Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 15
Intenções




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LUKE STEWART

 

Jesus Cristo! Olhei meu reflexo no espelho e levei um baita susto. Eu precisava urgente dar um jeito nesse capacete de astronauta acoplado na minha cabeça. Eu havia deixado o miserável do cabelo crescer para o baladão e até agora ainda não tinha arrumado tempo para cortar. Na verdade, eu tinha era uma preguiça lascada de fazer isso. No domingo eu pediria para a equipe do programa do Fred dar um trato pra mim. Eu que não ia pagar para cortar o cabelo agora, sendo que se eu esperasse apenas mais três dias poderia fazer de graça né, rapaz? Eu que não sou besta.

Vesti minha fiel camisa polo azul, uma das poucas roupas limpas na minha mala e fiz a barba. Pelo menos isso eu tinha que fazer, não dava para conquistar a gata parecendo um mendigo. Às vezes eu gostava de deixar a barba um pouco maior para tentar dar uma disfarçada nessa minha cara de criança.

Eu tinha acabado de falar com a bailarina pelo whatsapp e já estava aqui me segurando para não mandar outra mensagem de novo. Já era a milionésima vez que eu clicava na sua fotinho de perfil do aplicativo só para ficar admirando aquela beleza. Meu pai! O que era aquilo? Nataly vestia uma blusa vermelha com umas finas listras brancas, o tecido da roupa estava um pouco caído em seu ombro, mas não dava para ver muito bem, porque a imagem era bem pequena e focalizava mais em seu rosto.

Aquele rosto lindo e perfeito com aquele olhar que poderia fazer o que quisesse de mim. Essa parecia ser mais uma daquelas fotos de ensaios que a Nataly fazia só pra torar com a porra toda mesmo. Eu tinha é inveja do lazarento do fotógrafo que tirava essas fotos dela. Pensando bem, eu desejava mesmo é que esse tal fotógrafo fosse bem baitola, assim não eu correria o risco dele olhar para a minha bailarina com nenhuma outra intenção.

Depois de borrifar meu Bvlgari Black pra ficar cheirosinho, apanhei minha carteira, celular e desci até o saguão do hotel para pegar um dos táxis que ficavam no ponto que havia ali na frente. Passei o endereço que Zuken tinha enviado no grupo para o taxista e continuei mexendo no celular.

A nossa turma estava numa zuação só no grupo. O assunto da vez era a noitada de hoje no bar do Zuken. Cristian enviou uma mensagem dizendo que ele e sua esposa já haviam chegado no local e pediu para não demorarmos porque eles estavam com sede. Em seguida, mandou uma foto dele com Gabrielle, sua esposa, segurando um copo de caipirinha na mão. Os dois formavam um casal sensacional. A Gabrielle era extremamente tranquila, sem frescura, adorava uma bagunça também e era a maior apoiadora do Cristian e da Nataly Black, na competição. Zuken logo depois mandou a imagem de uma garrafa de vodca Absolut com a legenda “Olhem só para o bebê que está aqui prontinho esperando por vocês”.

“Jesus Cristo! Tem um fígado novo esperando por mim aí também cara?”  mandei em seguida.

“O fígado não sei, mas tem eu Lukezinho. Cadê você hein?” Jennifer Mason mandou essa mensagem seguida de um par de olhos.

“Virgi Maria!” Eu não sabia o que responder, qualquer coisa que eu dissesse poderia me complicar com a minha bailarina.

— Chegamos, senhor. - falou o taxista chamando minha atenção. - É aqui. - Desliguei o celular e olhei para o lugar onde ele apontou ser o bar. Apesar de ser quinta feira, a rua estava lotada de gente. De acordo com Zuken, aquele local da Lapa era um dos pontos mais badalados do Rio de Janeiro. Ele já tinha nos avisado no grupo que havia uma recepcionista aguardando por nós na saída de emergência que ficava na entrada lateral do estabelecimento. Nós iríamos entrar por lá e ficar numa parte privativa do bar para não chamarmos muito atenção e podermos curtir a noite numa boa.

— Olá boa noite, Luke! - disse a mulher sorridente. - O Zuken e seus amigos já estão lá em cima no camarote privativo. É só subir a primeira escada à direita que já irá encontrá-los. - sorri de volta agradecendo a simpática mulher.

— MIGOOO! - olhei para trás dando de cara com May Anderson e Nataly Brooken. - Espera a gente, vamos subir juntos! - falou a bailarina doidinha animadamente. May deu uma corridinha para me alcançar e me abraçou empolgada, já Nataly ficou um pouco mais retraída ao lado da amiga. - Nooossa, é muito mara aqui né? - sorrindo, May admirou a construção do local. O ambiente mantinha uma linha mais rústica e era realmente muito bonito.

— É sim. - eu concordei.

— Vamos entrar logo que eu quero ver como é lá dentro... - a doidinha cumprimentou a recepcionista e subiu a escada rapidamente, deixando Nataly e eu para trás.

— Ela já está bêbada?

— Pior que não. - Nataly riu. - Por incrível que pareça,  May só bebeu água até agora.

— E aí gata, sentiu minha falta? - perguntei ao abraçar a bailarina pelo pescoço lhe tascando um beijão na bochecha. Para variar, Nataly Brooken estava cheirosa pra caramba.

— Hein? Luke, como eu vou sentir sua falta se não faz nem três horas que a gente se viu e menos de uma que nos falamos pelo whats?

