O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 14
Interrogatório




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— Uma Black? – Remus repetia pela terceira vez.

Não importava o quanto encarasse a fotografia, aquilo permanecia surreal.

Para piorar, as janelas fechadas...

O tremular da baixa luz amarelada.

Sentado à mesa da cozinha, em outras situações, não conseguiria segurar o riso naquele improvisado interrogatório. Em sua imaginação, havia construído a imagem sobre Sirius nunca falar sério. O galante herdeiro sempre convertia tudo em beijos, abraços e brincadeiras. Adormecendo compartilhando o mesmo sofá, os dois formavam um casal de idosos que dormia as seis da tarde toda quarta-feira.

Contudo, fazia um bom tempo que as coisas não eram como no passado.

Eles...

Outro tapa na superfície da mesa.

Um claro pedido de atenção.

Engolindo a saliva com dificuldade, a garganta parecia travar enquanto os ombros tencionavam mediante a cólera lhe exigindo respostas.

Por Merlin, o que ele poderia falar...?

Um pedido de desculpa ou uma explicação?

Nem mesmo discernia a situação. E, baixando o rosto, tinha ciência que nada faria diferença. Por isto mesmo, o maroto evitava fitar o nevoeiro cinza.

Culpado!

Entristecido, jamais poderia imaginar que, um dia, teria medo de Sirius.

Sem forças para levantar o olhar, nem em pesadelos...

A fúria...

Acusações...

Ele...

Suspirando magoado, na escola, o maroto se esforçava tanto em provar não ser outro desvirtuado Black.

Integro.

Divertido.

Demorou bastante até que Remus lhe confiasse o seu solitário segredo. Dedicado em permanecer ao seu lado, não demorou até que as tolas e exageradas promessas lhe furtassem o coração. Por isto, tendo a segurada imagem entre o indicador e o polegar, Remus não conseguia controlar a sensação de... Traição? Por que estava sendo perseguido e fotografado? Não poderia nem mesmo tomar um chá?

Queria levantar, mas... Recordando as palavras de Peter, ficaria ali por conta “da tóxica e desgastante responsabilidade”?

Não.

Jamais...

Ele amava Sirius.

Ainda amava.

Aliás, sendo o primeiro a lhe oferecer um abraço depois de um longo tempo frio, o lincantropo tinha certeza que aquele carinho cultivado jamais dissiparia.

Todo dia, ao acordar, repetia:

Para sempre, ele o amaria”.

E, certamente, por amá-lo que a sensação de tristeza machucava mediante as agressivas palavras arremessadas contra si.

Permitindo o espírito retornar para o momento da fotografia, não conseguia acreditar que aquela garota engraçada e jovial seria mais um membro insano da obscura mansão.

Não!

Eles não poderiam ser da mesma família... No entanto, arriscando piscar, também não havia se enganado quanto ao Sirius?

Engolindo a vontade de chorar, voltava a repetir:

— Ela não parece uma Black.

— Idiota. – Libertando a ódio acumulado num longo suspiro, não escondia a decepção. – E pensar que eu confiei em você.

Só poderia ser uma piada, certo?

Articulando os lábios para falar, Remus temia que aquilo se transformasse numa grande discussão. E, se não conseguisse controlar a fera dentro de si e acabasse o machucando? Pelo menos, desde a infância, ele já colecionava cicatrizes. No entanto, Sirius...

Talvez, o deserdado homem tivesse razão para tamanha fúria.

Por isto, envergonhado de si, murmurou:

— Sim. – Uma única lágrima. A voz embargava. Respirando fundo para continuar, ressaltava agridoce. – Felizmente, há um bom tempo você já não confia, verdade?

Cerrando os olhos, o rapaz de cabelos tão ondulados como os pensamentos, dava-lhe as costas por alguns minutos.

INFERNO!

Cerrando o punho, permitia que todo a raiva se convertesse contra o maior vilão naquele recinto: ELE.

O idiota que sempre machucava a todos.

Queria se ajoelhar.

Pedir desculpas.

Perdão?

Todavia, do que iria adiantar quando ele se transformava em outro monstro a cada discussão? A calma voz se empenhava em não falhar enquanto explicava:

— Tonks. Ela me disse que o seu nome era Tonks. Ninfadora Tonks.

— Minha prima.

— Prima? – Talvez fosse. O olhar desafiador, o rosto expressivo, a rebelde alegria. Se fosse um jogo de sete erros, poderia encontrar o amado na menina. Assim, - Pra falar a verdade, vocês se parecem.

