Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 14
Inseguranças


Notas iniciais do capítulo

Apesar do sono.... Aqui estou! Rs...



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LUKE STEWART

 

Nataly segurou minhas mãos e abriu aquele sorriso lindo que eu tanto admirava.

— Como você não aprendeu ainda, Luke? Eu já repassei esse passo mais de seis vezes com você…

— Sabe, acho que eu não estou muito bem da cabeça hoje. - menti. - Podemos repassar uma última vez? - a bailarina olhou para mim com desconfiança.

—Tudo bem... - disse parando de costas pra mim. - Mas essa é a última vez… - Em seguida, Nataly encaixou seu corpo no meu, envolveu meus braços em sua cintura e começou a rebolar esfregando nossos quadris no ritmo da música que tocava ao fundo. Minha empolgação foi quase que imediata. Levado por aquele  momento de tanta proximidade, afundei meu pescoço em seu cangote aspirando fundo aquele perfume. Jesus Cristo! Como eu era viciado naquela fragrância… Sem perder o ritmo do dança, Nataly Brooken tombou a cabeça de lado e se recostou no meu ombro, facilitando o acesso àquele local que já havia se tornado minha perdição. - Luke, pára com isso... - suplicou a bailarina quando comecei a distribuir leves beijos em seu pescoço. Nossos braços continuavam entrelaçados firmes em sua cintura.

— Eu não consigo... - sussurrei em seu ouvido ao deslizar minha língua por seu delicado pescoço fazendo seus pêlos se arrepiarem. - Você está me enlouquecendo bailarina...

— Luke, isso não está certo. Nós não podemos… - respondeu ofegante, apertando seus pequenos dedos em meus braços. - Por favor, Luke...

— E por que não podemos? - girei o corpo da bailarina deixando-a de frente pra mim. - Nataly, olhe no fundo dos meus olhos e me diz que você não deseja isso tanto quanto eu… - Nossos olhos se cruzaram e toda a intensidade do momento podia ser facilmente sentida apenas com aquela troca de olhares. Foi então que eu percebi que eu ainda não estava preparado para uma possível rejeição da bailarina. Se Nataly Brooken me desse um fora agora, eu não saberia o que fazer. Em silêncio, ela continuou me encarando e eu a envolvi em meus braços. - Diga sim bailarina. Apenas diga sim... -implorei segurando seu rosto com delicadeza em minhas mãos ao aproximar nossos lábios. Em nenhum momento ela se esforçou para se afastar.

— Sim… - foi o som da boca dela. Sim. Ela disse, Sim. Minha boca estava a menos de um mililitro de finalmente sentir o gosto daqueles lábios cor de rosa, quando um zunido irritante invadiu os meus ouvidos fazendo a imagem da bailarina desaparecer da minha frente. EI, CADÊ VOCÊ? VOLTA AQUI MULÉ! - exclamei desesperado procurando Nataly Brooken por todos os cantos.

Aquele maldito barulho foi ficando cada vez mais perto, trazendo-me a consciência de que eu deveria abrir os olhos.

— Mas que merda! - xinguei dando de cara com o teto do quarto do hotel. Não era possível uma coisa dessas. Acordei suado, com o cabelo grudado na testa e o “poderoso chefão” no auge do seu sucesso. Ah não… A porcaria do meu celular continuava tocando sem parar e eu só queria jogar o aparelho pela janela de tão nervoso que eu estava. Será que nem em sonho eu teria a chance de beijar aquela boca rosa, Jesus? Eu ia matar aquele “filho duma rapariga” que havia atrapalhado o melhor sonho da minha vida. Com raiva, peguei o celular e encarei o visor constando que se tratava de um número desconhecido. No mínimo, deveria ser alguma dessas empresas de telemarketing querendo me vender inutilidades. Atendi o telefone mais fulo ainda.

— Olha peste, seja lá o que for que você queira, a minha resposta para você é NÃO! Nem perca o seu tempo me oferecendo nada…

— Quê? - a voz feminina do outro lado da linha soou confusa. - Só pode ser piada que você ainda está no hotel Luke...

