Sekai no Sozokujin: Laços mais que eternos. escrita por SabstoHoku, FrancieleUchihaHyuuga


Capítulo 11
Todo dia.


Notas iniciais do capítulo

Heeeey!!! Volta eu aqui com o capítulo 11 dessa temporadaaaa!!! Sei que enrolei um pouco para terminar, mas espero que gostem.
❤️



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Diga que você ama alguém novo

E bata no meu coração até estar preto e azul

Eles partem, e sou eu a quem você volta 

Para dizer que você me amou o tempo todo

E para beijar os machucados até eles irem embora

Agridoce, porque eu não consigo respirar dentro de seus braços

 

Porque se você for embora, melhor ir, melhor ir logo

Não posso viver mais um minuto com minhas costas sangrando

Porque eu não tenho outras para você esfaquear

E eu não quero ter outro ataque cardíaco

 

Oh, eu não posso ser seu amante na coleira

A cada duas semanas, quando quiser

Oh, eu não posso ser o beijo que você não precisa

A mentira entre os dentes

O corte que sempre sangra”

 

The cut that always bleeds, Conan Gray.

Sakura atendeu a porta. Sasuke estava certo. 

—Quem você vai levar desta vez? —Ela questionou. Sasuke suspirou, entendendo de uma vez só a mensagem. 

—Ninguém. —Disse, tentando usar o tom monótono de sempre. Falhou naquilo, entretanto - o semblante cansado que carregava também se demonstrava na voz. 

—Certo. —Respondeu a mulher, abrindo a passagem. Ninguém estava em casa senão ela - os gêmeos, em parte por culpa dele, estavam em missão. 

Naruto, em parte por culpa própria, estava no trabalho. E não sairia tão cedo. Sasuke sabia daquilo. 

—Sakura… 

—Não pode passar aqui toda vez que alguma coisa der errado. 

Ela também estava certa.

Não era a primeira vez. Nem a segunda. Ele não conseguiria dizer "Eu sei." Ela o conduziu até a sala (de certa forma, Sasuke se conduziu sozinho, mas pouco importava), e ambos sentaram-se no sofá.

—Nós discutimos. 

—Eu sei. 

Ela entendia. Sob a luz do cômodo, ele percebeu que compartilhavam a mesma expressão facial naquele momento. As coisas não estavam bem. 

—Você saiu depois da discussão, não foi? 

Um aceno de cabeça serviu como resposta. Ele não gostava de mentir - muito embora o fizesse - e não queria confessar que, na verdade, talvez tivesse saído no meio. 

—O que ela disse? 

—Ela queria saber sobre o dia em que saí da vila. 

Sakura soltou um som seco. Talvez fosse uma risada de amargura. 

—Qual deles? —A piada não era bem vinda, mas era inevitável. Ela respirou fundo, encarando-o. 

—O dia em que Hitomi… 

—Ela queria saber sobre Toshiko. —A Haruno o cortou. Sasuke a encarou de volta, tentando não reagir com surpresa. —Eu não sou idiota, Sasuke. Ela também não. 

—Toshiko não tem nada haver com isso. 

Sakura levantou uma das sobrancelhas. 

—É claro. 

O Uchiha encarou o ambiente - a sala dos Uzumaki era espaçosa e clara, paredes em tom de branco e bege, com um piso de madeira muitíssimo bem-cuidado. O sofá creme, dividido em três partes, confortável, parecia capaz de engoli-lo por inteiro, e ele não poderia dizer que não merecia aquilo. A mesinha de centro, redonda e transparente pelo vidro, parecia diminuta diante daquele espaço, e o vaso de porcelana laranja que jazia ali em cima era colorido e frágil demais para que ele pudesse tocar. 

A análise repentina não fazia sentido. Conhecia bem cada um daqueles cantos. 

—Hinata disse que eu fujo. —Ele murmurou, sério.

—Você está aqui. —Sakura constatou, óbvia. Sasuke mirou os olhos negros nela. —E não esteve lá por tempo demais. 

—Naruto também não está aqui. 

