Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 11
"Poderoso Chefão"


Notas iniciais do capítulo

Não vou nem deixar notas iniciais, só finais...



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Terça-feira.

 

O pessoal da produção do programa do Fred havia me ligado ontem pedindo para gravar um videozinho falando um pouco sobre o forró. Eles queriam disponibilizar o conteúdo no site de entretenimento da emissora antes da nossa apresentação. Achei essa uma deixa muito boa para iniciar meu plano de ação com Nataly Brooken. Peguei minha da sanfona, toquei um pouquinho o instrumento e antes de começar a cantar, deixei o recado para o público de casa.

“Eiiii eu já estou aqui em casa entrando no ritmo do forrozinho, eu acho que vocês não sabiam que eu toco sanfona, mas eu toco sanfona… De safado, porque eu nunca tive uma aula, peguei isso aqui de ouvido. Eu tive aula de guitarra, tive aula de piano, tive aula de violino e o resto eu fui desenrolando... Violão desenrolei, sanfona desenrolei, pra que isso tudo? Que é pra não perder o emprego né? Para justificar o salário, na verdade…”— falei rindo. - “Ai pronto. Semana que vem tem o forrozinho no “Você pode dançar?”, eu já estou entrando no ritmo de forróó. Aí vocês acompanham e pelo amor de Deus, torçam por mim porque os meus pézinhos vão ficar destruídos de tanto ensaiar… Nataly, por favor? Tenha pena aqui do colega, ta certo?” - ri de novo. Colega? Eu era muito cara de pau mesmo. - “Então vamos simbora”... finalizei antes de começar a tocar.

Tenha pena de mim Nataly Brooken, porque eu não terei nenhuma de você. Foi o que eu quis dizer, mas não disse. Se eu não estivesse pirado e Nataly realmente estivesse na mesma sintonia que eu, ela entenderia o meu recado.

Sabendo que a bailarina não veria esse vídeo completo até a produção disponibilizar no site do programa, decidi disponibilizar uma parte do vídeo em meu Instagram. Escolhi um trecho da música do mestre Luiz Gonzaga que definia bem minha situação em relação a ela e mandei bala. Deixei nas mãos de Deus. Logo que postei, fiquei atualizando várias vezes a página onde apareciam as notificações. Tinham mais de quatrocentas e nada dela. Nenhuma curtidinha. Ela só havia postado uma foto de manhã falando algo sobre sua barriga chapada. Eita, que mulé amostrada! Nataly sabia que era sensacional e não fazia questão nenhuma de esconder isso da sociedade. Ela botava pra “torar” mesmo. Obviamente, que curti a foto. Na verdade, eu andava curtindo tudo que ela postava ultimamente. Meus dedinhos agiam por conta própria. Eu já estava quase desistindo de atualizar a página, quando a curtida dela na minha postagem finalmente veio. E rapaz, não chegou sozinha não. A curtida veio acompanhada de um belo comentário com corações e mãos batendo palmas.

— ISSOOO!!! -  pulei, assustando “mainha” que estava distraída na cadeira ao meu lado vendo algo em seu celular.

— Tá doido menino? - disse brava dando um tapão no meu braço.

— Ela comentou mãe! Ela comentou!  - agarrei a bochecha de mainha e dei um beijão a fazendo rir.

— Ela quem meu filho? - “Mainha” era minha a melhor amiga. Meu chão, meu tudo. Eu não tinha segredos com ela.

— Nataly Brooken.

— Nataly, a sua professora de dança?

— Sim! Ela é linda demais, não é mainha? - alarguei o sorriso.

— Nataly é uma princesa mesmo, meu filho, mas não estou entendendo o motivo dessa euforia toda.

— Dona Laura, lhe apresento Nataly Brooken... - virei meu celular para mainha mostrando uma foto da bailarina. - Sua nova futura NORA.

