True Colors escrita por Bia Nascimento


Capítulo 2
Addicted to a Memory


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Esse capítulo foi baseado em outra música do álbum, vou deixar a letra no capítulo e a tradução em baixo, igual da última vez.
Agora que tal vermos as primeiras interações reais de Daisy e Annabeth? é só prosseguir a leitura ^-^



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"We are sentimental slaves on broken knees
We are empty"*

Addicted To A Memory - Zedd feat. Bahari

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Acordei com o sol forte batendo no meu rosto e sons vindos da cozinha. Levantei, um pouco atordoada, até me recordar da noite no mínimo atípica que acabara de ter. Quando me virei Carla ainda estava apagada no colchão, então os sons deviam ser Daisy.

Fui em direção a ela, a garota estava em um quarto desconhecido, talvez ficasse com vergonha de pegar algo ou sentisse dificuldade de encontrar o que quer que quisesse. Até quando acabava de acordar aquele ser humano era lindo. Seus cabelos estavam adoravelmente bagunçados, os pijamas que eu havia emprestado ficavam muito grandes nela e ela encarava a cafeteira como se desejasse o café, mas não pudesse tocá-lo. Era como observar uma criança que fora dormir na casa da prima e acordara antes dela.

“A cafeteira não vai te morder se você pegar um pouco”, eu respondi, não contendo o riso ao apreciar aquela mais do que adorável cena.

“Bem... me desculpe, eu só não sabia se podia pegar o café, então estava tentando me decidir se deveria arriscar.” Ela respondeu, parecendo realmente envergonhada.

Peguei a cafeteira do suporte e coloquei o café em sua xícara enquanto dizia “não se preocupe, pode pegar o que quiser aqui, os armários não estão cheios, mas deve ter algo que você goste para o café da manhã. Aliás, não sei se você lembra meu nome, mas sou Annabeth”

Ela agradeceu timidamente e disse que se chamava Daisy, enquanto abria os armários e avaliava meu escasso estoque de comida e eu ia fazer minha higiene diária.

Quando voltei ela estava sentada no balcão, comendo bolachas e com o olhar distante.

“Se sente melhor?” Questionei enquanto colocava leite em uma tigela e esquentava no microondas.

“Com dor de cabeça, mas bem, obrigada por me ajudar noite passada.” Ela respondeu, parecendo constrangida.

“Sem problemas, não podia ver alguém sofrendo e ficar parada, sem fazer nada. Se importa se eu perguntar qual foi o motivo da briga?” Agora eu colocava meu cereal na tigela.

“Não me lembro muito bem, acho que ele queria transar e eu não, alguma besteira assim. De todo modo, já passou.” Vi o olho dela cheio de lágrimas ao relembrar a noite anterior, mas também percebia seu esforço em tentar esconder isso com um sorriso falso.

“Quer conversar sobre isso? Você parece estar passando por uma fase difícil no seu relacionamento, estarei aqui se quiser ajuda.” Finalmente estava sentada ao lado de Daisy.

Disse aquelas palavras por pura formalidade, mas fui surpreendida pelos braços da garota ao meu redor. Correspondi ao abraço, mesmo que um pouco confusa com o rumo das coisas, e tamanha foi minha surpresa quando senti lágrimas descendo dos olhos da garota que há minutos antes se esforçava para esconder disso. Disse para ela se acalmar e que tudo ia ficar bem enquanto sentia as lágrimas molhando meus ombros. Entre soluços ela dizia que aguentava mais, precisava fugir daquilo e não conseguia, coisas do gênero, mas era difícil entender com ela naquele estado.

Levantei, peguei um pouco de água com açúcar para a menina (minha mãe sempre dizia que não podíamos tomar gelado logo depois do quente. Ela estaria bem decepcionada comigo). Voltei para a bancada, Daisy bebeu a água e finalmente estava calma. As lágrimas pararam, os soluços também, e agora ela articulava frases inteiras sem cair em prantos novamente. Quando questionei qual era o problema ela me contou toda a história do relacionamento dos dois, e realmente, o relacionamento deles era um grande problema.

Aparentemente o Bryan era da sala dela, os dois se conheceram e ele não parecia uma pessoa ruim na época, talvez um pouco estúpido, mas nada muito grave. Ele era, segundo Daisy, livre, o tipo de pessoa que sai quando quer, faz loucuras e volta sem se importar com coisa alguma. Eu chamo isso de idiotice, mas a história não é minha, então vamos continuar.

