Caso Invísivel escrita por psique


Capítulo 2
O início?


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um pouco do mistério...



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— Eu lembro-me disso. — Daniel sentou-se na cadeira, em frente à Rebeca. — Especialmente da tua cara, no dia seguinte.

— Pois, quando não apareceste para o concerto, não foi?

Rebeca ainda se lembra da fúria que sentiu, quando Daniel lhe disse que estava por sua conta. Filipe ainda chegou a ir ao local do concerto, mas viu que não era a sua onda e decidiu ir embora, sem nem ouvir um pouco. Rebeca ficou sozinha com o Henrique.

Ao princípio foi estranho, mas, há medida que o concerto passava, a vontade dela, de fugir, acabou. Adorou o concerto, principalmente a companhia. Foi, sem dúvida, super interessante. Os dois queriam, mas ela não cedia assim tão fácil. Ela escolhia os parceiros com calma. Não era apenas porque ele era lindo, boa pessoa (segundo o que consta da investigação privada que ela fez da vida do outro), companheiro dos colegas, um excelente profissional. Era neste último que ela tinha mais reticências, por isso não cederia tão fácil. Mal ela sabia que estava tramada, que, dali a uma semana, não iria aguentar as tentações e acabaria por ceder um beijo.

Bastava só aproveitar o momento, de ter alguém que, ao saber que ela era polícia, não a tentava demover da profissão que ela tanto gostava. Todos os outros homens “fugiam” quando sabiam a sua ocupação, ou então davam a desculpa que ela não era suficientemente forte para aguentar a parte física do trabalho. Era gratificante encontrar alguém que a apoiasse.

— Sabes que foi de propósito, não sabes? — Daniel tirou-a das suas divagações. Sempre soube. Porém, ele nunca admitira que o fizera. Agora, tinha a certeza.

— Sei. Sempre soube. Tu contribuíste para uma parte importante da minha vida, por isso agradeço-te.

— Por falar nisso. Ele já veio cá, depois que foste presa?

— Sim, ainda ontem esteve cá. Perguntou-me como iam as coisas. Obviamente, não tinha muito para lhe dizer. Tirando a sensação de que alguém me andava a seguir, nos últimos tempos, não tenho mais novidades.

— Só agora me dizes isso? — O amigo ficou pasmo com a novidade. Aquilo era importante. — Quando começaste a sentir isso?

— Bem antes do caso nos ser atribuído. Na altura, pensei que era alguém, de um caso anterior, que queria vingança. Depois, a sensação esmoreceu. Voltou apenas à duas semanas atrás.

— Isso pode ser importante!

— Começou antes de entrarmos no caso, Daniel. Não vi a relevância para a situação em que estou.

— Provavelmente alguém quer que sejas a responsável por todos os roubos e pelas mortes. — Era uma informação valiosa, por muito que a parceira não achasse. Sendo assim, só tinham de perceber o porquê. Incriminar alguém tem sempre uma história por trás. Não é do nada que surge. Há sempre uma razão. Era preciso procurar. — Um colega nosso morreu, Becca. O porquê, de tentarem te implicar, eu não sei. Jamais planearias o seu assassinato. Logo ele, que foi dos primeiros a te ajudar.

— Ainda me lembro de quando entramos aqui, vindos da academia. Realmente, ele foi fundamental para a nossa integração. Acho que todos, na esquadra, concordamos o quanto ele faz falta. Podemos não nos dar todos bem, mas ele tinha uma boa relação com todos.

— É verdade. Mas ele foi a vítima número 4. Houve outras duas vítimas antes.

— Sim, o advogado e o padeiro. Esses assaltos foram estranhos. Até aí, o Invisível tinha assaltado pessoas ricas. O advogado era pobre, mal conseguia sobreviver. O padeiro também passava a vida a trabalhar. Juro que não consigo ver uma relação, entre os dois, com o resto das vítimas, mortais ou não.

Rebeca e Daniel lembravam-se ainda bem desses homicídios. O advogado foi assassinado cerca de quatro semanas após o banqueiro. Quanto ao padeiro, o óbito ocorreu dois meses depois do antecedente. Ninguém diria que os casos estavam relacionados.

Quando foram ao escritório, onde a segunda vítima prestava os seus serviços, de forma voluntária, a quem carecia de dinheiro, repararam que estava todo revirado. Mais uma vez, eles não tinham a certeza do que foi roubado. O assistente não conseguia falar, depois do choque de encontrar o patrão esventrado, no chão do gabinete. Causa de morte: múltiplas facadas. Como se isso não bastasse, o assassino abriu todo o abdómen e espalhou o intestino delgado pelo chão. Ainda hoje, depois do inventário ter sido feito, não se soube se algo foi roubado. Contudo, lá estava o pedaço de tecido cinzento.