— Ai meu Deus, Luke! - ela gargalhou colocando a mão no rosto. - Pelo que eu sei, Nataly tem 26 anos filho e você apenas 21. Não acha que é muito novo para sonhar com ela? Nataly é uma mulher muito bonita para estar sozinha, já deve ter algum namorado…

— EX. - frisei com convicção. - EX-namorado, graças a Deus! - levantei a mão para o céu. - E o cara é um paspalho babacão que eu já sei. - sorri para mainha e sentei em seu colo dando-lhe outro abraço apertado. Eu adorava agarrar minha mãe e enche-la de carinho. Depois que a gente perde alguém que ama muito, aprende a valorizar mais as pessoas que estão aqui. E eu não cansava de demonstrar meu amor por minha mãe. - Em relação a idade, dona Laura, isso é só um detalhe. Olha bem para esse seu filho aqui… - levantei do colo dela e fiquei em pé na sua frente. - Agora visualiza todo esse gingado no forró… - puxei mainha pela mão a fazendo levantar da cadeira e a segurei em meus braços. - Nenhuma “mulé” resiste a esse gingadinho… - comecei a rebolar no forrozinho com mainha que tentava a todo custo se afastar de mim.

— Pare com isso, Luke! - ela estava gargalhando ao tentar se desvencilhar do meu aperto. - Me solta, menino atentado. - ela conseguiu desviar e voltou a sentar na sua cadeira. - Guarde essa energia toda para a sua professora, porque com certeza você vai precisar... - desdenhou num tom de deboche. Mainha passava tanto tempo comigo e com os caras da minha equipe que já era uma de nós no quesito zuação. Ela era o tipo mãezona de todos, cuidava, protegia, mas também adorava entrar nas minhas doideras. Dona Laura era a minha rainha.

— Vem “ni mim” que é sucesso, mainha!

— Ah tá bom, porque você não usa esse sucesso para arrumar aquele seu quarto zoneado hein?

— AFFF… - fiz uma careta de indignação. -  Achei bem agressivo esse comentário, não sabe nem brincar… - sai da sala com o rabo entre as pernas e fui para o meu quarto.

 

Eu estava tão feliz por ter aceitado participar do quadro “Você pode dançar?”. Os caras que estavam concorrendo comigo eram muito gente boa. A gente se divertia tanto que nem parecia uma competição, eu me sentia mais numa colônia de férias. A melhor parte com certeza era o camarim, era só cachorrada o tempo inteiro. O prêmio do carro tinha se tornado insignificante perto das amizades que eu havia formado ali. E foi pensando nisso que postei a foto que tiramos na porta da van no domingo. Só faltou o Nick na foto que não foi ao bar, porque já tinha um compromisso marcado. Pelo que percebi Nick era o mais reservado dos caras, apesar de ser um dos mais novos da turma. Mesmo assim, não deixei de mencioná-lo na legenda “Carro? Que carro que nada! Eu ganhei 5 amigos já! (Mas se tiver o carro pra andar com eles, melhor)” finalizei em tom de brincadeira.

Antes de dormir vi que Nataly postou uma foto dizendo que ela era a tempestade disfarçada de calmaria. Eu não consegui deixar de sorrir, porque sabia que ela estava se referindo ao seu lado ciumento e a intensidade que as coisas estavam rolando entre nós dois. Se você é a tempestade, eu serei seu furacão bailarina. Me aguarde!

 

Na quarta-feira fiquei mais na minha pra ela não me achar tão lunático. Só postei um videozinho tocando guitarra, outra das minhas paixões, mas nada demais. A intenção era eu ficar quietinho até o início dos ensaios do forró.

 

Eu até continuaria assim, comportado, se na quinta-feira Nataly não me lascasse tanto. Ela fez um ensaio fotográfico que acabou com toda a minha sanidade mental. Porra, Nataly! A primeira foto que ela postou estava até que tranquila, apesar de linda. A bailarina estava em pé, com uma blusa curtinha mostrando toda a perfeição de sua barriga. Essa, eu consegui só curtir. Porém, a segunda foto que ela postou me hipnotizou. Não levei nem um segundo para curtir, porque Nataly estava nitidamente olhando pra mim. Eu conhecia aquele olhar e toda a intensidade existente dentro dele. Nós trocamos muito esse olhar durante a semana. Na legenda da foto Nataly escreveu “Notas sobre ela - A cada dia ela é mais dela e menos o que esperam dela.”

Essa legenda me deixou com a pulga atrás da orelha. Estaria Nataly sofrendo algum tipo de crítica? Deu a entender que talvez ela não estivesse atendendo às expectativas de alguém e estava sendo julgada por isso. Lembro que um dia durante nossos ensaios da semana passada, a bailarina disse algo sobre o zé ruela do seu ex não aceitar muito bem sua escolha de profissão. Aquele mané! Uma profissão linda daquela, uma “mulé” linda e cheirosa daquela, ave Maria! Só sendo um paspalhão mesmo para criticar essa beldade. Será que o cara estava aporrinhando minha bailarina?

