LUKE STEWART

— Você fez o quê? - essa era a terceira vez seguida que Jake me fazia a mesma pergunta, sem acreditar na minha resposta.

— Beijei minha professora de dança a noite todinha que Deus me deu. - respondi de novo com o mesmo sorriso da primeira vez, sem me importar em ter que repetir cinquenta vezes se fosse preciso.

— Não é possível… - ele colocou a mão no queixo e olhou pra mim inconformado. - Ela estava bêbada?

— Alegre…

— Muito alegre do tipo completamente bêbada, né?

— Um pouco… Por quê?

— Lukinho não é querendo te desanimar não, mas pra uma mulé gata daquela beijar um cabra feio que nem tu, só estando muito bêbada mesmo... - Jake riu e eu fechei a cara pra ele. - Você falou com ela depois? Coitadinha, deve estar afundada na ressaca e no arrependimento…

— Olha, eu nem vou dar moral pra sua inveja, porque sei que é difícil aceitar que o charme da família veio todo pra cá… - falei apontando pra mim. Jake tirou o óculos de grau e ergueu a sobrancelha.

— Tem certeza disso priminho? - falou todo amostrado por conta dos seus olhos verdes claros.

— Do que adianta essa porcaria verde aí, se o conjunto da obra não te salva?

— Não é isso que a minha lista de “contatinhos” no celular está dizendo… - ele pegou o aparelho e virou pra mim, deslizando o dedo por sua agenda telefônica.

— Isso não quer dizer absolutamente nada. - eu adorava fazer meu primo “pegar ar” comigo. - Ter uma lista desse tamanho e não pegar ninguém, é a mesma coisa que ganhar na loteria e não poder gastar o dinheiro, ou seja, serve pra NADA!

— Vai achando que não pego ninguém… - disse com desdém.

— Se pegasse não estaria aqui me aporrinhando e sim, estaria mandando mensagem pra gata, assim como eu irei fazer agora… - peguei meu celular e busquei o nome da minha bailarina no whatsapp. - Veja e aprenda a deixar de baitolagem com o papai aqui…

— Ah, vai se lascar Luke. - bravo, Jake pegou sua blusa de cima do sofá e me deixou sozinho na sala. Eu fiquei rindo da cara dele.

“Psiu!” — enviei para Nataly Brooken cheio de saudades. Eu ainda não havia tido tempo de fazer nada desde a hora que cheguei em casa.

Depois de matar as saudades de “mainha” e tomar um demorado banho, Jake apareceu aqui para me atualizar a nossa agenda de shows e falar sobre o aumento da minha popularidade após a apresentação de ontem. Eu havia combinado com a bailarina que enviaria mensagem assim que chegasse em Campina, mas meu celular acabou a bateria no avião me impedindo de cumprir com o prometido. Eu sabia que Jake só estava de sacanagem com a minha cara ao dizer que Nataly estaria arrependida de ter ficado comigo, mas não vou negar que senti um arrepio na espinha só de pensar nessa possibilidade. Eu não estava preparado para uma rejeição pós pegada depois de tudo que rolou com a gente ontem. Enviei a mensagem e fiquei olhando o celular esperando a bailarina responder. Meu coração deu um salto quando ela ficou online e respondeu rapidamente.

“Oi”

“Tudo bem por aí?” — eu não sabia bem o que dizer, mas queria conversar com ela sobre qualquer assunto.

“Tudo e com você?”— Nataly parecia brava.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Não, por quê?”

“ Tu está estranha…”— comecei a pensar nas palavras de Jake de novo. “Está brava comigo?”

“Você chegou em Campina só agora?” - eu ri entendendo a irritação da bailarina.

“Ela tá com ciúme, é?”

“Não é ciúme, é preocupação.”— era a segunda vez que Nataly dizia isso quando eu sumia. A primeira foi quando perdi a hora do ensaio na semana passada e ela ligou para me acordar.

“Que bonitinha... Se você estivesse aqui comigo agora, eu iria te encher de beijinhos...”— brinquei. Ela respondeu com uma carinha revirando os olhos. Nataly era a rainha do charme. “Desculpa, eu sei que disse que mandaria mensagem quando eu chegasse em Campina, mas meu celular acabou a bateria dentro do avião.”

