Prólogo - Hawaii 5-0 escrita por AnndyChiaradia


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta, com um capítulo novo. Aproveitem.

Boa Leitura.



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“Não podemos voltar atrás e mudar o que já aconteceu, mas sempre há uma oportunidade de recomeço.”

 

O vento desse lugar é maravilhoso, quase libertador. Meus cabelos compridos e negros balançavam como se dançassem uma musica silenciosa.

Nesse momento estou olhando para minha nova moradia, uma casa mediana, com varanda, segundo andar, parece tão aconchegante que já me sinto em casa.

O jardim na frente, escondido atrás de uma cerca viva é lindo, espaçoso, o gramado abriga uma grande árvore, que nos dá uma sombra acolhedora. Imaginei crianças correndo de um lado para outro, em suas típicas brincadeiras infantis, como eu gostaria de ter aproveitado minha infância.

— Serena... – sinto uma mão em meu ombro. – Você está bem?

Steve me olhava com pesar, à piedade em seus olhos me incomodou um pouco, não quero que as pessoas tenham pena de mim, tenho visto isso desde que saí da mansão, mas ver que o comandante também sentia pena de mim, me causou certa ira.

— Nunca estive melhor. – respirei fundo. – Não se preocupe.

— Você parecia estar bem longe daqui...

Ponderei se devia responder. Nós andávamos lado a lado até a porta da frente.

— Você cresceu aqui comandante?

— Sim, mas quando minha mãe morreu, ou melhor, fingiu sua morte, meu pai...

— Perai, como assim fingiu a própria morte? – perguntei estática, por que uma mãe faria isso?

— É complicado, um dia desses eu te conto.

— Eu entendo, continue então falando do seu pai...

Aquele assunto mexia um pouco com ele, pude perceber, e eu não quero parecer uma intrometida, então tentei deixar a situação mais leve para ele.

— Quando a tragédia aconteceu, meu pai achou que não poderia cuidar de mim e de Marie, então nos mandou para o continente, achando que nos mantendo afastados estaria nos protegendo.

Eu não consegui entender, por que se afastar da família é um meio de proteção? Meus estereótipos de família devem estar desatualizados. Mesmo eu não tendo uma durante minha vida inteira, eu me pegava durante alguma parte dos meus fatídicos dias, idealizando uma família perfeita para mim. E com certeza, nas minhas imaginações, uma mãe não forjaria a própria morte, e um pai não se afastaria dos filhos para protegê-los.

— Mas chega de papo furado, vamos acomodar você... – Steve sorriu simpaticamente.

O homem abriu a porta da casa e eu pude vislumbrar uma sala de verdade. Os móveis, os porta-retratos, eram tudo tão pessoal e aconchegante, que eu me sentia totalmente deslocada ali, como uma intrusa.

— Comandante, tem certeza que não haverá problema se eu ficar um tempo aqui? – olhei para ele claramente incomodada.

— Claro que não. Sinta-se em casa.

Passei os olhos pela sala, andei lentamente até o móvel que sustentava a televisão, era alto e de uma madeira brilhante. Havia ali varias fotografias, entretanto uma me chamou a atenção. Era Steve vestido com um terno todo branco e um quepe, estilo marinheiro, em sua cabeça. Ao seu lado estava uma mulher muito bonita, cabelos negros na altura do ombro, um blazer que fazia conjunto com uma saia branca, e um quepe também. Eles pareciam tão íntimos, e felizes, constatei no fim.

— E o que sua namorada vai pensar, quando ficar sabendo que você deu abrigo à uma estranha? – acabei falando sem ter tempo de frear meus pensamentos.

— O que te faz imaginar que tenho uma namorada? – o moreno cruzou os braços em frente ao corpo com um ar de riso.

