar nada.

— Não é sobre isso, Lola — Disse Dustin olhando na direção da irmã — Quando brigamos você fica sem falar comigo por quase dois dias. Com um beijo você já perdoou o Jonathan.

— Isso é amor — Disse Lucas defendendo Louise, por estar acompanhando o desenrolar do casal antes de qualquer iniciativa da menina graças aos comentários de Dustin e Will quando se reuniam ele torcia para que ficassem juntos. — Louise ama Jonathan, por isso perdoou facilmente.

— Louise também amava Steve e demorou anos para perdoa-lo — Complementou Dustin curvando o lábio — É sério, Lou. Você mandou o Jonathan propositalmente para o Demogorgon.

— Não mandei — Louise revirou os olhos — E eu não perdoei o Jonathan. Só que vou usar isso ao meu favor se ele sobreviver. Além de que somos fugitivos, então é provável que teremos de nos mudar para bem longe se o Hopper e a tia Joyce não voltarem com Will.

— Não começa com as suas fantasias Lola — Dustin voltou a caçar pelos pudins de chocolate na geladeira.

— Estou falando sério. Não vamos poder voltar para casa se o Hopper com a tia Joyce não conseguirem trazer o Will com vida, também roubamos uma arma biológica poderosa do governo. — Disse Louise balançando os pés sobre o balcão — Somos fugitivos fora da lei, caçados pelo FBI. Eu matei um agente federal...

— Você desmaiou ele — Recordou Lucas soando como Hopper.

— Só acredito se eu vê-lo caminhando entre nós, caso contrário eu o matei — Disse Louise levando a mão até o peito e prosseguiu com suas explicações — Continuando... Terei de tirar uma identidade falsa e aumentar minha idade para que possa ser responsável legal por vocês, todos teremos que ter novos nomes, então é bom que vocês escolham sabiamente. Ah! Vamos ser obrigados a aprender espanhol.

— Meu Deus, Lola. Podemos focar no pudim? — Perguntou Dustin segurando o riso. Apesar do exagero ser algo herdado por todos os membros da família Henderson, Louise conseguia criar histórias fantasiosas que iam muito além, algo que tanto ele quanto a mãe culpavam seu trabalho no cinema e todos os livros de ficção que a adolescente costumava ler.

— Segunda geladeira, parte de baixo — Disse Louise apontando para o segundo eletrodoméstico da cozinha — Tem vários potes.

— Achei! — Comemorou Dustin ao seguir a indicação da irmã — Sabia que ela guardava. Eu sabia. Sempre mentindo, dizendo que acabou. Mentirosa descarada. — Rapidamente ele e Lucas começaram a encher os braços com potes de pudim de chocolate, carregando o máximo que conseguiam — Mike, achei pudim de chocolate!

— Certo! — Gritou Mike em resposta ao berro de Dustin com a informação.

— Vou pegar as colheres — Louise desceu do balcão e caminhou até o armário onde começou a caçar pelos talheres de plásticos para que todos pudessem comer o quanto de pudim desejassem — Pergunta séria, quais os nomes novos que vocês vão querer nas identidades quando nos mudarmos para o México?

— Não vamos nos mudar para o México, Lolinha — Disse Lucas revirando os olhos.

— Não tenho tanta certeza disso — Falou Lola pegando cinco colheres de plástico — Eu me chamarei Thomasin Newton. Você, Dustin, pode se chamar David Newton e você, Lucas, pode se chamar Jack. O Mike será Ziggy e a On será Sam.

— Você realmente pensou em tudo — Disse Dustin carregando os pudins nos braços enquanto empurrava a porta da cozinha com os pés.

— Óbvio, sou uma garota prevenida — Falou Louise seguindo o irmão para fora da cozinha com Lucas em seu encalço — Tenho de programar nosso futuro em qualquer ocasião. Ah! Todos terão de trabalhar quando chegarem aos quinze, não vou poder sustentar vocês sozinha. — Quando o grupo alcançou o refeitório, Louise olhou ao redor em busca de Mike que havia sumido nos poucos minutos que desviou o olhar — Onde está o Mike, El?

