HOLD THE LINE - Livro #01 escrita por Lyra


Capítulo 16
CAPÍTULO 16 - Here Comes The Rain Again




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751085/chapter/16

Sentada sobre o último degrau das escadas do porão dos Wheeler, Louise acariciava as têmporas enquanto aguardava o analgésico roubado do armário da mãe fazer efeito. Fazia alguns anos que a adolescente não era incomodada com dores de cabeça resultadas por estresse, mas devido toda a situação envolvendo o desaparecimento de Will, a confusão que se metera ao ficar responsável por um bando de pré-adolescentes e o péssimo tratamento recebido por Jonathan no velório, as dores de cabeça regressaram no pior momento possível.

A mais velha era incapaz de prestar atenção na explicação que Mike estava dando para Eleven utilizando a metáfora da pulga e o acrobata, porém não duvidava da capacidade didática do Wheeler. Seu foco principal era livrar-se da dor de cabeça sem descontar as frustrações nas crianças, principalmente no irmão mais novo que andava de um lado para o outro do porão como uma barata tonta.

O que consolava a adolescente era saber que o patrão não estava contando suas faltas no serviço, tendo dado a ela alguns dias de licença graças ao período de nojo pela morte do Will, o qual todos sabiam que a menina tratava como próprio membro familiar. Ela também estava levemente aliviada por estar envolvida na confusão dos meninos, mesmo a situação sendo muito preocupante, pelo menos ao lado das crianças ela conseguiria focar sua atenção em achar Will e ajudar Eleven ao invés e se preocupar com o fora tomado pelo Jonathan e por Nancy ter arruinado outra vez a sua vida.

— Precisa de muita energia para criar um portal assim — O ruído do papel rasgado por Mike durante a explicação atraiu a atenção da Lola da mesma maneira que assustou Eleven que escutava tudo desde o início — Mas tem de ser o que aconteceu. Senão, como o Will iria para lá, certo?

— Certo. — Concordou Eleven ainda perdida com o banho de informações recebidas sobre como podem chegar ao mundo invertido.

— O que queremos saber é: Sabe onde fica o portal? — Perguntou Lucas fazendo a pergunta que todos do grupo desejavam ter uma resposta positiva. Porém Eleven balançou a cabeça negativamente, deixando Lucas e Louise mais frustrados — Então como que sabe do mundo invertido?

A garotinha manteve o silêncio e desviou o olhar, encarando o chão por alguns segundos antes de desviar a atenção para Dustin, o qual continuava perambulando sem rumo pelo porão.

— Dustin, o que você está fazendo? — Perguntou Louise erguendo a cabeça e soltando os braços da têmpora, tentava evitar a raiva no tom de voz para não descontar seus problemas pessoais nas crianças. Porém o menino a ignorou, obrigando Lola erguer o tom de voz cada vez que chamava o nome do irmão — Dustin! DUSTIN!

— Preciso ver suas bússolas — Disse o mais novo olhando assustado para a irmã quando ela gritou seu nome.

— O que? — Perguntou Louise confusa voltando a sentar no último degrau.

— Todas as suas bússolas, agora! — Ordenou Dustin olhando para cada um dos presentes.

Mesmo estando confusos com o requerimento, Lucas e Mike procuraram em suas bolsas e em outros cantos do porão o objeto pedido, encontrando o total de oito bússolas que despejaram sobre a mesa. Apesar de permanecer com a cabeça latejando, Louise aproximou do grupo para entender as razões que levavam Dustin a agir daquela maneira.

— O que tem de empolgante sobre isso? — Perguntou Mike estando tão túrbido quanto os demais.

— Apontam para o Norte, certo? — Perguntou Dustin retoricamente.

— Sim, óbvio! O que tem de mais? — Louise cruzou os braços na frente do corpo e moveu os ombros com desdém.

— Não é o Norte verdadeiro — Disse Dustin apontando para os objetos espalhados na mesa.

— Como assim? — Perguntou Mike interessado.

— É exatamente o que eu falei. Não é o Norte verdadeiro — Falou Dustin começando a se irritar por não compreenderem o que ele estava tentando dizer. — Vocês são mesmo tão burros?

— Desembucha, Dusty! Estamos cansados e eu estou com dor de cabeça para entender qualquer coisa, explique como se tivéssemos cinco anos — Pediu Louise gesticulando para que ele continuasse com a explicação ao invés de ofender os presentes.

— O sol nasce no Leste e se pões no Oeste. Certo? — Perguntou Dustin com leve ar de ironia ao acarretar a ordem da irmã e apontando nas direções citadas — Logo, o Norte verdadeiro fica lá.

— Está dizendo que as bússolas estão quebradas. — Disse Mike tentando compreender o que Dustin tentava explicar.

— Não, não é isso — Louise pegou uma das bússolas da mesa para analisar melhor o objeto e começou a andar pela sala como o irmão havia feito anteriormente.

— Ah, pronto! — Reclamou Lucas quando Lola passou ao seu lado.

