Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 2
Luke


Notas iniciais do capítulo

Vamos conhecer um pouco mais o nosso palhaço?



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LUKE

Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei participar daquele concurso de dança do programa do Fred. Os caras da minha equipe não paravam de mandar mensagens no nosso grupo do whatsapp tirando onda com a minha cara. Jake, meu primo-irmão, era o que mais estava se divertindo com tudo isso. A última mensagem que ele enviou foi uma imagem daquele ator Sasha Baron, no filme Borat, onde ele vestia uma espécie de maiô na cor verde limão, totalmente cavado na frente e socado no rabo.

“Roupinha de bailarino do Luke para o primeiro dia de ensaio” - dizia a legenda da foto.

Ri, balançando cabeça negativamente ao guardar meu celular no bolso. Isso ia ter volta, lazarento. Ah, se ia…

— Como assim cara, ela te deixou falando? - Josh perguntou, perplexo. Estávamos parados em frente ao portão do estúdio onde foi gravado o programa do Frederick, aguardando a chegada dos táxis que nos levariam embora. Josh também era um dos participantes do quadro “Você pode dançar?”.

— Assim, assim, ué… - sacudi as mãos. - Ela disse que eu só podia segui-lá se fosse no Instagram, empinou o nariz e saiu andando… - arrebitei minha bunda e dei dois passos para frente imitando a bailarina de nariz empinado. - Fiquei lá com a maior cara de tacho… - Josh riu.

— Essas bailarinas são tudo assim mesmo, cara. Uma ou outra que se salva. A May é gente boa. Agora a que caiu comigo parece ser meio chatinha também.

— Rapaz, eu não sei por que essas “mulé” bonita precisa ser tudo chata…

— Porque elas sabem que são lindas e…

— Cheirosas? - interrompi, me lembrando desse detalhe.

— Oi? - Josh me encarou confuso.

— A Jennifer não estava cheirosa?

— Ih cara, eu nem reparei nisso. Você acha que com um festival de bundas daqueles, eu ia me preocupar se a mulher estava cheirosa ou não?

— Pois, a Nataly estava MUITO cheirosa. Foi bem difícil me manter longe dela durante a entrevista. A minha vontade era de afundar o nariz naquele cangote e não tirar nunca mais... - Josh novamente riu do meu comentário. Eu juro que ainda podia sentir aquele cheiro impregnado na minha camisa.

— Cara, pelo menos se elas forem chatas, nós teremos um ótimo colírio para os olhos durante os ensaios… - brincou.

— Pensando bem... - coloquei a mão no queixo fazendo o pensativo. - É melhor que elas sejam chatas mesmo, assim ficará mais fácil de manter a concentração na hora do ensaio.

— Bom ponto, Luke. Bom ponto. - nós ainda estávamos rindo, quando os táxis chegaram. Era engraçado como eu já tinha criado uma afinidade com o Josh em tão pouco tempo de conversa. Ele era muito gente fina. Apesar de já conhecê-lo do programa que apresentava, hoje tinha sido a primeira vez que realmente tive a oportunidade de conversar com ele.

— E então? Preparado para bailar? - coloquei a mão na cintura dando uma reboladinha zombeteira.

— Velho, eu não sei dançar nem macarena. Estarei no lucro se eu conseguir passar do primeiro dia de ensaio. - Josh deu a volta e abriu a porta do táxi.

— Estamos juntos nessa então. - fizemos um cumprimento com as mãos antes dele entrar no carro. - Falou parceiro, até a próxima semana.

— Ainda bem que nessa são só as mulheres, assim ainda teremos mais sete dias para pensar em desistir dessa enrascada.

— Que Deus nos ajude, rapaz.

~~

Já dentro do táxi, peguei meu celular para passar o tempo a caminho do hotel. Entrei no Instagram e vi que a minha foto com a Nataly já tinha tido mais de dez mil curtidas. Meus fã-clubes  estavam bem animados com esse negócio da minha participação no campeonato de dança do programa do Frederick. Fiz uma postagem simples, apenas mencionando a palavra “Simboraa” juntamente da hashtag com o nome do quadro que iríamos participar. Depois daquele fora que levei, eu achei melhor ser mais sucinto na publicação. Chata ou não, uma coisa era indiscutível. Aquela mulher era gata demais.

Não sei quanto tempo fiquei ali, apenas observando e vagando pelos traços do rosto dela. Nariz pequeno e arrebitado na ponta, a boca levemente rosada num tom extremamente convidativo... E aquele sorriso? Jesus! Eu não conseguia desviar os olhos daquele sorriso.