— Nancy — Respondeu Eleven rapidamente.

— Mas já chegaram? — Perguntou Louise confusa.

— Pessoal! — Mike entrou correndo desesperado no refeitório, estava mais pálido que o normal e com expressões assustadiças na face.

— Não é a Nancy e o Jonathan, certo? — Perguntou Louise sentindo todos os pelos do corpo arrepiarem. Apesar de notar nas expressões do menino que a resposta seria positiva, ela tinha um fio de esperança que as coisas começassem a dar certo para o grupo.

— Eles nos acharam — Respondeu Mike confirmando as teorias negativas que Louise possuía.

— Mas que merda! — Urrou Louise olhando desesperada para cada uma das crianças — Temos que sair daqui antes que eles nos encontrem.

Mais do que depressa o quinteto guardou alguns pudins dentro da bolsa do Lucas, saindo do refeitório pelo lado oposto por onde haviam ingressado. Porém antes que pudessem chegar completamente a saída, Louise correu para o lado oposto, ingressando na cozinha através da janela que dava para o refeitório.

— Louise! — Chamou Dustin voltando para alcançar a irmã, ele a encarou através da divisória — O que está fazendo? Não temos tempo.

— Preciso de uma arma — Falou Louise remexendo nos armários em busca de algo que pudesse usar para proteger as crianças. Não demorou para que encontrasse spray inseticida e isqueiro de plástico — Perfeito!

— Vamos logo! — Ordenou Dustin auxiliando a irmã na saída da cozinha pelo balcão.

— Você é idiota? — Perguntou Lucas quando os irmãos Henderson tornaram a unir-se com eles no corredor.

— Precisava de uma arma — Respondeu Louise sussurrando enquanto corriam — Como eles nos acharam?

— Não sei, mas sabiam do ginásio — Respondeu Mike também sussurrando enquanto tentavam evitar cruzar o caminho dos federais.

— Lando. — Disseram os irmãos Henderson em uníssono.

O grupo estava quase alcançando a saída quando federais invadiram o colégio pela porta, impedindo que prosseguissem com a fuga por onde estavam imaginando.

— Peguem-nos! — Gritaram os federais.

— Vamos! Vamos! Vamos! — Gritaram Mike e Louise enquanto corriam para a direção oposta dos agentes.

Ao virarem o segundo corredor a esquerda, mais dois agentes adentraram no caminho com as armas e lanternas em pulso, interrompendo novamente a fuga do quinteto.

— Lá estão eles. Parados! — Ordenou os federais impedindo que corressem.

— Puta que pariu! — Gritou Louise enquanto mudavam de corredor pela terceira vez durante a fuga. — Ai merda!

Para a infelicidade do quinteto eles estavam cercados por agentes federais armados até os dentes, notando que não havia para onde se esconderem Louise tentou proteger ao máximo as quatro crianças com o próprio corpo enquanto se preparava para utilizar o spray de insetos combinado com a chama do isqueiro. Mesmo sabendo que não escaparia da morte pela segunda vez, ela ao menos levaria o máximo de agentes possíveis ao seu lado.

— Fiquem atrás de mim! — Ordenou Louise esperando o momento certo para utilizar seu lança chamas improvisado.

— Não — Respondeu Eleven tomando a dianteira do grupo enquanto empurrava Louise para trás de si.

Antes que Louise pudesse reprender a mais nova por estar colocando a própria vida em risco, Eleven utilizou dos seus poderes para travar os agentes nas posições que estavam e espremer seus miolos internamente, fazendo com que todos que os cercavam caíssem mortos no chão formando um rio de sangue com as poças que juntavam.

— El! — Gritou Louise correndo até a garotinha quando a mesma caiu desmaiada sobre o chão gelado — El, acorda!

