Caso Invísivel escrita por psique


Capítulo 1
O fim?


Notas iniciais do capítulo

Sinceramente, espero que gostes... É a primeira vez a escrever algo do género.



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— Não fui eu…

— Mas pensas que enganas alguém? Assim sendo, como foram parar lá as tuas coisas?

Frustrado, Daniel não sabia como interrogá-la. Só lhe restou levantar-se e encostar-se à parede. Nem conseguia acreditar que ela foi responsável por tudo. Onde é que ele se enganou em relação a ela?

Do outro lado da sala, Rebeca não sabia como responder. Desde que foi presa, há uma semana, isso não saía da cabeça dela. Tentou procurar respostas, mas não podia fazer muito estando numa cela. Começou a rever tudo o que sabia, mas não chegou a nenhuma conclusão. Só tinha a certeza de uma coisa: ela era inocente.

— Não sei. Vocês apanharam a pessoa errada!

— Lá por andares por aqui, a tentar encobrir os teus rastos, não quer dizer que nós não investigamos a fundo.

Daniel começou a ficar sem paciência com o Filipe. Como é que ele conseguia fazer aquelas perguntas, à sua colega, com tanto ódio na voz? Eles fizeram a Academia ao mesmo tempo, trabalharam em diferentes departamentos, é certo, mas nada justifica o comportamento que estava a ter.

No fundo, mas mesmo lá bem escondido, Rebeca compreendia o comportamento dos seus colegas. Ela própria também estaria fula, se um deles fosse o responsável pelos crimes. Mas recusava-se a acreditar que eles tinham caído, que nem patinhos, com aquelas provas forjadas.

— Já vos disse, Filipe, que é impossível! Que relação tenho eu com os crimes?

— Para além de todas as provas que temos? Julgas que enganas alguém? — Filipe começava a subir o tom de voz, o que indicava que estava a ficar fora de controle. E isso nunca era bom num interrogatório.

— Eu só quero a verdade, tal como todos no departamento. Foi um grande mistério e continua a ser. — Rebeca não sabia o que dizer. Claramente, Filipe não acreditava nela. Já o Daniel, ela não tinha a certeza. Continuava a olhar para ela, incrédulo, no seu canto. Desde que entrou ali, não lhe fez uma pergunta, um comentário. Só se sentou, impotente, e observava o interrogatório.

— Eu só quero a verdade… — realmente, o Filipe começava a ser insuportável. — Ainda tens coragem de dizer isso? Temos ADN teu espalhado por todos os crimes, as tuas impressões digitais também estão lá.

— Tal como as tuas Filipe. Todos nós estávamos lá a vasculhar os locais. No início, esqueceste de pôr as luvas, ou já não te lembras? Todos nós cometemos erros.

— Já que falas nisso. Como posso ter a certeza que não fizeste de propósito?

— Realmente, eu ia me esquecer, de propósito, para vos enganar? Há quanto tempo nos conhecemos, Filipe?

— Há cerca de 10 anos, se não estou em erro.

— Achas mesmo que eu seria capaz de cometer tais crimes?

— Os assassinos são conhecidos pela sua capacidade de surpreender quem está à sua volta. Não me admira nada que sejas tu. Só quero saber o porquê, mais nada. Visto que sabemos que foste tu.

— NÃO FUI EU…

Revoltada, Rebeca tentou se livrar das algemas. Obviamente que apenas serviu para a magoar e para enfurecer ainda mais o colega, que se preparava para a atacar. Daniel decidiu pôr termo, de vez, à insanidade do colega. Já estava farto dele.

— Filipe, porque não esperas lá fora? Eu acabo o interrogatório.

— Mas ainda não acabei… — queria acabar com aquela cabra que manchou toda a reputação da esquadra. Não queria sair dali. Queria vê-la na merda, a escarafunchar por comida como um porco. Nunca gostou dela, não por ser a melhor, alguém tem de ser o melhor. Mas esse alguém devia ser ele, um homem, não uma mulher. Ela era fraca, aos seus olhos.

