Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 10
Recado Dado


Notas iniciais do capítulo

Overdose de SINTONIA.
Capítulo grande e bem revelador.



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— E foi isso… Agora o idiota do Erick está espalhando pra todo mundo que você não presta e que foi por isso que terminou com você. - David me olhou com uma cara de desgosto. Você quer conhecer verdadeiramente uma pessoa? Termine seu relacionamento com ela. A máscara de Erick já tinha começado a cair no dia em que terminamos na porta da minha casa, agora só estava sendo confirmado sua babaquice mesmo. Dave estava me atualizando de todos os acontecimentos que ocorreram durante a semana que passei fora ensaiando para a estréia do quadro “Você pode dançar?”.

— Afff... O Erick tem quantos anos mesmo? Dez? - eu não podia acreditar que ele estava falando do mesmo cara que namorei por quatro anos. Eu não sei se foi por conta de toda aquela intensidade que vivi com Luke no período em que passamos juntos ensaiando, mas eu tinha a sensação que o meu relacionamento com o Erick era algo que havia acontecido no século passado e não a menos de dez dias.

— Hey, no que a mocinha está pensando? - perguntou Dave cutucando meu ombro.

— Hein?

— Eu te conheço desde quando, Nataly Brooken? Sempre? Não adianta me enganar não, sei muito bem a cara que faz quando tem algo encucando as idéias dentro dessa cabecinha aí… - ele pegou o seu celular na mão e abriu o meu Instagram na foto que postei com Luke hoje cedo em agradecimento por nossa estréia de ontem. - Por acaso tem algo a ver com isso aqui?

— Isso o quê?

— Ahh, queridinha… Eu acompanhei seu namoro com o Erick desde o início. Eu estive presente até naquela festinha que vocês deram o primeiro beijo e a senhorita voltou toda empolgadinha contando sobre o assunto no caminho, lembra? - afirmei com a cabeça. - Pois bem, eu acompanhei a sua alegria quando decidiram namorar… Suas discussões idiotas, por motivos bestas… Tudinho, tudinho eu estava lá… - David ergueu o celular e apontou a tela pra mim mais uma vez. - Mas, sabe de uma coisa? Eu NUNCA estive presente para presenciar você e o Erick se olhando desse jeito... - sacudiu o aparelho em suas mãos. - E quer saber por que dona Nataly? Porque você NUNCA olhou para o Erick desse jeito. - arregalei os olhos ao encarar meu amigo. - Então não faça essa cara e me diga logo, o que está acontecendo aqui, hein? - Dave era perceptivo demais. - A sintonia entre vocês durante a apresentação, foi algo palpável até para quem estava de fora somente assistindo… Eu mesmo, fiquei tão envolvido com aquela dança que nem percebi que já estava aplaudindo e pulando em cima do meu sofá, na hora que acabou. - ele se levantou da cama, enquanto gesticulava sem parar. - Fiquei bege, menina. Vocês tem noção do que fizeram naquele palco ontem? Foi uma loucura geral! Diva minha, por um acaso você já deu uma olhadinha nos seus novos seguidores do Instagram? Nas redes sociais não se fala de outra coisa. Então, pode parar de bancar a desentendida comigo e me contar AGORINHA o que é isso… - exigiu dando dois toquinhos na tela do celular. - E o que exatamente está rolando com esse boy aqui! - ele se jogou na cama ao meu lado de novo e ficou aguardando minha resposta.

Dave, como eu costumava chamá-lo, era um dos meus melhores amigos. Eu o considerava um irmão. Ele e o Lion eram os grandes incentivadores da minha vida. Dave fazia toda a minha assessoria e assim como eu, também trabalhava como bailarino, coreógrafo e professor de dança. Ele me ajudava demais. Seu centro de dança ficava localizado em Minas Gerais, por isso não nos víamos com a frequência que eu gostaria. A gente se conhecia praticamente desde a nossa adolescência e não adiantava tentar omitir nada dele.

— Ai Dave... Eu não sei! - suspirei derrotada e aliviada ao mesmo tempo, por finalmente poder desabafar sobre isso com alguém de fora.

May não estava me ajudando em absolutamente nada nesse assunto e também não era muito parâmetro para uma conversa imparcial. Ela parecia ter formado uma torcida organizada em relação ao Luke. Principalmente, depois dos episódios de ontem com Jennifer Mason.

