Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 16
Aproximação


Notas iniciais do capítulo

GENTE DO CÉU! ALGUEM ME EXPLICA TODA ESSA SINTONIA COM MINHA FONTE DE INSPIRAÇÃO? JÁ ESTOU ATÉ USANDO O CAPS LOCK DA LETICIA....

BOA LEITURA



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“Ei… Já está pronta?”

Você me mandou essa mesma mensagem faz cinco minutos e eu já falei que ainda não”

“Vamos perder o nosso vôo, bailarina”

“A Anne nem chegou ainda, pare de ser apressado.”

“Ei…”

“Luke se você não parar de me mandar mensagens, eu não vou conseguir terminar de me arrumar e aí vamos perder o vôo de verdade…”— escrevi rindo para a tela do celular.

“Eu estou com saudades de você, do nosso ensaio de ontem e mais ainda do nosso jantar…”— mandou acompanhado de duas taças de vinho e um emoticon apaixonado.

“Ah é?” “Mas não era você que estava todo reclamão de dor no pé por causa do nosso ensaio, antes de sairmos para jantar?”

“É… Mas depois de você ter aceitado meu convite, a dor milagrosamente passou.”

“Olha que maravilha! Vou me candidatar para ser a nova Madre Teresa de Calcutá então, já que estou operando milagres na vida das pessoas…”— brinquei.

“Kkkkkk… Você é foda, bailarina” - eu não conseguia fazer outra coisa além de sorrir. - “A propósito, adorei a nossa noite. Ela todinha.”

“Eu também. Até achei que fosse acordar de ressaca hoje por causa da quantidade de vinhos que tomamos, mas graças a Deus, estou ótima!”

“Vinho bom não dá ressaca e é cientificamente comprovado que faz bem pra saúde...” ele enviou junto com um smile mostrando a língua.

“Luke os médicos recomendam uma taça de vinho por dia, não três garrafas...”

“Ah… É sempre bom garantir uma vida saudável não é mesmo?”

“Ah sim, claro…”

“Nossa, eu ainda posso sentir seu cheiro na minha camisa, tu acredita? Ou melhor, na minha camisa… na minha camiseta do ensaio… agora mesmo, eu só consigo exalar o perfume de Nataly Brooken aqui em mim”

“ Cala a boca, seu bobo” gargalhei enviando vários emoticons de smileys chorando de rir.

“Vai dizer que você também não ficou pensando em mim depois do nosso jantar de ontem?”

Não”— menti descaradamente. “Agora fica quietinho aí, que eu vou terminar de me trocar, depois a gente se fala aluno. Bjs!”— joguei o celular de um lado e me atirei do outro na cama olhando para o teto. Óbvio que era mentira. Luke e eu estávamos cada vez mais próximos e não parávamos de se falar um minuto sequer pelo whatsapp. Quando a gente não estava junto, estávamos nos comunicando de alguma outra forma. E desde o ocorrido no bar do Zuken na quinta-feira e no jantar de ontem que eu não fazia outra coisa na vida, a não ser pensar nele...

 

Ontem havia sido o nosso último ensaio da semana aqui no Rio de Janeiro e confesso que foi o mais intenso de todos que já tivemos até agora. Como se isso ainda isso fosse possível…

Todas às vezes que eu pensava que Luke Stewart e eu já havíamos atingido o nosso limite máximo de intensidade, aconteciam coisas que me provavam exatamente o contrário.

Acordei pela manhã e de cara, ao pegar meu celular, me deparei com uma mensagem de boa noite do comediante no meu whatsapp enviada durante a madrugada, após o bar do Zuk.

Já não bastasse o meu sorriso ao visualizar a mensagem, abri o Instagram e vi que Luke havia postado também, um trecho do vídeo do nosso ensaio onde eu tentava ensinar os passos do balé pra ele. O que nitidamente significava que o comediante havia acordado pensando em mim.

Logo em seguida, procurei uma foto na minha galeria para postar. Como eu sabia que Luke adorava o meu sorriso, escolhi uma que eu havia tirado de outro quadro que eu participava antes de ser escolhida para o “Você pode dançar?” no programa do Fred. A foto foi tirada exatamente um domingo antes da escolha dos participantes dessa edição. O figurino consistia numa saia vermelha com fitilhos e um top decotado na mesma cor. Na boca, eu usava um batom vermelho que combinava perfeitamente com o tom da minha roupa, aquela make estava “muito bafônica” como diria Lion.