Naquele momento uma força maior me puxou para outra direção. A do álbum de fotos dela. Comecei a analisar as outras postagens do seu Instagram e me arrependi no mesmo instante. Cada foto que eu abria, era um tiro no meu coração. Eu não tinha dúvidas de que Nataly Brooken era o verdadeiro significado da palavra perfeição. Nataly escondia uma inocência quase que infantil por trás dos seus olhos castanhos, ao mesmo tempo em que o seu sorriso revelava a essência de uma mulher bem resolvida. Havia algo nela que me atraia de um jeito inexplicável. Eu nunca havia me sentido assim antes. Eu não percebi em qual momento fiquei viciado naquele sorriso, mas inconscientemente, acabei desejando ser o motivo dele. Fui despertado dos meus devaneios, pelo sutil toque de uma buzina que quase me matou do coração.

— Ei moço, não vai descer? - disse o taxista impaciente. - Já faz cinco minutos que você está parado aí, nessa mesma posição, encarando esse celular. Se for dormir ai, avisa logo que eu ligo o taxímetro de novo. - eu ainda estava meio atordoado quando olhei para o meu lado direito e avistei o hotel que estava hospedado.

— Eiiiiita bicho bruto, rapaz… - respondi num tom descontraído para o mal humorado taxista, antes de descer do carro. - Lá na minha “terrinha” a gente costuma tratar melhor os turistas, “visse”? - falei isso com a voz grossa e o sotaque arrastado. O taxista acabou rindo de mim e me pediu desculpas. Eu era assim. Não podia ver ninguém triste ou estressado que já queria fazer algo para melhorar a vida da pessoa e fazê-la sorrir. Meu pai me ensinou a ser assim. Eu já tinha sofrido demais na vida e vi as duas pessoas que mais amo nesse mundo quase se afundarem em depressão por causa da tristeza. Então, eu decidi que o melhor remédio para a dor é encarar a vida com muito bom humor e de maneira positiva.

~~

Passei aquela noite toda stalkeando Nataly Brooken nas redes sociais. A desculpa do meu subconsciente era que eu precisava conhecer melhor minha professora de dança, mas eu sabia que o motivo era outro. Eu precisava ver mais daquele sorriso. Passei a verdadeiramente desejar que ela fosse chata, senão eu teria sérios problemas de autocontrole futuramente ao lado daquela mulher. Como podia alguém se atrair tanto por outro alguém, sem nem ao menos conhecer? Eu devia estar ficando maluco. Ou, era apenas meus hormônios masculinos me lembrando que já fazia um tempo que eu não ficava com ninguém.

Desde que levei um chifre da minha ex, não me arrisquei em assumir outro relacionamento mais sério. Graças a Deus, esse ano estava sendo ótimo pra mim profissionalmente. Participei de uma novela em horário nobre e fui escalado para compor o elenco do remake de um programa de comédia que fez muito sucesso na década de 90. Era melhor trabalhar muito do que ser corno, né?

Eu estava envolvido em vários projetos paralelos também, inclusive, durante essa semana, eu teria que adiantar alguns deles para poder focar nos ensaios do “Você pode dançar?” que se iniciaria na semana que vem. Já que me propus a participar disso, eu tentaria fazer o meu melhor. Apesar do meu jeito extrovertido e brincalhão, se tinham duas coisas que eu levava a sério eram os meus compromissos e o meu trabalho. Eu ia me jogar de cabeça nessa parada de dança, mesmo sabendo que o resultado poderia ser: Luke Stewart passando vergonha em rede nacional.

Na terça, eu finalizaria a gravação do clipe da música “O palhaço” onde fui convidado por meus amigos sertanejos a representar o próprio palhaço, trabalho esse que me deu muito orgulho de fazer e depois voltaria para Campina Grande, minha cidade, visitar “mainha” antes de partir para o Rio de Janeiro onde ocorreriam os ensaios das danças. Pelo que entendi, nós ensaiaríamos nove horas por semana, sendo, duas de terça a quinta e uma no sábado. 

Voltei minha atenção para as fotos de Nataly. A mulher botava pra “torar” mesmo com as postagens daqueles ensaios fotográficos. Além do rosto de anjo, tinha um corpo escultural. Meu dedo estava coçando para curtir todas as fotos que ela postou. Eu estava mesmo prestes a ligar o botão do “que se dane” e fazer isso, quando uma imagem chamou minha atenção.

Nataly Brooken, estava agarrada com um cara numa praia qualquer e um coração apaixonado representava a legenda da foto. É claro que essa deusa teria um namorado. E é claro que ele tinha que ser um brutamontes. O cara devia ter quase dois metros de altura e um braço que era do tamanho da minha coxa. As minhas duas coxas juntas, eu quis dizer. Ele fazia o estilo “modelete de academia” e apesar da cara de “zé ruela” era o padrão de beleza que fazia as mulheres fúteis molhar a calcinha por ele.

Frustrado, desliguei o celular largando no criado mudo ao lado da cama.

Eu não sabia o que havia me incomodado mais naquela foto. Se foi a pontada de ciúme que eu senti ao saber que aquele sorriso pertencia a outro alguém, ou a decepção ao perceber que, talvez, Nataly Brooken realmente fosse a chata que eu estava desejando que ela fosse.


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Notas finais do capítulo

Será Luke?

Quem quer mais, curte, comenta, compartilhe e recomende!!

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