May me contou que Luke havia tirado onda com a cara da mestiça na frente de todo mundo, após eu sair andando quando a oferecida lhe mostrou aquela foto apenas de calcinha e sutiã. Minha amiga se propôs, inclusive, a fazer um quadro com a foto do comediante para pendurar na parede do nosso apartamento. May também ficou extasiada com a defesa de Luke em meu favor durante o jantar, deixando a mestiça com a cara no asfalto. Ou seja, todas as vezes que eu tentava tirar o humorista da cabeça, May fazia questão de me lembrar da existência dele.

Nos despedimos hoje pela manhã. May voltou para a casa da família dela que ficava no Rio mesmo e eu para a minha em Mogi, no interior de São Paulo. Só nos veríamos novamente na semana que vem, quando voltássemos para o apartamento durante o período de ensaios do forró.

— O que você não sabe, diva?

— Ai Dave, não sei! Simplesmente… não sei… - Virei-me de bruços na cama, para ficar de frente pra ele que estava sentado no meio dos meus travesseiros. - Está tudo tão confuso aqui dentro. Meu aluno é um furacão e está me deixando louca. - David riu.

— Pra mim isso está me cheirando a outra coisa… - ele me encarou maliciosamente e eu já sabia o que estava por vir.

— Olha quem chegou para iluminar esse quarto... - Lion atravessou a porta com um sorriso enorme no rosto e deu uma voltinha em torno de si mesmo, estalando os dedos. - EUZINHOOOO!!! - disse erguendo uma mão para o céu e parou feito uma estátua, olhando para nós fazendo pose com o seu famoso “carão”. Automaticamente, eu sorri. - Ca-dê a minha MUSA do Baladão? - Lion se atirou na cama em cima de mim e quase me matou esmagada. Ele parecia um armário com quase dois metros de altura e braços fortes. Lion era negro, seu cabelo envolto por dreads no melhor estilo rastafári. Podia facilmente se passar por segurança e botar medo nas pessoas, se não desse tanta pinta. Ele era homossexual assumido, eu o conhecia há 3 anos e assim como David, já o considerava como irmão também.

— Lion você vai me matar, sai de cima de mim! - rindo, empurrei meu amigo para o lado.

— Acabei de sair da academia e o seu ex bofe estava lá, afundado no recalque pra variar... - ele abriu aquele sorriso iluminado. - Diva-maravilhosa! Me amarrota que eu tô passada com aquela apresentação de ontem. O que foi aquilo? Com certeza absoluta, eu irei te assistir divar pessoalmente na semana que vem… - disse jogando um travesseiro pra cima. Meu quarto estava parecendo a gaiola das loucas.

— Ah eu também não perco por nada! - completou Dave animado. - Principalmente agora que eu sei que está rolando um climão com o boy nordestino.

— Na verdade, eu só quero ir pra conhecer aquela delicia do Zuken… - Lion começou a se abanar. - Só de pensar naquele “bofe escândalo” já me sobe um calor que... uh-lala… - comecei a rir alto. Eu precisava urgentemente rever minhas amizades. Meus Deus! Eu só atraía gente doida na minha vida. - Eiiii, que história é essa de clima com o boy nordestino?

— Também não sei que climão é esse que o Dave está falando... - olhei brava para o meu amigo. - Em nenhum momento eu afirmei que estava pintando um clima, apenas disse que não sabia o que estava acontecendo entre a gente.

— Hmmm… Estou vendo uns olhinhos cintilarem brilhantes por aqui, meu amor? - Lion apontou para meus olhos e começou a se balançar de um lado para o outro. - A-DOOOOORO! - perdi minha paciência.

— Ahhhh não. Não vem vocês dois também não. Que saco! Eu dou graças a Deus por conseguir me livrar da chatonilda da May e agora eu tenho que aturar as baboseiras de vocês também? - levantei-me da cama e puxei os dois pelos braços. - Xô, os dois daqui AGORA! Andam… - empurrei eles para fora do meu quarto. Ambos riam sem parar. Lion saiu rebolando, mas antes de ir completamente se virou pra mim.

— Aaahhhh só uma coisinha, musa-poderosa. Se você não for usufruir do corpinho gostoso daquele “boy magia”, pode mandar pra mim que eu PEGO! - ele me mandou um beijo no ar, fazendo um aceno com os dedos ao se despedir. Oh Deus, o que eu fiz pra merecer isso?