— E ainda estaria dormindo com um anjo, se você não tivesse atrapalhado meu sono, moça. - esfreguei os olhos, trocando o aparelho de orelha. - Enfim, não vou comprar nada que você queira me vender, esse será seu castigo por ter estragado meu sonho delicioso…

— Luke Stewart, eu não sei que tipo de cachaça você bebeu, mas também não me importa. Eu dou dez minutos para você “dar as caras” nesse estúdio, senão, eu não só irei estragar a droga do seu sonho, como também farei da sua vida o seu pior pesadelo. - comecei a reconhecer aquela voz.

— Nataly? É você?

— Claro que sou eu, caramba! E você está meia hora atrasado para o ensaio já. - olhei meu relógio no criado mudo e dei um pulo da cama. Jesus Cristo! Eu não podia acreditar que havia dormido tanto depois do almoço. Merda, merda, merda! Eu nunca perdia a hora dos meus compromissos.

— Como você conseguiu meu número? - perguntei por curiosidade. Na verdade, estava tentando enrolar a bailarina enquanto eu me trocava. Entrei na suíte do quarto, joguei uma água no rosto pra tirar a remela do olho, passei um desodorante no suvaco para dar aquela amenizada na caatinga e botei a primeira roupa que eu vi na frente. Nem o cabelo, eu penteei.

— Cristian me passou quando eu perguntei se ele havia visto você em algum lugar. Custava ter avisado Luke? Eu achei que tivesse acontecido alguma coisa. Você nunca se atrasa, eu achei que tivesse morrido! - apesar do exagero em suas palavras, senti uma verdadeira preocupação no tom de voz da bailarina. Não consegui deixar de sorrir.

— Me desculpa, eu não sei o que aconteceu… - eu não iria falar pra ela que eu havia perdido a hora porque estava prestes a tê-la em meus braços, né? - Encostei aqui na cama depois do almoço para tirar um cochilo e acabei me excedendo no sono…

— Luke se você não chegar aqui em cinco minutos, eu vou embora e você vai ensaiar com a Sheila de verdade.

— Ué, mas você não tinha dito dez minutos?

— Dez minutos eram a cinco minutos atrás. Luke Stewart você terá que fazer muito melhor do que isso se acha que pode me enrolar com esse seu lenga-lenga... - disse brava. - Bom, já está avisado. Você tem cinco minutos para chegar aqui! - ela desligou na minha cara e eu fiquei rindo que nem bobo. Nataly Brooken era muito inteligente. Era tão difícil nos dias de hoje encontrar o conjunto da obra nos quesitos beleza e inteligência. Nataly tinha tudo isso muito mais. Eu era muito fã daquela mulher. Escovei meus dentes rapidamente e sai do hotel feito um foguete. A localização não era tão longe do estúdio, mas nem se eu tivesse asas seria capaz de chegar no tempo em que Nataly havia estipulado.

O táxi parou na porta do estúdio exatamente 12 minutos após a bailarina ter desligado o telefone. Apressado, acelerei meus passos em direção ao portão principal de entrada.

— Eiii, tio! - ouvi alguém me chamar. - Ô TIO! - olhei para trás me deparando com um gurizinho magro, de cabelos encaracolados segurando uma caixa de chicletes nas mãos. Ele sorriu assim que me viu. - Compra um chiclete pra me ajudar? - ele devia ter uns dez ou onze anos.

— Tu não devia estar na escola não, moleque? - ele abriu um sorriso triste.

— Eu já fui de manhã, mas agora preciso vender esses chicletes para ajudar minha mãe e os meus irmãos. - eu ficava cabreiro com esses pais que botavam filhos no mundo e depois exploravam as crianças para o seu próprio sustento. Muitos não estavam nem aí para seus filhos, não se preocupavam com a educação e ainda espancavam as crianças quando não conseguiam dinheiro para eles. Pelo menos o menino não apresentava nenhum sinal de lesão pelo corpo.

— E cadê sua mãe? - perguntei sério, procurando ao redor para ver se a exploradora não estava escondida em algum canto.