Peguei aquela moldura em minhas mãos, com todo o cuidado, parece valioso demais. Levantei-o na altura do meu rosto, eu tremia levemente. Quando o homem viu o que eu tinha em mãos, seu sorriso desapareceu gradativamente, seus olhos ficaram sombrios. Meu coração acelerou, algo não estava certo, e é bem provável que aquela mulher fosse à responsável por essa mudança de expressão no comandante.

— Ela não é minha namorada. – ele foi indiferente e frio. Esse lado do moreno eu ainda não havia conhecido, mas garanto que já não gostei.

Voltei o objeto pro mesmo lugar de antes.

— Desculpe, não queria te causar desconforto. – abaixei os olhos e me afastei o móvel.

— Não me causou. – claramente era mentira, e ele não fazia esforço nenhum para esconder isso. – Venha, vou lhe mostrar o quarto em que vai ficar.

— Essa também é uma história que me contará outro dia? – acompanhei-o até o segundo andar, era um corredor longo, com cinco portas, todas brancas.

— Essa história eu pretendo nunca ter de te contar. – o tom finalizador que ele usou era uma intimação para que eu parasse com aquele assunto.

Por sorte, consegui aplacar minha curiosidade e me mantive quieta. Steve me levou até a última porta, o que era bom, assim eu não tinha como errar o quarto.

— Esse é o antigo quarto dos meus pais, uma suíte, assim você pode ter mais privacidade. – nós entramos no cômodo, estava claro, uma leve brisa nos agraciou.

As janelas estavam abertas, cortinas finas e brancas adornavam-nas. Balançavam suavemente, permitindo que ora a luz do sol entrasse no cômodo, ora não. Uma cama de casal grande estava encostada na parede oposta, vários outros móveis se dispunham pelo quarto, todos de madeira fina e clara.

Até então eu não havia entendido o que ele disse sobre suíte e privacidade, mas quando entrei por uma porta ao lado das janelas e encontrei um banheiro brilhando, tudo ficou claro na minha mente.

— Espero que seja o suficiente para você.

— Suficiente? Eu vivi metade da minha vida em uma cela comandante, só de estar livre de lá já é mais do que o suficiente.

Olhei profundamente naqueles olhos azuis brilhantes. Senti algo se aquecer dentro do meu peito, deduzi que era gratidão por tudo o que ele havia feito por mim.

— Por favor, me chame de Steve, comandante é tão formal, não que eu não goste...

Apenas concordei com cabeça.

— Aqui tem um cheiro diferente, estou sentindo desde que chegamos, é meio salgado. Achei que era por conta de estarmos em uma ilha cercada pelo oceano, mas eu comecei a sentir apenas quando entramos na sua casa.

Não era para ter soltado essa observação, mas estou com um sério problema de não segurar a língua dentro da boca, deve ser por conta de que eu nunca tive ninguém para ficar conversando assim...

— Esse cheiro lhe agrada? – Steve estava com a expressão intacta.

— Sim, é relaxante. – eu sorri olhando-o.

— Vem, vou te mostrar de onde vem o cheiro. – ele passou pela porta rápido demais, fiquei por dois segundos, parada no mesmo lugar, tentando entender o que ele tinha dito.

Nós descemos a escada e fomos para a cozinha, um cômodo tão confortável quanto o restante da casa. Entretanto o que mais me chamou a atenção foi uma porta aberta, o sol brilhante do lado de fora e uma brisinha que corria pela casa me incentivaram a ir até lá.

Com certeza eu estava com os olhos brilhando e um sorriso bobo no rosto. Aquela vista que tinha no quintal da casa me deixou sem fôlego. Pude ouvir o homem rindo ao meu lado. Mas eu não podia evitar minha expressão de deleite. Steve tem o mar como quintal. Sabe o quanto isso é ilógico para mim? É tão lindo que acho que estou sonhando.

— Você tem o mar, em casa. – eu disse tão baixo que não achei que o comandante havia ouvido, mas quando sua risada aumentou de tom, pude perceber que ele ouviu. Nós ainda estávamos parados na varanda, apenas olhando para a linha do horizonte. – Nunca tinha visto algo tão lindo.