 

Já era tarde quando estava me trocando para ir ao meu estúdio de dança. Eu estava morrendo de saudades das minhas “pimpolhas”. Foi num momento de distração que a imagem do comediante invadiu meus pensamentos mais uma vez. Eu que queria usar essa semana longe dele para organizar as ideias e não pensar nele, me ferrei. Porque ainda era segunda-feira e eu já sentia sua falta. Eu o tinha visto pela última vez ontem, mas a sensação é que já fazia mais de um mês. Que droga!

 

Peguei meu celular e as notificações de novos seguidores não paravam de crescer no meu Instagram. Eu sempre gostava de ler tudo, apesar de não conseguir responder a todos. Eu fazia isso mais para manter um controle mesmo. Afinal, meu Insta era um perfil aberto para o público e era difícil controlar o nível de todas as pessoas e comentários que passavam por ali. Desci os olhos pelos comentários da foto que postei com o Luke agradecendo-o por toda a entrega e cumplicidade na nossa estréia. Eu jamais seria ingrata em não deixar registrado o meu agradecimento. Se a nossa dança foi um sucesso, foi porque ele se dedicou de corpo e alma naquilo comigo. E quase me matou de sede a semana inteira, porque estava tão envolvido com tudo que não queria parar de ensaiar nem para beber água. Eu já estava brigando com minha mente por pensar nele de novo, quando um comentário no meio de tantos elogios, inclusive, da mãe e da irmã dele, chamou a minha atenção.

“Foi lindoo! Obrigado por tudo!!” seguido de dois coraçõezinhos. E lá estava ele aqui mais uma vez, invadindo meus lábios, sem permissão. O meu sorriso. Curti o comentário de Luke e entrei em seu perfil. Realmente Dave tinha razão. Não se falava em outra coisa nas redes sociais. O boomerang que Luke postou após nossa apresentação de ontem, já estava com mais de vinte mil curtidas e mais de três mil comentários. Era impossível ler todos eles agora. Eu estava quase desligando o celular quando recebi uma notificação informando que Luke havia acabado de me marcar numa publicação. Era uma foto nossa no palco com a imagem das três notas 10 que tiramos na nossa apresentação.

“Jurados, plateia, povo de casa, produção, figurino, coreografia… Ô loko meu!! MUITO OBRIGADO!!” ele marcou meu nome em seguida. “obrigado, pela paciência, carinho, competência, cumplicidade, e por toda a resistência de ficar sem beber água...kkk vamo simbora” ao lado Luke colocou dois emoticons, um simbolizando “força” e o outro uma bailarina.

Força bailarina, foi o que ele quis dizer. É, eu iria precisar de muita força mesmo. Principalmente, para lidar com essa sintonia absurda que estava ligando os nossos pensamentos. Eu tinha acabado de relembrar o episódio da água e Luke postou algo falando exatamente sobre isso. May fez um comentário engraçadinho na foto “tadinha, morreu de sede a semana inteira”. Eu entendi o duplo sentido da frase que a cretina usou e mandei uma mensagem no whatsapp dela, no mesmo instante.

“Olá, o patati e o patatá mandaram lembranças pra você, palhaça!” ela ficou online e respondeu imediatamente.

“Ah maridinha, mas eu nem falei qual foi o tipo de sede que você sentiu a semana inteira. Quer que eu conte pro meu “migo” Luke lá nos comentários?”

Mandei um emoticon mostrando o dedo do meio para ela que respondeu com um monte de emoticons chorando de rir. Eu não estava com paciência para lidar com May Anderson agora. Depois vi que logo em seguida nos comentários da foto, ela escreveu. “Migos arrasaram muito” com o símbolo do emoticon apaixonado e um coração. May não tinha jeito mesmo, Luke realmente tinha ganhado uma nova fã.

 

Minhas crianças ficaram extasiadas assim que me viram atravessar a sala do estúdio. Fazia mais de uma semana que eu não aparecia por lá. Eu simplesmente amava aquele lugar. Era “Tia Naty” para tudo quanto é lado. Após uma foto que eu postei no meu Instagram, iniciamos a aula e eu finalmente consegui me desligar um pouco daquele furacão chamado Luke Stewart.