—É sobre Naruto que quer falar? Tem certeza disso? —O sorriso pesaroso aberto por Sakura era, no mínimo, acusatório, senão suspeito. —Ao menos ele tem alguma justificativa. 

—E mesmo assim você está sozinha. 

—E você acha que não tem culpa nisso? Quem teve a ideia de mandar os meus filhos embora? 

—Eu não os mandei embora. —Contestou. 

—Mandou. Junto com a sua filha. Porque quando você não quer ir, decide que é hora de mandar alguém no seu lugar. 

No fundo, aquilo doeu de alguma maneira. Mas ele, impassível como sempre, fingiu não sentir. 

—Eu não fiz nada. 

—Realmente. 

Eles se olharam. 

—Sakura, o quê você acha que sabe? O que todos acham que sabem? 

—Ninguém acha, Sasuke. Todos nós sabemos. 

—Não sabem de nada. 

—Quem você acha que engana além de si mesmo? 

Ninguém. 

—Eu não estou enganando. Eu nunca quis… 

Nunca quis? —Sakura se levantou de súbito, andando impacientemente pela sala. —Então o quê aconteceu quando tínhamos 13 anos? Aquilo foi um sonho? Pareceu bem vívido pra mim. E depois, quando tínhamos 16. E então, pela última vez, aos 19. Agora você tem 35 e continua agindo como quando nos conhecemos. Você não percebe? 

—Vai dizer que fui embora também. 

—Não foi isso que você fez? Doeu em mim, e eu sequer posso dizer que fiquei surpresa. Naquela época eu achei… Achei que poderia ficar tudo bem. Poderíamos ser nós. Nós dois, nós três, eu não sei, Sasuke! —A indignação naquela voz era cortante. Os pés de Sakura faziam barulho pelo chão conforme ela ia e voltava, ainda que estivesse descalça, e Sasuke sabia o suficiente para entender que o motivo era a força com que a mulher pisava. —E se fosse só eu… Mas não era. 

—Não fale sobre… 

—Ao menos eu tentei. —A médica disse. Sasuke soube, naquele exato momento, que aquele era um argumento que ele não poderia rebater. Não existiria Susano'o capaz de protegê-lo de algo como aquilo. Seu olhar varreu a sala novamente, agora focando nas fotos que decoravam as paredes, nas molduras pousadas ao lado da TV, os cabelos claros, os sorrisos que tanto se pareciam entre si, os olhos brilhantes, a felicidade genuína que estampava os momentos capturados. Existia alegria ali antes daquilo, antes daquele dia, e ainda que se apresentasse escassa às vezes, era real. Não que Sasuke não a conhecesse - ele conhecia, e talvez simplesmente não se tivesse deixado sentir. 

Se levantou, ajeitando as próprias roupas amassadas, decidido.

—Você conseguiu. — E era verdade. 

Do lado de fora, o barulho ouvido foi o de algo se quebrando. 

.¸¸.•´¨`•.¸¸.•*

Kakashi estava exausto. 

E não que de fato viesse fazendo algum trabalho exaustivo nos últimos dias - porque não estava, e sua suposta aposentadoria era mais tranquila do que achava que seria - mas, ainda assim, sentia-se mais cansado que na época de Hokage. 

Após 20 anos desde que tudo começara, seus alunos ainda o deixavam exausto, e ele sequer teria a cara de pau de negar. Abriu a porta do escritório lentamente, encostando-se no batente, com as mãos nos bolsos. 

—Naruto, vá para casa. 

—Não posso. —Rebateu o loiro, parecendo ainda mais exausto que o antigo professor. Kakashi suspirou. 

—É claro que pode. 

—Tenho cinco relatórios pra fazer. —Justificou, tirando alguns papéis de uma das pilhas ao lado da mesa. O Hatake ajeitou os cabelos arrepiados, numa forma de expressar o estresse, e deu alguns passos para dentro da sala, parando em pé no centro e encarando a figura encurvada de Naruto.

—Você sabe que são 02:15 da madrugada, não sabe? 

—O quê? —Ele não parecia ter absorvido bem aquela informação. Na realidade, Kakashi duvidava que ele tivesse ouvido. 