— Ela está em casa se recuperando de um acidente. - o guri abaixou a cabeça. - Mamãe foi atropelada na semana passada indo trabalhar e como só ela que trabalha em casa, se eu não ajudar não tem como comprar comida. Nós não tem mais ninguém. - Eu sabia distinguir quando alguém contava uma história triste para comover os outros e quando alguém estava dizendo a verdade. E alguma coisa no olhar daquele menino me chamou a atenção.

— Qual seu nome?

— Henrique.

— E quanto custa esse chiclete Henrique?

— Um é dois e três é cinco, tio. - eu sorri.

— Você é bom vendedor, hein? - brinquei. Eu já estava lascado com Nataly mesmo. Cinco minutos a mais não ia fazer diferença na minha bronca.

— E se você levar cinco, eu te dou um de grátis! É cinco por dez… - esse menino era uma figura.

— Vamos fazer assim, o tio está com muita pressa agora porque tem uma gata muito linda, cheirosa e brava pra caramba esperando ele lá dentro... - apontei para o estúdio. - Como eu preciso estar com o hálito bem refrescante para ficar perto dela, acho vou levar essa caixa toda, está bem? - os olhos de Henrique se encheram de brilho.

— Jura? - ele abriu um sorriso radiante de felicidade que fez meu coração amolecer.

— Juro. Mas você tem que me prometer uma coisa. - o menino ficou me olhando esperando minha resposta. Peguei minha carteira do bolso e tirei duas notas de 100 reais. - Você não pode gastar esse dinheiro com coisas ruins e não vai deixar de estudar, está bem? - ele acenou com a cabeça. - Com essa nota aqui, você vai lá no mercado comprar o necessário pra sua família... - entreguei uma nota de 100 reais para ele.  - E essa outra, você vai guardar para você.

— Caraca, eu nunca ganhei 100 reais de ninguém! - a alegria nos olhos daquela criança não tinha preço. Quando havia sido a última vez que Henrique sorriu de verdade?

— Lembre-se de uma coisa Henrique, quem guarda sempre tem. Você mora aqui perto?

— Sim. Eu moro ali na comunidade. - apontou na direção dos morros do Rio de Janeiro.

— Certo. Eu te vejo por ai então, Henrique. Quero só ver como vai se portar com sua primeira mesada, viu rapaz? Cuidado e juízo.

— Obrigaaadooo, tio. - agradeceu todo feliz. Henrique me entregou a caixa de chiclete e inesperadamente, me surpreendeu com um abraço apertado na cintura. - Você é o cara mais legal do mundo! - sorri para o menino que foi embora com uma alegria como se tivesse ganhado na loteria. Fiquei bem mexido com aquilo, às vezes, coisas que parecem ser simples para nós, podem mudar completamente a vida de outras pessoas. Só espero que o meu coração tenha agido certo com Henrique.

 

Caminhei rapidamente em direção a sala de ensaio, já me preparando para enfrentar a ira de uma certa bailarina. Se eu a conhecesse bem, eu estaria no lucro se Nataly decidisse apenas me comer vivo. A loira era extremamente exigente quando o assunto era trabalho. No percurso até a sala amarela, enfiei um dos chicletes que comprei de Henrique na boca e pedi para Jones, que passava pelo corredor, deixar o restante da caixa no meu camarim. Pela caixa, eu teria chicletes para o ano inteiro.

Confesso que havia me preparado para encontrar muitas coisas antes de entrar naquela sala. Porém, o que eu encontrei me surpreendeu tanto, que me fez oscilar na porta de entrada.

Sheila estava parecendo gente, sozinha, posicionada no meio da sala, com um óculos de sol encaixado em seus ganchos superiores. Não aguentei e comecei a rir.

— Brincadeira, né? - ainda rindo, apontei o dedo na direção de Nataly que estava agachada que nem criança, escondida atrás do sofá. - É brincadeira, né? - ela riu e se levantou do seu esconderijo.

— Vai ensaiar com a Sheila hoje... - disse a bailarina  apontando para mim. Retirei o óculos de sol do cabideiro e coloquei na mesinha de canto.

— Só por isso eu vou mesmo... - segurei Sheila por seu gancho superior e comecei a dar voltinhas com ela em meus braços. A cena era tão bizarra que até eu estava rindo de mim. - Girinho… - comecei a cantarolar nossa música do forró batendo peito e quadril com a Sheila. A gargalhada deliciosa de Nataly invadiu o ambiente e ambos estávamos nos divertindo quando a bailarina se aproximou de mim.