O padeiro foi outro caso sórdido. Foi encontrado em circunstâncias estranhas. Ao contrário das outras vítimas, não foi encontrado no seu local de trabalho ou em casa. O corpo estava num matadouro, pendurado como se fosse uma carcaça. Encontrava-se completamente aberto, com todos os órgãos em cima da mesa. Parecia que foi torturado durante horas. À partida, parecia que o namorado era o culpado. Foi encontrado no local de trabalho do namorado, onde tiveram uma grande discussão, prévia à sua morte. Tudo indicava para ele. Até a falta do coração da vítima, contribuía para crime passional. Tudo muito bonito, se não fosse a presença de um lenço cinzento, no lugar do coração.

O pior era ligar todos os crimes a uma só pessoa. Tirando o lenço cinzento em todas as cenas de crime, de assaltos ou homicídios, não havia mais nada. As semelhanças acabavam aí. Nem todos eram da alta sociedade, havia uma mulher no meio de vários homens (até à quarta morte), eram de raças diferentes (havia um asiático, dois afro-americanos, o resto era caucasiano), alguns eram autênticos canalhas (seja com familiares ou em âmbito de trabalho), outros tão inocentes. Não havia um padrão a seguir. As cores de pele, cabelo, olhos, roupas, etc.. eram diferentes. Não se conseguia traçar um perfil do assassino. Era tão aleatório, que a probabilidade dos casos estarem relacionados era baixa per se.

Apenas havia uma certeza. Todos os casos estavam relacionados ao lenço. Se se juntasse cada pedaço do lenço, verificava-se que eram todos parte de um todo. As fibras foram cortadas da mesma maneira. Montá-los era um jogo, todos tentavam acabar o mais depressa possível. Existia a probabilidade de não se terem encontradas todas as vítimas, visto que faltavam peças. Terminar aquele puzzle seria impossível, sem cada pedacinho.

— Nessa altura, sentias que tinhas alguém a seguir-te?

— Acho que, a ver bem as coisas, era um pouco antes e depois de um homicídio ocorrer.

Daniel levantou-se da cadeira, incrédulo. Começou a andar de um lado para o outro, na tentativa de se acalmar. Não estava a dar resultado. Passou a mão nos cabelos, claro sinal de nervosismo. Como ela deixou escapar este pormenor? Pode parecer insignificante, mas neste caso era crucial. O Invisível podia andar atrás dela este tempo todo. A observar cada passo que dava. A escolher o momento certo para atacar, quando ela não tinha um álibi forte que a ilibasse.

— Como não ligaste os pontos? — O desespero era tanto que quase arrancava cabelos. — Tens sempre bons instintos. Porque não os usaste? Certamente percebeste que algo estava errado.

— A minha cabeça estava cheia de muita coisa. Era o caso, o aniversário da morte do meu pai, o meu relacionamento com o Henrique. Esta sensação passou ao lado.

Filipe continuava a assistir à conversa. Nem queria acreditar no que tinha ouvido até agora. Então a mocinha estava de caso com o Henrique? Ele logo viu que ali havia coisa. A gaja não podia estar sem levar pela frente, provavelmente também por trás. Ela tinha cara de quem apreciava ser controlada na cama. Também colheu outra informação interessante. Então, não era que o Daniel já tinha tentado saltar-lhe em cima? Ao menos, não era a único que esteve desesperado por se enfiar, com força mesmo, naquele corpo desgraçado.

Enquanto fantasiava, com aquele sorriso maroto que a agente tinha dado, sentiu-se ficar cada vez mais exitado. As calças estavam a ficar apertadas, ele pouco se importava se estava no local de trabalho. Foi até à porta e chamou a Gabriela, a secretária do Delegado. Deu-lhe aquele sorriso e ela já vinha com as expectativas altas. Já tinham feito no escritório do Delegado, de noite quando estava pouca gente. Agora, em plena luz do dia, e numa sala de interrogatórios, nunca tinha acontecido.

Todos sabiam que ela era uma das mulheres mais requisitadas, para uma foda rápida, ali na esquadra. E ela ostentava o título de puta com muito orgulho. O que ela sempre quis foi estar com o Filipe. Ele raramente ficava com alguém duas vezes. Aquela seria a décima vez juntos. Gabriela quase que podia dizer que estavam numa relação. Para ele, só interessava o facto de se aliviar e ouvir a voz provocante da colega, na sala ao lado. O resto era facultativo.

A conversa na sala ao lado continuava. Filipe quase se esquecia que não era Rebeca a tirar-lhe as calças, naquele momento. Decidiu focar-se no essencial. A colega andava a foder com o patricinho do médico. Logo ele, que não tem estofo para estar ao lado daquela poderosa mulher. Parecia que quem vestia as calças na relação era ela, não ele. Este era bem capaz de fugir numa situação de perigo. Podia ser o melhor que fazia, mas não sabia como o outro aguentava as cenas macabras, dos últimos assassinatos.

— Acreditas que ele queria-me ajudar para me tirar daqui? O que pode ele fazer? Se nós não conseguimos, o que um médico, que não está habituado a este tipo de investigação, pode fazer?