—São 02:15, Naruto. De Sábado. 

Naruto soltou uma risada rápida. 

—Para de brincar, Kakashi-sensei. —Aquela forma de tratamento jamais sumiria. Não que Kakashi quisesse que sumisse, de qualquer forma. —Acabou de dar 00:20. Não dá pra ser 02:15. O relógio da sua casa deve estar adiantado. 

—E quanto tempo faz que era 00:20? 

—Hmmm… Uns três relatórios atr… —Ele se ajeitou na cadeira, grudando as costas no encosto pouco reclinável, parecendo pensar naquilo. Kakashi notou profundas rugas de expressão e bolsões escuros abaixo dos olhos claros. Ele sorriu, parecendo enfim perceber o passar do tempo e, se não fosse pela altura e pelas marcas que cobriam seu rosto, o professor quase conseguia enxergá-lo como a criança que fora. Esquecido, atrapalhado e esforçado. Aquele era Naruto. —Ah… Eu não… Percebi, dattebayo. 

Ah! E ali estava o dattebayo. Kakashi teve o impulso de sorrir ao ouvir aquilo, mas conteve-se. 

—Não pode manter essa rotina. —Observou o sensei. —Está acabando com você. 

—Eu posso lidar com isso. 

—Você sim. E quanto aos outros? —Questionou, enquanto observava o outro homem se levantar e espreguiçar-se de maneira sonolenta. —Como fica quem tem de lidar com você? 

E aquilo o incluía, é claro. Naruto olhou pela janela, parecendo observar a vila em constante expansão, culpada por quase todos aqueles papéis nas beiras de sua mesa e de sua sala. 

—Eu não quero machucar ninguém. —Murmurou, sério. 

—Eu sei que não. —Concordou o outro, agora apoiando um pouco o corpo na mesa, ficando de costas para o Uzumaki. Cruzou os braços, pacífico como sempre. —Mas nem sempre as coisas percorrem o caminho que queremos, Naruto.  

Kakashi poderia fazer uma palestra sobre aquilo se bem quisesse, apenas usando de base as próprias experiências de vida. Não duvidava que Naruto também pudesse, de qualquer forma. Entretanto, os 14 anos que o separavam do antigo aluno eram muito mais que mera conveniência, de modo que chegara a viver um período que Naruto jamais veria, um mais selvagem, onde a crueldade era mais comum que a bondade. Ainda que Naruto tivesse provado aquele gosto amargo, passar pela guerra não era crescer na guerra, embora o Hatake passasse longe de contestar toda a dor que aquele eterno menino loiro tinha guardada dentro de si.

—Não era isso que você imaginava, não é? —Ele não precisava explicar ao que se referia.

—De certa forma, era. —Disse, pausadamente, como se precisasse reforçar o gosto que tinha de ter chegado até ali. Kakashi também já tinha estado naquela posição - já sentira o peso daquela capa sobre os ombros - mas os tempos haviam mudado. A carga de trabalho de Naruto apresentava-se bem mais extensa que a de suas lembranças como Sexto Hokage, talvez pelo fato de que ele fora incubido de reconstruir aquilo que já conhecia, criar algumas conexões, recuperar uma vila em renascimento. Seu sucessor, ao invés disso, estava ali para manter o funcionamento da paz, cuidar de um lugar em constante expansão e evolução, uma tecnologia que nascia, uma realidade onde começava a se tornar clara a possibilidade de uma vida tranquila, sem que crianças precisassem tomar frente em batalhas que não era suas. Naruto era, também, melhor em diplomacia - os laços com outras vilas, países e aldeias eram pessoalmente cuidados e cultivados por ele, que não media esforços ou palavras para que tudo ficasse bem. —Mas não exatamente.

A vila consumia Naruto; Naruto se deixava consumir por amar a vila, o mundo e a vida, sem estar disposto a abrir mão de qualquer um dos elementos que os cumpunham. Kakashi sempre soubera que aquilo aconteceria - a mania de entregar-se por inteiro era antiga e corriqueira, sem nada que o fizesse mudar, não sendo a primeira vez que colocava seus objetivos acima do bem-estar. Ele era assim, puramente amor por natureza, vindo à luz no caos, brilhando por entre as sombras, deixando pedacinhos de si pelo caminho, pontinhos de luz degradê amarela e laranja ininterrupta. 

