Londres, 1863

Em tão pouco tempo já havia se passado duas semanas, e aqui estava novamente arrumando minha gravata para o grande dia. E devo admitir que estava uma pilha de nervos, afinal Teodora e eu tivemos pouco tempo para nos conhecer, éramos dois estranhos que estavam se unindo por amor as nossas famílias.

Ela se casaria comigo para que a família não acabasse na miséria, e eu me casaria com ela pelo status de seus pais. E naquele momento percebi que um casamento não deveria começar daquela forma, não deveria ter como base interesses de outras pessoas.

Sempre achei que todos deveriam se casar por amor, pelo menos com meus pais e meus amigos de infância foram assim. Por que comigo deveria ser diferente?

Desnorteado com o rumo dos meus pensamentos, me sentei em minha cama enquanto tentava normalizar minha respiração, até que ouvi alguém bater na porta.

Tentei encontrar a minha voz para autorizar a entrada de quem estava batendo, mas não a encontrei.

—James?- Thomas chamou assim que abriu a porta do meu quarto.

Assim que viu meu estado, meu amigo veio até mim cheio de preocupação.

— Está tudo bem, você só precisa colocar a cabeça entre as pernas e respirar fundo. - ele me instruiu e fiz sem hesitar.

Demorou um pouco, mas logo pode me sentir mais calmo.

—Se senti mais calmo?- Thomas questionou me oferecendo um copo de água.

—Sim.- sussurrei antes de aceitar o copo e tomar um grande gole de água.- Onde você aprendeu isso?

—Você aprende muita coisa quando seu pai é médico. - ele disse e rimos. - E então, quer me contar porque ficou tão nervoso?

—Eu estou me casando por interesse Thomas, assim como Lady Davies. Como uma união pode dar certo, já começando errado?- questionei e meu amigo concordou.

—Você tem razão. Mas muitas pessoas se casaram por causa disso e conseguiram ser felizes. Basta apenas que vocês queiram isso.

—Obrigado por seus conselhos Thomas.

—Não precisa agradecer, é para isso que serve os amigos.- ele disse e sorrimos.

—Já está na hora amigo. Está pronto?- ele questionou assim que olhou seu relógio de bolso.

—Sim.- disse e logo saímos do quarto.

Eu e minha família fomos na frente, deixando Lady Davies e seus pais que iriam depois.

Assim que chegamos à igreja fui para o altar esperar a minha noiva, de lá percebi que toda a cidade estava presente na St Paul’s Cathedral. De longe vi Alexandrina e sua mãe, o olhar que ela me lançou era de ódio puro carregado de promessas de vingança.

Respirei fundo me desligando de Alexandrina, eu precisava ficar calmo, pois tudo daria certo.

Diante do altar, prometi a Deus que faria de tudo para que esse casamento fosse feliz, pois nós dois merecíamos isso.

—Lá vem a noiva querido.- minha mãe sussurrou para mim e voltei minha atenção para a porta.

Logo pude ouvir o som do órgão tocando a marcha nupcial, em seguida as portas foram abertas e pode ver Teodora usando um lindo vestido inteiramente branco, enquanto era conduzida por seu pai. Sua dama de companhia, Julia, e minha irmã os seguiam.

Assim que me viu ela sorriu suave.

E naquele momento tive certeza que poderíamos dar certo.

—Você está linda.- sussurrei encantado assim que conde Davies me entregou a mão de sua filha.

—Obrigada. Escolhi branco, por que é a sua cor favorita. - ela confidenciou e sorri surpreso antes de nos ajoelharmos a pedido do padre.

—Hoje estamos aqui reunidos para celebrar a união de James Redford e Lady Teodora Davies. Que Deus possa guiá-los nessa nova jornada e abençoá-los com inúmeros filhos.- o padre começou a dizer antes de prosseguir com a celebração.

Após todo o protocolo inicial o padre benzeu as alianças e pediu que repetíssemos o que ele dissesse.

—Eu, Lady Teodora Davies, aceito você, James Redford como meu legitimo esposo. Para amá-lo, e respeitá-lo, na saúde e na doença até que a morte nos separe.- Lady Davies repetiu a fala do padre antes de colocar minha aliança.

—Eu, James Redford, aceito você, Lady Teodora Davies como minha legitima esposa. Para amá-la, e respeitá-la, na saúde e na doença até que a morte nos separe. - repeti a fala do padre antes de colocar a aliança de Lady Davies.

—Com o poder concedido a mim, eu vos declaro marido e mulher. - o padre disse e todos começaram a nos aplaudir.

Lady Davies havia deixado de existir naquele momento, para surgi à nova Sra. Redford.

Finalmente meu pai havia conseguido o que queria.

Seu primogênito havia lhe dado o reconhecimento perante toda a nata londrina.

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Após a cerimônia fomos para a minha casa onde aconteceria a recepção do casamento.

Passamos quase uma hora e meia recebendo felicitações dos convidados, antes de termos a primeira dança como os mais novos Sr. e Sra. Redford e cortamos o bolo de casamento.

E para corar nossa celebração o dia estava luminoso, sem uma sombra de chuva.

—E então, Sra. Redford é tudo o que esperava para a sua festa de casamento?- questionei enquanto dançávamos e ela sorriu.

—Não. Jamais imaginei tudo isso. - Teodora disse e sorri antes de girá-la.

Assim que terminou nossa dança, meu pai fez um sinal para que o acompanhasse, me despedi de minha esposa e segui meu pai em direção ao escritório.

No escritório conde Davies nos aguardava impaciente, e assim que meu pai fechou a porta percebi que naquele momento ele iria fazer o cheque em nome do conde, cumprindo assim a sua parte no trato.

—Não podemos fazer isso amanhã?- questionei serio enquanto olhava para meu novo sogro.

—Claro que não Sr. Redford. Minha parte está cumprida, agora falta à parte de vocês. - ele indicou e meu pai concordou antes de ir para a sua cadeira e assinar o cheque.

Agradeci mentalmente a Deus por Teodora não ter me acompanhado, afinal ela se sentiria como uma mercadoria.

—Aqui está conde Davies, e foi um prazer fazer negócios com o senhor.- meu pai disse lhe entregando o cheque antes de ambos apertarem as mãos.

—O prazer foi meu. Agora, se os cavalheiros me dão licença, preciso voltar para o meu castelo.- ele disse apressado.

—Pensei que ficaria conosco mais alguns dias, para ver se sua filha ficará bem.- disse confuso e ele sorriu.

—Isso já não me importa mais Sr. Redford, esse papel é seu agora.- ele disse antes de sair do escritório do meu pai.

Como um pai poderia não se importar com sua filha, que havia acabado de casar e mal conhecia o marido?