— MINHA. - sorri repetindo o “minha” em voz alta. - Gostei disso. - eu era dela e ela era minha. Ela só não sabia disso ainda. Foi num ato repentino que comentei a foto de Nataly com o símbolo da cara de um gatinho apaixonado. - Perdeu playboy! A fila andou pra você... - disse encarando a foto dela na tela do meu celular. Essa havia sido a primeira vez que eu tinha deixado meu interesse por Nataly Brooken explícito nas redes sociais. A primeira de muitas, porque eu estava disposto mesmo a conquistar aquela "mulé”.

— Ela é gata, hein? - Jake chegou por trás do meu ombro me pegando desprevenido. Nem vi ele entrando no meu quarto.

— Porra, bicho! Quer me matar de susto?

— Toma. - falou estendendo minha toalha de banho que estava largada em cima da cama.

— Pra que isso? - não estava entendendo qual era a dele.

— É pra limpar a sua baba. Olha, está escorrendo bem aqui no cantinho… - Zombou apontando para o canto da boca.

— Chegou todo “zé graça” hoje, né? Por que você não vai se fu…

— Olha essa boca suja, rapaz! Vou falar para tia Laurinha escovar seus dentes com detergente, menino. - disse rindo.

— Eu vou falar o que vou esfregar com detergente...

— Eeeeita, cadê o seu inabalável senso de humor, irmão? Não tem como ficar mau humorado olhando para a foto de uma gata dessas. Deixa eu ver? - ele esticou o braço pedindo meu celular. - É aquela sua professora gostosa, né? - fechei a cara para o meu primo na hora.

— Que “mané” deixa eu ver o que, rapaz… Olha o respeito! Tira o olho que essa aqui já está escrito na testa, “Propriedade de Luke Stewart” - Jake riu.

— Xiii… Já está desse jeito, irmãozinho? O que eu faço com o encontro que marquei pra nós com a Laís e a Luandra para esse final de semana? Você sabe que a Laís está totalmente na sua, não sabe?

— Jake quem é Laís perto de Nataly Brooken, meu filho? Olha essa mulé… - mostrei o celular para ele que riu. - Não. Não olha não. - escondi o celular no peito. - Tu acha mesmo que vou correr o risco de sair com alguém e queimar meu filme com essa gata?

— Mas o que eu faço com o esquema que arranjei para nós?

— Ué, fica com as duas rapaz… - Jake colocou a mão no queixo e assumiu uma expressão pensativa. Depois sorriu.

— Gostei dessa ideia. - Jake Oliver era um tremendo  mulherengo. Não que eu também não fosse, eu era solteiro e gostava de aproveitar a vida, mas, desde o dia que conheci Nataly Brooken não conseguia achar graça em mais ninguém. Ai, Jesus! Será que se Nataly me rejeitasse eu corria o risco de mudar de time? Nem pense nisso, meu parceiro. Olhei para baixo como se estivesse dando um recado para o meu pau. Agora que eu tinha me ligado que desde o dia que conheci Nataly, o “Poderoso Chefão” não havia manifestado interesse por nenhuma outra mulher. Fiquei preocupado, era cedo demais para eu virar brocha aos 21 anos. - Está tudo bem ai, bailarino? - olhei para Jake que me encarava com uma expressão confusa ao acompanhar a cena da minha conversa com o “Poderoso chefão”. Sim, esse era o nome que eu dava para o meu melhor companheiro e a gente se entendia como ninguém.

— Está sim, apenas um papinho mental entre amigos.

— Ah, entendo. - Jake riu de novo. Todo homem tinha esses momentos de conversa com seu membro. Quem negasse era um completo mentiroso. - Irmão, sem querer atrapalhar o diálogo com seu amiguinho ai…

— Gão. - corrigi Jake.

— Que?

— Ami-GÃO. Não menospreze o “Poderoso Chefão” que ele magoa… - Jake riu revirando os olhos.

— Primo, preciso tratar um assunto com você. - disse assumindo uma expressão mais séria. - Precisamos falar de negócios. - Jake era três anos mais velho que eu e além de ser meu primo, ele também fazia parte da minha equipe de produção.

