True Colors escrita por Bia Nascimento


Capítulo 1
Daisy


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos à True Colors! Esse é meu primeiro yuri inspirado em um álbum que dá uma verdadeira história. Vou deixar um trecho da música em questão no início dos capítulos e o link para quem quiser ouvir.
Boa leitura!



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"Daisy, always climbing up the same tree
Finding love in all the wrong scenes, Daisy, you got me
Daisy, always walking down the wrong streets
Starting fires out of dead weeds, Daisy, you got me*"

Daisy - Zedd ft. Julia Michaels

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Não me lembrava da primeira vez que havia a visto –  afinal, a vida não é um romance e você não presta atenção em todas as pessoas novas que você vê num dia – mas eventualmente ela se tornara uma presença constante na minha vida. Raramente interagíamos e nas poucas vezes que aconteceu foi um aceno de cabeça ou uma conversa bêbada, mas eu estava sempre a observando.

Apesar disso parecer assustador quando dito dessa forma, eu não era nenhuma stalker doentia, mas quase sempre cruzávamos os mesmos caminhos e observá-la se tornou uma espécie de hobbie. Éramos da mesma faculdade, mas fazíamos cursos diferentes, ela design e eu arquitetura. Também estávamos no mesmo dormitório, apesar do meu quarto ser no segundo andar e o dela no terceiro, bem em cima do meu. Ela era bolsista e até onde sabia sempre conseguia manter ótimas notas. Atualmente namorava um babaca, os dois pareciam um casal lindo andando pelo campus, mas já ouvi eles gritando nas escadas do dormitório mais de uma vez. Na verdade, com o passar do tempo, as brigas só aumentavam de frequência.

Daisy – era esse seu nome – Estava sempre rodeada de pessoas, era radiante, animada, e eu não conseguia imaginar um nome melhor para ela. Eu, por outro lado, era mais fechada. Não que eu fosse reclusa e antissocial, tinha meu pequeno círculo de amigos e os amava, mas preferia ficar sozinha na maior parte do tempo.

Os exames finais aos poucos iam passando e os alunos se dissipando, a hora da saída já não era um amontoado de gente depressiva como nos primeiros meses, menos pessoas estavam lá a cada dia e estavam sempre felizes da folga que teriam do inferno que chamamos de faculdade. Eu mesma já tinha sido aprovada em praticamente todas as matérias, menos projeto, meu maior ponto fraco.

Depois de um dia exaustivo da pior matéria do mundo, a aula finalmente havia acabado e meus olhos automaticamente a encontraram. Eu nunca procurava por ela, era como se Daisy simplesmente aparecesse no meu campo de visão, ou talvez essa só fosse a minha desculpa para continuar a observá-la. Hoje ela estava com os cabelos acobreados soltos, seu vestido florido voava com o vento e seu sorriso fazia com que ela se parecesse uma pintura. Aquela era uma cena que merecia ser congelada, eternizada, fotografada, mas tinha medo de que a capturar com a lente de meu celular ultrapassasse a tênue barreira entre observação e perseguição.

Radiante ela se encontrou com Bryan, o tal namorado que não a merecia. Podia ser paranoia minha, mas vi seu sorriso se desmanchar um pouco ao avistá-lo. De todo modo, segundos depois ela parecia tão feliz quanto antes, então não dei atenção.

Ela ia em direção ao prédio onde ficava nossos quartos, logo segui meu caminho para lá a observando a distância, e aquela garota me fascinava a cada segundo mais. Apesar de um corpo desenvolvido, era pequena e estava sempre saltitando como uma criança, dava risadas altas e parecia ser o tipo de pessoa que não se importava com o que quer que falassem dela.

Ao longo do caminho ela encontrou uma margarida crescendo em uma praça. De longe a vi pegar e entregar ao namorado, como um símbolo de carinho. De longe também o vi derrubá-la no meio do caminho. Quando passei pela flor, a peguei sem pensar e só minutos depois reparei em quão perturbador aquilo parecia, era como se estivesse perseguindo a jovem Daisy propositalmente.

Ela chegou ao dormitório e subiu com o namorado. Eu cheguei no dormitório e me tranquei em meu quarto. Coloquei a margarida em uma jarra com água e me deitei, havia sido um dia exaustivo e eu merecia um belo cochilo da tarde.

Era um lugar pequeno, duas camas amontoadas com um criado mudo entre elas, um banheiro, uma cozinha minúscula e um armário, tudo isso para ser dividido com mais uma pessoa. Minha companheira de quarto havia acabado de se formar, então levaria algum tempo para eu ter que dividir meu cubículo com alguém novamente.

Em meio a devaneios, finalmente adormeci.

Quero usar esse espaço entre eu dormindo e meu despertar para deixar uma coisa clara: eu não estava apaixonada por Daisy! (Ou pelo menos não admitia estar). A observar era uma pequena distração, como se ela fosse a personagem de um livro ou desenho, e eu tivesse a oportunidade de acompanhar a vida desse personagem de perto. Talvez eu tivesse sonhado com ela algumas noites e pensasse nela com alguma frequência, mas me recuso a acreditar que nutria algo romântico por uma pessoa que sequer sabia da minha existência.

Dado esse pequeno aviso, acho justo dizer que acordei.

Não acordei sozinha, não acordei com a bela visão do Sol se pondo ou com a lua a me iluminar. Acordei com Carla – também conhecida como a louca da minha amiga – pulando em cima de mim com entusiasmo, gritando “Annabeth” (que, aliás, é meu nome) e dizendo alguma coisa que o sono não me permitia compreender.