Eu já até tinha postado foto daquele dia outras vezes,mas nenhuma delas foi sorrindo. Eu estava muito feliz com a minha vida e queria expressar essa felicidade de alguma forma. Na legenda, coloquei apenas três emoticons sorrindo.

Assim que fiz a publicação, Luke curtiu a imagem e meu celular vibrou com uma mensagem no whatsapp.

Minha Nossa Senhora! Tenho interesse.”— enviou o comediante me fazendo rir.

“???” — respondi com três pontinhos de interrogação, bancando a desentendida.

Tenho muito interesse e venho por meio desta, comunicar a minha ausência no ensaio de hoje por motivos cardíacos. Não se preocupe, morri mas passo bem.”  - eu não aguentei. Gargalhei demais com aquela mensagem.

“Bom dia, aluno!” - enviei fingindo inocência.

“Bom dia? Um excelente dia você quis dizer né bailarina? Um dia esplêndido, abençoado por Deus e bonito por natureza! Que beleza de dia… Que beleza!”— Luke acordou atacado e eu não conseguia parar de rir.

“Nossa, quanta animação para uma sexta-feira de manhã. O que houve? Achei que estaria de ressaca hoje por causa da baladinha de ontem, a May está destruída aqui na cama...

Rapaz... Eu até estava meio morgado aqui também tentando me recuperar do meu mau humor matinal, mas olha, melhorei rapidinho depois dessa foto” “O que é isso Nataly Brooken? Como você faz isso com um pobre aluno indefeso e com o coração cheio de amor pra dar? “ Luke mandou um smile sofrendo e eu ri de novo.

“Eu não fiz nada não, só postei uma fotinho inofensiva…”— provoquei.

Diga isso pra minha concentração mais tarde no ensaio, então…”

“Falando nisso, não vá se atrasar hoje de novo, hein? É o nosso último ensaio aqui no Rio e teremos que repassar toda a coreografia”

“Não vejo a hora…”

“Hora do que Luke?”

“De repassar os passos da nossa coreografia coladinho em você…”  Eu já te falei o quanto eu gosto de forró?”

“Só 75 vezes”

“Eu gosto de te lembrar disso. Inclusive, hoje vou te mostrar todo meu potencial….”

“Aham… Tá bom… eu quero ver esse potencial todo no domingo durante a nossa apresentação… Agora, vou tomar banho, depois nos falamos”

“Quer ajuda?”

“Para?”

“Tomar banho, vai que…”

“Não obrigada. Acho que eu sei fazer isso sozinha.”

“Opa! Mas se precisar e caso venha mudar de idéia, estamos aí…” ele mandou junto com um smiley piscando e mostrando a língua.

Agradeço sua disposição” - brinquei mandando um sinal de positivo para ele.

Desliguei o celular, peguei minhas coisas e fui para o banheiro. No caminho, olhei para May que continuava estirada na cama, resmungando frases desconexas, com um travesseiro apoiado na cabeça.

— Aaaiiii marida socorrooooo… Eu nunca mais vou beber na vida…” - murmurou a doida com a voz abafada pelo travesseiro. - Diz que você anotou a placa do caminhão que passou por cima de mim ontem?

— Anotei sim, estava escrito Absolut nela... - debochei parada na porta do banheiro. - Acho bom a senhorita tomar algum analgésico logo, senão terá problemas para ensaiar com o Nick mais tarde…

— Marida pega ali o meu testamento para eu assinar, porque eu acho que estou morreeendoooo… - choramingou fazendo drama. May tirou o travesseiro do rosto e foi erguendo o corpo em câmera lenta, recostando-se na cabeceira da cama. A louca parecia que tinha saído de um hospício com os cabelos emaranhados pra cima e o rosto todo borrado de rímel preto. Eu gargalhei.

— Nossa May Anderson… A sua sorte é que sou uma amiga muito legal, senão já bem iria filmar um vídeo seu nessa situação e vender para a Netflix criar um remake de “A Hora do pesadelo” com o Freddy Krueger.

— Ha-Ha-Ha… muito engraçada. - ela cruzou os braços no peito fazendo um bico infantil. - Você só está aí com essa plenitude toda Nataly Brooken, porque ao invés de aproveitar o “Open Bar” oferecido pelo Zuken, ficou de chameguinho a noite inteira com o Luke… - May passou a mão pelo cabelo e me olhou irritada. - Eu ainda perdi uma aposta por sua causa e tive que virar duas doses de tequila com a Anne.