— Ué, isso é tempo suficiente para sentir saudades. - Nataly riu. - Aliás, a senhorita está linda essa noite. Eu adoro quando você prende o cabelinho assim pra cima parecendo um cachorrinho shitzu. - gesticulei com a mão pro alto e ela gargalhou batendo no meu ombro.

— Pára, seu besta! - subimos rindo no andar superior onde logo avistamos boa parte da nossa galera.

— Ae moleque, até que enfim vocês chegaram! - Zuken bateu na minha mão em cumprimento e deu um beijo no rosto da Nataly. - E aí Naty, tudo certo?

— Tudo sim! Parabéns pelo bar Zuk, está tudo muito lindo!

— Depois eu levo vocês para conhecerem a casa toda, agora vamos beber!

— Luuuukeee… Que bom que você chegou! - Jennifer Mason deu um grito que quase me deixou surdo. A mestiça me abraçou com força ao me cumprimentar e quase me derrubou. - Nossa... Está cheiroso hein, lindo? - murmurou perto do meu ouvido. Não precisei olhar para Nataly para saber que a bailarina estava espumando nesse momento, eu já conhecia bem a minha professora.

 

NATALY BROOKEN

 

Aff… A Mason não ia desistir nunca mesmo? Será que ela não percebia que essas investidas que dava em cima do Luke na frente de todos, só fazia com que parecesse ainda mais vadia? E a mensagem no grupo do whatsapp? Sério, eu já estava começando a sentir vergonha alheia desse ser.

— Oi amigaaa!!! - Scarlet chegou por trás de mim e me abraçou. - Acho que você chegou precisando de uma bebidinha. - disse ao encarar a cena da Mason na minha frente. Scarlet me entregou um copo plástico com um líquido dentro.

— Oi, linda! - peguei o copo da mão dela e cheirei o conteúdo. - O que é isso?

— Vodca com energético. - eu não era muito fã de vodca com energético, mas com uma careta, dei um pequeno gole na bebida e devolvi o copo pra ela. - E aí me conta, como está esse chove não molha com o Luke Stewart, hein?

— Oi?

— Ah não me venha com esse “oi” Nataly Brooken, vai querer bancar a desentendida comigo? Se até eu que nem estou participando dos ensaios do “Você pode dançar?” já estou sabendo dos babadinhos que rola nos bastidores, imagina o restante do povo?

— Não tem babadinho nenhum não, Scarlet. - olhei para o Luke. - A gente só está se dando bem… - nesse momento, como se soubesse que eu estava o encarando, Luke olhou pra mim e sorriu. Sorri de volta. Mason seguiu o olhar de Luke e fechou a cara na hora ao me encontrar.

— Muito bem pelo visto, não é mesmo? - provocou Scarlet com um sorriso largo no rosto. - Meu radar de piranha apitou aqui, deixa eu ir ali te ajudar a tirar uma de cima do seu boy...

— Ele não é meu boy, Scarlet.

— Não é, ainda. - a morena piscou pra mim e saiu caminhando na direção onde Luke e Jennifer estavam conversando. Eu fui cumprimentar o restante do pessoal.

— Não... Ah, nesse lugar nem pensar cara. É muito lotado! - Josh falou pra Cristian. Cheguei perto de May me infiltrando na conversa.

— Qual o assunto da vez? - Perguntei no ouvido da minha amiga.

— Cristian e Josh estão discutindo onde serão nossos próximos eventos da semana. - disse rindo. - Eles dois são engraçados demais. Um quer restaurante, o outro prefere  baladinha e agora estão num impasse.

— Nossa, mas a galera está mesmo animada com esse lance de eventos.

— Cristian falou que essas noitadas irão se tornar tipo uma tradição de família entre vocês. - disse Gabrielle, esposa do Cristian. - Olha, já vou avisando que o meu marido é pior que criança, viu?

— Ele é uma criança grande mesmo. - Afirmou Nataly Black que era a parceira dele na competição. - Tem momentos durante os ensaios que eu me sinto mais como uma mãe chamando a atenção do filho para deixar de fazer coisa errada. - brincou.

— Bem vinda ao meu mundo, Black. - respondeu Gabrielle com diversão. - Eu não teria essa paciência toda que você tem para ensinar, nem ferrando…

— Ei, alguém sabe do Nick e do Gazon? - perguntou Zuken se enfiando no meio de nós.

— O Nick acabou de mandar mensagem no grupo dizendo que não vai poder vir porque precisa acordar cedo amanhã e o Gazon falou que vai deixar para a próxima... - disse May mexendo em seu celular. - Nick para esses assuntos de noitada tem a mentalidade de um senhorzinho de 80 anos! - completou minha amiga arrancando a gargalhada de todos.

— Cheguei! - anunciou Luke próximo ao meu ouvido, se encostando do meu lado. Ele segurava um copo plástico com bebida na mão.

— Nossa, o assunto com a Mason estava bom mesmo hein? Só saiu de lá agora… - falei de forma casual olhando para nenhum lugar em específico. - O que está bebendo? - perguntei em seguida, no intuito de não demonstrar tanto interesse no assunto anterior. Luke me puxou pelo braço, nos afastando do meio da galera.