— Entendem como uma bússola funciona? — Perguntou Dustin retórico, ele também pegou um dos objetos e mostrou o mesmo para Mike — Está vendo uma bateria?

— Não — Respondeu Mike balançando a cabeça negativamente.

— Não. Porque não precisa de uma. A agulha é atraída pelo Polo Norte magnético da Terra. — Disse Dustin irritado com a ignorância dos amigos — A Lola sacou o que quero dizer e ela está com enxaqueca.

— Então o que deu nelas? — Perguntou Lucas ainda confuso aonde Dustin queria chegar.

— A explicação do Sr. Clarke — Respondeu Louise parando de perambular pela sala e encarando os três meninos. Porém tanto Mike quanto Lucas continuavam sem entender — Não? Ai gente!

— Pode-se mudar a direção de uma bússola com um imã — Prosseguiu Dustin pegando a deixa da mais velha. — Se há um campo magnético mais poderoso, a agulha aponta para esse campo. Aí entra a explicação do Sr. Clarke, o portal teria tanta energia...

— Que alteraria o campo magnético — Completou Louise aproximando do irmão mais novo e depositando um beijo estralado sobre sua cabeça — Meu pequeno gênio! — Em seguida virou para os outros com sorriso esperançoso nos lábios enquanto abraçava Dustin pelos ombros — Entenderam agora?

— Se seguirmos o Norte da bússola... — Começou Lucas querendo ter certeza de que estava entendendo a ideia do melhor amigo.

— Elas devem nos levar ao portal— Completou Dustin sorrindo orgulhoso por ter chegado na explicação e pelo elogio recebido da irmã mais velha, adorava quando a mesma o mimava daquela forma.

— Preparem as bússolas, separem água e qualquer coisa que acharem útil — Ordenou Louise apontando para os meninos — Saiam pelos fundos e me encontrem na garagem em dez minutos. Dusty leve minha bicicleta que está escondida no arbusto.

— O que você vai fazer? — Perguntou Mike olhando confuso para Louise, a qual estava saindo da casa pela porta dos fundos.

— Procurar alguma coisa que sirva como arma já que perdi a minha — Respondeu Louise dando com os ombros e seguindo com o plano.

Sorrateiramente Louise se esgueirou pelos jardins até alcançar a garagem, a qual para sua sorte estava aberta e vazia, assim não teria de usar desculpas para atravessar a casa sem chamar a atenção dos membros da família e nem teria de ficar para o jantar, evitando dessa forma longas horas de conversa com Karen e suas frases prontas para "consolar" a adolescente.

Tomando todo cuidado para não derrubar os objetos, Louise avaliava cada pertence como se estivesse enfrentando uma quest crucial de RPG, tinha que escolher sua futura arma com sabedoria e de preferência algo que pudesse manusear com facilidade. Além de ser algo que não chamasse a atenção caso sumisse, mesmo ela duvidando que o senhor ou a senhora Wheeler fossem sentir falta de qualquer objeto que pegasse emprestado para sair em sua aventura com as crianças.

Após analisar milimetricamente os pertences da família, Louise escolheu o taco de basebol que estava guardado junto com os martelos do jogo de críquete. Com ambas as mãos ela manuseou a "arma branca" como se lutasse com um inimigo invisível.

— Uóu! Uóu! Hey! — Lola estava distraída com sua luta imaginária que não percebeu a aproximação de Steve Harrington, por poucos centímetros não acertou o rapaz no meio do rosto.

— O que está fazendo aqui, idiota? — Perguntou Louise ajeitando os cabelos enquanto recuperava do susto, tentando manter a imagem plena e ao mesmo tempo raivosa, de quem não se importava por ter quase acertado outro adolescente.

— O que você está fazendo aqui? — Steve rebateu com outra pergunta. Ele sabia que Nancy e Lola não eram amigas há muito tempo, por isso não havia motivos para ela estar na casa dos Wheeler em sua breve concepção.

— Não é da sua conta — Respondeu Louise dando com os ombros.

— Espero que isso não seja para mim — Zombou Steve mantendo a esportiva e aproximando da adolescente.

— Bem que você está merecendo — Provocou Lola balançando o taco na direção do rapaz.

— Também espero que não seja para a Nancy — Ironizou Steve forçando Louise a abaixar o taco.

— Óbvio que não, eu vim pegar emprestado para jogar basebol com meu irmão — Lola revirou os olhos e mentiu com veemência. — Aliás, você não respondeu o que veio fazer aqui. Vai entrar pela porta da frente?

— Não, vou escalar a janela. — Steve apontou para o lado de fora da garagem, mais precisamente para a calha que costumava escalar para visitar Nancy — Mas vi você brincando de espadachim e quis saber como você está.

— Sério? Você preocupado comigo? Desde quando? — Louise cruzou os braços na frente do corpo, agarrando o bastão de basebol.

— Desde... — Ele parou alguns segundos para refletir sobre a resposta. — Desde sempre.