“Tudo bem, me desculpa. Você não tem que me dar satisfações de nada, é só que estou um pouco mal humorada hoje.”

“Minha ausência causa esse efeito na vida das pessoas mesmo, relaxa.”— continuei brincando.

“Engraçadinho”

“Ei, o que a minha bailarina estava fazendo de bom além de pensar em mim?”

“E quem foi que disse que eu estava pensando em você?”

“Estou mentindo?”— sempre usei a autoconfiança ao meu favor na conquista de uma “mulé”. Mesmo se ela não estivesse pensando em mim, afirmar isso, fazia com que o seu subconsciente acabasse acreditando nessa idéia. Era a famosa lei da atração, pense positivo em algo que você queira muito e o universo conspira para te favorecer.

NATALY BROOKEN

Luke era tão convencido. Mas ele não era convencido igual ao Erick que se achava o gostosão da galáxia por causa dos seus músculos. Luke tinha um convencimento de si próprio e uma autoconfiança que o deixavam extremamente sexy. O cara era bom, sabia que era bom e tinha o poder de convencer qualquer pessoa ao seu redor disso. Eu precisava aprender a controlar o ciúmes e as idéias malucas que passavam pela minha cabeça, mas meu instinto leonino era mais forte do que eu. Passei horas imaginando os motivos que o fizeram não me mandar a maldita mensagem no horário combinado e a hipótese dele ter desencanado de mim depois de ter conseguido o que queria, me deixou muito, muito irritada.

Luke não parecia nem um pouco ser esse tipo de cara, mas eu já vi tantas amigas minhas serem usadas por famosos que confundiam nossa profissão com prostituição que eu já ficava bitolada. Lógico que eu não esperava que o comediante assumisse um namoro no dia seguinte após nosso primeiro beijo, eu sabia que a gente ainda estava se conhecendo, apesar da sensação de achar conhecê-lo minha vida toda. Porém, não pude evitar comer uma barra de chocolate todinha para controlar a ansiedade com a expectativa de receber essa mensagem. Meu Deus! Eu teria que malhar por quanto tempo pra conseguir tirar todas essas calorias de dentro de mim?

“Você está se achando demais, isso sim.”— eu nunca iria admitir pra ele que estava há duas horas deitada no sofá da minha sala, atualizando o Instagram e entrando no whatsapp sem parar, só para ver se o comediante tinha ficado online sem falar comigo. “Eu estava organizando umas coisinhas aqui em casa, estou com várias tarefas atrasadas por causa dessa semana que passei fora... ”.— menti descaradamente. A única testemunha da minha mentira era minha golden que estava toda preguiçosa deitada no meu colo desde a hora que me acomodei no sofá.

— E você não vai contar nada porque é fiel a mamãe né, minha bebê? - falei afinando a voz ao acariciar o topo da cabeça dela. Nala continuou tranquila ignorando completamente minhas palavras. Essa folgada!

“Hum, eu não quero te atrapalhar…” “Depois a gente se fala então bailarina, me chama quando você tiver terminado de fazer suas coisas…”— Luke estava se despedindo e eu entrei em pânico. Eu esperei a tarde toda para falar com ele, não queria perder essa oportunidade agora. Pensa rápido Nataly Brooken!

“Na verdade, eu já adiantei bastante coisa aqui e parei um pouquinho para descansar...”— mandei a mensagem olhando para a mala na minha frente que estava exatamente do mesmo jeito que deixei, desde a hora que cheguei. Minha mãe iria me matar quando chegasse em casa e visse que não fui capaz nem de desfazer minha própria mala. “Podemos falar agora” completei com um emoji sorrindo.

“Você me acharia muito pegajoso se eu dissesse que já estou com saudades?”— meu sorriso se alargou e o meu coração começou a bater acelerado dentro do peito. Eu estava me sentindo na adolescência de novo. “Talvez eu esteja com um pouquinho de saudades também…”

“Falta muito pra semana que vem?”