Ela se apaixonara pelo espírito livre de Bryan, ele se apaixonara pelas tetas dela (não foi bem isso que ela me contou, mas convenhamos, sabemos que essa é a verdade) e os dois começaram a viver uma bela história de amor quando ele a chamou para uma festa, ambos ficaram bem doidões e transaram no parque que fica perto do dormitório, outro belo exemplo do tal espírito livre que a lei costuma chamar de “ato obsceno”. Uma viatura passou e eles tiveram que ficar uma noite na cadeia, apesar de não terem tido consequências maiores, aparentemente o policial sabia das idiotices que se faz na juventude.

Nunca foi feito um pedido oficial de namoro, mas os dois costumavam se dar bem, trocavam mensagens o tempo inteiro e Bryan disse que ia parar de sair com outras garotas para ficar com Daisy, o que ela entendia por um pedido de namoro extraoficial. A paz durou pouco tempo e em algumas semanas as brigas começaram. No começo coisas simples, como Daisy ficar preocupada com as bebedeiras e pedir para ele se segurar um pouco, o que iam assistir, o que pediriam para comer, todo pequeno detalhe se transformava em motivo de briga.

Nessa vibe os dois tinham terminado e reatado diversas vezes, tiveram brigas mais pesadas, como ele ter traído ela, um implicar com a roupa do outro, crises de ciúmes e, o motivo das mais recentes, ele querer transar e ela não.

Resumindo tudo, eu enxergava da seguinte maneira: Bryan era um babaca e Daisy foi trouxa.

Depois de ter a ouvido e enxugado suas lágrimas, tive uma conversa franca com ela. Falei que ela era uma menina incrível, deveria parar de se submeter a tal relacionamento, que merecia coisa muito melhor, e fui surpreendida com o olhar de dor dela enquanto dizia que apesar de tudo, ainda o amava. Ela contava com brilho nos olhos sobre as coisas que faziam há meses atrás, mas não tinha nada de bom para dizer sobre o último mês. Daisy não o amava, amava as memórias que fizera com ele, e eu não conseguia fazê-la enxergar isso.

Quando ela se recuperou e já estávamos falando sobre outras coisas, como matérias da faculdade, professores e amigos bêbados, o celular dela tocou. Era Bryan dizendo que a amava, pedindo desculpas e todas essas baboseiras. Apesar de todo meu esforço para ela seguir em frente, em questão de 10 minutos ela estava se despedindo e saindo no meu quarto porque o namoradinho estava indo “ajeitar as coisas com ela”.

“Aliás, bela margarida no vaso!” ela disse enquanto saía do pequeno quarto.

Por alguns segundos corei e meu coração bateu mais rápido. Talvez você chame isso de paixão, mas eu chamo de estar morrendo de medo de Daisy ter percebido que peguei a flor dela e me achar uma terrível stalker.

Voltando ao nosso caso, Bryan só queria uma foda fácil, era tão claro, mas ela parecia tão ingênua para perceber isso, em questão de horas veria os dois descendo aquela escada rindo e se beijando.

Ah, depois de achar que ela tinha morrido de overdose Carla finalmente havia acordado.

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Era sábado a noite, Carla havia passado a tarde comigo, mas agora tinha ido transar com alguém, ou com mais de uma pessoa, não entendi muito bem o que ela disse para falar a verdade. Passamos a tarde toda ouvindo a cama de Daisy gemer em cima de nós, o que provavelmente significava que ela tinha perdoado Bryan de novo e apesar de estar julgando muito ela por essa situação, não havia mais nada que pudesse fazer.

Ela era incrível, linda, inteligente, o tipo de pessoa com quem a conversa flui sem dificuldade alguma, doce, meiga e tudo mais, merecia alguém bom para ela, mas não conseguia enxergar isso. Aparentemente temos que adicionar “trouxa” a lista de adjetivos dela.

Todos os meus amigos estavam em festas e eu queria distância delas por um tempo, então fiz o que toda garota solitária faz (ou deveria fazer) sábado a noite: liguei o computador e fui jogar. Não era o melhor dos computadores, bem com a internet deixava a desejar, mas dava para brincar um pouquinho.

No meio da partida, com meu time ganhando e eu sendo, de longe, a melhor jogadora dele, ouvi batidas insistentes na porta. Tentei ignorar e fingir que não estava em casa, mas as batidas continuavam incessantes, tão fortes que me assustaram. Fui obrigada a largar o jogo ­­— o que provavelmente me daria uma penalidade depois — e, bufando, abri a porta.

Daisy estava do outro lado, os olhos vermelhos, mãos tremendo, o rosto molhado por lágrimas. Enquanto ainda processava aquela cena, ela pulou em cima de mim e me abraçou. A espontaneidade dela era tão adorável que quase fazia a cena deixar de parecer um clichê de comédia romântica.