— El, você está bem? — Perguntou Mike chacoalhando a mais nova para tentar acorda-la. — El. Tem algo errado.

— Só está cansada — Disse Dustin tentando acalmar o melhor amigo e a irmã que chacoalhavam Eleven tentando despertá-la.

— Não, ela não acorda! — Respondeu Louise olhando preocupada para cada um dos meninos — E não temos tempo, precisamos sair daqui.

— Ela mal está respirando — Disse Mike desesperado.

— Você me ouviu? Temos que sair daqui — Rebateu Louise tentando erguer Eleven no colo.

— Deixem-na! — Ordenou um homem de cabelos grisalhos que havia acabado de ingressar no corredor, Louise e os outros já tinham encontrado com ele mais cedo quando fugiam da casa do Mike.

— Fica longe! — Ordenou Louise apontando o inseticida na direção do homem enquanto protegia as crianças com o próprio corpo. — Se der mais algum passo coloco fogo em vocês.

— Afaste-se da criança! — Ordenou o grisalho severamente para a adolescente.

— Não! — Gritou Louise em resposta ameaçado com o inseticida — Você que se afaste delas — Ferozmente ela cuspiu na direção do homem, fazendo com que caísse alguns metros do seu pé — Estou avisando.

— Se você a quer terá de nos matar primeiro — Gritou Mike protegendo Eleven, porém ficando alguns centímetros atrás de Louise.

— Isso mesmo! — Disse Dustin unindo ao lado do amigo.

— Coma merda! — Ordenou Lucas utilizando do próprio corpo para proteger Eleven e parando ao lado dos melhores amigos, Louise riu fraco com a ameaça, mas não baixou sua arma.

Apesar da intenção de proteger Eleven ser honrosa, ela caiu por terra quando o agente ao fundo atirou na direção de Louise antes que ela pudesse utilizar seu maçarico improvisado. O tiro acertou em cheio a escápula da adolescente, fazendo a menina cair no chão urrando de dor enquanto sentia o sangue escorrer quente por ambos os buracos feitos pela bala. A intenção do tiro não era mata-la, mas obrigar a adolescente soltar os apetrechos antes que ferisse qualquer um deles.

— Louise! — Gritou Dustin ao ver a irmã caída ao lado de Eleven com a mão sobre o buraco de entrada e as costas junta na parede para impedir o sangue de escorrer.

— Filho da puta! — Gritou Louise olhando enraivecida para os agentes federais, apesar da dor e da vontade de chorar copiosamente, ela não daria a eles esse gostinho. — Eu ainda vou matar você!

Com a queda de Louise os outros agentes foram capazes de conter as crianças, sendo necessário um agente para cada criança que esperneava tentando desesperadamente fugir das mãos dos federais. Por mais que quisesse salvar os meninos, Louise estava impossibilitada de utilizar o braço devido à dor causada pela fratura feita pela bala.

Assim como todos os pensamentos exagerados causados nos seus maiores momentos de desespero, Louise acreditava fielmente de que aquele seria o seu fim. Ela não teria a chance de ir para a faculdade, não veria o irmão crescer e assistiria todos os seus pecados no telão do inferno. Seu destino estava selado devido ao carma de ter arrancado uma vida mais cedo e, provavelmente, por ter enviado Nancy e Jonathan direto para a morte. Estava colhendo o fruto de todas as coisas ruins que fez em vida, tendo uma morte lenta e dolorosa sangrando até a última gota do seu corpo.

— Sai de perto dela — Ordenou Louise tentando acertar o homem grisalho com chutes quando esses pegou Eleven nos braços, apesar de seu braço não funcionar como devia, suas pernas estavam firmes e fortes para distribuir pontapés.

— Você é osso duro — O agente que havia sofrido a pancada na cabeça mais cedo aproximou de Louise, pisando fortemente em sua canela para que ela não pudesse prosseguir com os chutes. Ele utilizava um esparadrapo branco colado na testa e demonstrava fúria em seus olhos.

