Aquele beijo nunca deveria ter acontecido, o que eu falaria para o Percy? Que no primeiro dia em que a gente esteve longe um do outro eu já peguei outro moleque? A gente não estava junto, mas mesmo assim! A primeira coisa que eu faria quando chegasse na casa da minha tia seria contar para ele. Mas não tenho orgulho de dizer que aproveitei bem o resto da noite.  

Ficamos ali juntos sentados na areia por um bom tempo. Até minha prima e a namorada virem sentar com a gente.  

—E ai, pombinhos, vocês são rápidos - ela disse e eu devo ter ficado vermelha instantaneamente. Ainda bem que estava escuro.  

—Não enche Paula - André disse e eu comecei a rir de nervoso.  

—Quem apoia um mergulho? – Mel sugeriu. 

—Agora? - perguntei. 

—Lógico! Vamos ser espontâneos - ela disse, mas eu me mantive um tanto receosa.   

—Vamos! - minha prima e André disseram ao mesmo tempo.  

Todos se levantaram, menos eu. 

—Não sei, não. Nós vamos chegar na casa da tia encharcadas – eu disse à minha prima.  

—Ela não vai ligar, é só a gente secar o chão depois, faço isso sempre – quando ela reparou na minha cara ainda indecisa continuou - você veio para curtir, não é? Esquecer das coisas? Então! Vamos prima – ela me puxou e eu não resisti.  

Paula puxou a mão de Mel e as duas correram para o mar, tiraram a roupa e ficaram só de calcinha e sutiã. Eu não tinha pensado nessa parte, mas não ia me acovardar agora. André ficou de cueca e me puxou em direção à água.  

—Está bem, está bem. Mas vire de costas – ele virou e eu tirei a roupa bem rápido - pode virar – eu disse tentando me cobrir um pouco.  

—Relaxa Annie, nem consigo te ver direito – ele disse me olhando, e eu devo ter ficado vermelha de novo  - Mas devo dizer que fica linda a luz do luar -  Dei um leve empurrão em seu braço e, de repente ele me pegou no colo e saiu correndo para a água. Eu gritei e ri e as meninas fizeram o mesmo.  

A água não estava tão gelada, estava meio morna por causa do Sol que tinha feito durante o dia, o que deixou o mergulho bem mais agradável. Brincamos de briga de galo, de jogar água um nos outros.  

—E agora está feliz de ter entrado - André me perguntou e eu sorri.  

—É claro - também estava feliz de não ter vestido lingerie branca.  

—E minha companhia só deixou tudo melhor – ele jogando a cabeleira preta para trás todo convencido, o que me fez rir.  

Ele me pegou pela cintura e me puxou para perto. Enrolei as pernas em sua volta, debaixo da água e o beijei. Naquele momento nada assombrava minha mente. Estava aproveitando o presente, sem ter que me preocupar nas conversas que eu teria que ter. Só importava o agora.  

—Você foi uma surpresa e tanto, Annabeth – ele disse sorrindo deixando à mostra uma covinha que eu não tinha notado.  

—Eu que diga de você, nem imaginava conhecer alguém novo – ele me puxou para perto de novo e eu aproveitei. Lidaria com meus demônios pela manhã. 

Saímos da água e colocamos a roupa. Ele me levou para casa, e eu me senti mal de ter molhado seu carro, mas ele não pareceu se importar. Cantou todas as músicas que tocava na rádio e não tirou a mão do meu joelho. Quando chegamos a casa da minha tia, ele me olhou nos olhos e me beijou de novo.  

—Boa noite, Annie.  

—Boa noite – respondi e lhe dei um último selinho.  

Entrei em casa e me sequei bem rápido. Já passava das duas e meia da manhã, mas tia Mara não pareceu perceber, estava na sala assistindo Gilmore Girls feliz da vida. Quando me viu encharcada sorriu.  

—Paula te convenceu a entrar no mar, não foi?  

—Ela sempre faz isso? - perguntei rindo.  

—Sempre, essa menina não tem jeito mesmo. Falando nisso onde ela está? 

—Deve estar chegando, ela está vindo com a Mel – respondi.  

Minha tia assentiu e voltou os olhos para a TV.  

—Vai tomar um banho quentinho querida, ou vai acabar se resfriando.  

Enquanto deixava aquela água maravilhosa cair nas minhas costas refleti sobre o dia. Não sabia o que falar para o Percy. Nem tive coragem de checar o celular. Deixaria ele intocado até de manhã.  

Tia Mara tinha colocado um colchão no quarto da Paula e eu nem esperei ela chegar. Assim que saí do banho, coloquei meu pijama e deitei, adormecendo no mesmo minuto. Nem vi quando ela chegou, só acordei depois com a claridade do dia. 

