Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 1
Primeira Impressão


Notas iniciais do capítulo

Tudo feito com muito amor.

Boa leitura!



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— Anda logo, Nataly! Você vai nos atrasar desse jeito! - May gritou do outro lado da porta do meu quarto no hotel Huston.

— Calma estressada, já estou quase pronta... - Era melhor dizer isso do que confessar que eu havia perdido a hora e ainda estava de pijama, quando dei um pulo da cama ao me assustar com o berro dela.

— Se eu não te conhecesse até acreditaria, dona Nataly. Eu dou meu rim, se a senhorita ainda não estiver de pijama e parecendo o rei Leão nesse exato momento... - encarei meu reflexo no espelho para constatar que May tinha razão. Droga! Meu cabelo estava completamente emaranhado como se os fios tivessem projetado a terceira guerra mundial enquanto eu dormia. - Vai Nataly! Pare de tentar me enrolar e abre logo essa porcaria. - exigiu May, batendo na porta. -  Eu... - soco. - Estou... - outro soco. - Com FOMEEE! - a louca berrou, distribuindo uma sequência de batuques na madeira. Antes que a porta caísse ou que algum hóspede pensasse que estava rolando o ensaio de alguma escola de samba dentro do meu quarto e chamasse a polícia, corri até lá e destranquei a fechadura para a desmiolada entrar.

— Sabia que no seu quarto também oferecem serviços de quarto? - May ignorou meu questionamento ao olhar pra minha cabeça.

— Não sabia que estava criando pássaros agora, marida… - Ela sorriu com deboche. - Afinal, é pra isso que serve esse ninho na sua cabeça, não é?

— Vai se ferrar! - peguei um travesseiro na cama e arremessei em sua direção. - Já que está me infernizando logo cedo, faça algo de útil e peça nosso café. - rindo, ela começou a folhear o cardápio do hotel. - Pra mim, um chocolate quente sem açúcar... - Apanhei meu roupão de banho na cadeira e entrei na suíte do quarto. - Tomarei um banho rápido enquanto isso.

Não me dei ao trabalho de fechar a porta. May já tinha me visto mais vezes pelada do que o Erick, meu namorado.

— Ainnn, marida… Estou tão ansiosa para hoje! Quem serão as escolhidas desse ano, hein? - May se recostou no batente da porta do banheiro, lixando a unha. - A Victoria disse que serão selecionadas seis bailarinas do nosso grupo para treinar o time dos homens. E quem serão os famosos dessa vez? Eu acho que esse ano não vai rolar pra mim, eu já participei desse quadro há 2 anos…

— May você foi vice campeã, claro que tem chances, bonita. As minhas que são remotas. Eu sou praticamente a novata no grupo do balé, tenho apenas um ano e meio lá, as meninas estão há muito mais tempo na equipe. Nem estou criando muitas expectativas…

— Ah cala a boca Naty! Tem muita menina lá que não tem nem a metade do seu talento e você sabe disso…

Assim como eu, May era bailarina profissional. Ela era uma das minhas melhores amigas e aos domingos dançávamos juntas em um famoso programa de TV. Aliás, foi assim que eu a conheci.  Nossa amizade era tão forte que brincávamos ser uma espécie de “marida” uma da outra. Erick, meu namorado, não era muito fã da May. Ele era muito ciumento e desde que consegui essa vaga no programa do Frederick que o ciúme dele se intensificou. Erick tinha um pensamento um pouco machista em relação as bailarinas do Fred. Dizia que as mulheres desse meio eram todas vagabundas em busca de fama. Não sei dizer quantas vezes discutimos por conta da minha profissão. Nós estávamos juntos há 4 anos, eu o amava, mas algumas atitudes dele me faziam repensar nos motivos pelos quais ainda seguíamos em frente com esse relacionamento. Eu sempre sonhei em ser bailarina. Danço desde os meus cinco anos de idade, e profissionalmente, desde os quinze. Há seis anos consegui abrir meu próprio estúdio de dança em minha cidade natal, onde ofereço aulas para crianças e adultos, mas as crianças são minha eterna paixão. Hoje com 26 anos, posso dizer que estou bem realizada profissionalmente. Minha maior alegria foi quando fui aprovada no teste para integrar o grupo de bailarinas do Frederick. Eu já tinha sido reprovada outras duas vezes, mas não desisti. Então, no dia em que eu recebi a ligação de que estava dentro, quase infartei de tanta emoção. Ao contrário de mim, Erick ficou puto. Foi a primeira vez que brigamos feio. Eu tinha a sensação que ele não torcia por mim, nem pelo meu sucesso e muito menos pela realização dos meus sonhos. Eu sentia muita falta de alguém para celebrar minhas conquistas, alguém que estivesse cem por cento ao meu lado, incentivando-me a crescer como pessoa, como profissional, apoiando-me… Infelizmente, eu sentia que o meu relacionamento com Erick havia parado no tempo e as coisas entre a gente estavam se tornando bastante cansativas.