—Vou dizer o que você deve fazer agora. —Comentou o Hatake. —Você vai tirar essa capa, caminhar até a sua casa e pedir desculpas à Sakura pela demora. 

—Mas… 

—Você sabe que ela não está dormindo de verdade. 

—Ela vai me socar. 

Provavelmente. 

—Talvez. Mas é melhor que não dizer nada. 

Em ambas as realidades, ela poderia socá-lo. Não era uma chance tão ínfima assim. Mas ela não iria fazer aquilo, e Kakashi sabia. 

Naruto suspirou; Ele tinha se dado por vencido. Poderia insistir com qualquer outro - com Shikamaru ou Sasuke, mesmo sabendo que o último preferiria tentar arrastá-lo forçadamente a continuar qualquer tipo de conversação disfuncional - mas não com Kakashi. O respeito que mantinha pelo antigo professor era maior do que conseguiria explicar, e ainda considerava Kakashi uma figura cuja palavra valia muito. 

Se era ele quem dizia, então devia estar certo, de qualquer forma. 

—Tudo bem. —Ele desabotoou a capa, pendurando-a na cadeira. Kakashi desencostou-se da mesa por conveniência, dando um passo para trás antes de voltar a observar Naruto. —Eu vou para casa. 

O mais velho sorriu discretamente por debaixo da máscara.

—Fez a escolha certa. E coma alguma coisa que não seja instantânea quando chegar lá. —Completou. 

Naruto riu baixo. Kakashi tinha de admitir que era impressionante a habilidade do estômago dele para que não o fizesse enjoar de ramen instantâneo. 

Por Rikudōu, conhecendo Naruto, se não fossem os funcionários que cuidavam da limpeza do escritório, era bem possível que houvessem pilhas de embalagens de ramen ao lado (ou entre) das pilhas de papéis pendentes. 

Na verdade, era possível que, caso procurasse, conseguisse encontrar algumas dessas embalagens naquele exato momento. 

O Uzumaki parou ao lado do ex-professor, como se o esperasse para ir para casa. Ele, por sua vez, fez questão de dar os primeiros passos para fora, deixando com que o outro fechasse a porta quando passasse, e assim o fez. O tilintar das chaves nas mãos do Hokage, naquele momento, soou um pouco como um sino de vitória. 

Ficava feliz quando se lembrava que, ali, Naruto tinha alguém para esperá-lo em casa. Era uma das boas mudanças. 

Caminharam pelo prédio, até que estivessem do lado de fora. Kakashi estava consciente dos rostos de pedra - inclusive o próprio - observando-os, poderia vê-los se virasse para trás. Naruto, mais uma vez, foi o último a sair, cumprimentando os guardas que faziam a vigília da madrugada. O jōnin esperou novamente até que o outro estivesse caminhando ao seu lado. Alguns metros à frente, entretanto, o Hatake obrigou-se a parar, fazendo com que Naruto parasse alguns passos à frente. 

—Você deveria ligar para eles. —A voz de Kakashi era baixa, mas pareceu ecoar pela rua vazia. Naruto não se virou ao responder: 

—Boa noite, Kakashi-sensei. —E, dito isso, continuou a tomar seu caminho para casa. Kakashi observou-o se afastar por um tempo, antes de igualmente tomar o próprio. 

•´¨*•.¸¸.•*´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•*

—O que você está fazendo aqui? —Afinal, não era todo dia que Naruto encontrava Sasuke Uchiha sentado na entrada de sua casa em plena madrugada.

—Eu… —Ele se levantou, e Naruto não pode deixar de observar o quanto o homem estava distante enquanto falava.

—Hinata te expulsou da sua casa? 

—Não. —Ele não parecia muito certo daquilo.

—Sakura te expulsou da minha casa?