“Você diz isso e depois fica chorando durante os ensaios…” - provoquei.

“Ah quem fica fazendo charme não sou eu não, senhorita!”

“Já vai treinando o quadradinho, viu? Quero ver o senhor quebrando muito esse bumbum na apresentação do funk”

“Eu nasci pra isso!” “Já estou até malhando o glúteo na academia pra conseguir acompanhar a sua buzanfa de funkeira.” - gargalhei alto.

“Ah é?”

“Opa! Me aguarde e verá.”

“Sei…”— era tão fácil sorrir com Luke.

“Você não devia me subestimar tanto bailarina, afinal, quem está em primeiro lugar pela segunda semana consecutiva na competição, hein?”

“Hahaha… Verdade. Todos os méritos ao meu aluno que é um excelente dançarino.”

“Todos os méritos à minha professora que me faz trabalhar motivado.”

“Você é terrível, Luke Stewart!”— eu não parava de rir.

“E você é linda, Nataly Brooken!” “Linda, cheirosa e eu não vejo a hora de beijar essa boquinha rosa de novo...”— outra vez meu coração quase saltou pela boca. Eu não estava esperando que ele fosse entrar nesse assunto assim, de repente. Encarei o celular, pensando no que responder. Eu não queria parecer uma idiota, afinal, eu já tinha 26 anos, mas também, não queria parecer tão vendida demonstrando o quanto eu desejava a mesma coisa que ele.

“É?”— uma letra, uma pergunta. Sabe aquele jogo de passa ou repassa? Então, com essa simples letrinha eu repassei a bola pra ele.

“Sim. Ontem a noite foi maravilhoso e eu só consigo pensar no quanto eu quero te beijar de novo, bailarina” “Eu pareço um babaca que não para de sorrir o tempo todo, até mainha já está me aporrinhando com isso...”

“Ei... espere, você contou pra sua mãe sobre a gente?”— perguntei em choque.

“Claro que sim. Minha mãe é a minha melhor amiga, não tenho segredos com ela” “Inclusive, ela sabe do meu interesse por você, antes mesmo dos ensaios do forró”— ao dizer isso me lembrei dos comentários dela e da irmã dele em uma das minhas postagens do baladão.

“Sua irmã também sabe, né?”

“Já é sua fã. As duas não vêem a hora de te conhecer pessoalmente”. - eu podia imaginar o sorriso largo do comediante ao dizer isso. Luke era tão espontâneo. Não fazia jogos, era intenso e falava e fazia o que bem sentia vontade de fazer. Era totalmente movido pelo coração e essa intensidade toda dele ainda me assustava.

“Você é tão diferente da maioria dos caras que eu conheço…”

“Eu sou sensacional” mandou com um emoji piscando. Sim, ele era.

“Você se lembra do que nós conversamos ontem sobre mantermos a discrição não é, Luke Stewart?”

“Claro que sim. Discrição é meu sobrenome…”— eu sabia que ele estava tirando onda com a minha cara.

“Luke, eu estou falando sério! Por acaso, você já acessou suas redes sociais hoje?” “Veja a quantidade de seguidores que ganhamos de ontem pra hoje, principalmente, você.”

Só no meu Instagram, a foto que postei ontem com o Luke após nossa apresentação, já estava com mais de duas mil curtidas e meu número de seguidores não parava de crescer. Entrei no dele e a foto de agradecimento que ele postou da gente dançando, tinha muito mais. Passei um tempão olhando aquela foto e o meu comentário nela. Quando eu escrevi “Apenas sendo feliz! O que importa! Obrigada parceiro POR TUDO!” antes de irmos para a balada, eu já estava decidida a seguir meu coração naquela noite. E foi uma das decisões mais assertivas que eu havia tomado na vida.

