Capítulo 43 – Vale a pena.

George Weasley entrou no banheiro feminino com tudo, sem se importar se havia alguém no recinto. Seu peito subia e descia tanto pela adrenalina quanto pela corrida. Alguns pontos pretos apareceram em sua visão e o ruivo respirou fundo tentando estabilizar seu batimento cardíaco. Foi aí que ele viu uma cabeleira loira platinada.

— Malfoy. - ele sussurrou com os olhos arregalados e deu a volta na pia. - Malfoy! - dessa vez ele gritou e mais do que depressa se aproximou do sonserino. - Merda, merda, merda, MERDA! - gritava em desespero enquanto puxava o corpo de Draco para seu colo. O grifinório rasgou a manga de sua blusa e tentou parar o sangramento, sem sucesso. - Vamos, Malfoy! Acorda, acorda, ACORDA! - a voz do ruivo ecoava por todo banheiro e possivelmente o corredor. Estava desesperado, não conseguia pensar em nada a não ser fazer o loiro abrir os olhos. O corpo de Draco Malfoy estava gelado e mais pálido que o normal, mas ele ainda respirava. - Você não vai me deixar aqui, entendeu? ENTENDEU? - George havia deixado de pensar racionalmente - De novo não, de novo não! - ele tentava a todo custo curar as feridas com a varinha, mas não estava tendo sucesso. - ANGELINA! - ele deu um soco no chão, quase quebrando sua própria varinha.

***** 

Hermione corria pelo castelo com seus meninos logo atrás. Sabia, na verdade sentia, que algo de muito ruim estava acontecendo e isso envolvia Malfoy. Tinha em mente o local que precisava ir: o banheiro da Murta. 

— Mia? - uma voz a chamou e Hermione deu de cara com o peito do ruivo. - Por que está correndo tanto? O que aconteceu? - ele franziu a testa preocupado.

— E-eu não sei, acho que o Malfoy precisa de mim. - sua voz fraquejou e seu corpo tremia todo. Fred a abraçou com força e afagou seus cabelos se esquecendo de seu próprio objetivo.

— Respira fundo primeiro. Independentemente do que Malfoy precise, ele definitivamente não precisa de uma Hermione nervosa. - ele sussurrou. A castanha respirou fundo e fechou os olhos por dois segundos. Rony e Harry, ambos tendo dificuldade para respirar, permaneceram em silêncio, respeitando o momento do casal.

— Fred, eu tenho que ir agora. - ela se soltou do namorado / noivo. 

— Eu acompanho você. Vamos. - ele esticou a mão para ela e os dois voltaram a correr, com Harry e Rony ainda tentando acompanhar o casal.

***** 

— Ao menos fa-fale o nome certo, idiota. - sua voz era fraca e sentia seu corpo todo doer.

— Malfoy. - George o olhou aliviado por alguns segundos antes de juntar as sobrancelhas. - QUE MERDA VOCÊ ESTAVA PENSANDO? - o ruivo gritou sem perceber.

— Fa-fale baixo. - Draco sentia sua garganta ser arranhada a cada palavra que falava. Ainda não conseguia ver ou pensar direito.

— Suicídio nunca é a solução. - O ruivo falou e sentiu uma lágrima grossa escorrer pelo seu olho direito.

— Está chorando?

— Não se esforce muito, Malfoy. - George rapidamente enxugou sua lágrima sem entender o porquê de estar chorando por alguém como ele.

— Não me diga o que fa... - Draco não conseguiu terminar a frase. Seu corpo começou a tremer violentamente e o loiro perdeu os sentidos novamente.

— Merda, Malfoy! - o ruivo segurou o corpo do loiro com força contra seu peito em uma tentativa de fazê-lo parar de tremer.

— Afaste dele, Georgie. - a voz gentil de Hermione chegou até os ouvidos do ruivo. Ele continuou a segurar firme o corpo enquanto balançava para frente e para trás. Havia algumas lágrimas discretas que escorriam em seu rosto e ele parecia estar perdido em seus pensamentos. As imagens da morte de Angelina passavam diante de seus olhos. 

— De novo não. - George murmurava.

— Me deixe ajudá-lo, por favor. - a voz de Hermione falhou. A mão da castanha ainda tremia quando ela o tocou no ombro e George se esquivou bruscamente do gesto.

— Me ajudem. - Fred olhou significativo para Harry e Ron. Sabia que seu irmão estava em um lugar muito longe para poder ser alcançado e por isso precisariam usar a força. O gêmeo rodeou os braços em volta do corpo do irmão enquanto os outros dois seguravam os braços. 

— Não, não, NÃO! - George se debateu.

— George, me escuta! - Fred falava alto. - Ele não é a Angelina! Não é! 

— Angel... - George soluçou e finalmente soltou Malfoy que novamente estava pálido e frio. 

— Eu vou chamar ajuda. - Rony saiu correndo enquanto Hermione se ajoelhava ao lado de Malfoy e usava todos os feitiços que conhecia para tentar fechar as feridas do sonserino.

— Respira, Hermione, respira. - a castanha falou para si mesmo. Ela fechou seus olhos e tentou se concentrar nas batidas lentas de Malfoy. Só sua magia não era o suficiente, precisava de mais, muito mais. Hermione precisava de seus poderes de anjo. 