—Não. —Naruto levantou uma das sobrancelhas diante daquela resposta. —Talvez. Mais ou menos. 

Aquilo não era estranho. Estranho mesmo era Sasuke ter continuado ali.

—Então você resolveu me esperar na frente de casa? 

—Preferiria que eu esperasse do lado de dentro? 

—Aposto que era seu plano antes que a minha esposa ameaçasse arrancar seu outro olho.

Sasuke suspirou de forma irritada.

—Ela não me ameaçou. 

—Tem certeza? 

Talvez não explicitamente, era o que o Uzumaki imaginava. Caminhou alguns passos, abrindo a porta com cautela. No corredor, visualizou cacos de um pequeno vaso laranja espalhados pelo chão. Claramente aquele vaso não havia tido um bom destino nas mãos de Sakura, seja lá qual fosse a discussão que ela estabelecera com Sasuke.

—Você a irritou, ‘ttebayo?

Sasuke não discordou. Pelo contrário, encarou Naruto com dúvida, percebendo-o ainda parado. 

—Você não vai entrar em casa? 

—Casa? Que casa? —O Uzumaki voltou alguns passos para trás, virando-se para o amigo. —Essa casa é totalmente da Sakura. Eu só moro aqui. 

—Você me perguntou a dois segundos atrás se…

—Totalmente dela. 

—Está escrito Uzumaki na caixa de correio, Naruto. 

Naruto refletiu sobre aquilo durante alguns segundos, antes que respondesse:

—Está escrito Uchiha na sua e você também não está lá. 

Bingo. Sasuke suspirou, e Naruto percebeu a forma como um dos cantos da boca dele levantou-se com um movimento rápido e sutil. Era um microsorriso, e ele o conhecia como poucos poderiam conhecer. A expressão, entretanto, durou pouco; logo, Sasuke virou o rosto, como se precisasse disfarçá-lo. Naruto fez o mesmo, tentando focar-se mais nas flores que despontavam no jardim que naquele detalhe irrelevante sobre Sasuke. 

—Prefere ir comer naquele seu restaurante de ramen, ou vamos ficar aqui a madrugada inteira?

—Sasuke Uchiha está querendo fugir? —Provocou. O moreno pigarreou baixo, incomodado. Naruto soube, naquele momento, que aquele assunto provavelmente tinha estado entre as pautas que haviam levado Sasuke àquela porta. 

Não que realmente fosse alguma novidade, mas Naruto jamais admitiria isso. Não ao menos em voz alta.

—O Ichiraku está fechado, não é? 

—Por quê você acha isso? 

—Porquê você já estaria lá caso não estivesse. 

Mais correto impossível. 

—Vocês vão entrar ou posso trancar tudo e deixar os dois do lado de fora até meu próximo plantão? —Era a voz de Sakura, e bastou uma olhada para que Naruto a localizasse numa das janelas do andar de cima. Era a do quarto deles - poderia dizer aquilo apenas pelas cortinas, cuja estampa florida era iluminada pela luz acesa do cômodo. Ele tentou sorrir, cogitando a possibilidade de acenar para ela dali mesmo, e a cena pré-visualizada pareceu ridícula até mesmo para ele.

—Oi, amor. —A expressão de Sakura diante da fala parecia sugerir que ele enfiasse aquele “amor” em um lugar não muito favorável. Fez questão de mover-se rapidamente de lugar, passando novamente pela porta aberta, sendo prontamente seguido por Sasuke. 

O que é que Sasuke queria, mesmo? Ele até tinha feito questão de fechar a porta. 

—Precisamos conversar. —Soltou o outro homem, soturno.

—Não me diga. —Ironizou Naruto. —Mas eu preciso dormir. E sugiro que você faça o mesmo. 

Sasuke pareceu fingir que não tinha entendido ter sido escurraçado para o sofá. 

—Naruto…

—Naruto! —Em contrapardida ao tom controlado de Sasuke, a voz de Sakura evidenciava irritação. Ambos os homens puderam ouvir o som dos passos no andar de cima, até que chegassem à escada e a figura se revelasse por inteira. Ela não vestia as roupas de sempre - embora os tons de rosa e branco se mantivessem - mas uma calça de tecido fino, lisa e rosada, formando um conjunto com a blusa branca de alças finas, claramente gasta pelo uso. Os cabelos amarrados completavam o visual caseiro.