Jake Oliver era uma das pessoas mais bom coração que eu já havia conhecido na vida. Eu o considerava mais que primo, nós eramos melhores amigos e irmãos. Lembro como se fosse ontem o quanto a gente batalhou nas ruas de Campina Grande atrás de patrocinadores para os meus shows, a enxurrada de “Nãos” e críticas que recebemos até encontrar alguém que acreditasse em mim e estivesse disposto a investir no meu trabalho. Muita gente me via apenas como o filho do humorista Shawn e tinha preconceito em arriscar que eu pudesse ter talento também, o caminho até aqui não foi nada fácil. Jake esteve comigo em todos os momentos da minha vida, nos bons, nos ruins, nas conquistas, nas derrotas, nas tristezas e nas comemorações. Assim como eu, Jake também sofreu com a perda de seu pai e assim como eu, Jake também era muito apegado ao meu tio. Nós tivemos que ser a fortaleza um do outro nesses dois momentos que, sem dúvidas, foi um dos mais difíceis das nossas vidas. Eu adorava encher o saco do meu primo-irmão, vivia pegando no pé dele e o aporrinhando com minhas cachorradas, afinal, a gente só aporrinha as pessoas que a gente gosta. E eu amava demais aquele moleque.

— Diga irmão… - coloquei o celular de lado para dar atenção ao meu primo.

— Desde a sua apresentação de domingo que não paro de receber ligações e mensagens falando sobre você.Seu nome está entre as hashtags mais comentadas nas redes sociais, sua popularidade aumentou em 300% e os vídeos da sua dança e do seu ensaio com Nataly são uns dos com maiores visualizações da semana. Cara, eu preciso te dizer que estou muito orgulhoso de você. - Jake disse isso com os olhos lacrimejantes, ele era muito emotivo. - Não só eu, como a equipe toda. É muito gratificante depois de tudo que passamos acompanhar você sendo reconhecido por todo seu talento como ator, como humorista e quem diria… Como dançarino, bicho!

— A minha ficha não caiu direito ainda, irmão. Estou tentando entender tudo isso que está acontecendo… - falei com sinceridade. - Jake eu não fiz nada demais, todos os caras mandaram muito bem na dança também, eu não entendo porque a nossa apresentação causou tanto furdunço.

— Lukinho é difícil explicar em palavras. Você chegou a rever o vídeo da apresentação de vocês? - eu ainda não tinha tido tempo de fazer isso. Minha vida foi muito corrida esses dias.

— Não.

— Então reveja. Luke, você e a Nataly transmitiram uma verdade naquela dança que eu nunca vi igual. Eu não sei o que está rolando entre você e a gostosona, mas o Brasil inteiro conseguiu sentir a mensagem que vocês quiseram passar. Foi animal.

— Jake eu amo você cara, mas se chamar a Nataly de gostosa mais uma vez eu quebro seus dentes. - ele riu.

— Você quer que eu minta e fale que ela é baranga? Já até adicionei a gata no Instagram desde o primeiro dia... - disse ele sorrindo na maior cara de pau.

— Rapaz tem umas 40 gavetas ali naquele balé para você tentar abrir, nem sonhe em chegar perto da minha,ouviu? Essa gaveta aqui… - apontei a foto de Nataly. - Está trancada e a chave foi jogada fora pra você... Esquece.

— Cadê nossa irmandade e parceria irmão? - provocou. Ele tinha encontrado um ponto fraco em mim e agora ia me aporrinhar com isso.

— Jake você não tem mais nada pra fazer? Aposto que tem várias coisas dos shows do próximo mês para você organizar ainda.

— Prefiro ficar aqui e saber quando serei apresentado para a bailarina gata.

— No que depender de mim, somente quando ela, oficialmente, se tornar sua cunhada meu irmão. - ele gargalhou.

— Está preocupado com a concorrência priminho? Tu sabes bem que ninguém resiste ao charme desses olhos verdes, né? - disse levantando as duas sobrancelhas.

— Ah Jake, larga de baitolagem e vai cuidar da sua vida, vai… - zombei dando um tapa na nuca dele. Jake riu mais ainda.

— Olha eu vou mesmo, mas só porque agora eu tenho dois problemas para resolver. - enumerou com os dedos. - Um chamado Lais e outro chamado Luandra.