O ar em volta da castanha ficou mais leve. Ela respirou fundo e tentava manter seu próprio batimento cardíaco estável. Concentrou toda sua força e energia em seu coração. Tudo que precisava, tudo que queria era salvar Malfoy. Porque toda vida vale a pena.

I remember tears streaming down your face
When I said: I'll never let you go

(Eu me lembro das lágrimas escorrendo pelo seu rosto quando eu disse: Nunca te deixarei ir embora)

A letra da música era perfeita para o que estava sentindo. Hermione fechou os olhos e cantou baixinho o primeiro trecho da música. A própria castanha não notou, mas sua voz estava diferente. Era uma voz suave, porém poderosa.

When all those shadows almost killed your light

(Quando todas as sombras quase acabaram com a sua luz)
I remember you said: Don't leave me here alone

(Eu lembro quando você disse: Não me deixe aqui sozinho)

Fred observou seu irmão se acalmar assim que Hermione começou a cantar. Era a segunda vez que ouvia o canto dos anjos e não menos surpreendente. O ruivo olhava para sua amada com orgulho: ela havia conseguido usar seu poder de cura.

Hermione colocava em cada palavra todos os seus sentimentos. Fixou seu olhar no rosto pálido de Draco com esperança e rezava para que não fosse tarde demais. 

But all that's dead and gone and passed tonight

(Mas tudo está morto e acabado e já passou nessa noite)

George mantinha o olhar perdido. Seu peito estava pesado e seus braços e pernas estavam sujos de sangue. Repetiu várias e várias vezes na cabeça de que Malfoy não era Angelina. Mesmo assim, ainda sentia uma vontade enorme de chorar. O ruivo levantou o olhar até encontrar o rosto de Draco. Definitivamente ele não era Angel. Mas então por que seu coração se apertava com a ideia de não poder ver os olhos cinzentos novamente?

Just close your eyes
The sun is going down

(Apenas feche seus olhos
O sol está se pondo)

A voz de Hermione foi ganhando força e logo sua voz ecoava pelo lugar, alcançando milhares de corações em Hogwarts. 

Muitos alunos já se encontravam em silêncio na porta do banheiro. Foram atraídos pela voz angelical e quando se depararam com a cena, travaram sem saber o que fazer. Logo os professores e Dumbledore também estavam ali, graças a Rony, mas mesmo assim, optaram por não fazer nada para que não atrapalhassem Hermione.

You'll be alright
No one can hurt you now

(Você ficará bem

Ninguém pode machucá-lo agora)

Fred sabia o que precisava fazer e aparentemente, Harry também. Os dois trocaram olhares antes de levantarem suas varinhas e realizarem o único feitiço que poderia ajudar Hermione e Draco: o feitiço do Patrono. A coruja e o enorme cervo rodearam a grifinória que olhou para os dois agradecida. Seus olhos estavam dourados e suas asas estavam para fora.

Pequenos múrmuros pode ser escutado nos corredores. Afinal, para muito deles, era a primeira vez que viam um anjo caído. Alguns alunos seguiram o exemplo de Fred e Harry e realizaram o feitiço do patrono. 

Come morning light
You and I'll be safe and sound

(Ao chegar a luz da manhã

Nós ficaremos sãos e salvos)

Nada mais importava naquele momento. Draco Malfoy era seu único foco. Não conseguia entender o porquê de ter conseguido usar seu poder de cura justo com Malfoy, mas estava um pouco feliz por ter feito tal coisa. Conforme a melodia ia saindo, a cor ia voltando para o rosto do loiro. Ela olhou para o braço esquerdo dele e viu que um por um, os cortes iam se fechando. 

Don't you dare look out your window

Darling, everything's on fire

(Não se atreva a olhar pela janela

Querido, tudo está em chamas)

Hermione podia sentir seus olhos dourados e suas asas de fora. Já não se importava mais com o uniforme rasgado, muito menos com a quantidade de pessoas que estava a escutar.

Tudo que queria era trazer a vida de volta ao Malfoy. Porque toda vida vale a pena.

The war outside our door keeps raging on
Hold on to this lullaby
Even when the music's gone
Gone

(A guerra do lado de fora da nossa porta continua devastando

Agarre-se a essa canção de ninar
Mesmo quando a música tiver acabado
Acabado)

Uma segunda voz acompanhou Hermione e a castanha sorriu levemente ao reconhecer Hope que abria caminho na multidão. A pequena cantava firme, porém cantava normalmente. Sabia que havia a possibilidade muito grande de que não conseguisse usar seu poder de cura novamente, mas mesmo assim, cantava normalmente apenas para dar força a Hermione. 

Pouco a pouco, os alunos que conheciam a letra passaram a cantar com as duas. Era uma cena bonita. Patronos dançavam em volta de Hermione e Draco enquanto as vozes daqueles que cantavam ecoavam pelo castelo todo. Todos com o mesmo objetivo: Salvar Draco Malfoy. 

Porque toda vida vale a pena.

E por cada vida, eles lutariam.

Não, não era tarde demais.