LUKE STEWART

JESUS CRISTO! Eu não imaginava que essa minha participação no quadro “Você pode dançar?” pudesse causar tanta repercussão na minha vida e na mídia. Eu aceitei o convite dos produtores na intenção de ganhar visibilidade profissional, mas eu nunca imaginei que seria nessa proporção e muito menos que viriam tantas outras coisas inclusas nesse pacote. Eu não estava dando conta de acompanhar a quantidade de notificações que chegavam nas minhas redes sociais. Passei o olho rapidamente pelos comentários da última foto que postei com Nataly ontem e meu coração quase explodiu de tanta felicidade. Cada frase que eu lia nos parabenizando e dizendo tantas palavras boas ao meu respeito, me enchiam de orgulho e gratidão. Depois de tanto sofrimento que eu passei na vida, as coisas finalmente estavam dando certo pra mim.

— Mainha você viu isso? - mostrei meu celular pra ela que sorriu.

— Claro que sim, meu amor. Estamos todos muito orgulhosos de você. - ela me abraçou e me deu um beijo na bochecha.

— Queria que o baixinho estivesse aqui pra ver isso também... - em momentos assim, a saudade de painho batia com mais força.

— Ele sempre estará aqui de alguma forma cuidando nós, filho. E eu tenho certeza que tudo isso que está acontecendo nas nossas vidas, tem um dedinho dele onde quer que esteja agora... - Mainha limpou uma lágrima dos olhos e vê-la chorar me fez entrar em desespero. Abracei minha rainha com força, aconchegando sua cabeça no meu peito.

— Ei, sabe quem não está cuidando de mim agora?

— Quem?

— A senhora. - falei num tom descontraído.

— Oxi, eu?

— Sim, senhora.

— Tá doido, menino?

— Passei uma semana longe, cheguei faz uma “ruma” de hora já e até agora não fui recepcionado com o melhor café do mundo… - brinquei. Mainha começou a rir na hora me deixando aliviado.

— Vamos ver o que posso fazer por você… - ela saiu da sala e eu voltei a atenção para a bailarina no celular.

“Acho que estamos ficando famosos” -  mandei extasiado com aquilo tudo.

“Você já é famoso. Aliás, o seu remake vai estrear domingo que vem, né?”

“É, no mesmo dia da nossa apresentação do funk! Estou tão nervoso.”

“Fique calmo, vai dar tudo certo. Tenho certeza que vai ser sucesso, você é muito talentoso palhacinho...”

“É mesmo? Conte-me mais, conte...”

“Mais o que?”

“O que mais você acha que eu sou…”— Eu adorava provocar Nataly Brooken.

“Hahaha… Pára!”

“Fala bailarina, me conta que eu quero saber…” “Olha, eu estava dando uma lidinha nos comentários da nossa foto e adorei esse aqui óh…”— mandei um print da tela para Nataly que dizia: “Pense numa Química de vocês dois. Parabéns!” “Tá vendo? O público já está percebendo que você nasceu pra mim, bailarina.”

“Ahhhhh tá bom! Você fica brincando desse jeito, uma hora eu vou acabar acreditando…”— mandou seguida de várias carinhas chorando de rir.

“E quem disse que eu estou brincando?”— enquanto conversava com Nataly, aproveitei para postar outra foto de ontem, dessa vez junto com os caras no camarim. “Esse camarim simplesmente NÃO TEM PREÇO!! Melhor vibe da história da televisão Brasileira, ô loco meu.” Escrevi imitando um dos bordões mais famosos do apresentador Fred. E realmente não tinha preço mesmo, nenhum prêmio no mundo seria capaz de pagar aquelas amizades que eu levaria pra vida toda.

Assim que postei a foto com os rapazes e atualizei a página do Instagram, senti como se estivesse tendo um princípio de infarto.

Nataly Brooken havia acabado de postar uma foto que fez o “Poderoso Chefão” se lembrar de todos os outros motivos pelos quais estava vivo nesse mundão além do propósito que era me ajudar a mijar. Eu estava reconhecendo aquela foto. Era a mesma que a bailarina usava no perfil do whatsapp. Eu já havia enlouquecido de vê-la apenas do ombro pra cima, agora Nataly, fez a proeza de postar a foto de corpo inteiro. A bailarina estava sentada, com uma mão posicionada no joelho e a outra entre as pernas, vestindo apenas aquela camisa vermelha listrada caída no ombro. A sensualidade que aquela mulher transmitia apenas com o olhar era algo hipnotizante. A legenda da foto dizia: “Ela tem essa mania incrível de se reerguer cada vez mais forte”.