— May você é uma fofa! Mas sabemos que as minhas chances são quase nulas. - May abriu a boca para responder quando meu celular começou a vibrar na bancada do banheiro ao seu lado. Ela encarou o aparelho com uma careta de nojo e revirou os olhos, quando viu a imagem na tela. Era uma foto do Erick abraçado comigo na última viagem que fizemos juntos para Campos do Jordão. May gostava do Erick tanto quanto ele gostava dela. A contragosto, minha amiga pegou o celular e jogou na minha mão. Nesse mesmo instante, a campainha tocou com serviço de quarto entregando nosso café da manhã. Enquanto eu atendia o telefone, May foi atender a porta.

— Oi… - disse receosa já sabendo qual seria o assunto. Ou melhor, a briga. Afinal, desde que mencionei sobre o sorteio que aconteceria hoje, ao vivo, no programa do Frederick, que o Erick estava fazendo da minha vida um verdadeiro inferno. Hoje Frederick anunciaria as seis bailarinas entre as trinta e seis que iriam participar do quadro "Você pode dançar?"

— Qual a chance de você entrar naquela merda Nataly? - suspirei fundo antes de responder.

— Erick esse assunto de novo?

— Eu não vou permitir que mulher minha fique se esfregando em macho, se você for escolhida você vai recusar, não vai? - coloquei o celular no viva voz e o arremessei na cama enquanto terminava de me arrumar. Se eu atrasasse mais cinco minutos, May me arrancaria daqui pelos cabelos. Aliás, cada palavra que o Erick dizia, ela o imitava gesticulando com a boca numa expressão de criança birrenta. Aquela loira era terrível.

— É óbvio que se por algum milagre isso acontecer, eu não vou recusar Erick. É a chance da minha vida de mostrar ao país todo o meu trabalho e divulgar minha academia de dança. Você acha mesmo que vou recusar só porque meu namorado machista está com ciúmes?

— Nataly… - ele elevou o tom de voz.

— Erick, essa discussão não vai levar a nada. - suspirei fundo mais uma vez antes de continuar. - Olha, eu estou atrasada. Seria pedir demais ao meu namorado para torcer por mim?

— Eu vou torcer sim. Vou torcer MUITO pra você Nataly.  Pra você NÃO ser escolhida. - disse com rispidez. - Outra coisa, diga pra sua amiguinha May que estarei torcendo muito por ela também. Pra ser ela e não você. Afinal, ELA já é BEM acostumada com essas putarias mesmo! - Erick desligou na minha cara e eu não percebi em qual momento que as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Senti minha bochecha queimar e uma dor me atingir como se tivesse levado um chute no estômago.