Apesar de abalada, ela parecia melhor do que quando me contou sua vida pela manhã, dessa vez ela conseguia controlar as lágrimas e a própria voz.

“Anna... eu terminei com ele” ela jogou as palavras como se fosse se arrepender de dizê-las. “Você estava certa... ele só estava me usando e eu fui trouxa, estava tão viciada nas memórias que vivemos que não conseguia enxergar como o sonho virou um pesadelo.”

Devo dizer que estava surpresa com tal declaração, depois de ouvir a cama ranger e ela sair feliz ao encontro dele, achei que esse seria um ciclo sem fim.

“O que aconteceu para você mudar de ideia?” questionei Daisy, estava curiosa.

“Bem... ele veio, conversamos, perdoei ele e passamos a tarde juntos... imagino que você saiba como reatamos nosso relacionamento, então depois de uma tarde inteira de amor intenso ele foi tomar um banho e disse que precisava sair. Não questionei, afinal a vida dele não se resume a mim, mas quando liguei a tela do celular dele para ver as horas tinha uma mensagem de uma garota dizendo que estava o esperando, ansiosa para passarem a noite juntos. Acho que fui trouxa por tempo demais, depois dessa não existia mais motivos para estarmos juntos. Joguei algumas verdades na cara dele, algumas roupas dele pela janela e pretendo nunca mais falar com aquele idiota na vida.” Apesar da voz dela sequer ter vacilado, ela tinha olhos tristes. Aquele término definitivamente era um livramento, mas ela gostava de verdade do bobão, estava machucada.

“Daisy, eu sei que isso dói agora, mas você fez o melhor para si mesma. Ele era um babaca com você, não te merecia e por favor, não volta com ele de novo. Liga a TV e escolhe algo que você goste para assistir, vou pedir uma pizza, vamos comer e acabar com o sorvete da geladeira. Se quiser pode dormir aqui, agora você precisa de uma amiga e de pensar em coisas boas, vamos resolver isso.” Pela primeira vez na noite vira ela sorrir, um sorriso desses genuínos.

“Obrigada, Annabeth, isso significa muito para mim.” Ela respondeu, já pegando o controle.

Ela encontrou uma comédia romântica, a pizza chegou, acabamos com o sorvete e no fim da noite tinha uma Daisy cansada, a cabeça encostada em meu ombro, os olhos fechados e os cabelos caídos em mim. Me perguntei a noite toda o porque dela ter vindo até mim e não até alguma outra amiga, ela tinha várias pelo o que pude perceber, mas provavelmente o único motivo era eu estar mais perto do que a maioria delas.

Queria sair daquela posição, era desconfortável, mas a garota parecia tão angelicamente calma daquele jeito que não tive coragem, depois de descobrir que está em um relacionamento abusivo e sair dele ela merecia um pouco de conforto e paz, eu podia aguentar mais um pouco desse jeito.

Meu coração batia mais rápido, minhas mãos suavam, não conseguia focar em nada que não fosse Daisy, finalmente admiti que estava apaixonada, mas quem poderia me culpar? Uma garota meiga, inteligente e bonita estava deitada ao meu lado numa cama, quem não se apaixonaria em uma circunstância dessas?

Vocês podem estar se questionando: “Mas Annabeth, como isso? Você é lésbica? Bissexual? Pansexual? Que história é essa, mulher?” E tudo o que tenho a dizer é que não importa. Essa não é uma história sobre sexualidade, sobre conflitos ou aceitação, é só a minha história com Daisy e o que importa é que me apaixonei por ela.

Nesse momento não me importava se seria correspondida ou não, na verdade nem em meus sonhos mais loucos pensava em namorar com a garota que deitava ao meu lado, desde que eu pudesse estar com ela, nem que fosse observando, estaria feliz.

Estava cansada também, precisava dormir. Deitei ela o mais delicadamente possível e aparentemente seu sono era pesado, já que permanecia feito uma pedra. Ou seria um anjo? Enfim, o importante ela era continuar dormindo.

A cobri, desliguei a televisão, deitei na cama ao lado e dormi, sendo surpreendida por sonhos envolvendo Daisy durante a noite.

Estar apaixonada era isso, cuidar dela, sonhar com ela, pensar nela... como odiava me apaixonar.

 


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Notas finais do capítulo

*"Somos escravos sentimentais em joelhos quebrados
Somos vazios"

Finalmente Annabeth admitiu estar apaixonadinha pela Daisy ♥
Aaaaah, essa história é tão gostosinha de escrever, é tão bom toda essa leveza das duas, espero que estejam gostando tanto quanto eu ^-^



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