Cartas x de x Natal escrita por Jude Melody, Ariane Munhoz
Os olhos âmbares brilhavam de empolgação. As mãos chegavam a tremer de nervosismo. Gon fitou o papel, confirmando o avanço do dia:
Oi, Kurapika!
Bom, muito bom. Agora só faltava o resto. Fora ideia dele trocar cartas de Natal; não podia vacilar agora. Mas, por algum motivo, parecia tão difícil colocar as palavras no papel. O Kuruta era um jovem discreto e reservado. Gon não desejava escrever nenhuma besteira. Estava mordendo a ponta do lápis quando Mito entrou no quarto para guardar as roupas.
— Como está indo?
— Ah, mais ou menos. Não sei o que escrever para o Kurapika.
— Estava falando de seus deveres de casa. Já terminou?
O garoto esboçou seu melhor sorriso inocente e empurrou os livros para debaixo da mesa com o pé.
— Está quase tudo pronto!
Ela cruzou os braços.
— Você não fez nem a metade, não é?
— Mito-san...
— Bom. — Ela fez uma pausa. — Sobre a carta, apenas seja você mesmo. Tenho certeza de que é isso que o seu amigo quer. E depois o dever de casa!
— Mito-san!
Gon esperou a tia sair do quarto e encarou o papel.
— Muito bem. Primeiro é pedra. Não, espera... Vamos escrever!
Oi, Kurapika!
Tudo bem com você?
Espero que esteja tudo bem. Estou morrendo de saudades, sabia? Faz tanto tempo que eu não te vejo e tenho tanto para te contar! Eu encontrei o Ging, você soube disso? Ele é um cara tão legal. Meio louco, mas super legal. O Leorio não gosta dele por algum motivo que ainda não compreendi. Há alguns dias, nós conversamos (eu e o Ging, quero dizer) no topo da árvore mais alta do mundo. Foi incrível demais! Mal posso esperar para voltar lá de novo!
Recostou-se na cadeira. Mal começara, e a carta já estava uma bagunça. Mas Gon estava apenas seguindo o conselho de Mito-san e sendo ele mesmo.
Na verdade, eu não queria falar sobre mim. Você ainda está procurando os olhos, não é? Tem sido difícil? Você quase não fala com a gente; não sei nem por onde esteve nos últimos meses. Espero que esta carta chegue em suas mãos, porque... porque eu quero muito que você saiba que é lembrado! Não importa para onde vá, tenha certeza de que eu, o Leorio e o Killua sempre vamos nos preocupar muito!
Por falar no Killua, sabia que agora ele está passeando pelo mundo com sua irmãzinha? Ela é muito legal. O nome dela é Alluka. Tem a Nanika também, mas essa é uma história complicada demais para explicar por carta, e o Killua meio que queria guardar segredo e... opa... Elas são legais! Tenho certeza de que vão adorar você!
O Leorio, eu não sei onde está, não recebi a carta dele ainda, mas imagino que esteja ocupado com a faculdade. E eu, bom, eu voltei para a Ilha da Baleia e estou passando um tempo com a minha tia Mito. Acredita que ela me entregou uma montanha enorme de dever de casa para fazer? É muito chato! Eu queria tanto correr pela floresta e pescar no lago, mas preciso ficar fazendo esses exercícios de álgebra, sendo que não entendo nada! Seria tão bom se você estivesse aqui para me ajudar. Eu poderia te apresentar à Mito. Tenho certeza de que ela ia adorar te conhecer.
Fez uma pausa, brincando com o lápis. Os dedos doíam um pouco. Há semanas, todas as atividades de Gon resumiam-se a escrever páginas e mais páginas de respostas. O Exame Hunter fora tão mais fácil!
Espero que algum dia a gente possa se encontrar de novo e se divertir bastante. Sei que a recuperação dos olhos é sua prioridade agora, mas não se esqueça de nós, está bem? Somos seus amigos e te amamos muito, Kurapika. Nós só queremos o seu bem. E, quando todos os olhos tiverem sido recuperados e seus parentes puderem descansar em paz, iremos em uma nova aventura, como nos velhos tempos! Vai ser muito legal!
Gon releu o que escrevera até então. Repetira a palavra “legal” trezentas vezes. Não era à toa que Mito-san dizia-lhe para aumentar seu vocabulário.
Por isso, Kurapika, nunca se esqueça da gente. Ou nós vamos atrás de você, viu?
Com amor,
Gon
Inspirou fundo, sentindo o deleite de um trabalho cumprido. Pôs o papel dentro do envelope e preencheu os dados do Correio Hunter. Pretendia despachar a carta logo na manhã seguinte.
— Conseguiu escrever, Gon? — perguntou Mito, recostando-se no batente da porta.
— Ah, consegui, sim! Espero que o Kurapika goste!
— Ele vai gostar. Afinal, é seu amigo, não é?
Gon fitou o envelope, lembrando-se das últimas expressões que vira no rosto de Kurapika.
— É. Ele é.
— Ótimo. Volto daqui a uma hora para conferir seus deveres.
— Ah... Mito-san!
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