O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 9
Chá das cinco




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— Peter! – Abordava o licantropo.

Utilizando um terno surrado (a primeira peça que encontrou depois de acordar), naquele dia, decidiu caminhar para relaxar.

O ar livre o ajudava a colocar os pensamentos em ordem.

Crianças brincando, adultos apressados, pássaros gritando tão alto.

Depois de minutos caminhando, chutando algumas pedras e esbarrando em desconhecidos, certamente, só deveria voltar.

A lua cheia se aproximava... E apesar das transformações interrompidas, os sintomas vinham lhe atordoando por um tempo maior.

O gosto amargo demarcando a garganta.

A cabeça pesada...

Já retrocedia num desequilibrado vacilar, mas, ao reconhecer o velho amigo gordinho num vinho smoking social, sem dúvidas, tinha certeza que aquela havia sido a melhor decisão em tempos. 

— Oh, Remus. – Fechando a boca do pacote de papel pardo entre ambas as mãos, o homem retribuiu o sorriso torto, vagamente assustado. Observando em volta, questionava em dissimulada ansiedade. – Qua-Quanto tempo? – Percebendo-o sozinho, estreitava os olhos, e, ligeiramente mais confiante, alfinetava maldoso. – Como estão as coisas? Onde está o velho Sirius?

“Sirius”.

Baixando os olhos entristecido, Remus suspirou sem resposta.

Intrigado, Peter investia, venenoso:

— Vocês eram inseparáveis! Não acredito que ele esteja lhe deixando vagar sozinho... – Tocando-lhe as vestes, a piedade maquiava o evidente nojo. –... Assim tão maltrapilho e deplorável. Ainda mais quando a lua cheia está tão próxima.

— Peter... – O mais alto pedia numa pausa cansada.

Franzindo o cenho, a recordação lhe tremulava.

Um delicado pedaço de vidro, que o mais breve tocar do vento poderia quebrar.

Piscando algumas vezes, já não encontrava a rotineira calma. Mais do que nunca, agradecia ao destino por aquele encontro. Alguém com quem desabafar. Um amigo com o qual ele não precisaria sustentar a habitual e forçada expressão de “tudo bem”.

— Eu fiquei muito feliz quando soube que você e a Lily se afastaram da Ordem. - Segurando o cotovelo, inseguro, admitia. - Sirius anda distante... - Fitando o chão, segredava baixinho. - Quase louco.

— Render-se a loucura está na carga genética da família Black, caro Lupin. - Peter brincou, erguendo as sobrancelhas, ardiloso. - Eu entendo que o ame... - Percebendo os olhos culpados, acrescentou. - Ou deve ter o amado.

— Não! Eu o amo. - Levando a mão ao peito, Remus não tinha dúvida. Desviando o olhar, a preocupação o acompanhava. - Sirius é um ótimo namorado... É só que...

— Caro, Lupin. Existe uma fase que o amor desaparece e fica só aquele senso de conveniência.

— Você não entende, Peter. Eu não consigo imaginar uma vida sem o Sirius.

— E aqui vemos a tóxica e desgastante responsabilidade.

— Não, Peter. – Atordoado pelos sentimentos que não queria, o licantropo corrigia. Por Merlin, ele amava o impulsivo Black. Todavia... Naqueles dias... Fitando o amigo por alguns segundos, não conseguia sustentar o olhar por muito tempo. O choro engasgado na garganta resistia. Voltando a coçar o antebraço, angustiado, segredava. – Ele está paranoico. A última vez que conversamos, ele disse algo sobre a alma daquele que não se deve nomear está fragmentada em objetos. – Descrente, - E que havia uma legião de seguidores tentando reuni-las. Surreal. – Pensativo, não considerava. Mas... Fitando a contraparte, aguardava um mínimo posicionamento, enquanto batalhava internamente sobre o acreditar ou não. Confuso, ratificava. - Isto é impossível, né?  

— Sim. - Continuava Peter, cauteloso, sem negar a surpresa pela ordem já ter aquela informação. – Eu... Eu nem sei o que dizer diante tamanho absurdo. Claramente, não acho possível alguém fragmentar a alma e...

— Sinceramente, eu não sei. James confirmou, inclusive, que a ordem está com dois dos objetos.

— Dois? –  Assustou-se, logo disfarçando. Tocando de leve o ombro do amigo, sugeria. – Por que não vamos tomar um chá enquanto conversamos?

— Sim... – Remus aceitava, já o seguindo.

Ocupando uma das cadeiras ao ar livre duma cafeteria da esquina, o ardiloso rato, após descansar o segurado pacote no próprio colo, entrecruzava os dedos, continuando sorrateiramente interessado:

— E que tipo de objetos a Ordem tem?

— Eu não sei. - ... - Acredita que o Sirius brigou com o James e falou que ele não deveria compartilhar informações sigilosas para qualquer pessoa. - Contidamente colérico, achou importante frisar, já sentindo os olhos marejados. - "Qualquer pessoa", Peter.

Apoiando a mão sobre a do amigo, o comensal só suspirou entristecido. Talvez, pelo declínio daquele relacionamento, o qual tinha acompanhado durante toda idade escolar; ou por ter o convidado para tomar um chá quando as informações importantes já findaram. Todavia, o tradicional costume inglês poderia ser a desculpa perfeita para outra daquelas conversas. Tracejando o dedo pelo pardo pacote, alguns fracos daquele veritaserum até que iria servir.

Definitivamente, o lorde não perderia aquela guerra só pelos seus amigos ficarem metendo o nariz onde não devia. Até porque, não sendo notável em poções como Severus, desequilibrado como a Bellatrix ou rico como o Lucius, certamente, esta seria sua redenção. Observando o líquido servido, sorria discretamente pois, finalmente, também detinha uma carta de prestígio.

— Eu sinto que ele me ama, Peter. – Remus continuava.

— Remus...

— Eu só queria que tudo voltasse a ser como na escola. E... - Enxugando as involuntárias gotículas tímidas no canto de seus olhos com o punho, não poderia desmoronar ali. Tomando um gole do chá de morango para empurrar a tristeza de volta ao íntimo, buscava sorrir. Meneando a cabeça em negativo, pedia. – Desculpa. Eu não vou insistir neste assunto.

— Não, você sabe que sempre pode desabafar comigo. Sobre qualquer assunto... Especialmente, sobre o Sirius, sobre a Ordem...

— Você é tão solidário. – Respirando fundo, Remus agradecia de coração. Dando umas tapinhas na mão que antes lhe concedia apoio, comemorava. – Mas, fiquei sabendo que a Lily está grávida. Felicidades!

— Obrigado. - Disse, sem verdadeira alegria. Desviando o olhar para a escassa fumaça emanada da xícara, seria estranho retroceder ao assunto antigo?

Refletindo, enquanto Remus estivesse mais quebrado, ele seria o perfeito ombro amigo para chorar.

Ansioso, após bebericar a própria bebida, alfinetava:

 - A felicidade da vida de um homem são as crianças. E o Sirius gosta tanto delas. Você recorda o quanto ele mima o Harry. – Forçando o riso compadecido, Peter assegurava. – Se vocês não conseguem conversar mais, esta separação será a chance de ouro para os dois.

— Talvez, mas eu não quero o deixar.

— Nem sempre o que queremos é o certo.

— Droga, Peter!


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