— Filipe, é uma ordem, não um conselho. — Daniel ainda se perguntava como o outro nunca respeita a sua autoridade. Ele era o chefe, caramba.

Incapaz de verbalizar o quanto queria mandar aquela ordem para o lixo, Filipe saiu. Mas não ia deixar o outro sozinho. Não, ele era bem capaz de libertar a cabra. Todos sabiam o quanto ele adorava a sua parceira. Ele tinha a certeza que eles partilhavam mais do que apenas um lugar no carro. De certeza que o outro já se enterrou, bem forte, nela. Pelo menos, era assim que Filipe imaginava, quando deixava-se levar pela imagem da colega debaixo dele. Ah, era tão bom que quase queria repetir a dose, apenas na sua cabeça tal coisa acontecia. Para não perder pitada do que se passava, foi para a sala ao lado, observar. Onde podia gritar, se quisesse, que ninguém ouviria o seu ódio.

— …

— Não fui eu Daniel. — Rebeca olhava para o parceiro e o via prostrado, por não a poder ajudar. — Nem sei quem me faria uma coisa destas. Tu sabes a minha vida. As razões para entrar na Polícia. Nunca faria uma crueldade destas. Depois que o meu pai foi brutalmente assassinado, eu só queria saber por quem. E colocá-lo por trás das  grades. Eu nunca…

— Eu sei, linda. Eu sei… Mas quem poderia querer incriminar-te? Estou com isto às voltas, não chegando a lugar nenhum. Se começarmos a rever tudo do principio, pode ser que cheguemos lá. Se realmente fores tu, eu vou ter de me conformar. Se não fores tu, eu vou mover mundos e fundos para apanhar o desgraçado.

— O que é que te faz pensar que é um homem?

— A crueldade demonstrada. Desculpa por isto Rebeca, mas não acredito que uma mulher pudesse ser responsável por isto. Teria de ter uma mente muito macabra ou retorcida. Isto não lembra a ninguém.

Daniel ainda tinha fixo a imagem dos mortos, em cada cena do crime. Às vezes, a sua namorada tinha de o acordar de noite, tal eram os pesadelos dele. Não imaginava a sua parceira, em quem confiava a própria vida, a cometer tal atrocidade. Era simplesmente impossível.

— A única solução que vejo, é começarmos do início. Tens tempo?

— Linda, o que não me falta é tempo. Enquanto isto não estiver resolvido, eu não tenho outro caso. Obrigaram-me a encerrá-lo o mais rápido possível. Quem é que estaria interessado em incriminar-te? Conheceste alguém, recentemente, que aches que se encaixaria no perfil?

— O Filipe conta? — Começou a rir para suavizar o ambiente. — Parece que ele quer me ver, à força toda, atrás das grades.

— Ele sempre teve inveja de ti.

— Porquê? Ele vem de uma família rica. Sempre teve tudo. Eu tive de lutar para conseguir o mesmo que ele.

— Não é assim que ele vê as coisas. Tu és linda, todos os homens caem aos teus pés.

— Eles bem tentam… — Rebeca tentou soar bem provocadora, mas sabe que provavelmente não conseguiu.

— É verdade. Apesar do que os outros pensam, não és assim tão fácil. Podem tentar, mas é difícil.

— Tal como tu…

— Sim, como eu, admito. Mas estamos melhor assim. — Sorriu para ela, ainda se lembrando de quando a conheceu. Juntos tinham aquela faísca, mas ela nunca quis mais. Ele tentou, mas, com o passar do tempo, apercebeu-se que não iam formar o casal maravilha que pensava. Até que encontrou a sua alma gémea, esse pensamento ficou lá. Agora, é apenas uma doce recordação.

— Por onde começamos?

— Que tal pelo início, Rebeca?