— Vem aqui bailarina, precisamos conversar. - disse ele com seriedade. Luke nos levou até o canto do balcão onde estavam expostas as garrafas de bebidas que Zuken havia disponibilizado para a nossa turma e arrastou dois bancos de madeira, um para mim e outro para ele se sentar. Meu coração estava disparado. O comediante cruzou a perna e permaneceu segurando seu copo em uma das mãos. - Quer beber alguma coisa? - ofereceu ao notar minhas mãos dançando pra cima e pra baixo nas minhas coxas. Eu estava muito nervosa.

— Não, obrigada. - falei me curvando um pouco mais no banco de frente para ele. Com as mãos gélidas, decidi prendê-las entre as pernas na tentativa de disfarçar minha inquietação.

— Nataly eu preciso esclarecer algumas coisas aqui… - Luke olhou no fundos dos meus olhos ao dizer isso e o seu tom sério fez meu estômago virar. - Eu não sei se tenho sido claro ultimamente, mas eu quero que entenda quais são as minhas reais intenções com você... - Calma Nataly, respira. Não vai me pagar o mico de desmaiar agora.

— O..q-uê? - minha voz quase não saiu ao fazer essa pergunta.

Meu Deus! Era só o Luke Stewart na minha frente, não tinha o por que de eu estar tão ansiosa desse jeito. Eu falava com ele todos os dias, nós já havíamos criado certa intimidade e cumplicidade, além de tudo, nós éramos amigos. Eu precisava me acalmar. Eu estava começando a controlar a respiração, quando Luke ainda com a perna cruzada, inclinou seu corpo na minha direção.

— Eu acho que estou apaixonado por você. - disse sem o menor rodeio, me pegando totalmente desprevenida. Juro, eu senti todo o sangue drenar do meu corpo em menos de um segundo. Paralisei, entrei em choque e fiquei sem reação. Eu mal conseguia abrir a boca, por medo do meu coração saltar pra fora dela. Luke continuou me encarando e notei certa apreensão em seu olhos ao fazer isso. Eu não imagino como estava a minha cara naquele momento, mas pela expressão do meu aluno, não era das melhores. - Nataly eu não quis te assustar, nem nada. Muito menos estou te cobrando alguma resposta ou atitude em relação a isso. - Luke bebeu um gole de seu drink.

— E-eu sinceramente, não sei o que te dizer... - eu permaneci imóvel e com falta de ar.

— Por favor, não se sinta pressionada. Olha, eu sou um cara bastante paciente e estou tranquilão geral com o que estamos vivendo atualmente, tudo tem sua hora certa para acontecer… - Luke mantinha uma serenidade em suas palavras que era como se estivéssemos falando de moda e não que ele havia acabado de me dizer que achava estar apaixonado por mim. Meu Deus! Eu sentia que ia desabar desse banquinho a qualquer momento. - Você ainda se lembra da pergunta que eu te fiz no bar a semana retrasada? - afirmei com a cabeça, porque aquela pergunta ficou martelando muito tempo na minha mente. Luke havia me perguntado se um dia ele me pedisse, eu daria pra ele. O comediante não tinha deixado explícito do que se tratava esse questionamento, mas divaguei nas inúmeras possibilidades. - Então, eu não estou te pedindo nada agora, é sério. Eu só quis te dizer como estou me sentindo em relação a nós, para que nunca mais passe pela sua cabeça que estou levando isso apenas como uma diversão, apesar de estarmos nos divertindo muito também... - ele riu. - Bailarina, eu adoro esse seu biquinho ciumento, porém, eu preciso que saiba que não existe a menor possibilidade de acontecer algo entre mim e a Jennifer Mason ou com qualquer outra mulher. Desde o dia que eu botei meus olhos em você, que eu durmo e acordo pensando nesse sorriso... - Nataly diga alguma coisa, pelo amor de Deus! Eu abri e fechei a boca algumas vezes, mas nenhum som foi emitido por ela. Luke percebendo minha dificuldade, se inclinou um pouco mais na minha direção e continuou com seu monólogo. - Eu concordo quando você disse que precisamos ser sinceros um com o outro e eu estaria sendo um tremendo mentiroso se simplesmente ignorasse essa loucura toda que acontece aqui dentro... - apontou para o seu peito. - Sempre que estou perto de você.  

— Ai papai… Se essa não for a melhor foto de todos os tempos, eu não sei qual é! - Scarlet e May se aproximaram de nós gargalhando, uma segurava um copo de caipirinha na mão e a outra o celular. - Olha isso, que coisa mais linda! - Scarlet virou o celular para nós, mostrando a foto que havia tirado uns minutos atrás. A imagem foi tirada no momento exato em que Luke Stewart havia me deixado em estado catatônico ao dizer que achava estar apaixonado por mim. Fiquei vermelha na hora.

— Quem shippa esse casal põe o dedo aqui, que já vai fechar… - May começou a cantarolar infantilmente e ergueu a mão fazendo uma casinha. Scarlet rindo, enfiou o dedo embaixo da mão da minha amiga e Luke entrou na brincadeira fazendo o mesmo. Eu apenas fiquei olhando a cena, ainda anestesiada com a bomba que meu aluno havia jogado em cima de mim. Como Luke poderia achar estar apaixonado por mim em tão pouco tempo que nos conhecíamos? Ele devia estar exagerando ou talvez, confundindo as coisas… Minha cabeça estava girando… Se bem que tempo para mim e para o Luke era algo tão supérfluo considerando toda a intensidade que as coisas vinham acontecendo entre nós. Eu o conhecia há menos de um mês e eu já não conseguia mais me lembrar como era minha vida antes dele.