— BABACA! - May gritou apontando o dedo do meio para o meu celular que permanecia em cima da cama. - Sério Naty, não sei o que você ainda está fazendo com esse mala. Quantas vezes preciso te dizer que o momento de vida de vocês é outro? Naty, nós somos figuras públicas, trabalhamos com estética, com dança, nosso corpo é uma ferramenta do nosso trabalho. Se você não tiver ao seu lado alguém que entenda isso e confie em você, esqueça amiga, você só está perdendo seu tempo. Esse relacionamento nunca vai dar certo. Por que você acha que eu ainda estou solteira? - limpei as lágrimas dos olhos e olhei para May.

— Porque você adora uma farra, sua cretina! - ela fez uma cara pensativa e sorriu.

— É verdade. Eu adoooro mesmo! - May terminou de beber seu suco, levantou da cama e pegou sua bolsa. - E eu adoro meu emprego também, coisa que iremos perder se você continuar aí chorando as pitangas por quem não te merece. Levanta essa bunda de tanajura daí e vamos logo. - ela abriu a porta do quarto e se virou antes de sair. - Ah! E eu só adoro uma farra, porque ainda não encontrei alguém que realmente fizesse valer a pena sair dela. - May deu uma piscadinha e alargou o sorriso. - E quer saber mais? Na minha opinião você só está acomodada nesse relacionamento. Estão juntos há muito tempo e você está com medo de descobrir que esse mundão de meu Deus tem muito mais a te oferecer do que aquele mala sem alça. Já está mais do que na hora dessa sua borboletinha sair do casulo e voooaaaar, marida. - May saiu saltitante pelo corredor, batendo os braços para cima e para baixo, parecendo uma gazela desgovernada. Não levou um segundo para eu esquecer minha discussão com Erick e cair na gargalhada. Uma senhora que passava pelo corredor olhou para May e fez o sinal da cruz. No mínimo deve ter achado que a doida tinha sido possuída por algum ser do submundo.

Ela era uma figura. Eu acho que por isso May e eu nos demos tão bem logo de cara. Além de linda, ela era um poço de alto astral. Tinha o poder de transformar os pequenos detalhes da vida em grandes comemorações. Eu sempre fui muito moleca, principalmente pelo meu convívio com as crianças no estúdio de dança. Eu adorava agitar uma bagunça, fazer brincadeiras, as vezes eu tinha a sensação de que a maior criança de todas ali era eu mesma. May era muito parecida comigo nesse aspecto, quando estávamos juntas era risada na certa. Amizade sincera e sem frescura.

— Um dia você ainda será expulsa desse hotel, marida… - May me encarou e deu de ombros.

— Pelo menos minha missão foi cumprida. - disse apertando minha bochecha. - Olha o sorrisão que eu adoro aí no seu rosto de novo. - fiz um biquinho de beijo pra ela, antes de entrarmos em meu carro.

— Vamos falar do que interessa. O que mais a Victoria disse sobre o sorteio de hoje?

— Então, ela mencionou que tudo será anunciado hoje a noite no programa ao vivo. Você faz ideia do up que isso dá na nossa carreira se formos escolhidas? - O programa do Frederick, todos os anos fazia um quadro de reality show onde desafiava algumas celebridades de diversas áreas do meio artístico para participar de um concurso de dança. Seis bailarinas do nosso grupo do balé seriam escolhidas como professoras do time de famosos masculino e seis coreógrafos convidados eram responsáveis por ensinar o time feminino. Além do prêmio principal aos ganhadores do concurso, um carro zero km, a experiência daria uma visibilidade muito grande ao nosso trabalho. O programa era transmitido em rede nacional e era um grande sucesso de audiência.

— Nem vou me iludir com isso May…

— Se pelo menos uma de nós for selecionada já vou ficar muito feliz… - sorri para minha amiga.

— Eu também, marida… Eu também.

 ~~

Todos já estavam preparados para entrar ao ar com o último bloco do programa onde o apresentador Frederick anunciaria o elenco de artistas, coreógrafos e bailarinas desta edição do “Você pode dançar?”. A única coisa que sabíamos era que os famosos participantes iam de apresentadores de TV, atores, atletas e até humoristas, mas não fazíamos ideia de quem eram esses artistas até aquele momento. Mesmo não criando muitas expectativas em ser uma das escolhidas, estava impossível não sentir um friozinho na barriga ao pensar na possibilidade.