— Desde o dia em que nos foi atribuído o caso?

— Sim, desde esse dia. Vamos rever todas as tuas ações e verificar se és realmente inocente, como eu sei que és.

— Vamos a isso então.

1 ano atrás…

— Devias sair mais vezes. Rebeca, tens uma vida esplendorosa, não percebo porque te recusas a ficar sozinha.

Tinham acabado de chegar ao local do crime. Há 2 anos, quando entraram no Departamento de Homicídios, foram colocados na mesma dupla. Hoje já são considerados os melhores detetives. Toda a esquadra adorava-os. Para além de serem extremamente afáveis, tinham a maior taxa de sucesso. Era quase garantido que ia correr tudo bem, quando eles investigavam um caso.

Daniel estava a tentar levar a parceira numa saída. Não, não era para se entreterem os dois, embora isso faça já parte do passado. Ela precisava de contacto humano. De uns namoriscos, até de uns valentes amassos de vez em quando. Era isso que lhe faltava. Um pouco de prazer nunca fez mal a ninguém.

— Já chega, Daniel. Porque é que fomos chamados para um caso de furto? Trata-se do “Invisível” certo?

Invisível” era a alcunha dada à pessoa responsável por uma série de furtos estranhos a pessoas da alta sociedade. Por incrível que pareça, conseguia passar despercebido por inúmeros sistemas de segurança e roubava objetos simples, sem grande valor monetário, segundo as vítimas.

A lista parecia demasiado estranha, os investigadores da secção de Furtos estavam a dar em doidos. Um clipe de notas (daqueles que seguram um molho de notas) de um jogador profissional; uma coroa de rainha do baile, da famosa modelo de revistas; um relógio de pulso, de um empresário; uma pulseira de ouro, de um lutador profissional. Tudo “bugigangas”, quando comparado com artigos, que valem milhões, que se encontravam nas mesmas divisões dos objetos roubados. Para além disso, deixava sempre uma nota de que lá esteve. Um pedaço de tecido cinzento, mais para o transparente, do tipo musseline. Essa era a única prova que identificava o autor do furto.

— Sim, esse mesmo. Ao que parece no último furto, morreu uma pessoa. Logo, nós fomos chamados.

— Terá sido acidental?

— Ao que indica sim. Parece que a vítima surpreendeu o ladrão e resultou na sua morte. Pelo menos, foi o que me indicaram quando nos chamaram.

A chamada foi feita para a zona mais cara da cidade. A vítima mortal, um banqueiro, vivia num apartamento num dos melhores prédios. Todo o apartamento era espetacular, de tão rico em detalhes que era. Claramente, ser banqueiro dava dinheiro, pois era todas as decorações eram extremamente caras. A vítima encontrava-se estendida no chão. Havia marcas de facadas espalhadas pelo corpo. A quantidade de sangue no chão era absurda.

— Ao que parece a vítima faleceu devido às diversas facadas e esvaiu-se em sangue não é? — Daniel concordou com a avaliação da parceira. À primeira vista era o que parecia.

— Aí é que está bem enganada, detetive. — Rebeca procurou a fonte da voz grave que a fez estremecer. Atrás dela, de bata branca, estava um homem, que aparentava ter a mesma idade que eles. — Peço desculpa pela interrupção. Só queria corrigir a causa da morte. Percebo que à primeira vista, é essa a impressão que fica. Na realidade, as facadas foram post mortem, a causa da morte foi uma pancada violenta na cabeça. Por isso, que não há assim tanto sangue no chão. O assassino usou as facadas para esconder a verdadeira causa de morte.

À medida que ia falando, foi apontando as diversas zonas do corpo. Mostrou-lhes a contusão enorme que estava na nuca do banqueiro. Quem fez aquilo deveria ter uma força enorme.