Sacudindo levemente a imagem, esta alterava para um momento em Hogwarts.

Descansando na sombra de uma grande árvore, possivelmente, um fim de tarde, estavam eles.

Naquela época, James aprendia a fotografar e Sirius fazia várias poses, até que deitou no colo do secreto amante pedindo uma lembrança dos dois.

Vencido, o lobisomen aceitou à contragosto.

Odiava câmeras.

Por que precisava registar aquele maltratado rosto em algum lugar? Se tivesse sorte, a imagem terminaria em algum livro explicando sobre maldições, ou somente, teria como objetivo assustar gerações futuras como a marcada casa dos gritos.

No entanto, escutando o babaca sussurrar “acho que estou apaixonado por você”, terminou por compartilhar o sorriso como aquela alegria tão deles.

E, recebendo a singelo papel, desde então, guardava com carinho aquela captura de momento tão preciosa, seu subestimado tesouro. 

Delineando aqueles brancos dentes presunçosos, fazia um bom tempo que já não encontrava aquela empolgação que o contagiará a ponto de viciar naquele complicado homem. Nostálgico, pontuava:

— Não o “você” de agora.

— Remus... – O que poderia falar? Volteando a mesa, meneava a cabeça em negativo, num visível conflito. Puxando a cadeira pra sentar, o jovem Black sentia o coração apertar por ter perdido o controle outra vez. Ressentido, apontava para o papel nas mãos alheias, resmungando. - Eu só queria afastar todos os Blacks da sua vida. – Baixado o olhar, igualmente triste, - Você sabe que eles são a escória do mundo bruxo.

— Até você, Sirius?

— Certamente.

— Não.– Os olhos verdes ratificaram firmes. Voltando a apreciar aquele momento congelado no frágil papel, continuava. – Você é um cabeça dura, impulsivo e imprudente, idiota, - Fitando-o para frisar bem os adjetivos, - Insuportável, infantil, mas eu sei que você sempre tem mil planos para nos proteger. E, exatamente, por ter convivido tanto tempo com o mal que fica apreensivo... – Recordando do ataque a casa Potter, a angústia. - Ainda mais depois do que aconteceu...

— Sim, e você não imagina o meu ódio por pensar que o Peter...

— Sirius, por favor, - Franzindo o cenho, Remus interrompia cansado. Quase implorando. - Você tem que parar de procurar culpado entre os seus amigos.

— O INFELIZ ME TROUXE ESTA FOTOGRAFIA! – Percebendo os lábios boquiabertos num perfeito “o”, buscava conter aquele vulcão dentro de si numa incontrolável erupção de ira. Cerrando os dentes, queria virar aquela mesa, mas se controlava por Remus. Pontuando pausadamente, - Andrômeda era minha tia favorita. Contudo, poucos sabem acerca de sua origem Black já que a minha família fez questão de soterrar em cinzas desde que ela se casou com um nascido trouxa. – Tocando o papel para retornar a prova original, sorriu desacreditado ao complementar. – E digo mais, a gota d’agua foi ele dizer que você nos traía por “inveja”. Quase amasso toda o papel como queria fazer com a cara dele.

— Pera, “Inveja”?

— Sim. – Dando de ombros, Sirius não perdia a oportunidade em provocar. – Não sei se do meu cabelo perfeito ou do jeito que o James pega cobra. - Percebendo o vago riso nos lábios antes perplexos, o alívio não conseguia habitar em seu peito, pois, minutos atrás, ele tinha sido o culpado pelo marejar daquele olhar.

Admirando-o, como podia ter duvidado de Remus?

Como pode ter o pressionado?

Maldição!

Como pode acreditar que o Peter seria a melhor alternativa para guardar a localização Potter?

Decepcionado consigo, jamais iria compreender como alguém tão brilhante e aluado permanecia ao seu lado.

Talvez, aquele acumulado estresse, fosse em decorrência a incomoda distância. Os gritos do seu organismo pela falta de Remus.

Assim, sem dúvidas, continuava:

— Tenho certeza que você tem muita inveja por não namorar um cara tão perfeito como o que eu namoro.

— Merda. – Remus praguejou vermelho.

Merda!

Merda!

Merda!

Soava surreal como, embora tantos anos tivesse se passado, aquelas bobagens permaneciam lhe tingindo as bochechas e lhe esquentava o peito semelhante à quando eles se conheceram.

Mordendo os lábios para evitar o sorriso idiota, entrou na brincadeira:

— Ouvi dizer que ele pode ficar solteiro logo, logo.