— E agora chegou o grande momento em que todos estavam esperando… - anunciou Fred. - Vamos revelar quem serão os participantes do quadro “ Você pode dançar?”.

Nesse momento meu coração falhou uma batida e minhas mãos começaram a suar. Fred era muito bom nesse lance de suspense. Olhei para May que me encarou com um sorriso e piscou. Nós já éramos treinadas a sorrir o tempo todo. Mesmo se uma chuva de meteoro começasse a desabar em nossas cabeças, a instrução do diretor era:  “Mantenha a pose e sorria”.

— Nesse ano teremos ao todo doze casais participantes. Serão seis mulheres representando o time feminino e seis homens para compor o time masculino. Sendo assim, teremos seis professoras do nosso grupo de balé que serão escolhidas para treinar o time dos homens e seis profissionais convidados do ramo para treinar as mulheres. - Fred dobrou o papel que estava na sua mão e continuou. - Vamos primeiro apresentar os professores das mulheres.

Ele foi anunciando um por um. Eram todos profissionais muito bons, mas, pessoalmente, eu conhecia apenas o Rod que era irmão da Kate, uma das bailarinas que dançavam com a gente. Ele já tinha participado da edição do ano passado.

— E a partir desse momento vocês irão saber quem serão as professoras super gatas do nosso balé que irão treinar o time dos homens..

Tudo aconteceu muito rápido. O primeiro nome que Fred falou foi o da May. Na hora, dei um grito de felicidade. A maioria das meninas que estavam ao seu redor se juntaram para abraça-la. Eu estava tão animada pela May que nem ouvi quando Fred disse Nataly Brooken logo em seguida. Só senti uma muvuca de garotas se aglomerar em cima de mim, levei um minuto inteiro para entender o que estava acontecendo. A parte mais difícil foi conseguir fazer o trajeto até o canto do palco, sem tropeçar nos meus próprios pés. May já estava lá me esperando feliz da vida. Minhas pernas tremiam demais. Nos abraçamos forte e ficamos aguardando o anúncio das outras meninas com aquela cara de “Está tudo certo por aqui” mas, por dentro, eu sentia que iria enfartar a qualquer momento. Tudo era surreal demais. Além de May e eu, foram escolhidas a Nataly Black, Jennifer Mason, Anne Gomes e a Caroline Barros. Exceto a insuportável da Jen Mason que se achava a miss “sou melhor que todo mundo”, todas as outras garotas eram muito legais. Frederick começou a dizer algumas coisas antes de anunciar os famosos, mas sinceramente, minha mente não estava processando direito. Tudo passava pela minha frente como um borrão. Respira Nataly. Você está sendo filmada. Respira. Quando Fred chamou a primeira participante, eu já estava respirando melhor.

— Para iniciar o time das mulheres, vou chamar ela que é uma talentosa apresentadora de TV. Vamos aplaudir a Ashley Gordon. - Ashley era uma loira muito bonita. Ela já tinha sido modelo quando mais nova e apesar de seus 42 anos, continuava com tudo no lugar. Ela apresentava um talk show em outra emissora. Frederick continuou anunciando as famosas. Uma era cantora da velha guarda e as outras quatro eram atrizes. Inclusive, uma delas, a Marian Scott, eu adorava por causa de um filme que tinha visto com ela.

Quando Frederick iniciou a apresentação do elenco masculino que iríamos treinar meu coração falhou mais uma vez. Agora que eu estava aqui, a minha maior preocupação agora era cair comigo um cara mala. Desde que comecei a trabalhar no programa do Frederick, já tinha conhecido muita gente famosa. A grande maioria desses artistas eram estrelinhas arrogantes que se achavam verdadeiras celebridades internacionais. Você quer saber quem é alguém de verdade? Desliga a câmera da cara dele. Na frente dos holofotes eram só sorrisos e simpatia, já nos bastidores, mal olhavam pra sua cara. Sem contar os babacas de nível maior que confundiam a gente com garotas de programa, só porque éramos bailarinas com roupas curtas. Mentalmente, comecei a pedir a Deus que eu não caísse com um cara chato.