— Eiiii, levantem já a bunda dessas cadeiras seus velhos. - Anne chegou meio cambaleando e cheia de sorrisos. - Quem é que vem pra night para ficar sentado? Eu quero daaançar…

— Isso mesmo, parceira! - Zuken apareceu em seguida com aquele astral contagiante. - Bota ordem nessa bagunça... - disse pegando a garrafa de vodca que estava no balcão atrás de mim e do Luke. Ele colocou um pouco da bebida no seu copo e em seguida, abriu uma latinha de energético que estava dentro de um balde com gelo. - Vocês não vão beber nada? - Luke olhou para o copo dele que estava quase vazio.

— Já, já eu pego. Valeu, irmão.

— O pagodinho já vai começar... Os caras dessa banda de hoje são feras demais, eles tocam de tudo! - comunicou Zuken. - Quero ver todo mundo no clima do pré aquecimento para o forró de domingo. - brincou. Após abastecer seu copo, Zuk saiu de perto de nós e foi para o outro lado do camarote onde estavam o restante da turma. Olhei para o grupo de pessoas e dei de cara com a Jennifer Mason me encarando com aquela típica expressão de poucos amigos. Quanto tempo fazia que ela estava me observando? Desviei o olhar da mestiça e peguei meu celular.

— Casal magia, nós vamos ali pra perto do palco... - avisou Anne descontraidamente. - Encontrem a gente lá. - a morena estava começando a passar do nível alegre, para o levemente alterada alcoolicamente. Aliás, não só Anne, mas tanto Scarlet quanto May estavam quase nessa mesma condição. Luke riu.

— Gostei do casal magia. Ei, vem cá…- falou se aproximando mais de mim. - Tira uma selfie desse casal magia pra você olhar mais tarde e se convencer do quanto a gente combina. - eu ri, abrindo a câmera do meu celular.

— Será? - Olhei para meu aluno que estava com o rosto a poucos centímetros do meu. - Será mesmo que a gente combina, Luke Stewart?

— Se você deixar, posso passar a vida inteira te convencendo disso. - Luke encostou a cabeça na minha e sorriu marotamente para a câmera do celular quando estiquei o braço para tirar a nossa selfie. Apesar do choque inicial com a declaração do meu aluno, eu não conseguia esconder toda a felicidade que estava sentindo através do meu sorriso. Eu tinha adorado aquela foto. - Manda essa foto pra mim depois? Quero deixá-la guardada aqui no meu celular, para te lembrar desse momento em alguma ocasião especial. - encarei o comediante que continuava sorrindo.

— Luke você está bêbado?

— Não bailarina, eu estou apaixonado é diferente. - disse segurando meu rosto e estalando um beijão na minha bochecha.

E pela milionésima vez àquela noite, Luke Stewart fez meu coração falhar algumas batidas.

 

LUKE STEWART

 

Já eram quase duas horas da manhã e Nataly Brooken não havia mais se manifestado sobre o assunto que eu falei com ela. Sei que posso ter sido precipitado ao expor meus sentimentos de forma tão direta e objetiva. Assim como eu sei, que devo ter me declarado rápido demais, às vezes essa minha intensidade toda deixava as pessoas assustadas... Mas, eu não podia fazer nada se eu gostava de viver intensamente todos os momentos da vida. Mergulhar de cabeça em algo que eu acreditava ser o melhor pra mim sem analisar a profundidade do oceano, fazia parte da minha personalidade. Sempre fui um cara bastante romântico e algumas vezes, esse romantismo me fazia enxergar amor onde não existia. Comecei a ficar preocupado, será que me enganei com Nataly e vi um clima onde não tinha?

O silêncio dela era melhor que um fora, certo? Peguei uma taça de champanhe no balcão e enchi de prosecco. Naquele momento era mais proveitoso eu beber do que ficar imaginando o que se passava na cabeça da bailarina. Ela estava próximo ao palco conversando e dançando com May e com a Anne, enquanto a banda tocava uma música de pagode que eu não conhecia.

— Essa é a melhor fase, né?- disse a esposa de Cristian se sentando do meu lado.

— Não entendi. - respondi encarando a mulher do meu amigo.

— Essa fase apaixonado… - ela riu, olhando para Nataly que sambava lindamente com aquele sorrisão nos lábios.

— Eita, até você já percebeu? - usei um tom de derrota. A esposa do Cristian mal nos conhecia, essa era apenas a segunda vez que nós saímos juntos. Estava tão evidente assim que eu só tinha olhos para Nataly Brooken?

— Desde o dia que eu te conheci na semana retrasada. - ela brincou. - Vocês são muito lindos juntos, sabia?

— Pena que ela não ache isso.

— Como não, Luke? Aquela mulher só falta te colocar num pedestal para idolatrar. - olhei para Gabrielle de cenho franzido tentando identificar o nível alcoólico em que a “mulé” se encontrava.

— Acho que não estamos falando da mesma pessoa...

— Estamos falando da mesma Nataly Brooken sim. É evidente para qualquer um que olha pra vocês dois, o quanto de faíscas soltam quando estão perto um do outro. Já rolou alguma coisa entre vocês?

— Tirando eu ter me declarado pra ela hoje à noite e ela não ter dito absolutamente nada? Não, nadinha. - falei bebendo um gole do meu espumante. - Está tudo sob controle... - fiz um careta de deboche fazendo Gabrielle rir.