 

Terça feira. Acordei pela manhã já no pique da malhação. Eu precisava me preparar bem para o forró, senão estaria ferrada. Os movimentos eram muito mais intensos que o baladão. Fui para a academia e me arrependi no mesmo instante que botei meus pés lá.

— Bom dia, gente. - cumprimentei a todos, sem dar atenção ao olhar furioso do meu ex assim que me viu.

— Olhaaa… Teremos treino com a “Miss celebridade” hoje.... - disse Erick num tom pejorativo e com um riso cheio de maldade nos lábios.

— Peraí… Só um minutinho aqui, por favor… - Lion me interrompeu antes que eu pudesse dizer algo, chamando a atenção de todos para si. Em seguida, meu amigo fingiu tirar algo imaginário do bolso e colocou na boca como se estivesse comendo aquilo.

— Que isso? - perguntou Erick, confuso.

— Estou mastigando sua mágoa sabor tutti-frutti, meu bem. Hmmm… está uma delícia, Erick. - Lion jogou a cabeça para trás e me puxou pela mão, ignorando completamente a reação do meu ex. Lion era o rei das pérolas. Erick ficou puto, porque todos gargalharam da sua cara após a encenação de Lion e ainda resolveram ignorá-lo também, animados com minha chegada. Recebi muitos elogios e cumprimentos do pessoal da academia, o que me deixou bastante feliz. A maior parte das pessoas ali se mostraram ansiosas para a próxima apresentação.

— Você já sabe qual será a música que irá dançar no forró Naty? - perguntou Kellen enquanto caminhávamos na esteira.

— Ainda não. Provavelmente, só saberei na segunda feira que vem... - a partir de agora, as músicas que  iríamos dançar seriam sorteadas pela produção do programa. Ficaríamos no escuro até começarem os ensaios.

— Estou torcendo muito por você, Nat. - disse ela diminuindo um pouco a velocidade da corrida para me encarar. Kellen era uma conhecida da academia. De acordo com Lion, ela era a “rainha suprema” das fofocas. Tanto que ele apelidou a morena de “Tá sabendo”.

— Obrigada Kellen. - sorri com sinceridade. Afinal, ela estava torcendo por mim.

— “Tá sabendo” o que rolou aqui na sua ausência? - era por este motivo que Lion chamava Kellen de “tá sabendo”. Ela sempre começava suas frases desse jeito quando queria disseminar alguma fofoca. Encarei-a sem vontade e sem dizer nada, porque eu já sabia que mesmo se eu negasse meu interesse pela notícia, ela daria um jeito de me contar mesmo assim. - Seu ex endoidou. - falou baixinho como se estivesse me contando um segredo. - Falou pra todo mundo que terminou o relacionamento porque você não presta, mas já ficou com três meninas aqui da academia essa semana… Tá sabendo? - contive a vontade de revirar os olhos para a fofoqueira. Não queria me tornar alvo de sua boca grande.

— Agora estou. - forcei um sorriso para Kellen e voltei a correr na esteira. Eu tinha mais o que fazer do que ficar dando assunto para as asneiras relacionadas ao Erick. Sei que o nosso término foi recente e que saber que o meu ex estava pegando geral, deveria me causar algum tipo de incômodo. Porém, o fato que mais me incomodou nessa notícia, foi não ter causado absolutamente nada dentro de mim. Era como se Kellen estivesse falando de um completo desconhecido. Não deveria ser assim, onde estava meu coração nessas horas?

— Naty… - a “tá sabendo” me chamou de novo. Virei-me para ela com nítido mau humor dessa vez.

— Olha Kellen, estou numa boa de saber coisas sobre o Erick, é sério! Não tenho mais nada a ver com a vida dele... - fiz um sinal de jóia com o polegar e acelerei minha corrida como se pudesse fugir daquela mulher enquanto corria na esteira.

— Não. Na verdade, eu não ia falar nada do Erick, não. Eu queria te perguntar sobre Luke Stewart... - foi nesse momento que senti meu coração disparar. Assim que ouvi o nome dele, minha perna bambeou, eu perdi total o equilíbrio sobre meu corpo e acabei caindo igual um saco de batatas rolando na esteira. Só senti o impacto do meu joelho batendo na lateral do equipamento. Doeu pra caramba!

— Merda!