É, bailarina… Era melhor eu nem comentar o que tinha se erguido forte aqui depois dessa imagem para não perder a amizade.

“Confessa” - eu enviei minutos depois no whatsapp dela.

“Oi?”

“Pode confessar, vai…”

“O que?”

“Você faz essas coisas comigo de propósito, né?”

“Do que você está falando Luke?”

“Da sua insistência em tentar me matar… Depois não adianta ficar chorando em cima do caixão, viu?”

“Luke dá pra ser mais específico?”— não do jeito que eu gostaria, pensei.

“Eu já falei que quando você for postar uma foto daquele tipo no seu Instagram, seria bastante generoso da sua parte dar aquela avisadinha pros alunos… Só pra gente tentar dar aquela preparada no coração, sabe?”

“Hahaha… Luke a maior parte dos meus alunos não sofrem do coração com fotos minhas, sofrem com as SUAS…” — eu gargalhei alto. Eu sempre me surpreendia com o senso de humor da bailarina.

“Ah então foi por isso que você me deu moral ontem? Estava com medo de me perder pra concorrência?” - Nataly me enviou várias carinhas chorando de rir.

“Com certeza” - mandou em seguida. “Quando Lion e Dave estão por perto, todo cuidado é pouco…” - outra vez eu gargalhei chamando a atenção de “mainha”.

— O que tanto você ri pra esse celular, menino? - ela olhou pra mim e sorriu. - Ah... Já até sei, nem precisa responder... - disse se sentando no sofá do meu lado. - Beba logo seu café senão vai esfriar. - falou apontando para a xícara ao meu lado. Eu estava tão entretido no assunto com a bailarina que nem percebi o momento que “mainha” havia colocado a xícara perto de mim. Enquanto saboreava meu café, aproveitei para postar um trecho da nossa apresentação de ontem, tinha ficado “mara” demais.

Logo que fiz a publicação, meu Instagram bombou de curtidas e comentários de novo. Era simplesmente surreal o carinho e apoio que o público estava nutrindo por nós. Nataly comentou minha postagem com carinhas apaixonadas, palminhas e um casal de dançarinos. Acabei não resistindo e entrei na página dela outra vez. Eu não conseguia mais tirar os olhos da sua última foto. Aquela imagem tinha acabado de se tornar uma das minhas favoritas.

“Psiu…” - mandei no whatsapp da bailarina sem conseguir me conter.

“Psiu” - ela respondeu quase que instantaneamente.

“Manda essa foto pra mim?”

“Qual?”

“Essa última que você postou no Instagram, ai miga! Eu adorei essa camisa vermelha quero ver se encontro uma igual no meu tamanho.” - enviei juntamente com alguns arco íris. Nataly respondeu com gargalhadas. Eu já até podia imaginá-la sorrindo.

“Eu fiz esse trabalho na semana retrasada e simplesmente amei as fotos desse ensaio. O Zang arrasou demais nesse book.”

“Claro que a modelo ajuda né? Olha eu não faço idéia de quem seja esse Zang, mas já estou bem “Zangado” só de imaginar que esse cara tem uma ruma de fotos suas nos arquivos dele e eu não tenho nenhuminha.”

“Hahahaha” “Luke não sei de onde você tira tanta criatividade...”— Nataly me enviou o arquivo com a foto do Instagram. “Pronto senhor zangado, não precisa mais se zangar agora”.—  brincou. Eu olhava para a imagem de Nataly embasbacado.

“Minha professora é muito gata, JESUS CRISTO! Estou até com o babador no queixo aqui, para não molhar o sofá com a minha babá...”

“Sou nada, eu sou só a definição do tanto faz…” - eu ri.

“Você não vai esquecer isso nunca né?”

“Nunquinha e farei questão de não te deixar esquecer também”

“Como ela adora fazer um charme, meu Deus!” - Nataly respondeu com uma carinha mostrando a língua.