— Calma Luke, mulher é assim mesmo. Ela deve ter ficado assustada e ainda não teve tempo para absorver suas palavras, isso não significa que ela também não goste de você...

— Eu disse para a bailarina que não queria pressioná-la e que não precisava me dizer nada naquele momento, só não achei que ela fosse levar isso tão a sério… - na verdade, eu só tinha dito aquilo mesmo para evitar de levar um fora na lata. Fingi a tranquilidade de monge porém, por dentro, eu já tinha rezado três “Pai Nosso” e duas “Ave Maria”. Na minha cabeça, não deixei de imaginar que após minha declaração Nataly sorriria pra mim e me beijaria afirmando também estar louca por mim. Aham, mas é óbvio que se as coisas fossem simples assim, ela não seria Nataly Brooken.

— Dê tempo ao tempo, logo vocês se ajeitam pode acreditar. Eu mesma, só fui conseguir ficar com o Cristian, cinco meses depois de nos conhecermos... - eu cuspi a bebida da boca e encarei Gabrielle de olhos arregalados.

— JESUS CRISTO! - exclamei perplexo. - Se a Nataly Brooken decidir me dar um chá de canseira de cinco meses, eu faleço geral… - nesse período já teria até acabado a competição do programa do Fred. Suei frio. - Gabrielle, daqui cinco meses eu pretendo já estar comemorando aniversário de relacionamento com ela. - falei num tom sério e a esposa do Cristian gargalhou.

— Pode ficar tranquilo Luke, pelo que eu vejo em vocês dois, não irá demorar muito pra essa bomba explodir não... Ainda mais com a parceira do Josh demonstrando tanto interesse em você. - Gabrielle era bastante observadora.

— Você percebeu isso também?

— Ela estava fuzilando vocês com os olhos enquanto conversavam no balcão naquela hora. E Nataly não parece ser o tipo de mulher que desiste do que é dela, por causa de alguém como a Jennifer. - eu já estava começando a ficar confuso com as palavras da Gabrielle. Cristo! Por que mulher tinha que ser tão complicada e falar em códigos? O que é que era da Nataly? E o que Jennifer tinha a ver na história? - Luke você está no caminho certo e no que depender da minha torcida e apoio, meu voto é 10 para concretização de vocês como um casal. - ela deu uma batidinha no meu ombro e olhou pra frente, observando Cristian entornando uma dose de tequila juntamente com Josh. - Agora vai lá conquistar a sua amada, que eu vou cuidar da minha criança antes que ele caia e eu tenha que carrega-lo de volta pra casa. Não tenho nem braço pra isso… - Gabrielle saiu do meu lado e eu fui até o grupo onde Nataly se encontrava. Aproveitei para olhar feio para uns marmanjos que não tirava os olhos da minha bailarina. Encosta aqui pra tu vê, rapaz!

— Agora vamos fazer uma pausa e daqui a pouco a gente volta com o momento retrô. Quem quiser pedir uma música é só escrever no papel e colocar nessa caixinha aqui. - disse o vocalista da banda. - Lembrando que vocês escolhem a música e a gente escolhe quem dança. - um pessoal que parecia mais familiarizado com a banda começou a rir e a fazer bagunça, inclusive o Zuken.

— Essa parte é a melhor parte, eles fazem tipo um momento “trash” só com clássicos antigos, como trem da alegria, Xuxa, balão mágico, Reginaldo Rossi, enfim, várias músicas engraçadas e divertidas que marcaram na história. Se vocês quiserem alguma música em especial é só escrever no papel e colocar naquela caixinha. Depois a banda vai fazer o sorteio e escolher as pessoas que irão dançar… - explicou Zuken.

— Ahhhhh eu adorei!!! - berrou May Anderson. - Quero pedir Macarena! - a doidinha começou a gesticular sozinha com os braços estendidos pulando de um lado para o outro ao fazer o passinho da coreografia. - E eu quero dançar também! - completou, animada.

— Nós já percebemos, marida. - disse Nataly arrancando risos da galera.

Em poucos minutos, graças ao teor alcoólico no sangue, todos estavam animados escrevendo seus pedidos de músicas e depositando na caixinha. Aproveitando o clima da bagunça, me veio uma idéia maluca na cabeça para brincar com a minha bailarina e descontar o episódio com a Sheila no ensaio de hoje a tarde. Nataly Brooken iria me matar.

 

NATALY BROOKEN

 

Eu ainda não tinha conseguido parar nem para raciocinar, muito menos, para continuar aquele assunto com Luke Stewart. Eu precisava pensar em tudo que o comediante havia me dito com bastante calma e a noite estava super agitada para fazer isso.

A galera continuava animadíssima com a banda da casa que já tinha tocado desde “Village People” até “É o Tchan”. Ninguém ali estava se importando em dançar, mesmo não sendo os escolhidos da vez. O ápice da noite foi quando a banda escolheu Josh para dançar “Robocop Gay” do memorável grupo “Mamonas Assassinas”, aquela foi uma das cenas mais hilárias que eu já presenciei na vida.

Josh se jogou na dança de maneira bastante afeminada e numa grotesca tentativa de fingir sedução, bem desengonçadamente, apoiou os braços no ombro dos meninos e foi rebolando até o chão. Luke para zuar, pegou sua carteira do bolso, tirou uma nota de dois reais de dentro dela e depositou no cós da calça do apresentador, dando um ligeiro tapa em sua bunda. Ele ainda finalizou o gesto com a frase “Vai, safada!”, o que arrancou a gargalhada de todos que estavam em volta, inclusive, dos próprios integrantes da banda. May e Anne até sentaram no chão para rir.