— Ai meu Deus, Naty! Você está bem? Gente, ajuda aqui… A Nataly caiu! - alarmou a “tá sabendo” para todo mundo. Porque não basta cair, pagar mico e arrebentar o joelho, tem sempre que ter alguém por perto para te ferrar e contar para os outros também. Ouvi um berro vindo do outro lado do salão da academia, que mais parecia a sirene de uma ambulância disparada. Obviamente, era o Lion. Ele veio gritando e correndo freneticamente na minha direção e se agachou ao meu lado para me ajudar a levantar. Ai que vergonha, senhor!

— DIVA BAFÔNICA!!! SO-COR-RO!!! - disse me erguendo pelo braço. - Você não pode quebrar nenhum ossinho antes de domingo, pelo amor dos deuses! - ele ajeitou meu cabelo, conferindo se estava tudo no lugar. - Não antes de eu conhecer aquele Deus do Ébano chamado Zuken! Se for necessário eu te deixo ensacada por plástico bolha até lá, só para garantir sua proteção.

— Está tudo bem, Lion. Agradeço sua preocupação sincera com meu bem estar, sua bicha interesseira. - falei ironicamente, conferindo o estrago no meu joelho. Droga, mais um roxo para a coleção. O pior é que eu teria ensaio fotográfico daqui dois dias e esse roxo, com certeza, não iria sumir até lá.

— Aiii musa… Me senti até ofendida agora! - botou a mão no coração fazendo drama. - Você sabe que meu amor por você é pleno e verdadeiro como o branco desse sorriso. - ele apontou para si e alargou o sorriso mostrando-me seus dentes. Acabei rindo porque era impossível ficar séria ao lado de Lion. Depois de terem certeza que estava tudo bem comigo, todos acabaram se dispersando e voltaram aos seus afazeres. Todos, menos Kellen, que continuou parada ao meu lado com a expressão inquieta. Ela parecia querer dizer alguma coisa. Antes que ela viesse com mais alguma de suas notícias, decidi ir embora. Com certeza, eu não iria mais conseguir treinar hoje por causa da dor absurda que estava sentindo no joelho.

— Acho que vou nessa, então. - peguei minha toalha de rosto e minha garrafinha de água.

— Então, Naty… - começou a fofoqueira. - Deixa eu falar uma coisa antes de você ir… - Ai, não! Juro, eu estava QUASE, veja bem, eu disse QUASE preferindo a companhia da Mason do que da Kellen. Que mulher chata! Não precisei dar autorização, porque ela disparou a falar. - Olha, eu sou MUITO, MUITO fã do Luke Stewart. - declarou com empolgação. - Sério, desde novela que ele fez, eu o sigo no Instagram e acompanho o seu trabalho. Fiquei até com uma pontinha de inveja quando fiquei sabendo que você seria a parceira de dança dele, mas depois fiquei feliz, porque vi que poderia ser a minha chance de conhecê-lo. Eu estou torcendo pra vocês de verdade, viu? Aliás, eu torceria para ele de qualquer jeito. Ele é tão lindo e engraçado, né? - sabe aquela sensação de incômodo que eu senti falta minutos atrás, quando Kellen falou sobre as pegações de Erick? Pois bem, eu estava sentindo agora, intensificada num nível bem elevado enquanto a ouvia falar de Luke. Kellen alargou o sorriso ao continuar matraqueando sem parar. - Eu sou vidrada nele e depois que vi o vídeo do ensaio de vocês, então? Ai meu Deus! Eu ri tanto… Você é tão sortuda por ficar tão pertinho dele… - qual seria a notícia que Kellen espalharia se por acaso eu quebrasse os dentinhos dela nesse momento? - Eu estou louca para dar um agarrão naquele homem maravilhoso. E eu fiquei sabendo que o Lion e o David irão assistir sua apresentação do forró na semana que vem, aí eu queria saber se você não conseguiria um convite para eu ir tamb...

— NUNCA. - respondi automaticamente, sem controle das minhas palavras. Kellen olhou pra mim com cara de espanto.

— Oi?

— Nunca vi um cavalo entrar num bar e pedir um copo de leite, você já viu? - Kellen me encarava com a mesma expressão que o garçom me encarou domingo no bar.

— Eu não. - respondeu baixinho.