— Na próxima vez que se atrasar senhor Luke, eu vou embora de verdade. - disse rindo, observando eu devolver Sheila para o seu cantinho habitual, logo após fazer um carinho nela.

— Vai nada... Você já não vive mais sem mim, Nataly Brooken. - Nataly tinha me surpreendido demais ao me pregar essa peça com a Sheila. Mulheres no padrão de Nataly Brooken, não deveriam ser tão bem humoradas e divertidas. Apesar da bailarina ser uma mulher de sorriso fácil, eu realmente imaginei encontrá-la soltando fogo pelas ventas quando entrei nessa sala. Nataly cada dia me apresentava uma façanha nova e eu estava adorando conhecer todas elas.

— Menos Luke, menos. - ela ajeitou o rabo de cavalo na cabeça e sorriu. - Agora, borá estourar o balão do seu ego e correr atrás do prejuízo desse seu atraso de hoje.

— Jesus! Nem fala a palavra balão perto de mim, que eu lembro do bendito “balão invertido” de ontem e já começa a me dar uns negócios estranhos aqui… - comecei a sacudir o corpo. - Olha, eu chego até emocionar… - falei fingindo limpar uma lágrima do olho.

— Eu vou fingir que não ouvi isso e também vou continuar fingindo que não percebi a sua sem vergonhice ontem na frente do Alan, viu? - eu não sabia se eu ria de nervoso ou se cavava um buraco no chão para me enterrar.

— Como sempre a culpa foi sua… - falei com sinceridade.

— E como sempre, você querendo jogar a culpa da sua falta de controle sob seu coleguinha aí… - apontou o dedo na direção do poderoso. - Em cima de mim. - encarei Nataly boquiaberto.

— Mas tu é muito cara de pau mesmo né, bailarina? - Nataly prendeu o riso e botou a mão na cintura.

— Eu???

— Quer saber? Estou começando a achar você que faz essas coisas de propósito comigo.

— O que eu faço de propósito? Eu não estou fazendo nada… - Nataly sorriu marota, me lançando aquele olhar provocante. Se ela achava que podia me provocar, eu ia mostrar que na escola que ela estudou, eu fui o professor.

 

NATALY BROOKEN

 

Eu não sabia o que tinha dado em mim hoje, mas acordei com uma necessidade absurda de provocar o meu aluno. No camarim, caprichei propositalmente no meu perfume, porque eu sabia o quanto Luke gostava dele e prendi meu cabelo num rabo alto, para a fragrância ficar ainda mais forte. Vesti uma calça legging metade preta e metade amarela do joelho para baixo, juntamente com uma regata preta contendo o logotipo do programa.

Em seguida, sai a procura do comediante por todos os cantos daquele estúdio. Já eram quase três horas da tarde, horário que se iniciaria o ensaio de hoje e nada do comediante aparecer. Luke era sempre muito pontual, disciplinado e geralmente chegava até mesmo antes de mim. Eu fiquei tão preocupada, que só o fato de imaginar ter acontecido alguma coisa com ele, fazia o peito doer e meu estômago revirar. Eu estava muito mais apegada a Luke Stewart do que eu sequer podia imaginar. Eu fiquei tão aliviada ao ouvir a voz dele no telefone que sem pensar duas vezes, decidi fazer uma brincadeira colocando a Sheila em meu lugar para ensaiar com ele. A cara do Luke quando entrou na sala foi muito engraçada e não contive a gargalhada ao vê-lo dançando alegremente com o cabideiro.

O comediante fazia jus a profissão e era um dos caras mais engraçados que eu já havia conhecido. Eu dificilmente conseguia passar mais de cinco minutos perto dele sem sorrir. Luke forçava meu sorriso o tempo inteiro. Até mesmo nos momentos estava quieto, como agora, todo bonitinho, dançando sozinho para relembrar os passos, eu me pegava sorrindo ao observá-lo.