O primeiro a entrar foi um ator que era a sensação do momento entre as adolescentes, Nick Campbell. Logo que foi anunciado, a platéia foi ao delírio. As mulheres berravam para o ator de cabelos loiros e olhos verdes. Nick era muito popular e tinha muitos seguidores. A dançarina que fizesse par com ele tinha grandes chance de ganhar o concurso graças a votação das fãs dele. Porém, apesar de bonitinho, Nick não fazia muito meu tipo.

O segundo famoso a ser anunciado era um atleta olímpico ganhador de várias medalhas no esporte da natação. Cristian Fontes. Ele parecia ser bastante simpático. Seria legal se eu caísse com ele.

O terceiro artista que entrou no palco foi Luke Stewart. Ele era um jovem de 21 anos, ator e comediante que decidiu seguir os passos do seu pai, falecido no ano passado. Shawn Stewart era um artista fenomenal, inclusive, uma das maiores atrações no programa do Fred antigamente. Há seis anos Shawn havia sofrido um grave acidente de carro que o deixou com graves sequelas. No início do ano passado, parece que houveram algumas complicações e ele acabou não resistindo. Eu não conhecia Luke pessoalmente, mas sabia que apesar da pouca idade, ele já era um comediante bem cotado para concorrer a alguns prêmios de melhores do ano por sua atuação na comédia. Eu ainda estava na dúvida se seria ou não uma boa opção caso ele caísse comigo.

— Luke, olha ali para as garotas, quem será sua professora? Não pode escolher, hein? - brincou Fred ao apontar para nós. Luke nos encarou despretensiosamente.

— Definição do “tanto faz” aqui né? Definição do tanto faz. - todos caíram na gargalhada com o comentário do comediante, Luke tinha um sotaque nordestino que faziam suas piadas ficarem ainda mais graciosas. Naquele momento, eu me decidi que não gostaria de cair com ele. Além de parecer mulherengo, Luke era novo demais e não tinha jeito de que levava alguma coisa a sério na vida. Essa era a minha chance de mostrar ao país quem eu era, o meu trabalho e a minha maior paixão, a dança. Não podia desperdiçar essa oportunidade por causa de alguém que está aqui só para brincar.

O quarto artista anunciado por Fred foi o Zuken Gordon. Ele era ator e um gato. Negro, alto, corpo musculoso. Se eu fosse professora dele poderia colocar várias acrobacias na coreografia que seu braço forte aguentaria numa boa. Já estava animada com a possibilidade de trabalhar com ele, sem contar que Zuken era uma simpatia. Eu já tinha encontrado com ele pelos corredores dos camarins.

O quinto a ser apresentado foi o ator Rony Gazon. Ele era o famoso mais velho do grupo até o momento, devia ter em torno de 60 anos.

E o último famoso anunciado por Fred foi Josh Lincoln. Ele era ator e apresentador também. Estava feliz por Josh estar lá. Além de ser um fofo, Josh era bastante divertido e assim como Zuken, seu porte físico aguentaria tranquilamente uma coreografia mais pesada. Eu adoraria que ele fosse meu parceiro de dança.

Após a apresentação de todos os participantes ficamos organizados em duas fileiras, uma de frente pra outra. De um lado estavam os artistas e do outro nós, os professores.

— E agora nós vamos revelar quem dança com quem no quadro “Você pode dançar?”. Estão todos preparados?