— E eu posso saber que aposta foi essa? - agora foi minha vez de cruzar os braços no peito.

— Eu e a Anne apostamos com a Scarlet que você iria beijar o Luke ontem e você lerda que nem uma tartaruga manca, não beijou! - ela fez bico, de novo. - Ou seja… Eu-me-ferrei! - disse apontando para si mesma.

— Oooxiii? E por que eu beijaria o Luke ontem? - perguntei na maior naturalidade.

— Ah marida. Fala sério, né? Pra cima da May aqui? - ela pegou seu celular no criado mudo, mexeu no aparelho e mostrou pra mim. - Olha bem para essa foto... Eu não sei o que estava rolando nessa conversa aqui, mas vocês dois estavam se encarando com nítida cara de “Por favor, me beija!”. Sem falar que pareciam duas gêmeas siamesas colados a noite toda um no outro. Eu tinha certeza que vocês iam se pegar... - ela fez um gesto com as mãos e eu ri.

— Não fala besteira May, nada a ver isso aí…

— Tá bom, marida. - May se levantou da cama parecendo um zumbi e foi se arrastando até a pequena copa que tinha em nosso apartamento. - Vai me contar agora ou mais tarde?

— O que?

— Sobre a conversa com meu “Migo”… - se eu entrasse nesse assunto com ela agora, eu não iria conseguir sair daqui hoje.

— Talvez mais tarde. Agora eu vou tomar banho e você, vê se opera um milagre nessa cara de ressaca que o negócio está tenso pro seu lado.

— Se você tivesse beijado o Luke aquela hora no palco quando a Anne deu a letra, eu não estaria tão mal agora. Você deveria sentir remorso por ter feito isso com a gente... - disse a destrambelhada colocando um comprimido na boca. May encheu um copo d’água e bebeu junto com o remédio.

— Você e a Anne são duas cretinas, isso sim. - acusei. - Eu acho é pouco essa ressaca de hoje, pela vergonha que me fizeram passar ontem naquele palco. - May riu.

— Sua cara não estava muito envergonhada não, viu maridinha? - debochou. - Pelo contrário, estava beeeem felizinha por sinal.

— Antes que você comece com isso de novo, fui. - falei fechando a porta do banheiro.

 

Embaixo do chuveiro fiz uma retrospectiva de tudo que havia acontecido na noite anterior. A sensação que eu tinha era que nada daquilo havia sido real, era como se eu estivesse dentro de um sonho maluco onde Luke se declarava pra mim e coisas estranhas aconteciam. Eu prometi para ele que pensaria no assunto e não parei de fazer isso desde a hora que cheguei no apartamento.

Coloquei na balança todos os prós e contras de me envolver com ele e a única conclusão que eu conseguia chegar era a de que não havia a menor possibilidade disso dar certo e eu ia acabar me ferrando nessa história toda. Idade, distância, o trabalho, a mídia, a competição… Tudo isso pesava demais para que eu continuasse na minha e tirasse de uma vez por todas aquele maldito sorriso fofo da minha cabeça.

Luke era o tipo de cara que agia como um homem e sorria feito um menino, eu simplesmente adorava vê-lo sorrir. Ele era um verdadeiro príncipe. Estava sempre demonstrando preocupação com meu bem estar de alguma forma. Seja nos nossos ensaios ou com palavras fofas, seja através de seus olhos sinceros ou bom humor e até mesmo numa simples mensagem no whatsapp. Luke mesmo que inconscientemente, estava sempre encontrando um jeito de me fazer bem. Acho que era por isso que eu sorria tanto perto dele, o riso do Luke puxava o meu.

Antes de sair do apartamento, peguei meu celular, abri o meu Instagram e vi que Luke havia postado a nossa foto que o Alan tirou no ensaio de terça. Ele escreveu na legenda “Partiu?” acompanhado de um emoticon de bailarina e outro homenzinho dançando. Ele queria saber se eu já estava pronta para o ensaio. Ai meu Deus! Essa era a segunda postagem seguida que Luke fazia comigo hoje em seu feed hoje. Respondi a postagem com um “Boraaaaaaaa parceiro” imitando os bonequinhos que ele havia usado e em seguida, enviei uma mensagem em seu whatsapp.

Quero só ver essa pressa toda para ensaiar quando estivermos lá ensaiando…” “Já estou avisando que hoje pegarei pesado com você senhor Stewart”

Você sabe que pode pegar o que quiser de mim Nataly Brooken”— respondeu com um smile malicioso.