— Aí eu seguro na sua cintura e você rebola… tanãnãnã… - começou a cantarolar. - Depois que você me empurrar, eu faço o arrocha sozinho e te chamo… - ele fez o solo em que ele rebolava no canto da sala e eu quase infartei. Luke não tinha vergonha nenhuma de mexer o quadril. Ele dizia que era muito bem resolvido sexualmente para ficar com esse tipo de baitolagem. Por que ele tinha que ser tão gracinha? Ao olhar pra minha cara, Luke parou de se mexer. - O que foi? Está muito desengonçado isso? - perguntou preocupado. - Seja sincera, é por isso que está rindo né? - eu ri ainda mais.

— Não. Está ótimo assim, mas agora precisamos repassar isso juntos, vem cá… - Luke se aproximou de mim e eu coloquei a música do começo. O forró era um ritmo de muito contato físico. Nós passávamos a maior parte da dança, com olho no olho e corpos colados rebolando no ritmo da música. Eu já tinha ensaiado ontem essa coreografia com ele, porém hoje, as coisas pareciam ter ficado muito mais intensas e de certa forma diferentes. Luke definitivamente estava disposto a me enlouquecer.

Desde a hora que mencionou achar que eu estava o provocando de propósito, que ele começou a ser muito mais firme tanto nas pegadas da dança, quanto na aproximação das nossas bocas e olhares. Eu não era de ferro e por diversas vezes, precisei me lembrar como é que se respirava. Eu sentia um frio na barriga e aquela sensação de borboletas circulando em meu estômago.

— Por que você está fazendo isso comigo? - perguntei num dos momentos da coreografia que mantinham nossos rostos colados.

— Isso o quê? - ele sussurrou sedutoramente sem desviar nossos olhos.

— Luke não é porque eu sou uma bailarina e você é famoso que eu serei sua diversão. - Luke parou imediatamente de dançar e se afastou de mim como se tivesse levado um chute no estômago. Sei que minhas palavras foram duras, mas eu estava me envolvendo demais nisso tudo para permitir que Luke brincasse com os meus sentimentos. Eu me sentia tão vulnerável perto dele. Sei que fui eu que comecei com esse joguinho de provocações, mas não demorei muito para perceber que eu não teria força nenhuma para continuar com isso.

— É o que você acha que isso significa pra mim? Diversão? - perguntou com seriedade. Luke demonstrou certa mágoa nos olhos ao dizer isso. Eu estava pensando no que responder, quando Zuken invadiu nossa sala junto com a Anne.

—  E ai concorrência, topam um jantarzinho hoje à noite? - disse animado. - Já falei com Cristian e com o Josh e eles já toparam. Queria convidar vocês para conhecerem o bar que eu tenho na Lapa. - Luke olhou pra mim como se estivesse pedindo minha opinião.

— Naty, eu convidei a Scarlet e ela vai também. - avisou Anne sorrindo. Scarlet Brandon era uma grande amiga nossa e também fazia parte do grupo de dançarinas do balé do Fred. Jones uma vez nos contou que a produção do programa estava em dúvidas entre ela e Mason para dançar com o Josh, mas infelizmente, escolheram a Mason.

— Você vai? - Luke me perguntou sem muita emoção na voz.

— Ah, por mim ok. - dei de ombros.

— Beleza, cara. Nós vamos. - Zuken abriu um sorriso enorme, aquele homem era pura energia.

— Showw!! Passo o endereço pra vocês no nosso grupo mais tarde... - eles se despediram e saíram da sala.

 

O restante do nosso ensaio ocorreu no mais perfeito profissionalismo. Luke não tocou mais no assunto anterior e também não fez nenhuma outra brincadeira ou cantada engraçada comigo. Ele estava mais sério, pensativo e parecia um pouco magoado ainda. Isso estava começando a me incomodar.

— Por hoje é só Luke, você está indo muito bem. - falei ofegante. - Caramba, eu estou acabada hoje! - passei a mão pela minha testa suada e ajeitei o cabelo.

— A cada término de ensaio, eu tenho a certeza de que não terei mais um corpo quando isso tudo acabar, vai sobrar só o espírito mesmo. Olha o meu estado? - Luke apontou para sua camiseta molhada de suor. Eu ri.

— Está com fome?