Quando Fred disse isso foi inevitável percorrer o olhar por todos os homens novamente. “Que o meu parceiro não seja chato Deus. Por favor, por favorzinho!” Fred primeiro fez a formação do time feminino. Conforme ele anunciava as duplas, os envolvidos davam um passo a frente e caminhavam até o centro do palco para cumprimentar seu parceiro de dança. Em seguida, se posicionavam na lateral aguardando os demais casais. Rod, o irmão da Kate, tinha caído pra treinar a apresentadora Ashley

Agora era a nossa vez. Fred fez um suspense inicial e sempre que aleatoriamente meus olhos encontravam o comediante Luke, ele estava fazendo uma palhaçada diferente. Definitivamente, esse cara não levava nada a sério mesmo.

— Vamos ao time masculino agora… - começou Fred. - Nick Campbell a sua professora será… - ele fez uma pausa. - May Anderson. - nesse momento dei um pulinho de alegria e May foi toda saltitante na direção do Nick para abraça-lo. Pelo que eu conhecia minha amiga, May tinha adorado a escolha de parceiro para ela. - E agora é a vez de Zuken Gordon, a sua professora será… - ele fez outra breve pausa dramática. - Anne Gomes! - Apesar de adorar a ideia de dançar com o Zuken, fiquei mega feliz que a Anne foi a escolhida. Além de linda, ela era uma excelente profissional. Eu tinha certeza que eles iriam se dar super bem. Anne abraçou Zuken e os dois se posicionaram ao lado da May e do Nick. - Agora é a vez de Rony Gazon. A sua professora será… Carolina Barros. - Carol era uma fofa também. Ela tinha todo um perfil de musa afro. Após ela cumprimentar seu parceiro, Fred continuou com as formações das duplas.

No lado dos famosos agora só havia restado Luke, o comediante, Cristian, o atleta e o Josh. Do lado das bailarinas estavam além de mim, a Nataly Black e a chata da Mason.

Acho que eu estava torcendo tanto pra cair com o Cristian ou com o Josh que quando o Fred anunciou que a professora do Cristian seria a Nataly, eu automaticamente, toda feliz, saltitante e sorridente dei um passinho para frente. Só que logo em seguida, ele disse o sobrenome da Black fazendo com que mais rápido que a velocidade da luz, eu recuasse novamente para trás. Até tentei disfarçar, mas pensa numa vergonha?  Comecei a rezar pra ninguém ter reparado nesse mico, até olhar pra frente e me deparar com aquele palhaço do Luke, às gargalhadas, apontando o dedo indicador na minha direção. O idiota estava nitidamente tirando uma com a minha cara. Era o meu primeiro “King Kong” em rede nacional. Que maravilha Nataly, já começou com o pé direito. Revirei os olhos para a gozação do comediante e continuei sorrindo como se nada tivesse acontecido, apenas torcendo para pelo menos cair com o Josh.

— Josh Lincoln… - disse Fred. - Você irá dançar com... Jennifer Mason. - Definitivamente, o cara lá de cima devia estar de complô contra mim hoje, só pode. Jennifer era a pessoa mais insuportável e invejosa do planeta. Meus dedos até doíam em ter que fingir satisfação ao bater palmas pra ela.  A mestiça adorava se gabar que era mais antiga na emissora e se achava melhor do que todo mundo. Conversar cinco minutos com Jennifer era similar a sensação de se imaginar com o rosto enfiado dentro de uma bacia com ácido. Eu só lamentava pelo Josh, coitado. Ter que aguentar a Jennifer não seria uma tarefa nada fácil.

