Asas douradas - Fremione escrita por Lumos4869


Capítulo 44
Capítulo 44 - Egoísmos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/750439/chapter/44

 

 

Capítulo 44 – Egoísmos

A pequena criança loira observava com seus enormes olhos cinzentos as nuvens passarem por cima de si. Estava deitado em uma parte do enorme jardim de sua casa a um tempo. Tinha tudo que uma criança sonhava: brinquedos de todos os tipos, uma casa enorme com um jardim igualmente enorme. Sua família era uma das mais respeitadas e poderosas do mundo mágico, mas mesmo assim o menino permanecia descontente. Do que adiantava ter tudo isso quando a única coisa que desejava não podia ter?

O pequeno Draco se sentou no gramado bufando quando ouviu seu nome ser chamado por sua mãe. Teria que ir à mais uma festa chata que seu pai havia sido convidado. Não gostava das pessoas que sempre estavam nesses eventos. Ele se levantou e bateu levemente em sua roupa para tirar os poucos gramados que havia grudado. Foi caminhando lentamente para sua casa com suas pequenas mãos para trás.

— Draco, obedeça sua mãe e vá se arrumar. – a voz fria de seu pai chegou ao seus ouvidos e o pequeno estremeceu. – Não quero saber de graça na festa de hoje, estamos entendidos?

— Sim, meu pai. – a criança respondeu sem encontrar os olhos do mais velho.

— Agora vá. – Lucius bateu sua bengala no chão e o pequeno saiu correndo.

Draco colocou sua mão e em seu peito e sentiu seu coração bater forte. A presença de seu pai em casa causava efeitos nele e seu corpo se retraia toda vez que o patriarca se aproximava demais, pois na maioria das vezes era para ser punido. O loiro passou por um dos milhares de espelhos da mansão e suspirou.

Tudo que queria era o amor de seu pai.

Draco observou essas imagens passaram em sua mente. Era uma lembrança que já não se recordava. Era irônico pensar que tudo que queria antes era tal amor quando hoje, tudo que queria era distância. Sempre ouviu falar que a vida passava diante de seus olhos quando a morte estava perto, mas para Draco, tudo o que ele menos queria agora era reviver essas lembranças. Havia errado demais.

— Moço, você está bem? – uma voz o assustou e Draco percebeu que o tempo todo estava apenas de olhos fechados. Se deparou com uma criança, uma menina para ser mais específico, que puxava levemente seu dedo. – Não deveria se culpar tanto.

— Está perdida? – a voz rouca do loiro saiu com dificuldade e este colocou sua mão direita em cima da cabeleira loira da menina.

— Não acha que eu quem deveria estar fazendo essa pergunta? – a menininha riu.

— Esperta você. – o loiro sorriu. – Onde estamos?

— Alguns chamam de Vida. Outros de Morte. – a criança respondeu enquanto segurava a mão firme do loiro.

— Então deveria eu chamar isto de morte? – sussurrou mais para si mesmo.

— Moço, poderia descer aqui um pouquinho? – a menina dos olhos claros pediu. Draco se permitiu a dar um meio sorriso e agachou para que ficasse do tamanho dela. Ela sorriu abertamente e colocou sua mãozinha no peito dele.

— O que está fazendo? – ele perguntou curioso.

— Estou sentindo seu coração. – a menina falou concentrada. – Ele está fraco.

— Eu sei. – ele sussurrou.

— Mione ficaria triste em te ver partir. – ela falou e deixou o sonserino surpreso.

— Seu nome... – Draco arregalou levemente os olhos. - ... seria Lyra?

— Uhum, bonito né? – ela sorriu e ele sentiu os olhos encherem de lágrimas. – Moço, não chora. – ela o olhou preocupada e ficando na ponta dos pés, ela encostou a testa na testa do maior. – Não deixe que isso te entristeça. Você tem o coração bom, eu posso sentir. Muitas vezes não vai ser fácil, mas eu vou estar aqui e eu vou te amar não importa o que aconteça.

— Me amar...? – ele sussurrou sem poder controlar as lágrimas. Ali estava a criatura mais pura e inocente dizendo que o amava.

— É claro que sim. – ela se afastou e sorriu. – Você é o meu irmão, não é moço?

— Ó céus. – ele soltou e a abraçou com força.