Por um instante, Naruto cogitou soltar outro "Oi, amor". Por sorte, revelação divina ou pelo olhar que Sasuke dirigiu a ele de canto, não o fez. 

—Sakura. —Foi Sasuke quem disse, antes que o amigo sequer pudesse dizer algo.

—Eu poderia te denunciar por invasão de domicílio, Sasuke Uchiha. —Soltou a mulher. Sasuke bufou. 

—Seu marido me deixou entrar. 

—E ainda seria possível colocar o agravante de coesão. —Completou ela, terminando de descer os degraus, colocando-se de braços cruzados na frente dos dois homens que a encaravam. Naruto coçou a parte de trás da cabeça, sem saber exatamente como agir. 

—Saky, tecnicamente… 

—Tecnicamente, eu não o convidei a entrar. E, até onde eu lembro, ele saiu sozinho. 

Repentinamente, Naruto se lembrou de quão bem colocada havia sido a frase sobre a casa ser dela. 

"Ainda dá tempo de achar um restaurante?" 

Ao olhar para o Uchiha, notou que a mesmíssima coisa passava pela cabeça dele. 

—E você, Naruto… —Continuou, olhando de forma acusatória para o companheiro. — Ao menos teve a decência de chegar antes das três da madrugada hoje. 

—Então… 

—Quem te obrigou? 

—O quê?! 

—Sei que não foi o Sasuke. Ele não saiu daqui. 

—Você me viu o tempo todo? —Questionou Sasuke. Sakura sorriu de canto, como quem achava o comentário minimamente divertido. 

—Você tem 1,82, se veste de preto e estava sentado no meu jardim. 

Era um bom argumento.

—Não é que… —Naruto tentou.

—Foi o Kakashi? 

—Ele não me obrigou, 'ttebayo. 

—Se você diz. 

—Ele me aconselhou.

—Aham. —Sakura abriu o espaço da escada, indo até o meio da sala e sentando-se em um dos braços do sofá, virada de modo que ainda pudesse ter uma boa visão dos antigos colegas de time. —Se forem comer alguma coisa, tem curry na geladeira. 

Naruto tentou fingir não ter ficado feliz com o Curry. Sasuke, por sua vez, tentou fazer o mesmo. 

Dez minutos de silêncio depois, entretanto, ambos estavam comendo, sentados em frente à mesa da cozinha. 

—Eu devia deixar vocês sem jantar, também. —Comentou Sakura, entrando no ambiente, observando os dois. —Principalmente você, Sasuke. Se estava com fome, por quê diabos não entrou? 

Sasuke a olhou de canto, engolindo mais uma colherada de arroz antes de responder: 

—Achei que você me denunciaria por invasão. —Comentou. Sakura sorriu brevemente, reconhecendo a provocação. 

—Talvez. 

—Ele só ficou com medo de você tentar quebrá-lo à base do soco, amor. —Brincou Naruto, falando baixo enquanto encarava o amigo. 

—Eu não… —Sasuke começou, numa breve tentativa de defesa

—Eu deveria quebrar os dois. —Afirmou a mulher. 

Nenhum deles negaria aquela máxima.

Sakura puxou uma cadeira, sentando-se numa das pontas da mesa. Naruto a olhou - tal como olhou para Sasuke - e repentinamente soube que algo havia mudado. Ele talvez não fosse capaz de entender, mesmo àquela altura, exatamente o quê ou o porquê, mas a sensação fez com que seu peito doesse com algum tipo de nostalgia estranha. 

Mas foi Sasuke quem disse:

—Estamos nós três aqui. 

Era feliz e triste ao mesmo tempo. 

—Sim. Estamos. —Sakura soltou.

O curry de Naruto pareceu ficar repentinamente mais frio. 

—Algum de vocês sabe o que fazer? —Questionou ele, focando no próprio prato. Acreditava não ter de dizer mais nada para que fosse entendido.