— E por último Luke Stewart, você vai dançar com… - Fred fez uma pausa. - Finja surpresa… - brincou. - Nataly Brooken. - Luke ainda estava gargalhando no momento em que se aproximou para me cumprimentar. Obviamente que mantive a mesma cara de paisagem e o sorriso aberto, quando nos abraçamos rapidamente no centro do palco. Em seguida, eu o puxei pela mão, confesso que com um pouco a mais de força do que o necessário, para o canto direito do palco nos posicionando ao lado das outras duplas. Estava tudo certo por ali, tirando a vontade imensa que eu sentia de entortar um dos dedos dele na minha mão até quebrar. Eu não sabia o que estava me deixando mais irritada naquele momento. Se era o mico que paguei em rede nacional, se era a gozação do palhaço ao meu lado que não parava de fazer graça para a câmera o tempo todo ou a Jennifer Mason me lançando olhares debochados ao analisar o meu parceiro. Ela abriu um risinho de satisfação como que dizendo que eu não teria a menor chance de ir muito longe nessa competição. Diferente do Zuken e do Josh, Luke não fazia o tipo malhado, nem galã. Sua estrutura corporal era bem mais magra. Seus cabelos pretos eram totalmente  desgrenhados e seus olhos possuíam um tom castanho escuro. Luke era totalmente despojado, simples e não parecia se importar muito com essas questões de vaidade. Ele era o oposto do Erick, meu namorado. Erick era alto, musculoso e seus olhos pareciam duas esmeraldas de tão verdes. O abdômen de Erick possuía mais gomos que um tablete de chocolate. Ele era muito bonito. O tipo de cara que as pessoas paravam para admirar. Ele adorava esse tipo de atenção. Não podia passar na frente de um espelho que parava para conferir se estava tudo certo com seu cabelo e seus músculos. Eu só malhava por dois motivos simples, primeiro por conta da minha profissão e segundo porque eu amava comer.

Agora com o time completo, Fred anunciou as doze duplas formadas que iriam participar da edição deste ano do quadro “Você pode dançar?”. Após isso, a produção colocou um forró para dançarmos com nossos parceiros enquanto era feito o encerramento do programa. Luke me conduziu nos passos e apesar dos movimentos básicos, pude sentir que pelo menos ele tinha alguma coordenação. Pelo menos isso.

Luke, eu e as outras duplas fomos direcionados para os bastidores onde daríamos a nossa primeira entrevista e faríamos uma sessão de fotos para o site de entretenimento da emissora. Luke não parava quieto um minuto sequer. O tempo todo estava brincando com alguém ou fazendo alguma piada. Teve um momento que ele desembestou numa dancinha ridícula ao som de Ed Sheeran enquanto o amigo dele filmava. Todos acharam graça, eu estava rindo, mas era de nervoso. Eu ainda continuava muito receosa ao pensar em como seriam nossos ensaios, mas uma coisa era certa. Eu faria esse menino levar essa competição a sério por bem ou por mal. Principalmente, porque eu queria fazer a Mason engolir aquele risinho debochado que ela tinha me dado lá no palco.

— Naty e Luke! Venham, são vocês agora. - disse Kristen, a jornalista que faria aquela matéria. Kristen era alta, loira e muito bonita. Luke se posicionou no meio de nós duas e nos abraçou pela cintura. Aliás, pensa num cara abusado. Não perdia uma oportunidade de ficar encostando aquela mão cheia de dedos em mim toda hora. Suas mãos pareciam ter vida própria em minha cintura.

— Bendito sou eu entre as mulheres! - disse fazendo graça no início da entrevista. - Morram de inveja pessoal! Como eu disse para o Fred… Definição do tanto faz pra gente, né? - indagou referindo-se a nós duas. Naquele momento concretizei minhas suspeitas de que Luke era um tremendo mulherengo. Já que eu não podia revirar os olhos para o comentário idiota do idiota, porque estava na frente das câmeras, forcei um sorrisinho sem graça enquanto ele continuava a falar. - O que eu só posso adiantar para ela é um pedido de desculpas, porque ela vai ter muito trabalho com a gente né? Eu que só sei dançar aquele forrozinho dois pra lá e dois pra cá… - Kristen passou o microfone para mim.

— Ah o forró assim, já deu pra sentir mesmo no dois pra lá e dois pra cá, o ritmo… - Luke me interrompeu.

— O pé dela está sangrando… - falou em tom de brincadeira. Eu já estava ficando irritada de novo. Se nem uma simples entrevista Luke era capaz de levar a sério, o que diriam os ensaios da próxima semana.

— Para. Não vamos começar assim… - respondi tentando disfarçar minha irritação. Kristen percebeu.

— Ihhhh já vi que é uma professora exigente… - provocou a jornalista.