Estou saindo daqui” - respondi ignorando seu comentário de duplo sentido.

— May, você vai com a gente no vôo pra São Paulo amanhã? - perguntei para a minha amiga que estava se trocando no banheiro.

— Não vou, marida. Preciso passar na casa dos meus pais primeiro, só devo chegar em São Paulo lá para o final da tarde. - os pais de May moravam no Rio. Tinha vezes que ela ficava mais na casa deles do que em nosso apartamento.

—  Ahhhhh marida… que pena! Amanhã a tarde a Carol e eu, vamos no salão que a Anne e a Scarlet frequentam lá em Sampa para darmos um trato nas unhas e sobrancelhas, queria que você fosse também... - falei fazendo um biquinho.

— Eu prometo que vou com vocês na próxima vez.

— Então tá, né? - indaguei contrariada. - A gente se vê mais tarde então, marida. - ao sair pela porta, mandei um beijo pra May que retribuiu e parti a caminho do estúdio para ensaiar.

—x-

Logo que cheguei na calçada da enorme construção, encontrei Luke conversando com um garotinho de cabelos encaracolados na frente do portão principal. Ele ria enquanto dizia algo para o menino que gargalhava sem parar. Fiquei olhando aquela cena e inconscientemente, sorri junto, imaginando Luke Stewart sendo pai. Ele sem dúvidas, seria um ótimo pai. Ai meu Deus, Nataly! Você até uma hora atrás tinha chegado à conclusão de que seria uma péssima idéia vocês se relacionarem e agora já está pensando em filhos com o cara? Pelo amor de Deus! Ele tinha apenas vinte e um anos, isso deveria ser a última coisa que passava pela cabeça dele com essa idade. E na sua também, já que você não dará uma chance para ele, certo? Desistindo de ter essa conversa mental comigo mesma, decidi me aproximar de Luke e do garoto.

— Olá! - falei chamando a atenção dos dois pra mim. - Luke me mediu de cima a baixo e sorriu.

— Jesus Cristo!  - exclamou olhando para a minha roupa. - Qual o problema?

— Pra você? Nenhum. Está tudo uma MARAVILHA como sempre. - ele me encarou de novo. - Agora pra mim... Todos eles como sempre também…

— Ô tio! Essa que é aquela gata muito linda, cheirosa e brava pra caramba que você disse que estava te esperando ontem? - perguntou o menino de cachinhos na maior inocência. Imediatamente, mirei meus olhos na direção de Luke.

— É o que?

— Nataly, esse é o Henrique e Henrique essa é a Nataly. - Luke retribuiu meu olhar com um sorriso forçado, dando três tapinhas de leve no topo da cabeça do menino. - Henrique é um rapazinho muito esperto e muito falador também... - disse se agachando de frente para o menino. - Sem contar que ele tem uma memória arretada de boa, né? Por acaso tu já pensou em fazer teste para ator mirim, Henrique? - de braços cruzados, fuzilei Luke com os olhos, esperando uma explicação para o comentário da criança. Luke deu de ombros e eu estendi a mão para o garoto.

— Prazer, Henrique... - eu disse sorrindo. - Não ligue para as besteiras que esse tio fala, a tia aqui não é nada brava não, viu?

— Mas é uma gata muito linda mesmo, tia. - respondeu o galanteadorzinho sorrindo ao beijar a minha mão.

— Owww que isso moleque??? - Luke botou a mão na cintura fingindo indignação. - Má rapaz! Pode tirar o cavalinho da chuva que essa daí já está difícil para eu conquistar sozinho, imagina com concorrência? - Henrique estufou o peito todo presunçoso. Ele parecia uma miniatura do Luke.  

— Relaxa, tio. Não vou jogar meu charme pra cima dela não, mas vou ficar de olho em você, hein? Cuida dela direitinho...

— Oh que fofo! Acho que ganhei um guarda costas… - brinquei apertando a bochecha do garoto. Henrique sorriu feliz e Luke estava sorrindo também com os olhos brilhantes ao olhar toda aquela cena. De onde será que Luke o conhecia? Eu nunca tinha o visto por aqui. - Henrique agora a tia precisa levar esse mocinho aqui para trabalhar, adorei conhecer você.

— Eu também, você é tão legal quanto o tio Luke.

— Tchau, rapazinho! Até a próxima. - Luke fez um cumprimento de mãos com o menino e atravessamos o portão do estúdio.

— Ei, posso saber de onde surgiu essa sua miniatura de cachinhos? - perguntei com um sorriso divertido nos lábios.

