Pov. Percy 

Uma hora antes 

Cheguei na rodoviária e não pude deixar de notar como aquela cidade era bem o estilo praieira. Vários caiçaras andando de bicicleta e ao longe podia-se ver o mar. Não via a hora de poder aproveitar com a Annie.  

Munido com o endereço da casa da tia da Annie, concedido pela dona Atena e minha mochila com roupas para pelo menos três dias. Entrei em um táxi, aqueles que ficavam esperando as pessoas do lado de fora da rodoviária.  

A casa da tia dela era um chalé perfeito, assim como as outras casas da rua. Toquei a campainha e estava esperançoso para que fosse minha amiga a atender a porta, mas um menino próximo a idade de Tyson que atendeu.  

—Posso ajudar? – ele respondeu querendo soar adulto.  

—A Annie está?   

—Quem é você? - ele perguntou de modo protetor. Devia ser o primo. 

—Sou amigo dela. Percy Jackson, vim fazer uma surpresa – eu disse sorrindo e ele retribuiu. 

—Bem, ela saiu há uns 10 minutos para ir ao parque. Fica quatro quarteirões daqui – ele disse apontando rua abaixo.  

—Ah, obrigada – eu disse e ele fechou a porta. Ajeitei a mochila nas minhas costas e segui caminho.  

O dia estava bonito, então não me incomodei de ir andando, o Sol estava brilhando, mas uma brisa constante manteve o tempo fresco. Cheguei ao parque depois de 20 minutos e não precisei andar muito para encontrar a Annie. Meu coração gelou ao vê-la sentada com outro cara, ela estava sorrindo, do mesmo jeito que fazia comigo. Eles estavam próximos, conversando e dando risada. Mas a esperança de que eles fossem só amigos desapareceu quando eles se beijaram. Senti o corpo inteiro travar e não me aguentei.  

—Bom saber que você veio para cá, para fazer isso – falei e ela se virou assustada e levantando do banco.  

—Percy, o que está fazendo aqui?  

—Vim te fazer uma surpresa. Claramente foi uma péssima ideia – disse me virando para ir embora.  

Ela foi atrás de mim e segurou meu ombro.  

—Espera, não vai embora assim – ela disse com os olhos cheios de lágrimas. 

—O que você quer que eu faça? Eu sei que a gente não tinha nada, mas você sabia como eu me sentia por você e, eu achava que você sentia o mesmo – nesse momento algumas lágrimas escaparam e eu as sequei com raiva. 

—Desculpa Percy, eu ando tão confusa com tudo, estou me sentindo tão perdida, nem sei mais quem eu sou. E sair um pouco de casa tem sido revigorante. 

Olhei para o cara que ela estava e disse: 

—Deve estar sendo mesmo. 

—Não nesse sentido – ela continuou - é como se eu pudesse olhar as coisas de fora e organizar minha mente um pouco. Eu precisei desse momento longe de tudo.  

—Isso eu consigo entender, mas e... -disse fechando os olhos e sendo invadido pela imagem dos dois juntos.  

—André só aconteceu – ela disse entendo o que eu queria dizer - não sei o que falar, a gente não tá apaixonados nem nada disso, só estamos ficando.  

Não conseguia olhar para ela, tinha tantas expectativas sobre nós, e senti isso ser arrancado de mim.  

—Acho melhor eu ir embora – disse por fim. 

—Mas você acabou de chegar, não vai desse jeito – ela disse segurando meu pulso. Afastei meu braço devagar e dei um passo para trás.  

—Agora eu que preciso do meu tempo – disse e fui embora. Sem olhar para trás e fingindo não escutar Annie me pedir para ficar.  

Pov Annie 

Depois de ver meu melhor amigo ir embora, as lágrimas vieram em turbilhão. Sentei na grama e deixei todas elas saírem de mim. Não percebi o quanto eu precisava chorar.  

André, que estava escutando tudo, sentou do meu lado para me consolar. Abraçou meus ombros e beijou o alto da minha cabeça. Não falou nada, apenas ficou sentado comigo, fazendo companhia.  