— Boa! Foca em resolver os seus problemas e esquece do MEU. - falei me referindo a Nataly Brooken. Ela era o meu maior problema e a minha melhor solução, atualmente.

— Hmm... meu irmãozinho está apaixonadinho, é? Que fofo! Vou contar para o pessoal da equipe, eles vão adorar saber dessa notícia. - disse cheio de ironia. - O Kleb então, nem se fala… - Kleb era o irmão do Jake e adorava uma bagunça também.

 

Logo que Jake foi embora tomei um banho e me deitei na cama. Em momentos como esse sozinho em meu quarto, me batia uma nostalgia tão grande. Era impossível não me lembrar do meu velho. Eu sentia tanto a sua falta… Peguei meu celular e revirei a galeria de fotos antigas. Depois que o meu pai sofreu o acidente, passei algumas das fotos que tiramos juntos na minha infância para o aparelho. Essa foi uma forma que encontrei de mantê-lo sempre comigo. Eu devia ter uns 9 ou 10 anos de idade nessa foto que escolhi. Eu me lembro de ser o guri mais feliz do mundo por ser filho de Shawn Stewart e esse orgulho permanece todos os dias da minha vida.

— Onde está o orgulho dessa família? - perguntou Gaby ao bater na porta, antes de entrar no meu quarto.

— Ela estudou muito e virou fisioterapeuta, graças a Deus! - brinquei. - Tu não imagina como estou feliz em te ver e com sua escolha de profissão, minha irmã querida… - estiquei os braços na direção dela.

— O nosso dançarino está muito dolorido? - rindo, Gaby se sentou ao meu lado na cama, me deu um beijo, um abraço apertado e começou a massagear o meu braço.

— Minha filha, dolorido eu estava durante os ensaios, agora eu devo estar todo desmontado mesmo...

— Coitadinho do meu irmão, mas todo o seu esforço valeu a pena. Vocês arrasaram na apresentação e eu estou muito orgulhosa de você pirralho. - sorri pra minha irmã, antes de soltar um berro de “Ai” quando ela apertou um ponto específico do meu braço. - Para de ser frouxo Luke, nem doeu.

—Ôôôôô MÃÃÃEEE! - porque sim, eu tinha 21 anos e ainda recorria a “mainha” para me defender da minha irmã mais velha.

— O que foi menino? - Mainha entrou desesperada no meu quarto procurando onde estava o incêndio. - O que aconteceu? - perguntou aflita.

—  A Gaby está me maltratando… - Mainha olhou pra mim e depois para Gaby que gargalhava da cara de desespero de dona Laura. Em seguida, me deu outro apertão no braço fazendo com que eu desse outro urro de dor. Gaby era uma irmã extremamente protetora comigo. Ela havia se casado recentemente e não morava mais com a gente, mas mesmo assim, estava sempre presente nas nossas vidas. Desde pequenos sempre gostamos de aporrinhar “maínha” com nossas brincadeiras. Claro que a maioria era delas partiam de mim, ou seja, minha moral com dona Laura era praticamente zero.

— Luke Stewart. - Vixe Maria! Se me chamou pelo nome completo, lascou. - Um dia eu ainda vou descontar as suas graças filmando esse seu showzinho dramático e mostrarei para aquela professora que você está paquerando… - dona Laura era um doce até usando tom de ameaça.

— Uiii.. - brinquei afinando a voz. - Está vendo isso Gaby? - olhei para minha irmã. - Mainha na versão vingativa, ela é MUUUITO malvada…

— Ah, sim. MUITO mesmo… - Gaby e eu começamos a gargalhar porque sabíamos que dona Laura não era capaz de fazer mal nem para uma mosca. “Mainha” acabou rindo também e se jogou na cama em cima da gente. Eu adorava esses momentos que tínhamos em família. - Como assim o Luke está paquerando a professora? - perguntou Gaby entre risos. - Qual delas? A Nataly Brooken?

— Quem mais seria minha irmã? Claro que estou falando da gata, mais gata de todas as gatas. - Gaby olhou pra mim com aqueles olhos verdes desafiadores.

— Ah… Eu bem percebi que tinha alguma coisa no ar entre vocês durante a apresentação de domingo. Agora tudo faz sentido, danadinho. - disse apertando minha bochecha.