— Seu coração está forte agora. – a menininha constatou. – Está na hora de voltar, moço. – ela o apertou.

— Não posso ficar aqui com você? – ele perguntou sem desfazer do abraço.

— Ó não, seria egoísmo meu te manter aqui. – ela falou. – Não desista.

— Não vou. – ele falou firme apesar de seu corpo tremer. – Obrigada, Lyra.

— Seja forte e se permita a ser feliz. – ela se afastou e segurou com suas pequenas mãos o rosto dele. Draco sentiu seu coração se apertar, sinal de que ainda estava vivo. Sorriu totalmente leve pela primeira vez e viu a imagem da menina sumir aos poucos.

*****

— Água. – foi a primeira coisa que conseguiu dizer quando conseguiu. Sentia sua garganta seca e a luz em seus olhos o incomodava.

— Aqui. – uma voz respondeu e logo um copo com canudo foi oferecido a ele. – Como está se sentindo?

— Como se a morte tivesse passado por mim. – ele respondeu e Hermione riu levemente. A castanha tinha a aparência cansada e seus cabelos pareciam mais volumosos que o normal. – Eu... – ele começou meio confuso.

— Não precisa se desculpar ou agradecer, Malfoy. – ela falou gentilmente e se sentou na ponta da cama. – Eu fiz o que tinha que ser feito e faria tudo de novo se fosse preciso.

— Por quê? – ele precisava perguntar. Por que ela o havia salvado quando ele menos merecia?

— Porque você merece ter a chance de ser feliz, Malfoy. – ela falou. – Porque quero mostrar a você que ainda há esperanças e que mesmo que você não tenha mais forças ou vontade de viver, eu lutarei por você. – Hermione sussurrou.

— Porque toda vida vale a pena. – Malfoy sussurrou e a castanha sorriu. – Ela é linda. – ele falou esperando que ela entendesse. Hermione o encarou e levou apenas alguns segundos para que ela entendesse a quem ele estava se referindo.

— Eu sei. – ela sorriu. – Ela se parece com você, sabe.

— Obrigado, Granger. – Draco esticou o braço e tocou com a ponta dos dedos o braço da castanha. – Por ter me dado uma segunda chance. – Hermione sorriu com o toque e as palavras antes de se levantar da cama. – Eu fiz tanta merda...

— Eu sei do que fez, Malfoy. – a castanha abriu as cortinas do quarto deixando que a luz do sol iluminasse o ambiente. – Hope me falou e eu quero que saiba que nenhum de nós te ressentimos.

— Como conseguem perdoar tão rápido? – ele sussurrou.

— Acreditamos em um futuro melhor, Draco. – Hermione falou gentil. – Eu não sabia o que fazer com as cicatrizes. – ela explicou quando o loiro direcionou o olhar para seu braço esquerdo. – Eu posso curar se você quiser.

— Não, tudo bem. – ele falou. – Quero poder olhá-las e me lembrar de que eu preciso ser mais forte que isso. Essas cicatrizes fazem parte de quem eu sou. – o loiro respondeu e quase sentiu orgulhoso de sua resposta.

— Assim seja então. – ela respondeu. - Há um outro alguém que deseja falar com você. – a castanha ajeitou suas roupas antes de dar um aceno em direção a ele e se retirar do quarto. Podia perceber que algo em Malfoy havia mudado. Havia brilho nos olhos dele.

Draco suspirou e voltou a olhar para suas cicatrizes. Lembrou-se de sua mãe. Estaria ela bem? Sentiu seu peito pesar ao pensar que sua mãe poderia estar morta por causa do egoísmo por parte dele.

— Por que não me deixou ir? – o loiro questionou já sabendo quem estava parado ali na porta.

— Porque era como se eu estivesse perdendo Angelina de novo. – a voz do ruivo saiu mais rouca que o normal.

— Mas eu não sou a Johnson.

— Eu sei. – o ruivo suspirou e se aproximou da cama. Draco ainda olhava cada uma de suas cicatrizes. – Talvez fosse egoísmo meu.

— Egoísmos. – ele sussurrou. – Somos dois fodidos, hun? – ele sorriu irônico.

— O que pensa em fazer depois? – George se sentou na ponta da cama e Draco finalmente o olhou.