— Então…

 

—X-

 

LUKE STEWART

 

— Vamos repassar do começo agora Luke. - após Nataly dizer isso, me posicionei pegando a bailarina no colo e a coloquei no ombro para o passo inicial da coreografia.

— Todas as vezes que a gente faz isso, a minha vontade é de sair correndo com você por aquela porta e levar embora pra casa. - Nataly riu me dando um tapinha nas costas.

— Concentra, Luke.

— Claro... Pra você é fácil falar... - começamos repassar toda a coreografia do inicio pela segunda vez àquela tarde. Eu já estava muito bem familiarizado com todos os passos e mais ainda, com o perfume de Nataly Brooken tomando conta de mim.

Nem Nataly, nem eu, havíamos mais tocado no assunto da noite anterior. Eu já tinha deixado claro meu interesse pela bailarina e prometi que não a pressionaria permitindo que as coisas acontecessem no tempo dela. O melhor de estar com Nataly era que a ela não tinha frescura para nada. A gente se divertia demais juntos, a bailarina não só ria das minha piadas, como também fazia piadas me fazendo rir. Ela era sensacional.

— Luke solta mais esse quadril… - disse Nataly de frente pra mim, com a mão na minha cintura. - Nessa parte você precisa acompanhar meus movimentos, senão vai ficar estranho. Vamos fazer isso de novo, testa com testa e rebola… - instruiu a bailarina. Essa não era a primeira vez que eu repassava esse passo, mas foi a primeira vez que eu fiz isso olhando fundo nos olhos dela. Nossas testas estavam coladas uma na outra, assim como nossos quadris. O rebolado consistia no mesmo movimento do balão invertido, mas, em vez de ser eu abraçando Nataly por trás, nós fazíamos o círculo, um de frente para o outro, com testas e quadris encaixados.

Por um breve momento, eu esqueci completamente que estávamos numa sala de ensaio e segurei a bailarina com bastante firmeza pela cintura ao fazer o movimento. Nossos olhos continuavam conectados e nossas bocas estavam a meio milímetro de se encostarem. Eu até podia sentir sua respiração e seu perfume inebriante em meu nariz. A sua boca cor de rosa parecia implorar por minha aproximação, mas eu me segurei. Aquilo mais parecia um teste de resistência de algum desses reality shows da TV. Eu sabia que estávamos sendo filmados e que precisava me conter, senão poderia ser desclassificado do programa. O programa no caso, era a vida de Nataly Brooken. Eu não queria correr o risco de perdê-la, por uma falta de controle da minha parte.

— Luke pára de fazer isso... - murmurou a bailarina com dificuldade. Eu quase podia sentir o roçar dos nossos lábios.

— O quê...? - sussurrei ainda com a testa colada na dela.

— Isso que você está fazendo…

— Só estou ensaiando… - respondi de forma inocente. Em seguida, continuei conduzindo os passos da nossa coreografia até o ponto em que eu girava Nataly pela cintura e seu rosto ficava bem pertinho do meu de novo, quando ela voltava do giro. - Acho que ficaria legal a gente acrescentar um selinho nessa parte... - fiz um biquinho pra ela no momento em que seu rosto se aproximou do meu novamente.

— Ah é, você acha? - perguntou debochada com uma mão na cintura.

— Ah… eu acho. - afirmei em tom de brincadeira. - Seria só um selinho técnico, nada de mais... - Nataly riu.

— Aham… Sei…

— É sério! Tudo pelo bem da nota alta que iremos tirar no domingo, quer ensaiar? - fiz outro bico para ela que gargalhou.

— Cala a boca, Luke! Pare de dizer besteiras e volta pro foco.

— Estão vendo né, produção? - olhei para uma das câmeras que tinha na sala. - Como ela me maltrata nesse programa… - ainda rindo, Nataly deu um leve tapinha no ombro e voltamos a atenção para o nosso ensaio.

 

Cheguei no meu hotel naquele final de tarde todo moído. Eu mal conseguia andar com meus pés latejando de tanta dor. Nataly não estava brincando mais cedo quando disse que pegaria pesado comigo aquele dia.