Quando eu finalmente consegui me acalmar, ele me deu um copo de suco e sentou de frente para mim.  

—Annie, eu falei que não queria atrapalhar nada que você já tivesse – ele disse calmamente. Não estava bravo, mas pude ver em seus olhos que estava chateado por eu não ter falado nada.  

—Percy não é meu namorado, nós somos, ou pelo menos éramos melhores amigos. A gente tinha algo especial e já rolou vários climas e beijos entre a gente. Mas depois de algumas coisas que aconteceram, eu decidi vir pra cá, para pensar em tudo.   

Ele pegou minha mão e pensou um pouco antes de falar alguma coisa.  

—Eu não sei você, mas, ele parece gostar de ti de verdade e eu também estou gostando – eu o olhei surpresa – mas você precisa me dizer se gosta dele ou de mim ou de nenhum de nós - abaixei os olhos confusa e sem saber o que dizer – mas é claro que eu acho que eu sou mais bonito e mais legal e que beija melhor – não sei se eu concordava, mas ele conseguiu arrancar uma risada fraca, mesmo eu ainda estando em uma encruzilhada.  

—Não sei como te responder agora. Tudo tem acontecido tão depressa.  

—Fazemos assim, me responde até o dia de você ir embora – assenti e ele me deu um beijo na bochecha – vem, vou te levar para casa.  

Cheguei no chalé e subi direto. Os meninos jogavam video-game e nem notaram minha presença. Entrei no quarto da Paula e deitei na cama. Não sabia o que fazer e nem podia ligar para o Percy para tentar conversar, meu celular fritado pareceu zombar de mim. Ele não ia querer me ver nem pintada de ouro. Decidi então mandar mensagem em seu Facebook pelo computador da minha prima. Com sorte ele ia ler e talvez conversasse comigo.  

“Cabeça de Alga, me perdoa, eu sei que fiz burrada. Você é a pessoa que eu mais confio nesse mundo todo. Não sei o que eu faria se eu te perdesse. Vamos conversar, por favor. Não esquece que eu te amo.” 

Enviei e esperei alguns minutos olhando a tela do computador e nada. Mesmo ele online, nem se incomodou a ler. Perdi meu melhor amigo, esse pensamento se instalou em minha mente e me fez ficar tonta. As lágrimas voltaram e comecei a soluçar de novo.  

—Prima você não vai acreditar no que eu compr... -Paula abriu a porta e quando me viu correu para me abraçar -Pelo amor dos deuses, o que aconteceu?  

Não conseguia falar, apenas balancei a cabeça e continuei a chorar. Ela apertou o abraço e esperou eu me acalmar para eu conseguir contar a história. 

Acabei contando tudo, deixando de fora apenas o pai do Percy. Ela me deu um tapa no braço no final da história e olhei para ela indignada.  

—O que foi? 

—Você merece. Sinto muito pelo Luke, mas você claramente tinha um lance com o Percy. É claro que ele ia ficar chateado. E está na cara que você gosta dele também. Por que você ficou com o André?  

—Eu não tinha nada sério com ele. Fiquei com o André porque eu queria esquecer de tudo, e ele é tão legal. 

—Mas você acha que esse seu caso com ele vale a pena? Vale a pena perder o Percy?  

Dei de ombros sem saber o que responder, mas no fim neguei com a cabeça. 

—Otária - ela disse me dando um tapa de leve e sorrindo ao mesmo tempo – vem, vamos comer acaí, pode não resolver, mas vai ajudar.  

Fomos para a cozinha e eu preparei uma bela tigela. Com tudo o que eu tinha direito. Açaí, banana, granola, leite em pó e por cima de tudo muito leite condensado. Fomos para o sofá e decidimos assistir “10 coisas que eu odeio em você”, só para eu sofrer mesmo.  

A campainha tocou e minha prima me olhou como se falasse “faz a boa, por favor”. Revirei os olhos e levantei. Abri a porta e encontrei o Percy com a calça toda suja de areia e o cabelo molhado.  

—Não vou desistir de você - ele pegou meu rosto e me puxou para si, me beijando.