O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 15
Não pertencemos ao mesmo lado




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Os cotovelos flexionados sobre a mesa, as mãos unidas quase numa silenciosa prece. Somente um dos polegares dava pequenas batidas no lábio inferior daquele pensativo James. Apoiando a testa sobre o indicador, ele coçava o olho esquerdo, questionando até quando conseguiria ignorar o crescente cansaço.

Até quando...

Respirando fundo, o estômago apertava pela quantidade de sono acumulada e, novamente, o bruxo recorria a uma poção de bolso, buscando continuar em claro para tracejar os possíveis caminhos percorridos pelo professor.

Ele não visitava o mercado.

Nunca estava na escola.

Onde será que as sinistras reuniões ocorriam?

Fechando o vidro após alguns goles, observava que logo a garrafa azul estaria vazia e, por mais que a produção daquele elixir fosse bem fácil, não teria o inigualável “toque mágico”, repleto de reclamações e, certamente, veneno de cobra.

Severus...

Respirando fundo, onde o maldito poderia ter se metido?

Num momento, na cozinha e, depois...

Semelhante a fumaça, somente os resquícios do vago cheiro foram abandonados pra trás.

O livro com uma página marcada pela metade.

Uma camisa na lavanderia.

O travesseiro amassado.

E, na mesa, um terceiro prato.

— Quando o papai voltará? – Harry perguntava e, nestas horas, James desconversava por sorrisos quando só queria chorar como um bebê até que alguém lhe trouxesse a rabugenta erva daninha.

Seu secreto amante.

Severus...  

Por Merlin, o imbecil não poderia ter, simplesmente, desaparecido.

Será que o tal “monstro” havia o sequestrado?

O idiota nunca havia passado tanto tempo sem lhe dar notícia, então... Voltando a discar no celular, certamente, ele deveria estar em perigo.

Fora de área”.

Eles deveriam ter ido para Hogwarts...

Sentido o pequeno voltar a lhe escalar o colo, James se perguntava acerca da motivação para ter cedido ao melhor amigo quanto à suposta “festa da Ordem”. Todos os rostos eram desconhecidos, e Sirius não largava a cadeira do bar onde Remus o censurava entre risos.

Pegando o guardanapo, o bruxo limpava o sorvete rosa no canto da boca do filho, explicando que ele já era um rapazinho e, por isto, deveria permanecer na cadeira ao lado.

Baixando o rosto, o menino fingia não ouvir. E, deitando a cabeça contra o peito do protetor, bocejava.

Fitando-o desacreditado, James segurava o riso mediante o estrategista. Endireitando-o no colo para que o pequeno pudesse descansar, fazia alguns dias que o jovenzinho recusava babá ou qualquer rosto desconhecido. Desde o sumiço do professor, Harry franzia o cenho quando sozinho, empurrando portas e agarrando na perna da calça como se tivesse alguma força para impedir um adulto... De sumir?

Suspirando triste, o pai o acolhia com carinho, pois não o culpava. Primeiro, Lily... Agora... Estava difícil convencer o pequeno de quatro anos que ele não iria desaparecer junto ao próximo piscar de olhos.

— Harry está com sono? – Trazendo uma taça de bebida, Sirius retornava à mesa.

— Ele está manhoso desde que... – Baixando o olhar para os fios amarronzados cortados na altura dos olhos, a garganta apertava... Libertando a angústia num longo suspiro, os muitos aniversários não o permitia começar a chorar ali. Contudo... Pensar em Severus... Percorrendo o olhar para o líquido roxo efervescendo, pontuava divertido. – Parece suspeito.

 - Remus acha que você não está empolgado o bastante com a festa e mandou isto.

— Sirius, eu aprecio a... – Perdendo-se nas palavras, o auror fitava o amigo e, atrás deste, a negra capa esvoaçava cortando os corredores.

Cumprimentando sujeitos sem expressão, estava Severus distribuindo aperto de mãos e comentários soturnos, ácidos e sempre repletos de poucas verdades.

Entregando o garoto ao padrinho, James se apressou. E, por um minuto, a maldita criatura se mesclava as sombras outra vez. Buscando os rostos dos recém-chegados, terminou por segui-los até um segundo salão, onde o imbecil acompanhava outros convidados indicando mesas.

Emputecido, o grifinório não conseguia acreditar na cara de pau. Se ele queria brincar de festinha com aqueles esnobes, POR QUE INFERNO NÃO FOI ADULTO O BASTANTE PARA TERMINAR? Por que só tinha que sumir enquanto irradiava uma terrível guerra?