— Morrendo. Saí do hotel tão ligeiro que não deu tempo de comer nada. - manifestou.

Caminhamos até a mesa de lanches que a produção do programa deixava preparada para nós após os ensaios. Luke pegou um copo d’água e eu, o meu celular. Inquieta, resolvi tentar resgatar o clima leve e descontraído que tínhamos antes de eu manifestar minhas inseguranças para ele.

— Se você não fosse um dorminhoco, não teria perdido a hora. - brinquei, mexendo no aparelho. - Aliás, até agora eu não consegui entender uma coisinha, Luke Stewart… - olhei para ele. - O que é que tinha de tão interessante naquele sonho que te fez dormir tanto em plena tarde e ficar tão bravo por eu ter te atrapalhado? - perguntei me lembrando desse detalhe.

— Você. - respondeu na lata. O meu coração disparou e Luke deu uma mordida tranquila em seu lanche como se não tivesse dito nada.

— Oi?

— Você, Nataly Brooken. - disse engolindo um pedaço do lanche. - A parte mais interessante do meu sonho era você. - senti minha bochecha queimar.

— Selfie com o lanchinho. - disfarcei meu constrangimento, ao colocar um lanche na boca e esticar meu celular para bater uma foto nossa. Ainda mordendo seu lanche, Luke aproximou seu rosto do meu e arqueou as sobrancelhas fazendo aquela cara de quem tinha aprontado. Eu sorri, não contendo a alegria de satisfação com a simples e direta resposta do humorista.

 

LUKE STEWART

 

Eu ainda estava apurrinhado com o comentário da bailarina ao insinuar que eu só queria me divertir com ela. Nataly era muito cabeça dura. Eu não sabia mais o que fazer para demonstrar as minhas intenções. Em alguns momentos, a bailarina parecia compreender perfeitamente o que eu queria e até mesmo corresponder às minhas investidas. Já em outros, simplesmente agia como se eu fosse um paspalho que quisesse fazer cachorrada com ela. Ô “mulé” difícil essa, Jesus! Tanta mulher fácil por aí para eu me interessar e eu vou querer justo a mais complicada.

— Que milagre é esse, que aquele rapariga do Alan não apareceu ainda pra tirar uma foto minha todo estrupiado depois do ensaio? - eu estava grudando, com a camiseta encharcada de suor, fedido e precisava urgentemente de um banho. Já Nataly Brooken continuava incrivelmente linda e cheirosa. Como ela conseguia essa proeza? Encarei a bailarina que estava sentada num banquinho, distraída e pensativa encarando a foto que tinha acabado de postar no storie do seu Instagram. - Mas eu sou muito gato mesmo né? Admira aí e pensa bem no Deus Grego que você está deixando escapar da sua vida… - sussurrei aproximando meu rosto por detrás do ouvido da bailarina, que se assustou ao perceber meu flagrante. Ela se levantou do banco, dando-me um leve empurrão e riu. Eu tinha prometido que não daria mais em cima dela até botar todos os pontos nos “Is”, mas o desejo era mais forte do que eu.

— Deus Grego? - gargalhou e eu me perdi completamente naquele sorriso. - Olá pretensão do Luke, tudo bem com você? - ironizou ainda rindo.

— Você está tirando onda com a minha cara, bailarina? - aproximei meu corpo dela, puxando-a pelo braço. - Vem aqui que eu vou te apresentar toda a pretensão do Luke. - agarrei Nataly pela cintura encaixando nossos corpos um de frente para o outro e ergui sua perna direita segurando-a um pouco acima do meu quadril . Nossos quadris estavam tão colados que eu só percebi que minha atitude ao trazê-la para perto de mim não foi tão inocente, quando o “poderoso chefão” não só berrou, como incessantemente, pediu clemência. Parabéns Luke Stewart! Você é uma anta.

— Ah, olha eles aííí! - como se pra pagar minha língua, Alan surgiu das trevas, flagrando-me em mais um momento constrangedor da minha vida. - Hora da fotooo, pombinhos!!! - falou animado. Alan devia mesmo ter pacto com algum ser do submundo. Essa era única explicação plausível para as aparições repentinas dele nos momentos mais impróprios. Nataly estava segurando meu pescoço e assim que ouviu a voz do fotógrafo, tentou se afastar.