— Vou consertar as merdas que fiz. – ele respondeu. – Weasley, eu...

— Foi você quem envenenou meu irmão, não é? – o ruivo o interrompeu e Draco abaixou o olhar.

— Não foi minha intenção. Eu... Como sabe disto? – o loiro perguntou ainda de cabeça baixa.

— Tinha apenas teorias, mas agora tenho sua confirmação.

— Eu sinto muito. – Draco falou sincero e George o olhou. – Eu tinha que cumprir a missão de Voldemort e matar Dumbledore. N-não tive escolhas. Precisava manter minha mãe segura e eu não sabia mais o que fazer. – O loiro começou a tremer e passava suas mãos em seu cabelo de forma nervosa. – O tempo estava esgotando e a pressão aumentava. O pior era que eu sabia desde o início que eu iria falhar. Eu contra Dumbledore? – ele riu irônico. – Nem com a varinha mais poderosa eu seria capaz de vencê-lo e...

— Está tudo bem, Malfoy. – George segurou gentilmente os pulsos do loiro que ainda tremia. – Se acalme, okay? Não estou aqui para te julgar.

— Mas que quero que me julgue! – Draco perdeu o controle e se debateu tentando soltar seus pulsos. – Me culpe, Weasley! Por Merlin, eu quase matei seu irmão e a menina Lovegood! Por que vocês não me culpam? Por quê?! – a voz dele era carregada de angústia.

— Malfoy, se acalme. – George o olhava preocupado enquanto fazia força para manter o loiro no lugar.

— Não me peça para me acalmar! Eu fiz muita coisa errada, por céus! Por que eu ainda estou aqui? Por que teve que me salvar, Weasley? – lágrimas escorriam dos olhos cinzentos e ele respirava com dificuldade.

George estava em choque. Malfoy se debatia e continuava a dizer coisas cada vez mais sem sentido enquanto lágrimas escorriam. O quão quebrado estava Draco Malfoy? O ruivo precisava fazer alguma coisa e ele fez: George abraçou os pedaços de Draco.

— Não me toque, Weasley. – o loiro sussurrou fraco enquanto tentava sair do abraço. – Não me... – ele não terminou a frase e apenas continuou a soluçar.

— Deixe fluir, Malfoy. – George sussurrou sentindo o sonserino se acalmar aos poucos. – Chore o quanto precisar.

— Cala a boca. – a voz dele saiu sufocada devido ao abraço e o ruivo riu levemente.

— Realmente somos dois fodidos, hun? – o gêmeo comentou e sentiu um leve soco vindo do loiro.

*****

Nina andava pelos corredores de Hogwarts com o destino já em mente. Já estava acostumada a fazer esse caminho quase todas as noites, porém desta vez era a última vez que fazia isso. Logo a porta que levava à enfermaria de Hogwarts foi avistada pela sonserina que parou e fechou os olhos. Seu peito doía e suas mãos suavam. Contou até dez para que retomasse seu caminho e parasse em frente a porta. Bateu duas vezes e antes mesmo de esperar por uma resposta, Nina entrou no lugar.

— Já esperava que viesse. – Nick falou sem levantar os olhos do livro. – Veio para o chá novamente, Nina?

— Talvez. – ela sorriu levemente e caminhou até o anjo. Tornou-se costume vir até a enfermaria quase todas as noites para tomar uma xícara de chá. Logo o cheiro da bebida invadiu suas narinas. – Earl Grey?

— O seu favorito. – o rapaz respondeu e lhe entregou a xícara. Guardou o livro no gaveteiro da mesa e indicou a cadeira à sua frente para que ela sentasse.

— Obrigada. – Nina agradeceu e se sentou.

— Consigo notar sua inquietação, tem algo acontecendo? – Nick perguntou curioso. Passou muito tempo a observando e por isso aprendeu também suas manias.

— Você sabe o que é o amor, Nick? – ela questionou e o encarou.

— Amor? – ele perguntou surpreso.

— Sim. – ela segurou a xícara com força. – Pelo o amor, nós mudamos. Aprendemos a lidar com os erros e os acertos. Pelo o amor, nós lutamos e protegemos e principalmente, nós sacrificamos. – Nina citou.

— O que quer dizer com isso, Nina? – ele perguntou confuso.