— Viu, mãe? Ouça a voz da sabedoria... Até a Gaby já percebeu que tem um puta de um CLIMÃO rolando entre nós e a senhora não acredita em mim... - essas não foram exatamente as palavras da minha irmã, mas poderiam ter sido e cada um interpreta como quiser.

— Tá bom meu filho, tá bom… Mamãe estará torcendo por você sempre… - sorrindo, ela segurou meu rosto e me deu um beijo na bochecha. Minha mãe era a razão pela qual eu acordava todos os dias com a motivação de vencer na vida e não desistir dos meus sonhos. Por dona Laura eu era capaz de qualquer coisa. A maior satisfação da minha vida era fazê-la sorrir. - Só cuidado para não se iludir muito e se decepcionar depois. Não quero te ver sofrendo se ela não corresponder suas expectativas… - aconselhou de forma protetora.

— Mainha nada é por acaso, tudo está escrito… E eu sinto que Nataly está destinada a mim…

— Desde quando esse menino ficou tão profundo, mãe? - as duas se entreolharam e começaram a cantar o refrão da música “É o amor” da dupla Zezé di Camargo e Luciano.

 

Um pouco antes de dormir resolvi seguir o conselho de Jake em rever a nossa apresentação do baladão, inclusive, assisti com calma também, a edição do nosso ensaio da semana. Tinha ficado muito bom mesmo. Às vezes eu fazia umas presepadas que eu não sabia nem da onde vinha. Eu devia ter problema na cabeça, só podia. O sorriso de Nataly com as minhas palhaçadas era tão verdadeiro que me fazia querer sorrir também. Sabe aquele riso gostoso que vem do fundo da alma? Jesus! Poderia eu ficar ainda mais encantado por aquela mulher e por aquele sorriso? Sim, poderia. Porque o meu corpo todo parecia clamar desesperadamente por Nataly Broken. Que saudade “féla” da mãe que eu estava sentindo daquela bailarina. Decidi postar o vídeo do meu workshop de bailarina para que ela soubesse onde estavam meus pensamentos agora. Minha maior alegria antes de dormir foi Nataly ter curtido minha publicação.

 

No dia seguinte pela manhã, o meu coração quase explodiu ao abrir meu Instagram e me deparar com a postagem de Nataly com o vídeo de uma parte da nossa dança do baladão. Na legenda do vídeo ela escreveu “Relembrando um pedacinho do nosso Baladão Disco. Quem gostou aí?” Em seguida colocou um emoticon de bonequinho apaixonado, outro de uma menininha com a mão pra cima, um batendo palmas e outro com a mão de oração. Se Nataly estava relembrando a nossa apresentação, era porque também estava pensando em mim. Ô Meu São João!  Porém, foi uma das hashtags que Nataly acrescentou que fez o meu sorriso não caber mais em meu rosto.

#TeamLueNaty

“Mainha” e Gaby não só curtiram a postagem de Nataly, como também comentaram. Ontem a noite, as duas já tinham entrado na minha e estavam super apoiando meu investimento na bailarina. Gaby falou tanto e tantas vezes que a gente combinava e que nós dois formávamos um casal arretado de bonito que dez minutos depois, dona Laura já estava convencida disso. Agora eu tinha duas torcidas dentro de casa, uma pelo meu sucesso na competição e outra para Nataly Brooken entrar para a família. “Mainha” escreveu “ARRASARAM!!!” em letras garrafais seguido de mãos batendo palmas e Gaby seguiu a mesma linha escrevendo “Foi SENSACIONAL!!” intercalando corações e palminhas. Eu era tão grato por minha família...

Comentei a postagem com quatro corações. Um foi para o comentário de “mainha”, outro para Gaby, outro para a hashtag usada pela Nataly que fazia a junção do nosso nome como casal e o outro que significava o meu coração para ela. Hoje ainda era sexta-feira. Faltava muito para segunda?

 

No sábado Nataly botou para “torar” novamente em outra publicação. Ela postou uma foto linda fazendo um biquinho com a boca parecido com aquele que fazia quando estava com ciúmes, porém, com uma sensualidade no olhar que fez o “Poderoso Chefão” dar sinal de vida na minha calça. Fica na sua aí, garotão! Na legenda ela escreveu “Bom diaaaa sabadão!”