Luke era terrível e tinha uma criatividade fora do normal para trazer alegria às pessoas ao seu redor. Eu adorava isso nele.

— Bailarina, eu vou ali no banheiro e já volto. - disse o comediante repentinamente. Luke estava com aquela expressão arteira de quem estava aprontando algo e eu fiquei desconfiada. Antes dele sair, o segurei pelo braço.

— O que você está aprontando, hein? - Luke inicialmente se assustou com minha pergunta repentina, mas em seguida, sorriu.

— Eu? Nada ué. Não posso querer mijar? - falou com um leve disfarçar de riso.

— Luke eu conheço essa sua cara, o qu…

— Não saia daqui, está bem? Vou ali e já volto. - Luke estava rindo mais que o normal e eu acreditei ser por conta da bebida. Acompanhei-o com os olhos até o comediante sumir do meu campo de visão.

— Afe, larga esse osso logo Nataly Brooken! Vai ficar fiscalizando até os passos do cara agora? - Jennifer Mason se encostou do meu lado de braços cruzados.

— Eu não estou fiscalizando ninguém e mesmo se eu estivesse, não vejo como isso pode ser da sua conta… - respondi sem paciência.

— A partir do momento que eu tenho interesse em um dos lados envolvidos, isso passa a ser da minha conta sim. - respondeu com arrogância.

— Nesse caso, você deveria ir atrás do lado envolvido que te interessa e eu tenho certeza que não se trata de mim. - ela me olhou com raiva.

— Olha, o papo é reto com você Brooken. Se você não for pegar o Luke Stewart, larga o osso porque eu vou investir... - com essa eu tive que rir.

— Primeiro que eu não sou cadela igual a você pra ficar correndo atrás de osso e segundo, te desejo sorte. - Afinal, não foi pra você que ele disse estar apaixonado, sua cadela oferecida. - E te dou todo meu apoio… - agora foi minha vez de cruzar os braços no peito, convencida. - Tenho certeza que vai ser sucesso… - eu estava me achando mesmo. Minha vontade era esfregar a frase “Luke disse estar apaixonado por mim na cara dela”.

— Um dia você ainda vai cair desse pedestal Brooken. Hoje o boy pode até achar que está na sua, mas lembre-se que essa competição está só no começo... - Mason abriu um sorriso debochado de canto de boca e me encarou. - Ainda temos muitos ritmos para eu convencer Luke Stewart de que sou a melhor opção para ele. - Nossa, que vadia! Fiquei puta. A minha vontade era dar na cara dela agora e eu estava quase fazendo isso quando a banda chamou nossa atenção para a última música pedida da noite.

— Atenção pessoal, nós vamos encerrar o nosso momento “trash” de uma maneira diferente hoje. - disse o vocalista ao passar a mão pelo cabelo. - Teve uma pessoa que nos procurou durante o intervalo e fez um pedido especial. Ele gostaria de dedicar essa última música para uma pessoa muito importante e que vamos chamar agora para dançar com ele. Quem será? Quem será, hein? -  eu gelei e olhei em volta, torcendo para encontrar o comediante perdido em algum canto do bar. Nada dele. Luke não estava fazendo isso, estava? - Por acaso alguém aqui conhece uma moça chamada Nataly Brooken? - sim, ele estava. Assim que o vocalista falou meu nome, a nossa turma inteira começou a gritar e olhar na minha direção.

— É A MARIDA! É A MARIDA! - May parecia um canguru destrambelhado, pulando e berrando freneticamente ao apontar o dedo pra mim. Que vergonha, meu Deus!

— Opaaa! Luzes na marida, então. - brincou o vocalista da banda, se divertindo com a cena da minha amiga. - Vem aqui Nataly Brooken, não foge não… - imediatamente, me arrependi de não ter bebido tanto quanto o restante da galera. Seria muito mais fácil encarar esse mico se eu estivesse mais alcoolizada. Coloquei a mão no rosto, completamente envergonhada.

— Se você continuar de frescura e não quiser ir, pode deixar que eu vou no seu lugar. - falou Mason, ironicamente. Tirei a mão do rosto na hora e olhei para a cara ela.

— Ah, tá bom. - dei as costas para a morena e parto na na direção do palco de nariz empinado, toda cheia de coragem. Todo mundo já tinha dançado mesmo e outra, depois do Robocop Gay do Josh o que de pior poderia vir?

— Agora vamos chamar o cara que fez o pedido da música… - o vocalista olhou para a lateral do palco e acenou com a mão. - Vem pra cá, Luke Stewart! - assim que o nome do comediante foi anunciado, se iniciou uma sessão de aplausos e assobios enquanto Luke, todo sorridente, subia ao palco. O comediante entrou acenando descontraidamente para a platéia, como se estivesse atuando em um de seus shows. Ele era muito cara de pau. Luke olhou pra mim com aquela cara de criança arteira e me mandou uma piscadinha. Eu juro que queria ficar brava com ele por me fazer pagar esse mico, mas eu só conseguia rir. - Luke fique aqui do lado de sua companheira de dança. - pediu o vocalista. - Você quer contar pra gente por que escolheu essa música? - perguntou direcionando o microfone para o humorista.

