Zootopia: Inside Stories escrita por Julio Cezario
Finalmente chegou o dia da entrevista, eu estava super animado. Era na empresa Moodle, ela fica perto da estação Will Street. O nervosismo era tão grande que levantei junto com o Ben as cinco horas da manhã (só para constar a entrevista era as dez horas), na cozinha achei uma caixa de rosquinhas perto da pia, ele deve ter ganho dos colegas de trabalho, abri um sorriso imaginando a felicidade dele quando as ganhou. Se tem uma maneira de conquistar o Ben, essa maneira é pela barriga. Então me veio uma ideia para usar os restos daqueles doces, peguei elas e moí com tudo no liquidificador e fiz uma pasta, com a pasta fiz massa para panquecas e misturei. Ele já saiu do banheiro fungando o doce aroma no ar.
— Eu não acredito! Você está fazendo as melhores panquecas do mundo? – Ele se sentou todo feliz com aroma.
— Sim. Só que tem uma surpresa dentro delas – Eu tentei instigar a sua curiosidade. Pelo jeito consegui.
— E qual seria? – Ele ergueu as orelhas e sua pupila se dilatou.
— Você vai ter que descobri quando comer – Eu terminei a receita surpresa, para finalizar coloquei calda de chocolate e alguns granulados.
Ele já atacou uma e saboreou, tentando descobri a surpresa. Quando ele engoliu a sua cara de espanto foi muito engraçada. Tentei sufocar uma risada.
— Peraí... – Ele se levantou, deu a volta no balcão entrando na cozinha, ele foi até a caixa da Duck’in Donuts e viu que estava vazia. – Não... Como você fez isso?
Eu dei uma leve risada.
— Primo, rosquinhas são feitas de massa também. Então pensei em colocá-las dentro das panquecas, ficou tão obvio assim?
— Querido, você tem que entender que de rosquinhas eu entendo. Eu senti o sabor delas na primeira mordida e ficou perfeito, nunca comi uma coisa tão gostosa – Ele se desmanchou todo para descrever as panquecas.
— Muito obrigado, agora vai se arrumar. Eu vou esquentar um pouco de água, você vai querer café ou chá?
— Chá.
— Okay.
Assim ele voltou para o quarto saltitante. Eu peguei o bule e coloquei a água para esquentar, já era cinco e meia.
— BEN! VOCÊ QUER HORTELÃ OU CAPIM-CIDRERA? – Gritei da cozinha.
— HOTELÃ!!! – A sua voz saiu abafada através da porta.
Ele saiu do quarto assim que coloquei os saquinhos, entreguei a xicara para ele.
— Já coloquei açúcar.
— Valeu primo, já tô indo. Beijos! Tenha um bom dia – Ele pegou o celular e suas chaves e saiu.
— Para você também, Ben.
Sentei no sofá, liguei a TV no Cartoon Petwork, aproveitei o meu chá de hortelã assistindo desenhos. Quando deu sete horas comecei a dar uma arrumada na casa, lavei a louça, arrumei as camas, eu entrei no quarto do Benjamin e vi todos aqueles pôsteres, jogo de cama e outros itens de decoração de cantoras do Pop e tive que dar uma leve risada, quem entrasse naquele quarto diria que era de uma adolescente. O Benjamin foi o primeiro da família que se assumiu gay, eu também era, mas ele sempre foi ele mesmo com seu jeito fofo e gentil. Por sorte ninguém nunca o julgou por isso, já eu não, sempre fui antissocial e poucos animais sabiam, tinha o fato de nunca me relacionar com ninguém. Aí o Wade veio a minha cabeça, fechei os olhos para aproveitar a memória que tinha dele, sempre usava um topete e óculos que combinava e muito com ele, lembro que me sentia culpado já que ele era um lobo, sendo assim um canino e eu um felino.
As nove horas peguei as minhas coisas e sai em direção ao metrô. Cheguei no escritório da Moodle dez minutos mais cedo. A recepcionista foi super gentil e prestativa, no final ela me deu um crachá de visitante e me ensinou o caminho até aonde aconteceria a entrevista. Eu não consigo descrever o que sinto quando vejo a empresa por dentro. Tudo era em vidro, aço e arenito branco, como um paraíso em forma de prédio empresarial, alguns animais passavam em ternos e falando em seus celulares. Subi pelo elevador até o vigésimo andar e fiquei aguardando em uma espécie de sala de espera.