Nem pense nisso, bailarina. Impedi, apertando-a com mais força pela cintura. Caso ela se afastasse agora, a foto que Alan teria não seria nada boa para a minha reputação.

— Fique aqui, pelo amor de Deus. - murmurei entre dentes, apenas para ela ouvir. Eu continuava segurando a bailarina pela perna, com nossos quadris muito, mas muito grudados. Nataly entendeu a minha real situação e riu ao girar apenas o tronco de lado, fazendo um sinal de paz e amor para o fotógrafo.

— Vai dizer que a culpa dessa sem vergonhice também é minha? - falou baixinho, sorrindo sem mexer os lábios. Eu só estava imaginando a cena daquela foto.

— Sempre. - respondi com o mesmo sorriso fingido.

— Eu já disse que as fotos de vocês são sempre as minhas favoritas? - o fotógrafo sorriu satisfeito e em seguida, desapareceu tão rápido quanto surgiu. Apenas depois disso que eu consegui me afastar da bailarina.

 

NATALY BROOKEN

 

— O Zuken é muito chique né, marida? Ele tem um bar “super mara” lá na Lapa. Eu nunca fui, mas já ouvi falar que é sucesso. - disse May animada, enquanto secava o cabelo.

— May, o Zuken é amigo do Neymar é lógico que ele é chique... - nós duas gargalhamos e eu prendi uma parte do cabelo para cima, dando um último retoque no visual. - Estou bonita? - May me mediu de cima abaixo e abriu um sorriso.

— Está linda e o Luke vai babar como sempre. - revirei os olhos.

— Sério, depois você fala que sou eu que fico falando no Luke toda hora. É você que lembra dele quando eu estou na minha… - protestei.

— Marida, linda da minha vida! Você não precisa verbalizar seus pensamentos para eu saber que o meu “migo” não sai mais da sua cabecinha. - ela apontou pra sua cabeça. - Você precisa ver seus olhos como brilham quando está perto dele. E o dele quando está com você... - May se jogou na cama e botou a mão no coração soltando um suspiro apaixonado. - Aiiinnn, vocês são tão fofooooss!!! - May era muito besta. - Já está todo mundo shippando lá no estúdio viu? Inclusive, já vi comentários até mesmo dos seus fãs nas redes sociais que aliás, estão crescendo pacas! Eu só quero ver até quando você vai ficar evitando o inevitável...

— May queria eu que as coisas fossem simples assim e o mundo fosse esse lugar cor de rosa que você enxerga...

— Marida eu já te disse isso uma vez e vou repetir. As coisas são simples, somos nós que complicamos tudo. Eu gosto de viver o momento, porque a gente nunca sabe se amanhã teremos outra chance. Você precisa aproveitar todas as oportunidades que a vida te dá...

— Mas e se não der certo?

— Melhor se arrepender por algo que fez, do que ficar se martirizando pelo que poderia ter acontecido. Pense nisso! Se joga marida, ele é gatinho, super gente boa, está mega na sua e o melhor… - ela me encarou com uma cara de safada. - Luke tem muito estilo de ser homem com pegada... - disse rindo. Nisso eu tinha que concordar com May, o comediante já havia demonstrado diversas vezes o quanto poderia ser mesmo bom de pegada. Ele já me desconcertou durante o ensaio, no balão invertido e naquela hora da foto com o Alan. Luke me puxou para junto dele de um jeito tão firme e gostoso que se ele decidisse beijar minha boca ali mesmo, naquele momento, eu não seria capaz de me opor.

— É. - concordei, tentando trazer minha mente de volta para a realidade.

— Não precisa forçar nada, marida. Só não fique se privando e deixe as coisas seguirem seu fluxo, Deus sabe tudo o que faz… - disse com um sorriso largo, em seguida, olhou para o celular. - Nossa, o pessoal já está empolgado aqui no grupo do whats, você viu? - Cristian havia criado mais cedo, um grupo no whatsapp com toda nossa turma do time masculino. Ele disse que era pra facilitar nossa comunicação e organizar a bagunça. Até a esposa dele estava no grupo.