— Rapaz, eu quero dedicar esse clássico para essa “mulé” aqui do meu lado e vocês vão entender o por quê… - disse se referindo a mim. Ai Jesus! Eu já estava começando a ficar tensa. Que música será que Luke havia escolhido?

— Chega de suspense! Estão preparados para bailar? - brincou o vocalista. Luke segurou minha mão e fez um sinal de positivo com o polegar. Os nossos amigos não paravam de gritar para nós do meio da pista. A essa altura, todo mundo já tinha abandonado o camarote privativo e estava no meio da galera. - E aí banda? - o baterista acenou com a cabeça. - Vamos lá, pessoal! - Nesse momento, as luzes piscaram e a banda começou a tocar a batida inicial. Imediatamente, reconheci a música que iria tocar e olhei para o meu aluno de olhos arregalados. Eu não estava acreditando nisso…

Luke ficou de frente pra mim e fez uma careta no estilo do Jim Carrey ao sacudir os peitos freneticamente enquanto me chamava com as mãos para se juntar a ele. A música nem havia começado direito e eu já estava gargalhando. Ainda durante as batidas iniciais da música, eu me aproximei de Luke apoiando-me em seus braços e girei o corpo dele dando uma rápida instrução de como iríamos conduzir o restante daquela dança. O comediante se posicionou do meu lado me abraçando pelo ombro e ao me encarar novamente, mandou um beijinho zombeteiro antes do vocalista começar a cantar.


Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar
Quero ver o seu corpo dançar sem parar
Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar
Quero ver o seu corpo dançar sem parar

 

Todos no bar batiam palmas e gritavam euforicamente ao som do clássico “Sandra Rosa Madalena” do Sidney Magal. Luke e eu, misturamos vários movimentos divertidos em nossa coreografia improvisada, inclusive, usamos até um dos passos do nosso forró de domingo. Como a sintonia entre a gente era muito boa, não foi difícil de encontrarmos o ritmo ideal.


Ela é bonita, seus cabelos muito negros
E o seu corpo faz meu corpo delirar
O seu olhar desperta em mim uma vontade
De enlouquecer, de me perder, de me entregar

 

Nessa parte Luke apertou meu corpo junto ao dele, fazendo com que eu  sentisse toda a sua empolgação ao dançar comigo. “Sem vergonha” - sussurrei em seu ouvido. Ele riu, afastando nossos corpos e ergueu meus braços para me fazer rodar.


Quando ela dança todo mundo se agita
E o povo grita o seu nome sem parar
É a cigana Sandra Rosa Madalena
É a mulher com quem eu vivo a sonhar

 

Depois do segundo refrão, Luke aproximou sua boca do meu cangote enquanto dançávamos e cantou no meu ouvido juntamente com a música.


Dentro de mim mantenho acesa uma chama
Que se inflama se ela está perto de mim
Queria ser todas as coisas que ela gosta
Queria ser o seu princípio e ser seu fim

 

— Ei, deixa vai? - continuou o comediante no meu ouvido. - Eu sei que eu falei que não iria te pressionar para dizer alguma coisa, mas promete que vai pensar com carinho no que eu te disse? - nós ainda estávamos dançando e a música estava chegando em sua batida final. - Só promete? - perguntou girando meu corpo outra vez. Olhei para Luke e confirmei com a cabeça no momento exato em que a música parou.

— Prometo. - foi a minha palavra final. Nossa apresentação foi um alvoroço total no bar.

— AEEEEEE... Eles arrasaram na dança ou não, galera? - a gritaria, palmas e assobios se intensificaram após a pergunta do vocalista da banda. - Estou até sem ar aqui com essa química de vocês. - completou o cantor me deixando sem graça. - Agora eu entendi perfeitamente o motivo da escolha da música… - ele olhou para Luke que estava rindo. - Boa sorte aí, cara!
— EU SHIPPOOOOOO! - um berro vindo do meio da platéia invadiu o local. Óbvio que era a May.

— BEIJA, BEIJA, BEIJA… - Anne em vez de me ajudar, começou a puxar esse coro. Não levou um segundo para o bar inteiro estar repetindo as palavras da Anne. Olhei para Luke quase em desespero e o comediante mais rápido que a velocidade da luz, me puxou para um abraço apertado e estalou um beijão na minha bochecha. Todo mundo começou a gritar e aplaudir de novo.

— BEIJA ELA NA BOOOCA! - algum ser gritou no meio do povo. Eu abri um sorriso, mas foi um daqueles de nervoso mesmo.

— Opaaa!! Vamos acalmar os ânimos pessoal… - o vocalista olhou para nós. - Gostaria de agradecer a participação dos dois, vamos nos despedir deles com uma salva de palmas. - A galera aplaudiu, Luke agradeceu e segurou minha mão nos conduzindo para fora do palco. - A noite ainda não acabou, vamos fazer um pequeno intervalo agora e logo voltaremos trazendo mais um pouco de pagodinho para vocês. - Após isso, começou a tocar uma música de funk e as pessoas rapidamente esqueceram de nós.

— Vocês mandaram muito bem, mano! - Cristian abraçou Luke erguendo o comediante no ar. - Te amo, cara! - o atleta estava muito bêbado.

— Eu também te amo, irmãozinho. Depois disso, a nossa turma se abraçou e começou a cantar juntos o refrão da música “Tudo bom” do Static & Ben-El Tavori que era a sensação do momento.