Depois do meu bem sucedido teste de resistência, ensaiamos sem parar. Eu saí daquele estúdio parecendo o Robocop do Arnold Schwarzenegger de tão duro que eu estava e com Nataly rindo sem parar da minha cara. Enviei uma mensagem para Gaby, minha irmã, implorando alguma dica de recuperação. Eu estava sofrendo… Ela me chamou de dramático e falou para eu pegar os sais de banho que tinha na suíte do quarto e jogar dentro da banheira com água quente, deixando meus pés de molho lá por um tempo que eu iria me sentir melhor. Segui os conselhos de minha irmã e enquanto relaxava meus pezinhos sofridos na banheira, peguei o cardápio do hotel me deparando com a carta de vinhos.

Meus olhos até brilharam de emoção, era tudo que eu precisava naquele momento. Eu adorava vinho. Pedi o serviço de quarto e assim que o meu vinho chegou, me lembrei da bailarina. O que será que ela devia estar fazendo agora? Sem me conter, tirei uma foto da garrafa, junto com a minha taça cheia e mandei pra ela.

Tu deixa?”— perguntei na legenda da imagem. Ela imediatamente ficou online, o que me deixou feliz.

Deixo.”— respondeu com umas carinhas de risos. “Mas só porque eu judiei de você no ensaio de hoje...”.

“Nossaaa... Nataly Brooken assumindo que foi uma pessoa má? Vou até printar essa tela, porque isso só vai acontecer de novo na próxima encarnação.”

“Kkkkkkkk” “ Eu não sou tão ruim assim, vai?”

“Não, imagina.”— mandei para ela a foto dos meus pés de molho na banheira.

Ah, não sou ruim não” - enviou junto com um macaquinho escondendo os olhos.

Depende…” - respondi com um bonequinho pensativo.

Do quê?”

“Olha, seu saldo comigo está mais negativo do que positivo...”

“Por que?”

“Porque tudo que eu te peço, você diz não”

“Acabei de deixar você tomar vinho, isso foi um sim, certo?” — olhei para a tela do celular e ri. Ela era muito esperta.

Me pegou, não vale! Você está se aproveitando da minha falta de inteligência.”

Olha Luke você pode ser muitas coisas nessa vida, menos sem inteligência.” “Você é um dos caras mais NERDS que eu conheço...”

“Por acaso está mangando de mim, bailarina?”

Não, só estou dizendo a verdade.”

“Ei.. Os nerds também amam, sabia?” - brinquei fazendo trocadilho com o filme que foi clássico dos anos 90. Nataly mandou duas linhas de risadas, dando a entender que ela havia entendido a piada. Graças a Deus! Eu odiava gente que não acompanhava meu raciocínio lógico e eu tinha que ficar explicando as coisas. Nataly mais uma vez, fez meu coração saltar no peito de tanta felicidade. “O que você está fazendo agora?”

Falando com você?” - enviou junto com um bonequinho mostrando a língua. Eu ri, ela estava afiada hoje.

Acho que estou criando uma monstrinha, meu Deus!” “ Duas semanas comigo e já está ficando mais piadista do que eu”

“É a convivência…”— mandou junto com um bonequinho piscando. “Eu estou aqui jogada na cama descansando e criando coragem para tomar banho” “O ensaio de hoje foi pesado pra mim também…”— imediatamente uma idéia surgiu na minha cabeça.

Bailarina, eu acho que você também está precisando de um vinho para relaxar...”

“Bem que eu queria mesmo, viu?”

“Você já jantou?”

“Não, por quê?”

“Eu estava pensando aqui e me liguei numa coisa”

“No que?”

“Hoje já é sexta feira e nós ainda não saímos juntos para comemorar o sucesso que foi a nossa estréia no baladão na semana retrasada.”

“Ah, nós saímos sim. Nós fomos naquele bar depois da nossa apresentação na semana retrasada e ontem fomos ao bar do Zuken.”

“Nós saímos com a galera só… Agora você e eu, para de fato comemorarmos sozinhos, ainda não.” “Eu acho que a gente merece, não acha?”

“E no que está pensando?”

“Podemos sair pra jantar, tomar um vinho e papear, fora que eu estou com uma fome lazarenta…” - assim que enviei a mensagem, fechei os olhos para não ler a resposta dela com medo de levar um fora.

É… Podemos.” - respondeu sem delongas, fazendo o sorriso dar duas voltas em meu rosto.

“Topa um restaurante japonês?”

COM CERTEZA!” - ela enviou junto de umas carinhas apaixonadas.

Nataly e eu tínhamos isso em comum também, nós adorávamos a culinária japonesa. Como eu não conhecia muito bem o Rio de Janeiro, no mesmo minuto, mandei uma mensagem para Zuken pedindo alguma sugestão de um lugar bacana para levá-la. Ele me indicou um dos restaurantes mais recomendados da cidade. Eu enviei o endereço para a bailarina me encontrar lá, já que nenhum de nós dois tinha carro aqui no Rio de Janeiro e teríamos que ir de táxi.