— Obviamente que não posso ter a certeza agora, só depois da autópsia. Porém, devo vos avisar. Geralmente, nunca erro. E obtenho sempre os resultados que calculei primeiro. — A última parte foi dirigida diretamente à Rebeca. Quem diria que iriam flertar com ela num local do crime. — Ah, a propósito. Sou o Henrique, o novo médico legista.

— Literalmente novo. — Filipe estava a entrar no apartamento, naquele preciso momento, para os apresentar ao novo colega. — Acabadinho de chegar. E que bela receção, hein.

— Ao fim de tanto tempo é normal estar habituado a isto. Quando o teu salário vem de estar com corpos o dia todo, chega a um ponto que nem se nota. Se bem que podia ter sido mais suave. Se fosse uma colega minha, teria pensado que o destino dela, nesta nova cidade, estava condenado ao fracasso. Ela acredita nessas coisas. Eu sou mais realista. Para mim, não há nada como acabar um dia assim, num concerto de rock, a desfrutar da música. Alguém quer vir?

— Estás a falar do concerto que vai acontecer no centro? — Daniel já começava a magicar. Se fosse, era o mesmo concerto que a Rebeca queria ir, poderiam ir os dois. Ela adora aquela banda.

— Sim, esse mesmo. Tenho uns bilhetes a mais. Era para ir com uns amigos, mas eles cortaram-se. Agora tenho 3 bilhetes a mais e ninguém para ir comigo. Vocês querem ir comigo?

— Não…

— Sim, com todo o gosto. — Daniel cortou a frase de Rebeca. Não a ia deixar escapar. — A Rebeca tinha pensado em ir mas, quando foi para comprar os ingressos, já estava esgotado. Por isso temos todo o gosto em ir. Até aqui o Filipe, não é?

— Bem, não vou desperdiçar uma ida gratuita. — Começou por dizer Filipe, até dar um ataque de riso ao Daniel. Os três ali sabiam que, dinheiro, não era problema para ele. — Desde que a Rebeca não vá vestida, como sempre, já é uma vitória.

— Ah, Filipe. Isso porque nunca saíste com ela, de verdade. Uma vez fomos a um bar e ela foi de arrasar. Se a minha namorada não estivesse lá, até era capaz de atacar.

— Ambos sabemos que és incapaz de trair, Daniel. — Daniel olhou para Rebeca com vontade de retrucar, mas era verdade o que ela disse. — Ok. Eu aceito ir. Eu queria mesmo ir ao concerto. Obrigada pela oportunidade, Henrique.

— De nada, Rebeca certo? Bem, isto é tudo o que vos posso dar agora. Aparentemente, não será diferente do que vos disse.

Henrique arrumou as coisas e começou a preparar o corpo para ser levado para a autópsia. Antes de ir, apenas deu algumas especificações, do local onde se encontrariam todos, e foi-se embora.

Daniel, Rebeca e Filipe ficaram a analisar a cena do crime. À partida, parecia um assalto normal, que deu para o torto. Falaram com os colegas, que estavam a cargo do caso do Invisível, para passarem todas as informações. Seria menos uma dor de cabeça, ao final do dia, para eles. Reunida toda a informação, começaram por falar com os parentes da vítima. Ao que tudo indicava, era uma pessoa trabalhadora, honesta aparentemente (ao que parece, apenas o era à frente das câmaras), que fazia o trabalho normalmente, como qualquer pessoa. Contudo, isso não dava razões para a sua morte.

Os anteriores assaltos, apesar de serem quase sempre a pessoas com boas posses, não foram roubados objetos valiosos. Neste caso, aparentemente nada foi roubado. O filho da vítima achou que faltava um quadro, que ostentava uma nota de 500 €, ao que parece a primeira do banqueiro. Tirando isso, nada parecia faltar. Os assaltos não faziam sentido nenhum, quando ligados entre eles. A única coisa que os ligava era aquele pedaço de tecido cinzento. E, mesmo isso, não fazia sentido.


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