— Quem, o Henrique? — Rebeca confirmou. Daniel acalmou-se e voltou a sentar. — Ele já muito nos ajudou. Acreditas que ele voltou a fazer a autópsia, dos últimos casos, só para ver se não lhe escapou nada? A única coisa que ele tem a certeza é que o assassino é bom com facas. Seja daquelas de talhante, seja com bisturis. Ele referiu que o olho, que foi retirado do nosso colega, foi retirado com uma precisão cirúrgica. Sendo assim, eu desconfio que seja uma dupla. Ele pareceu concordar comigo. Só para colocar o corpo do padeiro naquele espeto era preciso ter uma enorme força. O padeiro era pesado. Nem eu o conseguia levantar sozinho.

— O desgraçado esteve comigo e não me disse nada. Às vezes, é tão evasivo que eu me pergunto se ele está mesmo lá.

— Até parece que não conheces o género. Realmente, foram mesmo feitos um para o outro. Tu também és assim, quando te embrenhas numa investigação. Não vês mais nada.

— Sim, o Henrique já me disse isso uma vez.

— A sorte é que ele estava lá para te distrair, não é?

— Ah, sabes como é Daniel… Ele tinha mil e uma formas de me fazer esquecer do resto.

O seu tom de voz, provocativo, não enganava ninguém sobre como a fazia esquecer. Filipe queria mais pormenores, principalmente agora que estava bem enterrado no prazer. Só lhe apetecia ir buscar a Rebeca, pelos cabelos, para a fazer gritar enquanto lhe dava umas pancadas. Sim, ele era um porco sádico, principalmente em sua casa, na cave.

— Acredito que sim. Bem, ele tem-nos ajudado imenso. Ainda não conseguimos ilibar-te completamente, mas acredito que caminhemos para lá.

— Ainda não acredito como há provas físicas contra mim. Como tal aconteceu? Eu nunca toquei na faca, não sei como as minhas impressões digitais estão lá.

A faca pertencia ao homicídio número 5. Um canalizador foi encontrado numa obra, a esvair-se em sangue. Foi vítima de múltiplas facadas. A mais fatal foi na base do pescoço, tendo cortado a veia jugular. Só se soube que foi uma morte lenta e dolorosa.

— Há hora prevista da morte eu estava num supermercado. Infelizmente as câmaras de vigilância não estavam a funcionar, mas aquele sem abrigo lembra-se de me ter visto lá.

— O que morreu no mês seguinte por overdose? — Rebeca acenou tristemente. — Por mais que seja verdade, ele não chegou a  dar um depoimento na esquadra. Logo, só temos a palavra de um morto. Tu sabes que não chega para nada.

— Ah, é tão frustrante. — Rebeca bate com a cabeça na mesa, tentando encontrar uma solução. Infelizmente, sabe que não vai ser fácil tentar provar o seu álibi, mas não se pode dar ao luxo de aceitar a derrota. — Eu estava lá, Daniel, à hora do crime. Eu sei disso. Várias pessoas viram-me.

— Pois, mas ninguém se lembra a que horas foste.

Ela ficou a pensar no supermercado. Ainda se lembra do que fez. Estava a começar as compras quando um miúdo derrubou uma lata de cerveja. Teve de dar a volta ao corredor, para poder chegar às cervejas que tanto desejava. Entretanto, a loja ficou silenciada devido a uma falha temporária de luz. Quando voltou, estava a começar o seu programa de rádio favorito, sobre crimes. Passou na secção dos legumes, finalizando assim as suas compras. Quando chegou à caixa, já estavam no segundo crime. Realmente, havia tantos crimes violentos, por esses dias, que o seu programa favorito já passava três vezes por semana.

Quando saiu da loja tentou contactar o Henrique. Porém,  ele não atendeu. Devia estar numa sessão com o psicólogo. No mês anterior, ele foi testemunha num assalto a uma loja. Desde então que tinha pesadelos. Ela sugeriu que ele fosse ter com o psicólogo da esquadra. Mal não fazia, disse ela. Ele odiou, mas acabou por aceitar, já não suportava ouvir mais ouvir falar em psicólogo. Bem, ele deixou de ter pesadelos e encontrava sempre uma maneira de a entreter, quando passavam a noite juntos.

— É isso, o rádio. — O parceiro ficou a olhar para ela, pasmo. O que raio se passou pela cabeça dela? — Estava a começar um programa de rádio quando cheguei ao supermercado. Não dá para contactar a rádio em questão e perguntar a que horas o passaram? As colunas de só  foram abaixo no intervalo do programa. E isso até o dono do supermercado se lembra. Podes sempre perguntar-lhe. Ele lembra-se disso.

Daniel sorriu para a amiga. Isso era bom sinal. O facto das suas impressões digitais estarem na faca, mas ela não estar presente durante o crime, invalida que ela o praticou. Apenas confirma que alguém está a tentar incriminá-la. Ao fim deste tempo todo seria uma boa notícia. Menos um crime de que seria acusada. Só falta ilibar cinco crimes para ela se ver livre da prisão de vez.


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Notas finais do capítulo

Que tal está a ser a história?



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