Por quê...

Enojado, os cabelos platinados.

Rostos impassíveis.

Permitindo o olhar vagar pelo amplo local, só agora James percebia o excesso de prateado pairando as pessoas, sem contar o verde intenso das cortinas combinando com as impecáveis toalhas de mesa.

“Festa da Ordem?” James repetia pra si, em escárnio. Aliás, por que Sirius teria o arrastado prali, quando até o chão tinha um brilho acinzentado e os móveis reluziam em prata maciça? De qualquer forma, ainda que fosse ignóbeis as motivações, o auror não conseguia repreender o peito por saltitar feliz.

Ele estava com raiva? Obviamente! Contudo, saber que o idiota estava bem...

Percebendo-o abandonar os pálidos sujeitos, o grifinório deslizava pela penumbra buscando se aproximar, até que conseguiu alcança-lo no corredor.

Segurando-lhe o braço, não iria iniciar aquilo com cobrança, mas...

— Por que infernos você desapareceu? Nem mesmo atende as minhas ligações? Você está maluco, Severus?

— James... – O nome fraco e opaco. Dando um passo pra trás, o olhar permanecia congelado se, realmente, seria as tolas armações do insuportável. Quer dizer, não poderia ser... Por que aquele idiota estaria ali? Quem havia permitido que... Pigarreando, precisava agir com o máximo de indiferença pela segurança dos dois... Por isto, levitando a sobrancelha, explicava ríspido... - Se eu não atendo, você deveria ser um pouco mais inteligente para perceber que não quero falar com você.

— Por Merlin, Severus, você só saiu. Estamos numa maldita guerra e você...

— E eu? Não pertenço ao seu lado.

— Não, - Indignado, o que o maldito pensava? Percebendo o braço tentar desvencilhar, James apertava, prosseguindo por disciplinados murmúrios. – Não pertence. Mas, eu não vou lhe soltar até que me explique que porcaria aconteceu.

— James, controle-se. Estamos num corredor e o lorde...

— Severus... – Expelindo o nome magoado, aquilo só poderia ser brincadeira. Estreitando os olhos raivosos, o bruxo frisava soturno. – Você não tem ideia sobre o quanto eu estou me controlando pra não transformar isto tudo num inferno.

E, fechando os olhos, ao contrário do pontuado, Severus sabia.

E como sabia.

Aquele imbecil nutria a peculiar capacidade de colocar fogo em qualquer lugar.

Cansado, o sonserino conseguia imaginar os vários diabretes em posição de ataque dentro do furioso homem. Era um milagre que ele prosseguisse entredentes, aguardando uma explicação. Reparando as marcas da idade apontando no rosto a sua frente, como o tempo poderia ter passado tão rápido?

Em outra época...

Se eles pudessem voltar à escola, passariam outros sete anos tentando se matar? Ou deitaria na grama e contariam estrelas, implorando para o tempo nunca passar... Se bem que, James não estaria ao seu lado, como fogo e gelo, pela coexistência do mundo, eles nem deveriam se conhecer.

E, outra vez, o rabugento professor forçava o braço. Mediante a insistência dos dedos firmes, interpôs calmo:

— Cansei. -... Criando coragem para fitar o olhar carrasco, ele prosseguia escolhendo as precisas palavras. – Eu cansei de fingir que sentia algo por você, Potter. De certo modo, hoje, eu já não consigo sentir nem desprezo quando vejo você assim: impotente e perdido. Se nem Lily conseguiu te aguentar, por que eu...

— Fingindo? – James desdenhava.

— Sim. E... – Aquela seria a cartada, então... A garganta travava e ele não poderia permitir o corpo tremular perante o coração dolorido. Buscando forças no íntimo para prosseguir firme, - E eu não quero ficar perto do Harry.

— Eu vou protegê-lo. É o meu dever co...

— Potter, não seja tonto. – Severus interrompeu. - Eu não ligo para o “seu dever”. Aquele moleque idiota não é o meu filho. – Percebendo os dedos lhe soltar, engolia seco. Umedecendo a garganta para que a mentira pudesse prosseguir marchando impecável, recordava o lorde das trevas, a obrigação com os comensais... - Você não entende? É nojento. Eu nunca quis algo assim. É sufocante como o...

— Eu entendi. Desculpa.

— Eu achei que fosse funcionar, mas... – Mordendo o lábio em hesitação, por que fitar aquele homem era como fitar os olhos perdidos da criança. Os olhos de Lily... Pensando no próprio pai, enojava-se. – Eu não o suporto.