— Graças a Deus né? Sinal que não estamos loucas… - porque só se eu estivesse maluca da cabeça para deixar esse ser na minha frente chegar perto do Luke. Não que eu estivesse com ciúmes. Eu não estava. Eu só estava protegendo ele de outra possível Mason. Só isso. Ele era meu amigo. E amigos se defendem, certo? Ele me defendeu domingo e eu estava retribuindo a gentileza. De nada, Luke. Eu sou uma ótima pessoa mesmo.

— É, então… - ela ia começar a falar de novo, mas a interrompi.

— Kellen, estou extremamente atrasada. - menti. Eu não tinha nada pra fazer hoje. - Depois a gente continua essa adorável conversa a respeito do meu aluno, está bem? Agora preciso ir… Tchauzinho. - acenei para ela, peguei minhas coisas e sai correndo igual a um “cavalo manco” da academia por causa da dor no meu joelho.

 

Cheguei em casa e fui direto para a cozinha pegar uns cubos de gelo no freezer, no intuito de fazer uma compressa para tentar amenizar a dor e a rouxidão do meu joelho. Assim que eu sentei no sofá Nala, minha Golden, pulou no meu colo em busca de atenção. Liguei a TV e iniciei a sessão de carinhos na minha pedinte, enquanto deixava a compressa fazer efeito.

Como de costume abri meu Instagram para passar o tempo e fiquei paralisada com a última postagem de Luke Stewart.

Eu estava em choque por vários motivos. Primeiro, porque ele estava tocando uma sanfona. Eu não deveria me impressionar que ele soubesse tocar um instrumento tão complexo como a sanfona, afinal, esse menino parecia saber fazer tudo nessa vida, mas me impressionei. Luke nunca se cansava de me impressionar.

Eu não sabia se eu prestava atenção no vídeo, na legenda, ou na letra da música que ele estava cantando. Juro, eu fiquei estagnada uns dez minutos olhando para a tela do celular, sem reação.

Luke escreveu: “Em casa, já entrando no clima do forró! É Gonzagão véi de guerra!” E finalizou com a hashtag com o nome do quadro “Você pode dançar”.

Estaria tudo tranquilo e muito bem, se ele não estivesse cantando aquilo pra mim. Mas, ele estava. Desde domingo, o comediante parecia disposto a me deixar sem rumo com suas cantadas implícitas e explícitas. O pior de tudo, era admitir que ele estava conseguindo. Luke escolheu o refrão da música “Sala de Reboco” do Luiz Gonzaga para cantar enquanto tocava sanfona.

“Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco.” Meu coração batia descompassado. Luke estava tão bonitinho no vídeo. Cabelo bagunçado, carinha de bebê, eu não conseguia desviar meus olhos dele. Não sei quantas vezes o vídeo ficou se repetindo até eu voltar para o mundo real. Abri um site de busca e procurei pela letra inteira da música.

 

“Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Enquanto o fole tá fungando, tá gemendo
Vou dançando e vou dizendo meu sofrer pra ela só
E ninguém nota que eu estou lhe conversando
E nosso amor vai aumentando
Pra que coisa mais melhor?
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Só fico triste quando o dia amanhece
Ai, meu Deus, se eu pudesse acabar a separação
Pra nós viver igual a dois a sanguessugas
E nosso amor pede mais fuga do que essa que nos dão.”

 

Luke sabia que somente eu entenderia o recado por trás de sua postagem. Todos achavam que era algo aleatório, mas eu sabia exatamente o que ele estava querendo dizer com aquilo. Ele queria passar mais tempo comigo do que aquelas poucas horas que nos eram dadas durante os ensaios e estava com saudades. E que, sem ninguém perceber, o nosso sentimento se intensificava a cada dia. Luke, claramente, já havia percebido que eu estava confusa em relação a ele também. Eu não era capaz nem de controlar a merda do meu ciúme mais. Eu também estava com saudades dele. Muita. Hoje ainda era terça, mas podia ser segunda já.

Sem muito pensar nos meus atos, comentei sua postagem com três emoticons apaixonados e quatro mãozinhas batendo palmas. Não sabia ao certo o motivo, mas eu queria muito que Luke soubesse que eu tinha entendido o recado. Não demorou nem dois segundos para Luke curtir meu comentário. Eu estava sorrindo e senti que ele sorria do outro lado também.