— Nem olhei ainda. - respondi pegando meu celular. Eu abri meu whatsapp na intenção de olhar as mensagens do grupo que May falou, porém, foi outra mensagem no privado que chamou minha atenção.

“Psiu…”

O número de Luke Stewart estava salvo nos meus contatos desde o momento que Cristian havia me passado para saber onde ele estava. O sorriso foi espontâneo em meu rosto.

“Psiu.”— respondi feliz ao ver que ele estava online. A resposta foi imediata.

Oi, eu estava passando por aqui e vi uma gatinha, aí resolvi tentar descobrir se ela me dava bola” “Você vem sempre aqui?”— olhei para May que ainda estava se trocando e sentei na cama para conversar com ele.

“Só de vez em quando e você?”— brinquei.

Agora vou aparecer com uma frequência maior, com certeza”— mandou junto com um smile piscando.

“Fico feliz com isso.”— respondi com um smile mandando beijo.

“Ah, antes que eu me esqueça, saiba que gostei bastante da sua última postagem no Instagram viu?” “Sou fã daquele galã com cara de desespero que está com você na foto”.— eu ri alto ao ler essa mensagem.

— Está tudo bem ai marida? - perguntou May enquanto passava rímel nos olhos.

— Esta sim. - respondi rindo.

Antes de sairmos do estúdio, eu pedi para o Alan me enviar a foto que havia tirado nossa na sala depois do lanche. Eu estava curiosa para saber como a imagem tinha ficado, depois daquela ceninha bizarra que Luke e eu protagonizamos. A foto ficou engraçada demais. A cara de desespero do Luke tentando disfarçar seu problema e o meu sorriso forçado enquanto falava com ele, ficaram hilárias.

Como apenas nós dois entenderíamos o real significado daquilo, postei a foto no Instagram com a legenda “Fim de ensaio… VEM FORRÓ simborá parceiro.” marquei o nome dele e coloquei umas carinhas apaixonadas.

Realmente a cara de desespero do galã está impagável, mas a da bailarina tentando disfarçar, não ficou pra trás também...”

A bailarina é linda de todos os jeitos, pena que judia tanto de mim.”

Ela não judia de você, só é sincera…” “Acho que se somos amigos, precisamos ser sinceros um com o outro”

Concordo plenamente. Por isso que hoje quero conversar com você.” “Que horas vocês vão pro bar do Zuken?”

Daqui a pouco, a May já pediu o uber” “Estamos esperando chegar”  

Já estou indo também, nos vemos lá então…” ele mandou um smile mandando beijo. Mandei outro e desliguei o celular. Levantei a cabeça e encontrei May me encarando com sua bolsa na mão e aquele sorriso nos lábios.

— Que foi?

— E essa risadinha o tempo todo pro seu celular, hein? É quem estou pensando?

— May para de pegar no meu pé, caramba! - ela gargalhou.

— O uber já chegou vamos?

— Vamos.

 

No caminho para o bar dei mais uma conferida no meu Instagram e vi que Luke havia postado a mesma foto que eu, com a legenda “Nosso forrozin” seguido de dois corações, um bonequinho de bailarina e outro de um homenzinho dançando. Aquele era um momento nosso, assim como tudo que estava acontecendo com a gente. Eu sabia que a nossa relação estava muito além de aluno e professora e por isso alguns pontos precisavam ser esclarecidos.

Eu não queria que ele ficasse chateado pelo que eu disse durante o ensaio, mas eu tinha algumas dúvidas em relação a nós e não era apenas meu trabalho que estava envolvido nisso. Eu tinha um outro bem maior que eu precisava cuidar, porque já tinha se machucado demais nessa vida. O meu coração. Eu não podia simplesmente apostar tão alto sem ao menos ter certeza dos meus riscos. Comentei a postagem de Luke com quatro carinhas de smile apaixonado e respirei fundo. Meu coração já estava disparado e um frio na barriga me atingiu só com o pensamento de reencontrá-lo daqui alguns instantes. O que será que Luke Stewart queria conversar comigo?

 


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Notas finais do capítulo

E ai ? O que acharam??? Instagram da FIC: @sintonia_fic



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