— Gente, ele está escondendo o ouro, viu? - descontrai olhando para as câmeras sempre sorrindo. Posso matá-lo agora? Mantenha a cara de paisagem Nataly. Você consegue.

— Qual o ritmo você acha que vai se dar bem? - perguntou Kristen direcionando o microfone para o Luke.

— Ah eu acho que… Pop e forró. Forró porque é lá de casa. Eu cresci dançando quadrilha em escola, essas coisas… Todo São João a gente tem que dançar pra arrumar uma “mulé” né? - Ai Jesus. Ele era um tremendo babaca. Novamente forcei um sorriso tendo que conter meu desejo de revirar os olhos. - Agora com salsa, esse negócio de ter que jogar a mulher pra cima, voltar por baixo das pernas, segurar no alto, essas acrobacias aí, essa parte mais eclética, eu acho que ela vai ter… - Kristen o interrompeu.

— Mas você vai aprender. Você vai ver que não vai nem acreditar no que está fazendo…

— Claro. Estou aqui para aprender mesmo e ela pra ter trabalho... - disse Luke em tom de deboche apontando pra mim. Minha vontade era responder: “Jura Einstein? Eu quase não percebi que vou ter trabalho com você.” Mas respondi:

— Você vai aprender sim, viu? Vai aprender e não vai ser só forró não viu, gente? - juro que estava utilizando o último fio da paciência que ainda restava em mim.

— Ela está garantindo que “vai aprender”. Qualquer coisa a culpa é dela, tá bom? - Luke zombou olhando pra câmera e Kristen finalizou a entrevista. Graças a Deus! Eu tinha certeza que iria matar esse cara nos ensaios. Ele deve ser insuportavelmente chato. Por que não escolheram a Mason pra ficar com ele? No mínimo deve ter sido praga do Erick.

Logo após o término da entrevista fomos para o painel tirar a primeira foto do site. Alan, o fotógrafo, disse para fazermos alguma pose aleatória. Eu não sei que tipo de substância a mãe desse menino colocou no leite dele quando era criança para ser tão enérgico. Inicialmente, estávamos abraçados tranquilos como duas pessoas normais, em poses normais. De repente, do nada, Luke se virou de frente pra mim erguendo sua perna direita na direção do meu quadril e colocou a mão no rosto numa típica pose afeminada de bailarina. As caras e bocas que ele fazia revirando os olhos pra cima eram hilárias demais. Luke agiu tão espontaneamente que todos nós caimos na gargalhada e até eu deixei minha irritação um pouco de lado e entrei na brincadeira fazendo pose. Alan disse que a foto tinha ficado o máximo, mas não fiz questão de ver naquele momento. Eu estava muito cansada e tudo que eu queria e precisava era ir embora. May já devia estar pronta me esperando.

Estava quase na porta do meu camarim para me trocar quando ouvi um assobio atrás de mim. Virei-me para olhar e me deparei com Luke caminhando a passos largos na minha direção.

— Ei moça, posso tirar uma selfie com você? - encarei Luke com desconfiança. Como tudo para ele era motivo de piada, eu já nem sabia mais quando falava sério. - É para postar no meu Instagram. - justificou ao decifrar minha expressão.

— Ah...Tudo bem. - respondi seca, sem dar muita margem pra conversa. Eu teria que aturá-lo por tempo demais nas próximas semanas pra ter que ficar bancando a social agora. Coloquei o melhor sorriso forçado que eu tinha no rosto quando ele tirou a foto, em seguida, fechei a cara de novo.

— Qual é seu o Insta para eu te marcar? - Ai que cara chato. Será que ele não se toca? A contragosto, soletrei as palavras enquanto ele digitava no celular. - Vou começar a te seguir tudo bem? - perguntou animadamente. Não é possível que ele seja tão sem noção.

— Desde que seja só no insta tudo bem. - sorri convencidamente e continuei andando, sem olhar para trás.

 

...


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Notas finais do capítulo

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