— Não há como negar, Nick. – ela sorriu um pouco triste. – Eu amo você. – ela foi direta e observou as reações dele.

— Me ama...?

— Sim, com todo o meu coração. – a sonserina deixou a xícara na mesa e se levantou da cadeira, ficando de pé ao lado do anjo. – Nunca foi minha intenção me apaixonar, mas foi inevitável. Você esteve ao meu lado nos momentos que eu mais precisei. Foi você quem me deu coragem o suficiente para lutar contra Adams. Foi você quem cuidou de mim quando nem mesmo eu me importava comigo mesmo. Foi você quem me acolheu e me fez sentir segura. – ela segurou o rosto dele com delicadeza e notou a mistura de sentimentos no olhar dele. – Mas somos perfeitamente errados um para o outro.

— Como pode ter a certeza disso? Eu...

— Não me ame, Nick. – ela o cortou. – Sinto muito, eu nem sei se era isso que você iria falar. – ela corou levemente. – Eu amo você, mas não quero que me ame. Sei que você ama seus amigos e daria sua vida a eles, certo? – Nick balançou a cabeça positivamente já que Nina tampava sua boca com uma das mãos. – Eu faria o mesmo pela minha família. Eu sei que eles não são os melhores do mundo, mas são minha família e eu os amo. É por isso que não pode existir um “nós”. – ela sussurrou de olhos fechado. – Fomos feitos para quebrar. Eu sei que é egoísmo meu por estar falando tudo isso, mas eu precisava tirar isso de meu peito. – Nina respirou fundo. Não iria chorar. – Quero que me escute com atenção, okay? – ela beijou a testa dele. – Se liberte, Nick. Eu não sei ao certo o que causou a culpa que você carrega em seu coração, mas não deixe que a angústia te controle. Eles vão precisar de um Nicholas forte. Se permita a ser feliz. – ela sorriu e ficou alguns segundos observando os traços dele. Ali, diante de seus olhos, estava sua felicidade. Nick era puro e bom demais para alguém como ela. Além do mais, em tempos como esse, sacrifícios eram necessários e ela o protegeria até quando puder. – Obrigada, Nick. Obrigada e adeus. - Foi com esse sentimento pesado no peito que ela deu as costas e se afastou. Nina não deu mais de cinco passos quando foi envolvida por um par de braços. 

— Não vá ainda. – ele sussurrou próximo de seu ouvido e Nina sentiu seu corpo estremecer. – Não acha injusto você dizer o que sente e ir embora dessa forma?

— Nick...

— Você é uma mulher forte, Nina. Eu aprendi cada gesto seu. Você me surpreende toda vez e eu te admiro cada vez mais. Talvez admiração não seja a palavra certa para descrever o que eu sinto toda vez que eu te vejo e infelizmente eu não sou muito bom com palavras. – Nick sentia seu coração se apertar. – Como pode ter a certeza de que fomos feitos para quebrar quando nem ao menos tentou?  - ele tampou com uma de suas mãos os olhos dela e puxou a cabeça levemente para trás. - Me deixe entrar, Nina. Me ensina a te amar. 

— Me deixe ir, Nick. - Nina perdeu a luta contra suas lágrimas e deixou que algumas escorressem.

— Fica. - Nick sussurrou. Mesmo que não conseguisse compreender por completo o que estava sentindo, sabia que não podia deixá-la ir. 

— Minha família precisa de mim. Pansy precisa de mim. - ela sussurrou. - Por favor, me deixe ir.

— Fica por esta noite, Nina. – ele a apertou mais ainda no abraço. Sabia que não conseguiria prendê-la ali para sempre, mas queria atrasar sua partida nem que fosse por um minuto. – Só por essa noite.

— Só por essa noite. – Nina deixou que mais algumas lágrimas caíssem e se virou ficando de cara com Nick. Sabia que precisava ir embora e que depois seria pior para partir, mas decidiu escutar a voz de seu coração e ceder a seu próprio egoísmo. – Só hoje. – ela sussurrou antes de Nick selar seus lábios com o dela.

O beijo tinha gosto de lágrimas, de tristeza, de carinho e paixão. Eles só tinham aquela noite para se amarem.

E se amaram.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Asas douradas - Fremione" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.