Depois de menear a cabeça positivamente algumas vezes sem fazer ideia do que estava acontecendo, Carla finalmente entendeu que eu precisava de espaço e saiu de cima de mim. Depois de um copo de água e alguns minutos de pura euforia por parte da minha amiga descobri que eu seria “inteiramente produzida por ela” (palavras da própria), pois aparentemente dariam uma festa e eu iria querendo ou não.

Eu não era exatamente uma pessoa festeira, mas conseguia aguentar uma festa ou duas pela companhia dos meus amigos, então mesmo morrendo de preguiça de fazer outra coisa que não deitar na minha cama, não resisti aos apelos da minha colega, afinal o que mais faria em uma sexta-feira a noite?

Em questão de minutos Carla estava mexendo nas minhas coisas procurando pela roupa que ela julgasse melhor e tagarelava sobre essa ser uma ótima oportunidade para sair pegando geral. Carla sempre estava com uma pessoa diferente, não se apegava a ninguém e aproveitava cada oportunidade de aumentar seu histórico de bocas ao máximo. Eu era mais quieta, dava alguns beijos descompromissados quando bêbada, mas sequer lembrava da última vez que havia me envolvido significativamente com alguém.

Depois de algumas horas repletas de maquiagem, roupas e Carla falando mal de todo mundo, estávamos prontas para a festa. Carla parecia uma stripper, mas uma stripper linda com seus cabelos cacheados e suas curvas acentuadas pelas roupas curtas e apertadas. Eu, produzida pela própria, era uma versão um pouco mais modesta e muito pouco confiante, com saltos altos, saia curta e blusa apertada.

A festa, em uma boate perto dos dormitórios, era como qualquer outra: bebidas, drogas, pessoas loucas e música ruim. No começo foi divertido, Carla e eu nos juntamos com alguns amigos e jogamos bastante conversa fora, mas aos poucos eles foram se dispersando e agora deviam estar transando por aí.

Já eram duas da manhã e eu não aguentava mais aquele lugar, mas sempre que me levantava para ir embora Carla aparecia um tanto bêbada e me pedia para espera-la. Eu não podia a deixar sozinha naquela situação, tinha medo de alguém se aproveitar da bebedeira da minha amiga.

Passei a noite observando a garota de cabelos cacheados, quando meus olhos se encontraram com ela novamente. Daisy. E ela estava linda. Usava saltos, o que a deixava quase do tamanho de uma pessoa normal, shorts e uma blusa frente única. Estava com o namorado e ambos pareciam bêbados.

A expressão “um olho no peixe e o outro no gato” nunca fizera tanto sentido para mim até então. Enquanto eu seguia com o hábito de observar Daisy, também cuidava de longe da minha amiga louca que a cada 5 minutos estava com um cara diferente.

Tudo correu bem o resto da noite e Carla finalmente parecia cansada o suficiente para irmos embora. Estávamos levantando quando uma cena me chamou a atenção: Daisy e o namorado estavam brigando.

Eu via os dois discutindo o tempo todo, então aquilo não deveria incomodar, mas dessa vez era diferente. Ele estava a agarrando pelo braço à força e ela relutava, mas não parecia forte o suficiente para resistir. Carla resmungou alguma coisa, mas depois de seguir meu olhar ela entendeu o que estava acontecendo.

Não precisei dizer nada, minha amiga me arrastou até a cena e, mesmo bêbada, me ajudou a separar o brutamontes da jovem garota. Gritamos com ele, o empurramos, ameaçamos e depois de muito trabalho ele finalmente soltou o braço de Daisy, não sem nos xingar e tentar nos bater antes. Nossa sorte foi ele estar tão bêbado que mal conseguia manter o equilíbrio.

Ela estava tão bêbada quanto ele, e tivemos que ajudá-la a chegar no dormitório. A garota estava chorando, a maquiagem completamente derretida, e dizendo coisas completamente sem sentido, além de suja. Quando estávamos chegando no dormitório, Daisy disse que queria vomitar e paramos no meu quarto, que era o mais perto.

Quando dissemos que a levaríamos para o quarto dela, ela ficou assustada. Disse que ele ia voltar e pegá-la, que iria morrer, chorava e tremia. Meu quarto ainda tinha uma cama desocupada e eu guardava um colchão inflável para emergências, então decidimos dormir as três no meu pequeno cubículo. Emprestei uma roupa para as duas, que tomaram um banho e foram direto para a cama. Logo depois foi a minha vez, mas antes fiz um café, iria ajudar com a ressaca das duas quando acordassem.

Deitei e apaguei, exausta do dia que havia tido, e a última coisa que me lembro antes de apagar de sono foi pensar em como Daisy conseguia ficar linda em roupas de festa e também pijamas e, talvez, lá no fundo da minha mente, uma voz me dissesse “você gosta dela”.

Mas ainda é muito cedo para discutirmos isso, então vamos terminar por aqui, eu finalmente adormeci e agora temos de esperar para ver o desenrolar de tudo isso.


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Notas finais do capítulo

*"Daisy, sempre subindo a mesma árvore
Encontrando o amor em todos os lugares errados, Daisy, você me pegou
Daisy, sempre andando pelas ruas erradas
Colocando fogo em ervas mortas, Daisy, você me pegou" - Tradução do trechinho que coloquei lá em cima.

Espero que tenham gostado ^-^



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