— Eu não te matei antes, mas agora vou te matar seu filho da puta — Gritou Louise urrando de dor ao ter as pernas travadas. No fundo estava contente em ver que Hopper estava certo e que o agente não havia morrido com a pancada na cabeça. — Assim que sair daqui vou te levar comigo para o inferno.

— Eleven? Eleven, pode me ouvir? — Perguntou o homem grisalho chacoalhando a criança em seus braços para tentar acorda-la. — Eleven?

— Papai? — Perguntou Eleven fraco. Ao perceber que a menina estava acordada, Louise suspirou aliviada.

— Papai o caralho, essa porra me deu um tiro — Gritou Louise tentando escapar as pernas.

— Solte-a! Solte-a seu maldito! — Gritou Mike tentando desvencilhar do agente que o segurava.

— Está doente, mas posso fazê-la melhorar. — Disse o homem quando Eleven começou a olhar assustada ao seu redor tentando escapar dos braços do tal "Papai". — Vou levá-la para casa, onde posso tratar de você. Onde podemos melhorar tudo isso, para que ninguém mais se machuque.

— Mau — Disse Eleven severamente para o homem. — Mau. — Em seguida a menina olhou para Louise, estendendo a mão em sua direção. — Lola! Lola!

— El! — Mesmo que Louise não tivesse a intenção de soltar o buraco de entrada causado pela arma em seu corpo, ela esticou a mão ensanguentada na direção da mais e a agarrou fortemente.

De repente as luzes do corredor começaram a piscar várias e várias vezes, anunciando que o pior estava por vir.

— Sangue — Disse Mike recordando do que Nancy havia dito sobre o Demogorgon.

— O quê? — Perguntou Lucas preocupado.

— Sangue — Repetiu Mike.

— Louise — Disse Dustin olhando nervoso para a irmã ferida no chão.

— Merda! — Urrou Louise compreendendo o péssimo presságio que as luzes piscando indicavam. — É isso, eu vou morrer.

Lentamente os blocos de cimento da parede no final do corredor começaram a quebrar, anunciando o pior pesadelo de Louise estava prestes a virar realidade. Para o desespero da adolescente aquele era alerta de que Nancy e Jonathan haviam falhado na missão de matar a criatura e, talvez, os próprios estavam mortos em algum lugar entre o mundo normal e o mundo invertido.

Surpreendendo todos os presentes, o monstro conseguiu quebrar a parede e demonstrar sua forma horripilante. A criatura possuía mais de dois metros de altura, seu corpo humanoide era esquio e parecia carne podre queimada, ao invés de cabeça ele parecia ter um cacto estrela cheio de dentes no local dos espinhos.

— Demogorgon! — Gritou Dustin tão assustado quanto os outros.

Devido a presença da cruel criatura, os agentes federais foram obrigados a soltar as crianças para utilizar suas armas contra o monstro interdimensional. Aproveitando o descaso das autoridades, as crianças correram até as meninas largadas no chão.

— Consegue correr Lolinha? — Perguntou Lucas dando o seu ombro para que Louise pudesse apoiar o braço bom.

— Não, me deixem aqui — Pediu a menina chorosa recusando a ajuda do mais novo.

— Nem fodendo que vai ficar para trás — Gritou Dustin enquanto pegava Eleven no colo com auxilio do Mike.

— Estou sangrando, sou uma isca, vou coloca-los em perigo — Louise tentou empurrar Lucas com o braço bom, porém Mike uniu ao amigo para forçar Lola a levantar.

— Cala a boca e começa a correr, Lola — Ordenou Mike empurrando a menina quando ela levantou.

Aproveitando que os agentes estavam ocupados tentando matar a criatura, eles saíram correndo pelos corredores da escola em busca de um lugar seguro onde pudessem se esconder até Eleven recuperar suas forças e Louise fosse capaz de lidar com seus ferimentos até ser seguro ir ao hospital.