Obviamente, que fui “obrigado” a curtir e comentar a foto com um coração. O raparigueiro do Jake andava curtindo todas as postagens da minha bailarina também e eu sabia que aquele sem vergonha estava fazendo aquilo só para me provocar. Pensando na palavra provocar, eu decidi dar uma cutucadinha na minha bailarina postando a foto que tiramos no bar domingo passado. Coloquei a legenda “tbt atrasado. Minha turma” e acrescentei um coração. Nataly curtiu a foto e respondeu “Eitaaaa turma Lindaaaa”. Ah, linda era ela.

 

No domingo acordei super animado. Amanhã seria o dia em que eu reveria a minha bailarina.

— Boooommm dia “mainha” linda! - empolgado, estalei um beijo na bochecha dela. Mainha alargou o sorriso ao segurar meu rosto retribuindo o beijo.

— Quanto bom humor, aposto que essa animação tem nome e sobrenome… - disse maliciosa.

— Tem sim! O nome é “café” e o sobrenome é “De Mainha”... - brinquei. Eu era viciado em café, ainda mais no café que eu tomava com dona Laura todas as manhãs quando estava em casa.

— Ah é, sim… - desdenhou. - Eu bem estou vendo a alegria em seus olhos de abandonar sua mãe a semana inteira para dançar com uma certa bailarina.

— Está com ciúmes, dona Laura?

— Com ciúmes não. Já estou com saudades. - a parte ruim de ficar viajando muito a trabalho era essa. Às vezes eu ficava semanas sem ver “mainha”. Abracei minha mãe com força e a enchi de beijos.

— Eu também vou sentir saudades, nesses hotéis ninguém sabe fazer o NOSSO café. - peguei meu celular e abri a câmera. - Venha aqui, esse momento merece um registro. Vou fazer um vídeo do nosso caso de amor com o café! - minha mãe riu e já se preparou para o vídeo. Ela me chamava de doido, mas amava embarcar nas minhas doideiras. Coloquei a música romântica de fundo “Careless Whisper” do George Michael que calhava bem com o momento. Na música ele falava de dança e tinha uma parte que traduzida dizia… “Nunca vou dançar outra vez, do jeito que dancei com você.” O vídeo ficou muito engraçado, eu e Mainha cantando e dançando simulando uma história de amor com o café. No final fingi queimar o beiço ao dar um beijo na xícara quente.

— Agora chega de graça e vai logo arrumar suas coisas, senão vai perder o seu vôo para o Rio de Janeiro.

— Sim, senhora!

 

Eu estava tão ansioso e animado para amanhã. Foi no meio dessa empolgação que no uber a caminho do aeroporto, eu resolvi postar o mesmo vídeo da nossa apresentação que Nataly havia publicado na sexta. “E a nossa semana começa agora né?” escrevi na legenda marcando o nome dela. Nataly não demorou para curtir a postagem. Agradeci mentalmente quando vi que a bailarina mais linda do mundo tinha acabado de comentar minha publicação. - Nataly deixou um comentário diferente dessa vez. Ela que geralmente era sucinta em seus comentários me surpreendeu com sua animação. Eu até podia ver o sorriso nos lábios dela ao escrever, “Simmmmmmm borá no forró parceiro”  esse comentário se seguiu de uma mãozinha batendo palmas, uma de oração e um emoticon apaixonado. Assim como eu, Nataly também estava ansiosa para o início dos nossos ensaios amanhã. Vem no meu forró bailarina… Só vem…

 

Eu tinha acabado de atravessar o portão de embarque quando o meu celular tocou. Olhei para visor e vi que era Jake. Eu tinha várias coisas nas mãos, documento, comprovante da passagem, fone de ouvido, óculos de sol, meu celular e a minha mochila que eu tentava com dificuldade colocar nas minhas costas para facilitar. Com muito custo, consegui atender o telefone.

— Irmão, eu estou um pouco atrapalhado agora. - falei segurando o aparelho no ombro para organizar as outras coisas. - Não dá pra me ligar depois? Estou entrando no avião agora…

— Bom dia e seja bem vindo a bordo. - disse a aeromoça que estava recepcionando os passageiros na porta do avião.

— É gata? - perguntou Jake do outro lado da linha.

— O que? -  Eu odiava esses corredores estreitos de avião. Era uma confusão desgranhenta e todo mundo ficava parecendo um bando de baratas tontas procurando seus assentos.