Senti pequenas lágrimas formarem-se em meus olhos, embaçando gradativamente minha visão.

— Por tanto tempo eu desejei me sentir livre... Desejei conhecer o mundo do lado de fora da minha cela naquela mansão. Cheguei a desejar a morte, se ela fosse me livrar da minha fatídica vida, eu apenas aceitaria ir com ela de bom grado. Mas agora, eu fico feliz de ter sido forte o suficiente para agüentar até aqui, porque ter essa vista me traz a liberdade e senti-la na pele é algo inexplicável.

Meu coração está leve, nunca havia me sentindo assim, desde que cheguei ao Havaí e conheci as pessoas que me ajudaram, eu venho me sentindo diferente, e isso é tão bom. Enxuguei minhas lágrimas e sorri para o moreno que me olhava com uma expressão indecifrável.

— Obrigada.

Encaramos-nos por vários minutos, ou horas, não fiquei contando. O silêncio era confortável, até por que não existiam palavras para descrever aquele momento. Era algo apenas para ser sentido e apreciado. Quando separei nossos olhares para fitar outra vez o mar na minha frente, ainda pude sentir o olhar pesado de Steve sobre mim.

— Você gostaria de ver mais de perto? Podemos sentar na areia de ver o pôr-do-sol.

Eu acenei com a cabeça, quando ele me estendeu a mão para me levar até lá, eu não hesitei em aceitar. Minha consciência tentava frear minhas ações, por achar que eu ainda não estava totalmente segura, mas meu coração dizia o contrário, e nesse momento era ele quem estava mandando em meu corpo todo.

De mãos dadas nós fomos até a divisa da grama que cercava a casa toda e a areia branquinha, onde começava a praia.

— Tire o tênis. – olhei-o confusa, e ele apenas mexeu sua cabeça em incentivo.

Apenas obedeci, e quando senti a grama fazendo cócegas na sola do meu pé, eu sorri.

— Devo estar parecendo uma criança não é. – acabei fazendo o comentário, me sentia envergonhada em como o homem me observava.

— Está sim, mas acredite, não é ruim. Agora, pode ir, vou ficar aqui se precisar de mim.

Eu me sentia insegura em fazer aquilo sozinha, já havia visto fotos do oceano nos livros que pegavam poeira na biblioteca da mansão. Mas ele ali, a menos de cinco metros me assustou, sua grandeza e imponência, me faziam sentir-me pequena. Olhei para Steve antes de seguir em frente, seus olhos azuis deram a coragem que me faltava. A areia estava quente, aqueles milhares de cristais drenaram todas as minhas preocupações e medos. Definitivamente, ali, era o meu lugar favorito. Continuei andando até chegar à água, não aprofundei muito mesmo sendo uma vontade, porque não queria molhar a calça da Kono.

Eu não conseguia explicar tudo o que se passava dentro de mim, pela primeira vez em meus 23 anos, minha alma acordou para a vida. Eram dezenas de sentimentos misturados que passeavam desde a ponta do meu pé, até o último fio de cabelo. A brisa bagunçava meus cabelos compridos, mas eu não podia me importar menos com isso.

Mais uma vez o tempo passou sem que percebesse, apenas quando o Sol deu sinal de que o dia estava chegando ao fim eu me toquei que estava ali em pé, na água, com os braços cruzados apenas respirando o ar da liberdade.  Resolvi voltar par aperto de Steve, que estava sentado na grama, mas com os pés na areia.

Sentei-me também.

— Como foi à experiência nova?

— Inexplicável.

Depois disso não falamos mais nada, apreciamos apenas o pôr-do-sol, um momento do dia que eu jamais imaginei presenciar de forma tão maravilhosa.

— Certo. – o comandante levantou-se quando já estava escuro o suficiente. – Hora do jantar.