 

— X -

 

NATALY BROOKEN

 

Eu nunca havia me divertido tanto com alguém, como me diverti com Luke em nosso jantar de ontem a noite. O restaurante que ele me levou era lindo e oferecia um serviço de rodízio japonês delicioso. Luke e eu perdemos a noção do tempo ali e só saímos do local, depois de três garrafas de vinho e de quase sermos expulsos pelos garçons que queriam fechar o estabelecimento. Nós conversamos sobre muitas coisas a noite toda, desde de antigos relacionamentos, até quais eram os nossos desenhos animados favoritos. Em nenhum momento durante a noite, mexemos em nosso celular. Ambos estávamos tão ligados um no outro que não existia mais nada, nem ninguém que importasse mais ali, do que nós mesmos. Foi tudo uma delícia, Luke me deixava tão a vontade para ser eu mesma que quando me dei conta, já tinha contado praticamente minha vida toda para ele. Também pude conhecer mais a história do comediante e a barra que ele enfrentou com o acidente e a morte do pai. Luke tinha tudo para se perder na vida, mas fez da sua dor, a sua maior fortaleza para seguir em frente e se tornar o cara maravilhoso que era hoje. Sem contar que o comediante era de uma gentileza sem igual. Ele já era muito educado nos ensaios, mas demonstrou muito mais da sua fofura em nosso jantar. Luke era o tipo de cara que puxava a cadeira para eu sentar e abria a porta do carro para eu entrar. Eu olhava para o comediante embasbacada e sem acreditar que homens como ele, ainda existiam nos dias de hoje.

O que mais me chamou a atenção foi que em nenhum momento, apesar de toda a nossa intimidade no jantar e da nossa proximidade durante o ensaio de ontem, Luke tentou me beijar. O máximo que rolou fora os abraços apertados e as mãos dadas, foi um demorado beijo na minha bochecha que me deixou com a sensação de estar faltando algo entre nós. Foi então que eu percebi, que talvez eu quisesse que ele tivesse tentado algo a mais comigo...

Escutei o meu celular tocar do meu lado na cama, me despertando dos meus devaneios.

Atendi o telefone ainda meio extasiada com meus pensamentos e me deparei com o berro de Anne do outro lado da linha.

— Caraca Nataly, está viva? Faz mais de quinze minutos que estou te ligando e nada de você atender essa joça. Eu liguei até para o Luke pra saber se você já estava com ele... - disse minha amiga, de mau humor. - Já  estou aqui embaixo, vamos logo senão perderemos o nosso vôo. O Luke disse que vai se encontrar com a gente lá no aeroporto mesmo…

— Tá, Tá… estou descendo…. - desliguei o telefone e me levantei da cama rapidamente. Peguei minha mala que já estava pronta, minha bolsa, coloquei meu óculos de sol e desci ao encontro da Anne que me aguardava impaciente dentro do uber.

— Aleluia, irmãos! - agradeceu erguendo as mãos para cima. - Já não bastasse ter me feito perder uma aposta na quinta, agora vai me fazer perder o vôo também? - Anne estava segurando o riso e eu sabia que ela não estava brava de verdade.

— Não vem você também jogar a culpa dessa aposta pra cima de mim, porque eu não tenho nada a ver com as viajadas na maionese que você e a May Anderson dão na vida.

— E o seu jantar de ontem a noite com Luke Stewart? Foi viajada na maionese também? - encarei Anne de olhos arregalados, completamente assustada.

— Como você está sabendo disso? - eu não tinha contado nem pra May ainda sobre o jantar com o Luke.

— Ah queridinha, na nossa turma as notícias VOAM… - ela riu zombeteira e deu de ombros. - Tirando a Mason, está todo mundo shippando vocês…

— Vocês são terríveis. - sacudi a cabeça negativamente e mudamos de assunto.

—x-

Luke nos esperava na entrada do aeroporto, assim que nos aproximamos o comediante me deu um de seus abraços calorosos e aquele delicioso beijo na bochecha cheio de significados. Anne acompanhava toda a cena cheia de sorrisos ao olhar pra nós.

— Vamos tirar uma foto nossa? - pedi apontando a câmera do meu celular na nossa direção. Luke estava tão bonitinho de boné. O comediante, imediatamente, se aproximou do meu lado direito encostando sua cabeça na minha e Anne ficou um pouco mais afastada do meu lado esquerdo.