Por estar com a perna machucada devido ao pisão feito pelo agente que deveria ter sido morto horas mais cedo, Louise necessitou da ajuda de Lucas para poder correr. Em vários momentos ela tentou tomar o corredor oposto, assim não colocaria os meninos em perigo, mas Lucas foi mais rápido ao impedir que ela separasse do bando.

— Pare de ser idiota, Lolinha. Não vou deixar você ir embora. Faz parte do bando agora — Disse Lucas agarrando a mais velha pela cintura durante a terceira vez que tentou ir na direção oposta — Vamos ficar todos juntos.

— Eu fiz uma promessa de cuspe sobre proteger vocês — Resmungou Louise chorosa enquanto corria.

— E você cumpriu. Você tomou um tiro Louise — Rebateu Mike ao ouvir os resmungos da mais velha.

O grupo conseguiu chegar ileso dos ataques do Demogorgon dentro da sala de ciências do Sr. Clarke. Após trancar a porta de entrada, Lucas ajudou Louise a se acomodar em uma das carteiras no fundo da sala enquanto Dustin colocava Eleven deitada em cima de um dos balcões.

— Tira a jaqueta — Ordenou Lucas ajudando Lola a retirar a peça de roupa para que pudesse ver seu machucado. — Vamos tentar estancar isso aí.

— Meu braço vai cair — Disse Louise enquanto aceitava o auxílio.

— Seu braço não vai cair — Falou Dustin correndo até a irmã com vários maços de algodões e uma bisnaga de álcool líquido. — Mas vai ficar com uma cicatriz maneira.

— Morde isso — Lucas tirou a bandana que usava na cabeça e enfiou a força na boca da mais velha.

— Isso é no... — Fazendo careta a menina cuspiu a peça de roupa, mas foi impedida de terminar a frase quando o Sinclair lavou os buracos de bala com álcool enquanto Dustin segurava seu braço — Filho da puta!

— Depois você vai me agradecer — Disse Lucas pegando várias bolas de algodão e colocando sobre os machucados sangrentos, grudando com fita crepe para que não caísse.

— Lola — Choramingou Eleven que segurava fortemente a mão do Mike, enquanto os meninos trabalhavam nos machucados de Louise, o Wheeler estava a consolando.

— Não posso dizer que estou bem, mas também não estou morta ainda — Falou Louise sorrindo sem humor e com lágrimas nos olhos, a dor era gigantesca sendo impossível conter as lágrimas. Caso não tivesse de ser forte pelas crianças, ela estaria chorando copiosamente em posição fetal.

O grupo foi surpreendido a segunda vez pela criatura maligna, seus urros estavam próximos do laboratório assim como o som dos tiros vindos das armas dos federais. Caso tivesse sido inteligente a tempo, Louise teria agarrado uma das metralhadoras jogas no chão quando alguns homens foram mortos. Mas a ideia não veio a tempo.

— Ele está vindo — Juntando forças, Lola levantou da cadeira para proteger as crianças com o próprio corpo novamente — Quero que vocês fujam enquanto o atraso.

— Não! — Gritou Dustin horrorizado para a irmã — Não vou te deixar para trás.

— Estou mandando, Dustin — Urrou a menina em tom de ordem — Peguem a Eleven e corram.

— Ninguém do grupo fica para trás — Disse Lucas agarrando o braço bom de Louise para impedir que ela saísse correndo.

De repente o som de tiros vindos do lado de fora da sala cessaram, surpreendendo as crianças que trocaram olhares preocupados sem saber se aquilo representava algo bom ou um péssimo agouro.

— E-Está morto? — Perguntou Dustin gaguejando nervoso.

Para a infelicidade do pequeno grupo a pergunta obteve a resposta que menos desejavam e da pior maneira existente. O Demogorgon ingressou na sala de aula em que estavam escondidos arrebentando a porta com grande facilidade, os tiros dos agentes não pareceram causar danos na criatura apesar de estar mais fraca que o habitual.