“Mostre sua língua pra mim pessoalmente que tu vai ver o que vou fazer com ela.” - a sem vergonha para me provocar, enviou não uma, mas várias carinhas mostrando a língua, me fazendo gargalhar alto mais uma vez.

NATALY BROOKEN

O restante da semana passou arrastado. Luke e eu conversávamos todos os dias e praticamente o dia inteiro pelo whatsapp. Era incrível como tudo fluía fácil entre nós e nunca ficávamos sem assunto. Nossos pensamentos eram tão parecidos e a coisa que mais tínhamos em comum essa semana, era a vontade de chegar logo terça-feira para podermos nos ver novamente. Eu não fazia idéia da música que a produção do programa iria escolher pra gente dançar e pensar nisso me deixava ansiosa. Infelizmente, eu só iria descobrir na segunda-feira.

Depois do que aprontaram com a May e com o Nick na edição dos ensaios do forró, eu já não duvidava mais nada dos engraçadinhos daquela equipe. O pessoal da produção do programa do Fred adorava botar uma lenha na fogueira e ver o circo pegar fogo.

Quando May foi escolhida para dançar com Nick no primeiro dia, eu logo vi que ela tinha adorado a escolha de parceiro. Eu conhecia May como a palma da minha mão. Nick era fisicamente o tipo de cara que minha amiga arrastava um caminhão e não demorou nada para rolar um climinha entre eles também. Ao contrário de mim que era super encanada com essas coisas e fui até o meu limite para finalmente ficar com o Luke, May gostava de viver o hoje, sem pensar no amanhã. E foi assim que acabou acontecendo um beijo entre eles depois de um dos ensaios do forró. Gazon se esqueceu que estava sendo filmado e acabou comentando o episódio com a Carol durante o ensaio do dia seguinte. Mesmo a Carol tentando abafar o caso, não teve jeito, o pessoal da produção percebeu e colocou essa parte no ar. Sorte que o Gazon não citou nomes, então, para quem estava assistindo de fora tinha outras opções suspeitas, entre elas, o Luke e eu.

Alguns comentários do público nas nossas postagens já insinuavam nosso possível envolvimento. Eu apenas lia e fingia demência. Para ajudar, Luke não cansava de fazer graça nas redes sociais e confesso, que eu estava adorando provocá-lo com as minhas postagens também. Ele era o mestre das cantadas engraçadas e curtia tudo que eu postava.

O comediante estava bastante animado com tudo que vinha acontecendo e a felicidade dele era algo extremamente contagiante.Todos a minha volta já haviam percebido a minha mudança de comportamento. Até Thalita, minha melhor amiga de infância, comentou que nunca havia me visto tão feliz desse jeito durante os quatro anos de relacionamento que estive com o Erick. Lógico que eu falava e postava coisas bonitas a respeito dele quando estávamos juntos e até mesmo, cogitei a idéia do Erick ser o grande amor da minha vida, só que tudo mudou quando um palhacinho entrou na minha vida. Desde que me aproximei de Luke que eu me sinto uma pessoa mais leve, livre e de bem comigo mesma. Luke me completava de um jeito muito diferente e especial. Que maravilha, aos vinte e seis anos eu, Nataly Brooken, havia me tornado uma tremenda “papa anjo”.  

LUKE STEWART

— Vocês duas estão prontas? Se aprumem que eu vou botar pra gravar! - avisei mainha e Gaby que estavam gargalhando atrás de mim.

— Eu não estou acreditando que eu aceitei participar disso... - disse Gaby sem conseguir parar de rir. - Tenho uma reputação de fisioterapeuta a zelar. - brincou. - Luke você está parecendo a loira do banheiro com essa peruca toda descabelada...

— YUUUQUEE??? - botei a mão na cintura fingindo indignação, ao afinar a voz imitando Pablo Vittar. - Tu respeite minhas madeixas, mulé! - Eu estava elaborando um vídeo para divulgar a inclusão dessa imitação no cronograma dos meus shows e pedi para mainha e Gaby participarem como minhas dançarinas. Elas ficariam distraídas no fundo do vídeo e quando eu desse o sinal, era para as duas dançarem ao som da música do cantor. Eu também ia dançar e cantar gravando com o celular na mão.