—Não. —Foi a vez de Sasuke falar, novamente. Os outros dois adultos pareceram soltar o ar que, em algum momento, tinham prendido. Após tantos anos…

O Uzumaki riu baixo.

—Eu não faço a menor ideia. —Confessou. Sakura e Sasuke acompanharam a risada curta e baixa, que indicava mais que nunca o quanto os três compreendiam aquilo entre si. 

—Isso nunca funcionou com a gente. Saber o que fazer. —A forma como Sakura dizia aquilo era tão real quanto as palavras em si; mesmo a postura já não era tão tensa ou raivosa. Na verdade, parecia quase aliviada. —Nós nunca soubemos.

—Sabia o que estava fazendo quando casou comigo? —Brincou o loiro. 

—Com toda certeza que não. —Respondeu ela, prontamente, causando uma risada recíproca. 

—Sasuke, sabia o que estava fazendo quando…

—Nem começa. —Cortou o Uchiha. A médica pensou por alguns instantes antes de declarar:

—É porque ele sabe que todas as respostas vão ser não. 

Nem todas…” Naruto pensou, mas decidiu guardar para si mesmo. 

—Não sabia o que estava fazendo quando voltou para a vila? —Desafiou o Uzumaki, encarando o amigo de forma divertida. 

—Se eu soubesse, não teria escutado suas baboseiras por mais quinze anos. 

—E aí está o Sasuke Uchiha de sempre. 

Os três se olharam; o silêncio que pairou não era nada senão um conformismo mudo sobre onde cada um deles havia chegado e o quanto haviam mudado após todo aquele tempo.

Ninguém saberia explicar sobre aqueles três. O que acontecia, o que eram ou o que poderiam ter vindo a ser antes jamais seria de fato entendido. Que tipo de coisa era implícita, quantas sutilezas eram simbólicas, quantos eram os segredos de cada um e da unidade que formavam todos? 

Entre olhos de ônix e esmeraldas, Naruto se levantou. 

—E-eu vou… para cama. —E, logo após isso, sem mais explicações, saiu.

Seguindo o passo do marido, Sakura também afastou-se da mesa, levantando-se bem mais delicadamente que ele. 

—É melhor. Eu também vou. —Ela suspirou. —Sasuke, se realmente quiser, pode dormir no quarto de Boruto. 

Ele assentiu. 

—Mas ainda estou me decidindo se quero ver o seu rosto por aqui amanhã de manhã. —Talhou ela, antes de subir novamente as escadas. 

•´¨*•.¸¸.•*´¨•.¸¸.•´¨`•.¸¸.•*

—Eu já estou indo. —Ouviu Sakura murmurar ao telefone, já desligando a chamada, enquanto arrumava os cabelos rosados e andava nervosamente pela sala. 

—Sakura? —A voz de Sasuke era sonolenta, talvez um pouco confusa. A manhã fria não era incômoda - mas, por algum motivo, parecia ser errada.

—Eu não queria acordar você. —Se desculpou ela, colocando coisas e mais coisas dentro da mochila que levava ao trabalho. —Mas talvez seja melhor. 

Sasuke se sentou. 

—Hoje era sua folga. —Constatou, recebendo em resposta um som de concordância. 

—Era… Mas não é mais. 

—Que horas são? 

—5:30.

—O quê? 

—São 5 e… Eu não tenho tempo pra isso. Naruto também já foi chamado. 

Naruto?”

—O que aconteceu? 

—Outra pessoa foi achada num dos portões. 

—Outro estranho? 

O ziper da bolsa foi ouvido, fechado com força pelas mãos habilidosas da mulher. Sasuke teve a impressão de que ela hesitava antes de dizer: 

—Não. Ele foi identificado, Sasuke. —Apesar de claramente sentir a tensão em cada palavra, ainda não entendia o motivo de tamanho nervosismo por parte dela. — É Kohari Mitsuma, da vila do som. 

E Sasuke percebeu: Se aquilo não fosse uma mensagem, nada mais seria.


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Notas finais do capítulo

E Aí??



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