Não demorou muito até ser chamado, o entrevistador era um leão jovem. Ele era bem comunicativo e tinha uma conversa inteligente, a minha entrevista foi bem fluente e leve, seguidas de poucas perguntas técnicas sobre a vaga e duvidas minhas também.
— Pronto! E quando você pode começar? – Ele me olhou enquanto digitava no computador.
— Por mim começava hoje. Mas não vamos exagerar né, posso começar na segunda-feira aí você pode mandar alguns encartes e planilhas para poder estudar e tentar ter um ponto de partida durante esse fim de semana.
— Hum, muito bem então. Vou solicitar ao pessoal da financeira e do RA para te mandar por e-mail os itens de que precisa. Na segunda você traz a sua carteira de trabalho para darmos baixa, Okay?
— Tudo bem! – Eu estou tentando controlar o meu entusiasmo.
Apertamos as patas como despedida e eu me dirigi a saída.
Quando cheguei em casa o sindico falou que os técnicos da internet e TV vieram e instalaram os serviços. Perfeito!
Subi para o apartamento, tomei um banho bem gelado, preparei algo para comer e peguei os panfletos deixados pelos técnicos explicando as configurações tanto da internet como da TV. Depois de tudo ligado e funcionando peguei o meu notebook e abri a minha caixa de e-mail, e lá estavam os documentos que solicitei na entrevista, baixei e comecei a estuda-los. As horas se passaram sem que percebesse.
— Boa Noite!!! Olha o que eu trouxe para comemorar a entrevista – O Benjamin entrou com tudo com duas caixas de pizza nas patas.
— Não acredito! Ben, como você...
— Querido, eu estava com uma sensação boa. E quem não vai contratar o melhor guepardo em cálculos e eu trouxe isso para comemorar – Ele ergueu as pizzas e uma garrafa de champanhe.
Ele ficou feliz em saber que a internet e a TV estavam operando, comemos bastante e comemos assistindo séries na Petflix, quando deram dez horas fomos dormir.
...
O final de semana passou voando, o Ben folgou no sábado e fomos a um clube que ficava na Praça Saara, ficamos até torramos a pele (infelizmente fiquei com a pele ardendo) e depois fomos buscar o meu Z-box nos correios. No domingo joguei um pouco e montei já algumas bases para o primeiro dia do trabalho.
Levantei era umas seis e meia da manhã, o Ben já tinha ido ir trabalhar. Fiz tudo o que tinha para fazer, tomei um banho e um café bem reforçado e seguida, sai de casa umas sete horas, nada como causar uma boa impressão no primeiro dia.
Como previsto cheguei meia hora mais cedo, perguntei a recepcionista aonde ficava o RA. Segui direto para a sala indicada, lá entreguei os documentos solicitados pelo entrevistador e com uma indicação de onde seria meu local de trabalho. Trabalharia no decimo segundo andar, na mesa 96. O meu escritório era um típico cubículo entre milhares que estavam naquele andar, nele tinha somente o básico. Um computador montado, um telefone IP com os devidos ramais, uma cadeira, duas prateleiras e uma lixeira, já pensei nas coisas que ia comprar para decorar o meu pequeno espaço de trabalho. Sentei e liguei o computador, bem tentei ligar. Ele não queria ligar, olhei os cabos e aparentemente eles estavam normais. Decidi ligar para o pessoal do TI.
— Alô? – Uma voz masculina atendeu.
— Aqui é o auditor, Felix Hunter. Gostaria de abrir um chamado para a minha máquina.
— Okay. Qual é o andar e o número da mesa?
— Eu estou no sétimo andar, mesa 96.
— Muito obrigado, estarei aí o quanto antes.
O tom dele estava animado, provavelmente estava empolgado por que ainda estava no começo do dia, sacudi a cabeça para afastar a ideia. Depois de três minutos ele aparece, eu entendi por que ele estava animado.