 

—x-

 

Após nossa dança, Luke e eu ficamos de grude praticamente a noite toda. Quanto mais tempo eu passava ao lado do comediante, maior era a minha vontade de permanecer. O mais engraçado de tudo era a naturalidade que as coisas fluíam entre a gente mesmo após ele ter me dito todas aquelas coisas. Luke falou que não me pressionaria para tomar uma atitude e cumpriu sua palavra.

Em nenhum momento após eu ter lhe feito a promessa de que pensaria no assunto, Luke voltou a me questionar alguma coisa sobre nós. A única coisa que mudou, foi o fato do comediante estar cada vez mais ousado em relação a suas indiretas e cantadas. Luke era espontâneo e não se continha em dizer nada que lhe vinha na mente. Seu bom humor era contagiante e em vez de eu ficar brava ou constrangida, eu dava risada. Até que eu estava conseguindo disfarçar legal o turbilhão de emoções dentro de mim, se por acaso o Fred me mandasse embora por causa dessa história toda com o Luke, eu poderia tentar fazer ponta em alguma novela da emissora.

Outro fato que me chamou a atenção foi a Gabrielle, esposa do Cristian. Por diversas vezes na noite, eu reparei a mulher do atleta me analisando com uma expressão divertida no rosto e eu não conseguia entender o motivo.

— Luke tem alguma coisa errada com meu cabelo ou com a minha maquiagem? - o comediante me observou com uma expressão confusa no rosto. - É que a esposa do Cristian não para de me encarar com uma cara esquisita, estou começando a ficar preocupada. -  Luke acompanhou meu olhar na direção da mulher que acenou pra ele e sorriu. Fiquei mais perdida ainda. Eu não ia acusar a esposa do atleta de estar paquerando o comediante, primeiro porque o Cristian estava mais maluco que o Batman do lado dela e segundo, porque ela era uma fofa. Nos conhecemos no dia da apresentação do baladão na semana retrasada e eu já gostava bastante dela. Luke retribuiu o sorriso da morena e voltou a olhar pra mim. Em seguida, o comediante colocou uma mão no queixo me analisando com uma expressão pensativa.

— Olha tem sim… - ele chegou mais perto de mim aproximando seu rosto do meu. - O problema está bem na sua boca. - franzi o cenho, passando os dedos nos meus lábios. Eu já estava sem batom faz tempo, não era possível estar borrada.

— O que tem minha boca?

— Está muito longe da minha. - respondeu com um sorriso bem sacana.

— Idiota! - rindo, dei um leve soco no ombro dele que me abraçou pela cintura.

— Não tem nada de errado com você, bailarina. Você continua a gata mais gata de todas as gatas como sempre... - Luke aproximou seu rosto do meu mais uma vez. - Agora que sua boca está muito longe da minha, isso é verdade... - repentinamente, o comediante segurou meu rosto em suas mãos e me deu um beijo um pouco abaixo da bochecha bem perto do canto dos lábios. - senti o local onde os lábios do comediante tocaram formigar. Como ele me pegou de surpresa, eu fiquei sem reação. Aliás, Luke já estava ficando expert nesse negócio de me deixar sem reação.  Ele não se afastou e permaneceu abraçado comigo, olhando nos meus olhos. O perfume dele era tentador demais, tenho certeza que aquele cheiro ficaria impregnado na minha roupa mesmo se eu lavasse. Eu não queria lavar. O brilho dos olhos dele, era o próprio reflexo dos meus. O comediante me encarou com uma expressão um tanto infantil e eu quase suspirei. - Essa boca rosa é muita covardia comigo, bailarina. - fiz um bico erguendo as sobrancelhas.

— Não posso fazer nada se Deus fez assim. - brinquei, toda convencida.

— Não adianta nada ter uma boca linda dessas se não oferece degustação. Como vou saber se o conteúdo, corresponde com a embalagem? - Luke falou isso com a boca próxima ao meu ouvido. Eu ri alto.

— Meu, da onde você tira essas pérolas? - perguntei impressionada com a mente criativa daquele menino.

— Você me inspira. - respondeu usando um tom de diversão. Em seguida ele me abraçou com força e beijou minha cabeça. - Eu gosto demais de você, bailarina. - retribui o abraço do meu aluno, olhei para ele e sorri.

 

LUKE STEWART

 

Cheguei no meu hotel quase cinco horas da manhã e uns quinhentos quilos mais leve. Eu estava aliviado de ter aberto meu coração para Nataly Brooken. No início, eu fiquei preocupado por talvez ter me agido de forma precipitada, porém, desde que o “painho” se foi que eu aprendi não deixar para amanhã o que se tem vontade de fazer hoje, porque o amanhã pode nunca mais existir. Como era possível, eu já estar com saudade daquela mulé? Jesus Cristo! Não fazia nem vinte minutos que eu havia chegado. Que feitiço foi esse que ela tinha jogado em mim?

Peguei meu celular e abri o whatsapp em nossa tela conversa. Nataly estava offline.

“Psiu… Passando aqui apenas para desejar bons sonhos”. Enviei a mensagem seguida de um emoticon de coração e outro de uma carinha apaixonada.

Eu não sabia dizer se Nataly Brooken me daria uma chance ou não, mas uma coisa era certa, eu não iria desistir sem antes usar todas as armas que eu tinha para conquistar aquela “mulé”. Afinal, aqui era Paraíba, rapaz.






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Notas finais do capítulo

@sintonia_fic



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