— Então, é somente por causa do Harry?

Sem responder, o sonserino meneou a cabeça em positivo, reticente.

Dois segundos.

Um minuto.

E por mais que Snape pedisse as pernas para caminhar, não entendia por que as ingratas aparentavam esperar pelas habilidosas palavras que sempre o convencia a mudar de ideia?

O silêncio.

Piscando intrigado, desde quando aquele arrogante grifinório aprendeu a aceitar um “não”?

O que aquela cabecinha estaria...

Desesperando-se, interpunha cuidadoso:

— James, por favor, o infeliz só tem você.

— Eu não vou deixá-lo. Mas... – Magoado, o auror não conseguia entender. Juntando as peças, recordava das reclamações e, durante um tempo, realmente, utilizou o garoto como desculpa praquela relação. Crianças davam trabalho. Em inúmeros lugares, não eram bem-vindas e... Não fazia o menor sentido! Severus ensinava crianças, mas... Talvez fosse diferente, pois... Não... Desistindo, – Certo. – Articulando os lábios para falar... a indignação não o permitia, assim, – Eu te vejo por aí.

— Eu espero que não.

— Você tem meu telefone, - Sentindo pequenos braços lhe acolher os joelhos pelas costas, James quase cambaleou, equilibrando-se pelo medo em machucar o pequeno. - De qualquer forma.

— Papai, eu te encontrei.

Segurando o garoto, Sirius bronqueava:

— James, ele não para. – E nem conseguiu terminar de falar, pois o garoto se jogava para os braços do pai, saudoso.

E, notando a cabisbaixa tristeza por cima do ombro do genitor, o alegre sorriso formado por minúsculos dentes resplandecia semelhante ao poderoso sol.

Erguendo os bracinhos ansiosos, Harry chamava contente:

— Papai! – Percebendo-o baixar o olhar, insistia confuso. – Pai? Papai...?

Resistindo a fitar o problemático amante, James segurava as mãozinhas, explicando divertido:

— Você só pode ter um pai, Harry. E sou eu.

Pendendo a cabeça pro lado, curioso, Sirius segurou o riso ao perceber que a emblemática figura se tratava do conhecido inimigo. Colocando as mãos no bolso, dava um passo afrente, provocando:

— Ora, ora, o Ranhoso por aqui.

— Sirius... Só nos batemos por acaso. – Fatigado, James pedia. – Vamos.

— Mas, o papai...  

— Severus é o seu professor, Harry. - ... – Ou era, eu já não sei.

E, ainda assim, os verdes olhos não conseguiam descolar da macabra figura parado ali como se quisesse um abraço. E, depois de quase um ano juntos, o menino sabia quando o rabugento homem queria um abraço. Quando o aguardava acordar para perguntar se, realmente, estava bem... E, sem compreender acerca dos dias que não o encontrava, o pequeno buscava em cada porta que abria, embaixo da cama, dentro do armário. E, embora não entendesse o desapontamento, do seu jeito, estava cansado daquela brincadeira de esconde-esconde.

No entanto, finalmente, eles haviam se encontrado.

Não deveriam comemorar?

Parecia injustificável que o querido professor só lhe desviasse o olhar como se não o conhecesse. 

Desviando dos braços do pai, pedia choroso:

— Professor Severus...

— Potter... – Tocado, o sonserino censurava quase numa súplica.

— Harry, você se lembra daquela vassoura que...

— Peraí, vocês estão brigando? – Estreitando os olhos, Sirius observava verdadeiramente desacreditado. Percebendo a tensa mudez, sorria em comemoração. – Finalmente, as minhas preces foram atendidas e vocês se separaram?

Revirando os olhos, James só girou nos calcanhares e prosseguiu na direção oposta tentando enganar o filho. E, a cada duas palavras, um suspiro para suprimir o choro entalado na garganta. Umedecendo os lábios, ele não entendia o motivo para está tão desapontado. Ainda assim, forçando o riso pro atento menino, prosseguia aleatório:

— E girassóis gigantes caminhavam...

— Você não vai atrás deles? – Sirius interpunha, claramente inconformado.

— Eles estão melhor sem mim. – Explicava para... Ou melhor, repetia para si numa inútil tentativa de autoconvencimento. Mordendo o lábio inferior, Severus permitia que a negra cortina de seus cabelos lhe ocultasse a tristeza que o afligia. Ácido, garantiu ao herdeiro, despedindo-se. – Parabéns! Você sempre esteve certo, Sirius. 


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