— Wade? É você? – Eu semicerrei os olhos. Eu não acreditei, o meu cérebro travou. Mas era ele, o mesmo pelo negro que fazia aquele topete perfeito, os olhos amarelos e penetrantes e os óculos que eu amava.
— Sim. Eu também não acreditei quando você falou o seu nome – Ele abriu um largo sorriso e me abraçou com uma velocidade incrível.
Eu não sabia o que fazer, aquele calor percorrendo pelo meu corpo.
— Mas como...
— Eu consegui um estágio aqui durante a faculdade e assim que acabou as provas eu consegui alugar um apartamento na Praça Saara e vim para Zootopia. Pensei que nunca mais ia te ver – Estava na cara que ele forçou uma risada enquanto passava as patas por trás da cabeça.
— Eu também não... E aqui está você, eu não sei nem o que falar.
— É, eu também estou sentindo isso. Então que tal a gente sair na sexta? Assim podemos colocar os assuntos em dia.
— Tipo só eu e você? Um encontro?
— É... A não ser que não queira – Ele abaixou as orelhas demostrando que estava decepcionado. Será que? Não, é coisa de minha cabeça.
— É obvio que eu quero. Marcado para sexta depois do expediente - Eu dei uma piscada para ele.
Isso fez com que as suas orelhas voltassem a ficar de pé. Estou achando que o que sinto por ele é reciproco, essa informação faz com que o meu coração bata com mais força que o normal.
A atração e excitação pelo encontro é quase palpável entre a gente, provavelmente ele estava sentindo também. Mas ele tinha serviço para fazer, verificando o meu computador Wade falou que o problema era o cabo de força que não estava dando contato, depois da troca ele reforçou sobre o nosso encontro e me deu mais um abraço antes de ir.
— Gente, eu tenho um encontro com ele – Eu sussurrei para mim mesmo.
O meu dia se seguiu voando tenho certeza que estava com um sorriso de orelha a orelha, todos notavam e me perguntavam o motivo dele, eu balançava e dizia que não era nada. Mostrei a minha base de controle e vistoria de pagamentos da empresa já com algumas informações atualizadas, ela foi aceita com sucesso, então já comecei a trabalhar nela para melhora-la.
Cheguei em casa cansado e morto (mas com o sorriso ainda estampado). Tomei um banho e preparei o jantar para quando o Ben chegasse.
— Olá, primo! – Ben chegou todo feliz.
— Oi, Bem! Como foi o seu dia no trabalho? – Eu já levantei do sofá e fui para a cozinha tirar as coisas do forno.
— Foi bem legal, comprei algo para o meu balcão e agora ele está com a minha cara. Tirando isso só os casos de desaparecimento que estão cada dia aumentando – A sua voz saiu abafada, provavelmente estava no banheiro.
Depois do banho ele sentou no balcão.
— Sério? Estão sequestrando os animais?
— Mais ou menos, está acontecendo os predadores, eles surtam e depois somem sem deixar pista ou rastro. Já temos seis casos – Ele realmente parecia preocupado.
— Nossa! Isso tudo nesse período curto de tempo? – Ben acenou com a cabeça.
— Mas vamos mudar de assunto. E o seu dia primo, como foi?
— Ah... O meu foi normal... sabe? Tipo nada de especial – Eu senti aquele sorriso bobo voltando novamente.
— Tem certeza? Por que pelo jeito acho que aconteceu algo? – Ele me disse abrindo um sorriso malicioso.
— Tá, tá, eu desisto. Hoje descobri que o meu crush trabalha na mesma empresa que eu e que ele me chamou para sair na sexta-feira – Eu sentei ao lado do Bem que já estava no segundo prato.
— Ai meu deus! Felix Hunter, o solteirão. Vai ter um encontro? Pensei que nunca viveria para ver isso – Ele começou a rir.
— Ei! Eu sou um guepardo assim como você, também tenho sentimentos – Eu bufei.
— Desculpa primo, mas é tão fofo. Tipo você vai sair e dar uns pegas.
Benjamin ficou no meu pé até a hora de dormimos, ele só ficou receoso por que o Wade era um lobo, mas não protestou contra e disse que o importante é sentimento. Eu não via a hora de dar sexta-feira.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!