Eu também me levantei ainda sentia-me aquecida por dentro, e de jeito nenhum eu quero que essa sensação vá embora.

— Está com fome?

Eu não sabia dizer se sim ou não, me acostumei com a fome na mansão, então eu sou indiferente pelo assunto.

— Eu não sei dizer, a fome é uma amiga. Quando eu cheguei à mansão eu passei muita fome, nossas refeições eram regradas, hora certa, quantia certa, ou seja, todos esses anos eu acabei me habituando a ela.

— Entendo, hoje é quinta-feira, o Danny e a Grace vêm aqui em casa para comermos pizza, acho que você vai gostar.

— Se você diz, eu acredito.

Cerca de uma hora depois de retornarmos para dentro da casa, a campainha toca. Eu fiquei na cozinha terminando de colocar a mesa, depois que Steve me explicou onde ficava cada utensílio, enquanto ele foi receber os visitantes.

— Eai tio Steve... – ouvi uma voz fina e delicada primeiro.

— Oi meu amor, como você está? – mesmo de longe eu consegui sentir todo o carinho que o moreno tinha pela filha do Danny.

Os homens se cumprimentaram e por último eu ouvi a porta sendo fechada.

— Olá. – uma linda menina com cabelos castanhos apareceu na porta da cozinha.

— Oi. – olhei-a enquanto colocava o último como na mesa.

— Ah, vejo que vocês já se conheceram. Grace essa é a Serena, a moça que eu estava falando para você mais cedo. – Danny veio até mim para me cumprimentar.

— É um prazer te conhecer Grace. – estendi minha mão para ela que apertou timidamente.

— Beleza, eu to morrendo de fome, então chega de esperar. – Steve puxou a cadeira, na cabeceira da mesa, ao meu lado para se sentar, Grace ficou do meu outro lado e Danny de frente para mim.

Eu nunca havia experimentado o que eles chamam de pizza, mas posso garantir que é a melhor coisa que já comi. Eu não consegui participar muito da conversa dos três, afinal eu não entendi metade do que diziam, então limitei-me a apenas ouvir e comer. Até o momento que Grace me tirou da minha zona de conforto.

— Serena?

— Hum.

— Meu pai me disse que resgatou você de um lugar onde você sofreu muito. É verdade?

Eu ponderei sobre responder a verdade ou não, mas Grace parecia esperta e inteligente o suficiente para que Danny tivesse lhe contado alguma coisa, dessa forma eu lhe respondi o suficiente.

— É verdade, perdi bastante tempo da minha vida naquele lugar.

— Mas e sua família? Eles não te procuraram? – ela falava baixo o suficiente apenas para que eu ouvisse.

Sua curiosidade era palpável, lembrei de mim mesma nessa idade, quando o general me mantinha na biblioteca o dia todo, para que eu não visse tudo o que ocorria naquele lugar, então minha curiosidade me levava a ler a maioria dos livros de lá.

— Não me procuraram Grace, eu cresci em um orfanato antes de ir para esse lugar horrível, então eu não tenho família.

A decepção e a tristeza em seus olhos me comoveram, mesmo me conhecendo em tão pouco tempo, ela já se sentia triste por mim, acabei sorrindo para ela a fim de mostrar que estava tudo bem.

— Não fique triste, vamos pensar que se eu não estivesse naquele lugar, eu nunca seria resgatada pelo seu pai e pelo Steve e nunca teria conhecido você. – Grace tem um bom coração, isso é totalmente evidente. – Coisas ruins acontecem para que as boas valham à pena. Devemos sempre agradecer pelo mal, porque sem ele, nunca saberíamos o que é o bem.

— Isso foi tocante. – olhamos ao mesmo tempo para Danny, não tínhamos percebido que nossa conversa tinha espectadores.

— Mas você passou por muita coisa ruim, isso não deveria te deixar uma pessoa ruim também? – Steve me questionou.