O vídeo tinha tudo para ficar ótimo, se a minha irmã não fosse o ser mais estabanado do planeta. Durante a filmagem, Gaby quase matou “mainha” com uma cacetada na cabeça no momento em que eu dei o sinal “óh o arrochinha” para as duas começarem a dançar. Para completar, os cabelos da peruca que eu usava esvoaçou todo para dentro da minha boca enquanto eu cantava, me fazendo cuspir e quase engasgar. O vídeo ficou tão bizarro que acabou se tornando engraçado e eu postei daquele jeito mesmo. Nós três passamos um bom tempo rindo de tudo aquilo.

— E como está o romance com a professora hein? - perguntou minha irmã animada. - Pela sua carinha apaixonada deve ter progredido alguma coisa essa semana.

— Gabi aprende comigo, seu irmão, mais forró é igual a sucesso garantido. Não há “mulé” neste mundo que resista… - falei convencido, jogando os cabelos da minha peruca para trás.

— É… No forró pode até ser… Agora quero ver a bailarina te querer com esse visual de quem acabou de fugir de um manicômio.

— Eu estou no clima do funk irmãzinha, veja só se já não estou preparado para concorrer como a nova “loira do Tchan”. - botei a mão no joelho e comecei a rebolar o quadril.

— Luke, a loira do Tchan é do axé e não do funk.

— Ah, ambas tem tudo a mesma bunda. - respondi empinando a bunda, fazendo elas rirem.

—X-

Nataly não parava de rir do vídeo que eu havia acabado de postar sobre a minha preparação para o funk. Pedi para um amigo gravar junto comigo me ensinando a dançar funk ao som de Bonde do Tigrão. Coloquei meu óculos de sol, virei o boné para trás e botei meus chinelos entre os dedos. Pra que isso? Também não sei, mas nunca fui uma pessoa muito normal. Walter também estava de óculos escuros para me acompanhar na dança. Sem brincadeira, nós dois dançando parecíamos mais duas lombrigas sofrendo convulsão. Eu nunca vi alguém mais duro para rebolar que Walter na vida, no final do vídeo estava todo mundo em lágrimas de tanto rir. Para sacanear, ainda postei o telefone do Walter na legenda do vídeo.

“VEMMMM FUNK!” - comentou Nataly na postagem junto com dois macaquinhos tampando os olhos e duas carinhas rindo. - eu adorava quando via Nataly dando moral para as minhas postagens.

“Caraca, não pensei que tu ia ver isso— respondi acrescentando vários emoticons risonhos - Juro que não vou fazer isso Domingo.”

“Estou de olho” ela respondeu de novo, junto com vários olhinhos.

Resolvi responder pelo whatsapp.

“Então quer dizer que tem uma certa bailarina acompanhando os meus passos?”

“É… Eu preciso analisar a desenvoltura do meu parceiro para ter uma noção de como serão os ensaios da semana que vem...”

“Você quer saber como serão os nossos ensaios da semana que vem? Senta aí, que eu te conto...”

“Hm” - ela enviou uma carinha pensativa.

“Funk é um ritmo de bastante pegada Nataly Brooken, sendo assim, não há nada mais coerente do que a gente se PEGAR para entrar no clima!”

“Hahahaha… Luke a única coisa que você vai pegar são os passos da coreografia.”

“Aham… Desde que a coreógrafa esteja incluída nesse pacote, por mim tudo bem…”

“Luke!”

“Eu sei que você está tanto ansiosa quanto eu bailarina, quer enganar quem?”

“Acho que essa é a minha deixa para ir dormir, não é mesmo? Boa noite, palhacinho! Durma com os anjinhos”.

“Hahaha… Isso, aproveita para fugir pelo whatsapp mesmo, porque pessoalmente você não terá essa oportunidade...”— Nataly enviou de volta o emoticon de um macaquinho tampando os olhos. A bailarina adorava fazer charme se fazendo de desentendida, mas uma coisa era certa, nós dois sabíamos que o que estava rolando entre nós era mais forte que eu e ela juntos.