— Também, - Apoiando o queixo sobre a mão, desdenhava. - Namorando um cachorro idiota.

— Sirius, eu entendo que esteja... Estejamos aflitos. Mas... – Reparando a fotografia outra vez, a segunda xícara sobre a bandeja...? Estreitando os olhos, – Semana passada, eu me encontrei com o Peter. E, foi lá que conheci a Tonks. – Arriscando com cuidado, continuava. – Ele disse que você tinha sido atingido pela loucura em sua família.

— Ah! – Empunhando a varinha, o homem levantava. - Mas eu fui mesmo.

— Sirius!

— Matar um rato nem deve ser crime, Moony. É dedetização.

— Sirius... Por favor.

— Tem profissionais que recebem pela missão que pretendo fazer de graça, meu amor.

— Talvez, ele esteja enfeitiçado. E ele está com a Lily porque...

— Não o defenda, Remus. – Rangeu entredentes. Mediante o olhar assustado, desviou o rosto. Por que diabos ele não conseguia domar aquela agressividade lhe dilacerando a carne?

Trêmulo pelo ódio, COMO O TRAIDOR...?

Como ELE pôde ser tão idiota?

Desolado, pensava nas risadas, nos planos, nos momentos de confidência.

Inferno!

Por que Peter os entregaria?

Fechando o punho com bastante força, almejava que aqueles dedos estivessem em torno do pescoço do infeliz.

Após um longo silêncio, lembrou:

— James.

— Sirius. Não temos certeza ainda.

— É melhor compartilhar a suspeita. – Conjurando o telefone a própria mão, sinceramente, ele nem sabia por onde começar. Ainda mais se, realmente, o imbecil houvesse sido o responsável pelo ataque.

Observando o pocinho de puro ódio retornar a cadeira, Remus deixou a fotografia à mesa, levantando-se. Por mais que ainda houvesse certo medo e ele estivesse machucado pela desconfiança, no íntimo, só esperava que eles ficassem bem.

Tocando os ombros repletos de tensão, queria conhecer um feitiço que obrigasse o cabeça dura a relaxar. Separá-lo de toda aquela desnecessária preocupação. Contudo, sem aquela energia do próprio inferno faiscando, a aura caótica e o enorme senso de proteção, não seria Sirius.

Assim, pedindo com carinho:

— Conversamos com ele amanhã, Padfoot. – Escutando o telefone chamar, apertava-lhe ainda mais os músculos. - Hoje tenho compromisso.

— Como assim?

— Ando trabalhando com barman e já estou quase no horário.

— Barman? – O maroto sorriu interessado. – Você vai usar aquele uniforme com gravata borboleta?

— Sirius!

— Oi. – O Potter atendia. – Sirius?

— James, a Ordem nos enviou para uma “investigação” de urgência. Encontre-me em dez minutos.

— Não posso. Estou com o Harry e...

— Leve meu afilhado.

— Sirius... – Observando o garoto brincar sozinho com carrinhos no chão da sala. – Não quero envolver meu filho numa investigação.

— Investigação? Eu disse confraternização. – Percebendo o lobisomen segurar o riso enquanto deferia uma tapa contra a própria cara em redenção, ele continuava. – Eles estão nos parabenizando pelo excelente desempenho neste primeiro semestre e, por isto, você deve levar o Harry.

— Você não vai, Sirius. – Remus sussurrava, sem verdade.

Afinal, embora não confessasse, estaria contando as horas pra festa acabar e, finalmente, conseguir matar a saudade daquele idiota, o qual, percebendo o namorado se afastar, colocando o telefone abafado contra o peito, questionou em dúvida:

— Estamos bem?

— Não sei, você ainda tentará me morder?

— Remus. – Sem culpa, Sirius sorria sugestivo. - Garanto que não serão só tentativas.

"Céus!" Suspirando fundo, o licantropo seguiu para o quarto. O amante idiota nunca mudaria. Contudo, semelhante a um cigarro, depois de tantos anos tragando e aspirando a fumaça, Remus admitia que amava o impulsivo homem por ele ser, exatamente, assim.

Deste modo, indo até o ouvido do negociador, sussurrou semelhante ao que o cachorro fizera na escola:

— Quer saber? - Deferindo um casto beijo na bochecha, - Também acho que estou apaixonado por você.

— COMO ASSIM: ACHA? - Baixando o telefone desestabilizado, corria para o quarto. - REMUS! 

— Sirius! – Do outro lado da linha, James nada entendia. 


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