— Desde sempre? Essa é nova, Steve Harrington — Rebateu Lola revirando os olhos, depois de todos os últimos anos sofrendo bullying por parte dos amigos do Steve ela não conseguia mais acreditar em suas palavras. — Seus amigos fazem da minha vida um inferno e você vem dizer que se preocupa comigo?

— Ouça, eu sinto muito — Steve soava sincero com seu pedido de desculpa, deixando claro em suas expressões e gestos corporais — Mesmo antes de você me ameaçar com o taco de basebol — Completou o rapaz arrancando um riso fraco de Lola — Eu entrei em pânico e fui um completo babaca.

— Diz isso sobre a câmera do Jonathan ou sobre o baile da primavera? — Perguntou Lola arqueando a sobrancelha desconfiada. — Aliás, babaca você sempre foi.

— Acho que tudo — Steve ergueu as mãos em rendição e olhava diretamente dentro dos olhos de Louise. — Me desculpe, Lola!

Durante alguns segundos Louise permaneceu sem palavras ou reações, o pedido honesto de desculpas do Steve a deixou perplexa e completamente surpresa. Dentre todas as pessoas do mundo, o rapaz era o último de quem ela esperava aquele tipo de comportamento.

— É uma pegadinha? — Perguntou Lola seguindo desconfiada.

— Não, não é! — Steve aproximou dela e segurou em uma de suas mãos — Louise Henderson, me desculpe!

— Seus pais que te mandaram? 'Tá tendo problema com a polícia? Já sei, o soco que te dei foi bem forte e fez você perder uns parafusos — Zombou Louise puxando a mão e voltando a cruzar os braços sobre o peito.

— Porque é tão difícil acreditar em mim? — Perguntou Steve revirando os olhos.

— Sei lá, me responda você — Respondeu Louise começando a se irritar — Posso listar um punhado de coisas absurdas que escutei durante todos esses anos, todos os apelidos ofensivos, o inferno que foi a escola. Aliás, o que seus amigos idiotas vão pensar quando souberem que veio me pedir perdão? Eu devia fazer você ficar de joelhos.

— Quer saber... Quem se importa? Que se danem. — Disse Steve dando com os ombros e balançando a cabeça — Você quer que eu fique de joelhos? Ótimo.

— Não, não, não. Definitivamente não. — Disse Louise segurando Steve pelos ombros quando ele começou a ficar de joelhos, impedindo de prosseguir com o ato — Se você se ajoelhar vou ser obrigada a te perdoar e não estou interessada. Todo mundo sabe que sou a rainha em guardar rancor.

— Interessante, então acho que devo prosseguir — Brincou Steve fingindo que ajoelharia.

— É sério, Harrington. Eu vou bater com esse taco na sua cabeça se você se ajoelhar — Falou Louise risonha o impedindo novamente de prosseguir. — Mas o que deu em você de pedir perdão? Está com o pé na cova?

— Não é isso, só acho que é a coisa correta a se fazer.

— Você está com pena de mim — Louise balançou a cabeça negativamente — Como todo mundo dessa cidade depois que me virão chorando no funeral.

— Não estou com pena de você — Falou Steve franzindo o cenho — Só cansei de fingir.

— Eu estou no mundo invertido, ai não... — Louise levou a mão na testa e afastou do rapaz, deixando ele confuso com o comentário — O Jonathan me da o fora e você pede o meu perdão, algo errado não está certo.

— Mundo o que? — Perguntou Steve confuso.

— Eu... Acho que não posso — Louise voltou a encarar o ex-amigo de infância — Não consigo acreditar em você, não consigo acreditar nesse dia. Talvez você seja a porra de uma ilusão medicamentosa, devo estar muito chapada.

— Você está bem? — Steve a segurou pelos ombros, estando verdadeiramente preocupado com a saúde da menina.

— Eu não sei... — Vociferou Louise empurrando as mãos de Steve e afastando dele — Estou com uma puta enxaqueca, provavelmente perdi o meu melhor amigo, você resolveu testar meus limites, tem todo o lance do velório e tem o meu irmão... Tenho que cuidar dele.

— Sim, claro... — Assentiu Steve compreendendo as desconfianças de Louise.

— Não consigo acreditar em você, por mais que deseje muito — Louise sorriu sem humor e suspirou — Você pode pedir desculpas o quanto quiser, mas são as suas atitudes que importam. Não adianta vir com "Desculpa, Lola" se amanhã você e seus amigos estarão fazendo da minha vida um inferno. Talvez eu te perdoe um dia. Mas não vai ser hoje e nem vai ser agora.

— Louise! — Gritou Dustin alguns metros à frente, sendo a intromissão perfeita para a menina.

— Eu tenho que ir, Harrington. Foi... Interessante falar com você. — Com os olhos marejados Louise se afastou do rapaz, o deixando sozinho na garagem com muitas coisas para refletir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "HOLD THE LINE - Livro #01" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.