— Se eu tivesse permitido, sim teria. Mas eu nunca perdi a esperança, sempre mantive viva em mim o pensamento positivo.

— Você é um exemplo a ser seguido. – Danny sorriu para mim.

— Agora você está morando com o tio Steve, ele vai cuidar de você.

Olhei para o comandante, por alguns rápidos segundos eu vi a vergonha passar por seus olhos, mas a ignorei quando ele me sorriu.

— Afinal, quanto tempo você vai ficar na casa do tio Steve? – Grace me questionou depois de engolir seu ultimo pedaço de pizza.

— Eu não sei querida, quando eu me adaptar ao Havaí, arrumar um emprego e um lugar para ficar, aí eu me mudo. Mas primeiro, o emprego é essencial... Eu preciso comprar algumas roupas. – eu sussurrei essa parte para ela.

— Se você quiser, eu te acompanho até o shopping de Honolulu... Preciso gastar minha mesada em algo também. – os olhos castanhos da menina brilhavam, eu me sentia péssima por estragar esse brilho.

— Eu gostaria muito florzinha, mas...

— Ela vai.

Nós três encaramos o comandante surpresos, eu não entendi muito bem o que ele quis dizer.

— Como assim? – eu questionei.

— É Steve, como assim? – senti certa brincadeira no tom de voz do Danny.  

— Ué, eu posso pagar as roupas...

— Que? Não... – eu não podia ter ouvido direito. Ele me olhava como se não entendesse o porquê de eu recusar.

— Mas você precisa das roupas...

— Pode até ser Steve, mas eu não posso deixar você pagar por elas. Eu já estou morando na sua casa de favor...

— Vamos Grace, acho melhor os deixar discutirem em paz... – Danny se levantou da mesa, A menina o imitou. – Diga tchau.

Ela veio até mim e me abraçou. – Foi um prazer te conhecer Serena, espero te ver em breve. Tchau tio Steve.

Ambos foram embora seguidos pelo comandante, que foi verificar a porta trancada. Era absurda demais a idéia de deixá-lo pagar pelas minhas roupas. Passei minhas mãos pelos fios do meu cabelo negro. Quando levantei a cabeça, o moreno estava escorado no batente da porta de braços cruzados. Seus olhos azuis se aprofundavam tanto em mim que eu suspeitei que ele pudesse ver minha alma.

— Por que a idéia de me ter pagando as roupas que eu você vai usar te apavora tanto?

— Ouça bem o que está falando, nós não somos nada um do outro, eu sou apenas uma desconhecida que você resolveu abrigar. Não tem lógica o que quer fazer.

— A cabeça do Lamartine estava a prêmio Serena, a recompensa em dinheiro, o governador do Havaí fez questão de que a 5-0 ficasse com ele pelo serviço prestado. Nós não sabíamos o que fazer com o dinheiro, então ficou guardado, ninguém estava precisando de verdade, então eu guardei o cartão com o limite da recompensa, pode usá-lo.  

— Ainda não é justo comandante. O dinheiro é de vocês... Eu sabia que não devia ter aceitado vir morar aqui.

Aqueles lindos olhos azuis me olharam tristes, eu não estou fazendo desfeita de toda a ajuda que tive, longe disso. Eu só não acho justo depender tanto da 5-0.

— Eu não posso dizer que sei o que está pensando, mas eu imagino. Mesmo estando livre, você ainda não é independente como sempre quis. Mas sabe de uma coisa, nós sempre vamos depender de alguma coisa. As crianças de seus pais, os adolescentes da internet e redes sociais, o adulto do dinheiro, os idosos de remédios. Entende? Nós somos dependentes, mesmo que inconscientemente. Não se sinta tão mal assim por ter que depender a nossa ajuda.

Suas palavras se aprofundaram na minha mente, fazendo as engrenagens dela funcionarem. Ele não estava errado, em nenhuma parte, principalmente sobre mim, e isso me assustou. Como ele consegue me ler tão facilmente assim?