— Eu disse que era uma péssima ideia me manter aqui — Disse Louise tentando correr para o lado oposto, mas Dustin agarrou a irmã pela cintura a protegendo com o próprio corpo enquanto Lucas retirava o estilingue da bolsa com algumas pedras.

— Vai! Vai! Vai! — Gritava Mike assistindo Lucas armar o estilingue com pedras.

— Atire! Atire agora! — Gritava Dustin abraçando fortemente a irmã mais velha.

— Vai, mate a coisa! — Gritava Mike enquanto Lucas atirava no Demogorgon, porém os tiros não surtiam efeito além de incomodo na criatura.

— Mate o maldito! — Gritava Dustin esperançoso que o amigo fosse capaz de destruir o monstro em sua frente.

Além de Eleven que estava fraca, Louise era a única que não gritava palavras de apoio para Lucas. Percebendo que as pedras não surtiam efeitos negativos sobre a criatura e que estava impedida de correr para os braços da criatura na intenção de atrasá-la graças ao irmão que segurava sua cintura, Louise permaneceu atônita. Estando petrificada no lugar enquanto rezava silenciosamente para que todos tivessem uma morte rápida e pouco dolorosa.

Sua vida chegaria ao fim graças as escolhas estúpidas do passado. Estava descrente que morreria jovem e com uma extensa lista de afazeres não cumpridos. Ela não tinha experimentado álcool, não tinha assistido Eddie tocar fora do show de talentos do colégio, não havia ido a festas badaladas, nem participado das campanhas do clube Hellfire, não tinha aprendido a tocar violão ou qualquer instrumento musical, nem a cozinhar algo comível, morreria virgem, com poucos amigos, sem ter tido impacto na ciência e, pior, sem ter conhecido seu ídolo David Bowie.

Faltava somente três pedras quando Lucas atingiu o Demogorgon jogando o mesmo contra a lousa do outro lado da sala, as crianças trocaram olhares surpresos com o gesto. O qual na realidade não teve a ver com o estilingue do Lucas, mas com os poderes psíquicos de Eleven.

— Puta merda! — Disse Louise voltando a respirar, estava tão ansiosa que havia segurado sua respiração sem perceber.

— Eleven, pare! — Pediu Mike enquanto a garotinha caminhava em direção ao monstro preso contra a parede, porém ela apenas o atirou para trás usando parte da força vital que ainda lhe restava.

Eleven caminhou em direção a criatura sem hesitar, seus olhos estavam cheios de fúria e ela sangrava através do nariz e dos ouvidos. Antes de por um fim no monstro que se debatia preso contra a parede, ela olhou em despedida para cada uma das crianças parando por último em Mike no chão.

— Adeus, Mike — Despediu-se Eleven pesarosa.

— El! — Gritou Louise entendendo que aquela seria a última vez que se encontrariam, ou assim acreditava.

Mas a garotinha não deu atenção, com a palma da mão estendida para frente ela finalizou o serviço. As crianças foram incapazes de ver cada detalhe do evento, já que tiveram de tapar firmemente os ouvidos graças aos gritos estrondosos de dor gerado pelo monstro. Quando todo o barulho cessou e as luzes se acenderam, tanto o Demogorgon quando Eleven haviam desaparecido magicamente.

— El! Eleven! — Gritaram as crianças correndo pela sala em busca da mais nova, porém não havia nenhum sinal da menina.

Por estar cansada, cheia de dores e fraca graças a todo sangue perdido devido ao tiro na escápula. Louise cedeu ao próprio desejo do corpo e caiu desmaiada sobre o chão frio do colégio, as crianças estavam finalmente seguras e não precisava mais ser forte. Finalmente todo aquele pesadelo havia acabado e, independente do futuro que teria pela frente, todas as suas crianças estavam seguras.


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