— Vou ficar de vela aqui no meu cantinho mesmo... - brincou minha amiga, fazendo uma pose de lado antes de eu bater a foto. Mostrei minha língua para ela, através da câmera do celular e apertei o botão. Enviei a foto no nosso grupo de whatsapp e guardei o celular.

 

Luke e eu, nos despedimos logo que chegamos em São Paulo, ele tinha alguns compromissos e eu iria no salão com as meninas. Mesmo assim, continuamos nos falando a tarde toda pelo whatsapp.

 

No início da noite Christian e Gabriele disseram no grupo que como estava friozinho na cidade, eles estavam afim de sair para jantar em alguma cantina italiana ali perto do hotel mesmo e perguntaram se alguém se animava a ir. Luke me mandou mensagem no particular perguntando se eu queria ir e eu topei. Eu estava aceitando qualquer coisa que me fizesse passar mais tempo ao lado dele.

Do meninos, apenas Josh tinha topado fora o Luke e das meninas foram a Scarlet, a Naty Black, a Anne e a Carol Gomes, parceira de dança do Gazon. A Mason nem se manifestou. Aliás, desde o dia da minha dança com Luke no bar do Zuken que a mestiça estava mais na dela e mal falava com a gente. Graças a Deus!

Josh comentou durante o jantar que estava cada vez mais difícil aturar a chatisse da bailarina durante os ensaios e perguntou se a Scarlet não podia trocar de lugar com ela. Todo mundo riu, principalmente, quando Josh resolveu imitar sua parceira de dança em um dos seus pitis.

— Viu? Você diz que eu te maltrato, mas poderia ser pior… - murmurei para Luke que estava sentado do meu lado na mesa. - Poderia ser a Mason no meu lugar.

— Fica tranquila que agradeço todos os dias por minha parceira ser você. - ele segurou meu rosto e beijou minha bochecha. Esse tipo de atitude já era natural entre a gente. Luke e eu passamos a noite toda entre abraços e sorrisos.

— Todo mundo aqui está confirmado para a nossa baladinha amanhã depois da apresentação, né?

— Todos menos o Nick.

— Vou levar dois amigos meus, tudo bem? - perguntei para Cristian, o organizador do evento.

— Beleza. É só eles entrarem com a gente amanhã, que está tudo certo.

— Olha Gabi, se o seu marido ensaiasse com a disposição que ele tem para organizar eventos, estaríamos em primeiro lugar. - brincou Black olhando para Cristian. Gabriele gargalhou.

— Estou adorando ver meu marido levar esporro da professora de dança.

— Essas mulheres acabam com a gente mesmo… - disse Luke descontraidamente.

— No seu caso Luke, a Nataly acaba com você em muitos outros sentidos… - Scarlet falou maliciosa fazendo todo mundo na mesa rir e eu parecer um pimentão.

— Tem toda razão. - Luke concordou olhando pra mim, causando um alvoroço entre a galera. Até o término do jantar, eu já tinha perdido as contas de quantas piadinhas nós havíamos recebido referente a nossa aproximação. Eu me sentia de volta no colegial, Luke e eu entramos na brincadeira do pessoal e nos divertimos também.

Antes de irmos para o hotel, na porta do restaurante, pedimos para um dos manobristas bater uma foto de todos nós juntos. Anne se aproximou e ficou entre o Luke e eu.

— Olha eu de vela aqui de novooooo… - brincou rindo ao enfiar sua cabeça no meio da gente. Luke e eu gargalhamos da besteira dela. Acabei fazendo uma pose de lado mesmo, jogando meu corpo para frente. - Essa é a segunda foto que eu tiro hoje segurando vela pro casal magia, hein? Na terceira, eu já posso pedir música no Fantástico... - mais uma vez, todos começaram a rir da nossa cara. Luke estava se divertindo pra caramba com esse negócio de estarem “shippando” a gente como casal.

Ele não conhecia muito bem essa expressão antes, mas já tinha adorado. O comediante estava levando tudo numa boa e novamente não tentou me beijar naquela noite. Eu deveria saber que ele seria um cara de palavra e que a partir do momento que ele declarou seu interesse por mim no bar do Zuken e deixou a decisão na minha mão, ele não faria absolutamente nada sem o meu consentimento.

De uma coisa eu tinha certeza, se eu quisesse que algo rolasse entre a gente, essa iniciativa agora teria que partir de mim.




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