Espreguicei e escutei minha prima vendo vídeos baixinho no celular.  

—Ai, desculpa. Eu te acordei? - ela perguntou. 

—Não, foi o Sol mesmo – disse me apoiando nos cotovelos – a noite de ontem foi muito boa! - disse me lembrando de tudo.  

—Nem me diga – ela disse sorrindo feito boba – foi mal não ter chego junto com você, eu fiquei um pouco com a Mel.  

—Sem problemas – disse e então veio uma dúvida na minha cabeça - sua mãe sabe?  

Ela olhou assustada para porta, a fim de verificar se estava fechada. 

—Ainda não. Então, por favor, não comenta nada.  

—Sem problemas – eu disse. 

—Você não disse nada ontem, né?  

—Só disse que você pegou carona com ela – ela respirou aliviada e deitou de novo. 

—Isso tudo bem. Não me mata de susto! - ela então voltou a olhar para mim – e você e o André! Ele é um amor, não é? 

—Sim – disse sorrindo. 

—Olha você com essa cara de boba! 

—Para com isso! - disse fingindo estar brava.  

—Não está aqui quem falou – ela se levantou e seguiu para o banheiro. 

Decidi então pegar meu celular para checar as mensagens e ligar para minha mãe. 

Senti meu coração gelar quando vi uma mensagem do Percy. Tinha esquecido totalmente sobre ele. Assim como minha situação com o Luke e a carta que ele tinha escrito. Que por acaso eu ainda não tive coragem, nem paciência, de abrir.  

“Bom dia, Sabidinha! Como foi sua primeira noite aí?”  

O que eu respondo? Que foi ótima, que eu já tinha me agarrado com um moleque?  

“Bom dia, Cabeça de Alga! Foi boa, conheci uns amigos da minha prima, foram todos muito legais”  

“Fico feliz em saber, já estou com saudade” - meu coração derreteu, o que eu estou fazendo? 

“Eu também, logo logo estou de volta : )” 

“: )”  

Eu sou o pior tipo de pessoa que existe.  

Liguei para minha mãe e contei as coisas de modo genérico, deixando de fora as partes mais quentes e ignorei as mensagens e ligações de Thalia e Luke. Não estava pronta para perdoá-los. 

Minha prima volta do banheiro com o celular na mão.  

—Estão nos chamando para ir à praia, topa? - ela perguntou.  

—Claro! Mas você não tem aula? 

—Até tenho, mas não tem nada de importante hoje – ela revirou os olhos e foi se trocar.  

—Sei – disse, mas não discuti, estava doida para voltar pra aquela praia.  

Coloquei um biquíni preto simples e uma saída de praia branca que parece um vestido.  

Tomamos um café rápido e a tia Mara insistiu que usássemos protetor solar. E não nos deixou sair até que tivéssemos passado. Chegando lá, estava todo mundo que encontramos no bar. Até o André que quando me viu abriu um sorriso enorme e correu para me abraçar.  

Ele me segurou pela mão me levando até o resto do grupo e estendeu minha canga na areia enquanto eu cumprimentava as outras pessoas.  

Tomei um pouco de Sol, para ver se eu ficava com alguma marca e por sorte eu pegava cor rápido. Peguei André me olhando algumas vezes e invés de eu ficar desconfortável, eu só conseguia sorrir para ele como resposta. O que o fazia vir até mim e me dar um beijo.  

—Quer entrar um pouco no mar? - ele me perguntou e eu assenti.  

A água estava congelante, mas logo me acostumei e perdemos a noção do tempo. 

Quando voltei para a areia tentei checar minhas mensagens, mas meu celular estava fritando no Sol e eu não tinha percebido. Nem consegui pegar na mão de tão quente. E ele é claro não ligava.  

Pov Percy 

Ficar qualquer quantidade de tempo longe da Annie era tortura. E ela estava demorando tanto para me responder. Ela deve estar se divertindo bastante. Por um lado eu fico feliz, assim ela tira o Luke da cabeça, mas por outro gostaria de estar com ela.  

Era a quarta vez que eu tentava ligar para ela e o celular estava desligado. Dois minutos depois recebi uma mensagem da mãe dela.  

“Oi, Percy. Aqui é a Athena. Annabeth quebrou o celular na viagem. Qualquer coisa deixe uma mensagem no Facebook dela, que depois ela te responde” 

“Ok, obrigada por me avisar” 

Que pesadelo! Falar pelo Facebook é horrível! E se ela está sem celular vai demorar muito para me responder. Talvez ela ficaria feliz de receber uma visita.