— A aeromoça que falou com você agora. É gata? Passa meu telefone pra ela. - disse todo animado.

— Jake, meu filho, eu estou mais lascado nesse momento que uma rapariga em dia de cabaré… Eita, desculpa moço. - sem querer acabei batendo minha mochila na cabeça de um tiozinho careca. - Se você puder ser rápido no assunto, eu agradeço... 9...10… - onde estava aquele diacho de lugar?

— É urgente! - disse mudando o tom de voz. - Abre seu Instagram agora. - eu ri.

— Olha Jake, nem se eu quisesse fazer isso eu conseguiria, estou com as duas mãos ocupadas e... Achei! - exclamei, finalmente localizando o meu lugar.

— Bicho, é MUITO URGENTE. - frisou meu primo. - Olha seu Instagram imediatamente, é sério. - suspirei fundo ao encaixar minha mochila no bagageiro do avião.

— Com licença… Opa, desculpa… - minha cadeira era a da janela e os outros dois passageiros que iriam dividir aquela fileira comigo, já estavam ocupando seus respectivos lugares. Uma senhora que estava sentada na cadeira do meio, me encarou enviesada quando esbarrei em sua perna. Se ela não ocupasse os dois espaços, talvez eu não precisasse esbarrar nela para alcançar o meu lugar. O pior é que eu passaria a viagem toda espremido ao seu lado. - Fala logo o que é, Jake… - eu já estava ficando sem paciência. Eu mal conseguia me mexer no meu lugar. Foi a minha vez de olhar torto para a senhora ao meu lado.

— Nataly Broo... - Eu não esperei nem meu primo terminar de falar. Tirei o telefone do ouvido e corri para abrir meu Instagram antes que anunciassem a decolagem e eu perdesse meu sinal de internet. O que podia haver de tão urgente em relação a Nataly Brooken?

— JE-SUS CRISTO! - exclamei alto demais, chamando a atenção de todos ao meu redor, inclusive, da tiazinha. O “Poderoso chefão” começou a gritar “Tô aqui! Papai, eu tô aqui!” dentro da minha calça. O que era aquilo, meu Deus do céu? Coloquei o telefone na orelha de novo. Jake estava rindo. - Minha Nossa Senhora Jake, o que é isso?

— Caramba Luke, está tão baitolão que já até esqueceu o que é uma mulher? Ou melhor, várias? Todas elas juntas para ser mais preciso… Um bonde como diz na legenda da foto.  - eu só conseguia enxergar uma pessoa ali no meio. Desliguei o telefone na cara do meu primo e busquei na memória como fazia para respirar. Eu estava sem ar… Eu estava suando…Eu estava passando mal.

— Está tudo bem, guri? Por acaso, tem medo de avião? - perguntou a senhora obesa ao encarar minhas mãos suadas segurando o aparelho celular. Na minha mente eu só via a imagem de Nataly Brooken na praia, vestida por minúsculo biquíni cor de rosa, abraçada com as outras bailarinas participantes do quadro “Você pode dançar?”. O “Poderoso Chefão” continuava agitadíssimo lá embaixo e eu estava prestes a passar vergonha, se ele não começasse a se controlar. Já estava imaginando essa tiazinha fazendo uma cena aos sete ventos dentro desse avião. Olhei para a senhora com meus dentes a mostra e cruzei as pernas de maneira afeminada. Era melhor ela espalhar por aí que eu era baitola do que escandalizar me chamando de tarado.

— Está tudo óóóótimo! - falei jogando minha franja de lado. A mulher me encarou esquisito e voltou a olhar para frente. Claro que seu pequeno braço de rinoceronte continuava me espremendo como se não houvesse amanhã. Confesso que eu nem estava me incomodando mais com isso. O meu trajeto inteiro até o Rio de Janeiro foi criando um manual na minha mente. “Mil e uma maneiras de se ter autocontrole e esquecer Nataly Brooken vestida num micro biquíni cor de rosa durante os ensaios do forró.” Infelizmente, meu manual mental havia zero páginas até o momento, porque eu ainda não tinha encontrado nenhuma maneira de apagar aquela cena da minha cabeça.

Quem seria o Santo Protetor das Concentrações?  Com certeza, eu iria precisar muito da ajuda dele a partir de amanhã.









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Notas finais do capítulo

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