—Entendido, vou falar com o Danny, assim eu levo você e a Grace para o shopping para as compras...

— Mas ela não tem escola?

— Estamos no inicio das férias de verão dela, não tem aulas. – ele desencostou-se do batente, eu podia enxergar nitidamente em seus olhos que havia um conflito grande rondando a mente do homem a minha frente, eu só não consegui definir o que era.

— Steve, acho que eu gostaria de tomar um banho. – decidi deixá-lo com seus pensamentos. – Eu só não tenho uma roupa que eu possa usar para dormir.

— Acho que isso será um problema para resolvermos. – ele indicou a escada para subirmos até os quartos. – Eu não tenho nenhuma roupa feminina aqui, moro sozinho.

— Bom você é um homem alto e forte, bem mais alto que eu. – senti minhas bochechas esquentarem, e não tenho idéia do por que, talvez pelo que eu iria dizer a seguir. Ele me olhou por cima de seu ombro curioso. – Uma de suas camisas deve resolver por essa noite...

Seus olhos escureceram levemente, até ele balançar a cabeça e piscar algumas vezes.

— Desculpe, não quis soar como uma oferecida, ou coisa qualquer, foi só a primeira idéia que tive. – nós entramos em um quarto onde eu ainda não havia estado, pelas coisas que havia nele, deduzi que fosse o quarto do comandante. Era muito diferente do que eu tinha imaginado, não que eu pensasse com freqüência em como seria o lugar onde aquele homem dormia.

Era extremamente limpo, as paredes eram pintadas de um azul claríssimo, quase branco, a cama grande arrumada, sem nenhuma dobra a mais na cocha, os travesseiros alinhados. O chão estava com a madeira que o revestia, brilhando, sem qualquer bagunça.

— Acho que te julguei mal comandante.

— Por que diz isso? – ele me perguntou mexendo na segunda gaveta de uma cômoda de frente para a cama, na cor branca.

— Eu imaginei que por morar sozinho, isso aqui seria uma bagunça, mas olha, estou impressionada.

Ele me olhou com cara de intrigado e sorrindo.

— Acho que você não entrou em muitos quartos masculinos durante sua vida toda né?

Eu não soube como reagir àquela pergunta, eu nunca havia entrado em nenhum quarto masculino, sem ser o de Lamartine, mas digamos que eu não ia lá para ficar reparando em sua mobília ou em quanto ele era arrumado. Acho que Steve percebeu que o que havia dito me incomodou, só assim ele se tocou das palavras proferidas.

— Me desculpe Serena, eu não quis...

— Tudo bem. Esse é o problema de conversar com pessoas como eu, imagino. – o cortei. Ele não tinha obrigação de se lembrar a todo o momento quem eu era.

— Como assim pessoas como você. Você não é diferente de ninguém.

— Como não Steve? Quando as pessoas souberem pelo que passei, elas pensam que terão que tomar cuidado com o que falam, em como agem, vão me olhar com pena, tristeza... Eu não quero isso.

— Então mostre a elas o quanto você é forte, assim antes de te olharem com pena, eles te olharam com admiração. O que aconteceu contigo foi horrível, ninguém deveria passar pelo mesmo, mas acabou, e não voltará a acontecer. Eu te prometo, de todo o coração que vou te proteger.

Eu sorri, não consegui impedir essa reação a sua fala. Pelo jeito, terei muito que aprender com ele.

— Agora vá tomar seu banho. – ele me entregou uma camiseta branca.

Por alguns segundos eu apenas olhei em seus lindos olhos azuis, estavam mais escuros do que durante o dia. Eu jamais iria conseguir definir o que senti naquele momento, eu não conheço muito de sentimentos, mas esse que estava crescendo dentro do meu peito, era tão intenso, que quase me sufocava.

— Boa noite comandante.

— Boa noite Serena.


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Notas finais do capítulo

Por hoje é só!

Até mais.



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