— É, Nala… Sua mamãe está bem ferrada. - murmurei enquanto acariciava os pelos da minha cachorra. Nala me encarou com seus olhos piedosos ao ouvir seu nome e voltou a encostar a cabeça no meu colo.

E foi pensando em todo o turbilhão de emoções que estava acontecendo dentro mim que antes de dormir postei uma foto minha com a legenda “Ela é a tempestade disfarçada de calmaria.” Essa frase era capaz de definir bem meu atual momento de vida.

 

Quinta-feira.

— E essa tatuagem nova aí no joelho? - brincou Zang enquanto eu fazia a milionésima pose da tarde. Ele era meu amigo e um fotógrafo extremamente competente.  Eu sempre fazia alguns trabalhos de modelo fotográfica para ele.

— Pois é, corpo de bailarina é assim mesmo. Tem sempre uma novidade diferente... - preferi dizer isso do que confessar a forma bizarra e grotesca que consegui esse roxo. Deixa ele pensar que foi na dança mesmo.

— Agora coloque as mãos para cima na cabeça e faz aquele carão que só a Nataly Brooken sabe fazer. - nós estávamos no meio da BR, fazendo uma sessão de fotos. Zang adorava explorar os lugares mais inusitados para suas imagens. O trabalho final sempre ficava maravilhoso e surpreendente. Eu já tinha tirado uma foto sentada no meio da estrada, torcendo para não ser atropelada. Zang se certificou de escolher uma parte bem pacata de movimentação para aquele cenário. - Isso... Assim, muito bem! Valeu gata. Ficou perfeito, encerramos por hoje. - Zang guardou suas coisas e entramos no carro, seguindo de volta para a casa.

— Depois me manda todas, por favor? - pedi num tom quase implorativo.

— Vou pensar no seu caso.

 

Mais tarde Zang me enviou algumas fotos e eu estava boquiaberta com cada imagem que eu via. Todas as fotos tinham ficado lindas e estava difícil de escolher apenas uma delas para postar. Eu já tinha postado uma mais cedo, divulgando o trabalho de Zang e dos maquiadores, agora queria postar algo mais pessoal. Eu não parava de pensar em Luke, que aliás, tinha curtido todas as minhas postagens até o momento.  Escolhi uma foto que tiramos no estúdio, onde eu estava com uma blusa rendada preta e uma mão segurando a minha franja para que Zang focalizasse bem meu rosto.

Para essa imagem, Zang pediu que eu encarasse a câmera, como se estivesse tentando dizer algo para alguém com os olhos. Foi fácil. Eu sabia exatamente o que eu queria dizer e para quem eu queria dizer. Na legenda da foto escrevi: “Notas sobre ela - A cada dia ela é mais dela e menos o que esperam dela.”

A cada dia eu estava ligando menos para o que os outros pudessem pensar em relação a mim. Tinha alguma coisa acontecendo e eu precisava descobrir o que era. Eu estava pouco me lixando para as qbaboseiras que Erick tentava espalhar a meu respeito, ou o que iriam pensar sobre o fato de estar tão difícil separar minha vida profissional dos meus sentimentos. Assim como das outras vezes, logo que fiz a postagem Luke curtiu rapidamente. Porém, dessa vez ele foi além. Na foto ele deixou o comentário com um emoticon de um gatinho com dois corações nos olhos. “Gata” foi o que ele quis dizer.

May ficou enlouquecida. Logo após o comentário do meu aluno, ela escreveu “ Eitchaaaaaaa” e me enviou várias mensagens no whatsapp, em seguida.

“Maridaaaaaa! Me acode pelo amor de Deus! É impressão minha ou estou vendo duas pessoas jogarem em merda no ventilador em plena rede social?”

Olha uma coisa é certa, Luke Stewart é um cara de atitude” em seguida, ela mandou vários coraçõezinhos e mãozinhas batendo palmas.

“Já estou shippando”. Foi a frase final da destrambelhada. Eu nem tive forças para responder. Ainda estava sorrindo da ousadia do meu aluno. May tinha razão, o comediante era um menino de atitude.

 

Essa havia sido a primeira vez que Luke Stewart, oficialmente, tinha me enviado uma cantada explícita nas redes sociais.








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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Todo mundo há tinha se ligado nesse tiro da música do Luiz Gonzaga?
NAO DEIXEM DE CURTIR, COMENTAR E RECOMENDAR A FIC SE VOCÊ GOSTA DELA.

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