O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 13
Xeque




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— Peter, a que devo a surpresa? – Perguntava Sirius, sem nenhum humor.

Permanecendo com a mão segurando a porta para impedir a entrada, analisava o amigo da cabeça aos pés, logo bocejando para demonstrar o quanto ele o incomodava por aparecer ali.

O RELÓGIO NEM MARCAVA DEZ DA MANHÃ.

Logo, quando, finalmente, ele tinha conseguido dormir depois de passar a noite eliminando otários junto com a Ordem.

Forçando o riso, não entendia a motivação para o rapaz mais baixo permanecer parado, quando, claramente, não era bem-vindo. Por mais que fossem amigos de longa data, Sirius não reprimia a crescente e evidente indignação. Percebendo-o não entender os seus sinais, interrogou cínico:

— O que era tão urgente que não podia ser falado via coruja?

— Sirius... – A voz macia aconselhava. – Acho que adultos não deveriam acordar com tanto mal humor.  

— Eu não ligo pro que você acha, Peter. – O herdeiro retrucava. Num breve aceno, já fechava a porta. – Agora, dê-me licença, pois estou muito cansa...

— Calma! – O indesejado convidado se apressava, empurrando a madeira com ambas as mãos. Aos poucos, forçava-a pra dentro, escorregando melindrosamente. - Não me disse se está bem?

Erguendo a sobrancelha direita, Sirius não respondeu. O excesso de sono lhe causava certa dor de cabeça, esgotando a pouca paciência que ele cultivava. Uma das primeiras coisas avisadas na cerimônia de formatura colegial era que jamais acordaria antes das 11. Contudo, pelo jeito, Peter não tinha escutado.  

Percebendo o intrometido conferir os quadros de viagens e logo se acomodar no sofá, o deserdado Black deu de ombros, vencido. Retirando as almofadas e os lençóis da improvisada cama, sentava-se na outra extremidade do móvel, resmungando:

— Estou tentando sobreviver nesta porcaria de guerra.

Peter assentiu com falso pesar.

Reparando as negras cortinas empoeiradas, embalagens de salgadinhos esquecidas pelo chão e aquele incrível mau humor, uma tímida felicidade lhe saltitava aos olhos pelo casal não desfrutar dos seus melhores dias. Até porque ele os conheciam por tempo o bastante para saber quando as fugas de Remus temiam confronto, especialmente, mediante um raivoso cachorro infantil, ao qual se transformava o jovem Black quando zangado. 

Certa vez, em Hogwarts, Sirius havia se machucado durante uma das luas cheias. Culpado, o lincantropo desconversava, atrasava o passo, temeroso que a tragédia se repetisse. Ele era um monstro e não merecia ter amigos, pois... Perdendo a paciência, os nebulosos olhos prometeu esmurrá-lo, tendo como intuito provar que qualquer um poderia machucar quem amava.

E, ao notá-lo cerrar o punho, Peter pensou em gritar pelo James, mas... Continuando a atolar as botas na neve, fingia-se distraído, pois ele não queria "impedir de verdade". Que se matassem! Entre berradores, perdas, maldições e suspensões, o pequeno rato sentia certa felicidade em acompanhar vidas mais ferradas que a sua.

Contudo, não demorou até aqueles dois começarem a sair. E, aos poucos, a crescente raiva que acompanhava o primogênito, dissipava, e quase nada importava entre as borboletas que era aquele amor. Esquecendo-se os cachecóis, aquela relação também dava voz para o assustado lobinho que nem deveria existir.

Nestas horas, pelas costas, o amigo conferia se os seus dedos gordinhos poderiam empurrá-los num abismo.   

Apesar de se intitularem melhores amigos, Peter se sentia frustrado por sempre está à sombra. Ele não ganhava troféus no quadribol, nem era elogiado pelos professores, às vezes, nem mesmo censurado. Andando com aqueles imbecis, era como se não existisse e, somente entre os comensais, começou a ser notado.

Agora, já não era somente um medíocre rato. Inclusive, logo ele seria o braço direito do chefe. Principalmente, pois estava próximo aos babacas citados na profecia.

Se bem que...

Foi necessário muito empenho para plantar a semente da desconfiança entre os amigos. Separar James da Lily. Enxotar o lobo de volta pra caverna. E, ali estava, mediante o seu solo mais fértil e trabalhoso naquele complicado jogo: Sirius. Um passo em falso e ganharia xeque-mate sem antes mesmo de mexer o primeiro peão.

Por isto, reticente, prosseguia, dando leves empurrões nas palavras, suas importantes peças:

— E, onde está o Remus?

— Ele já é bem grandinho para precisar de babá.

— Desculpa. Eu só estou preocupado, pois a lua cheia...

Descansando a cabeça contra o encosto do sofá, Sirius fechou os olhos. Não bastava procurar os fragmentos daquela problemática alma e matar desprezíveis criaturas, tinha a porcaria daquela preocupação lhe montando os ombros e, cada vez mais, afundando-o. Logo, logo, estaria enterrado por aquela montanha de assuntos desagradáveis, os quais já o impedia de respirar.

Massageando a têmpora com o indicador, recordava:

— Acho que ele foi na casa do James. Pegar uma poção ou algo assim.

— James está fazendo poção?

— Não se finja de idiota, Peter. – Fixando os olhos nebulosos no suposto conhecido, assegurava sério. – Você não é.

Engolindo seco, Peter desviou o olhar para o chão. Aquela intensidade o despia e ele não poderia ser a presa naquele jogo. Dissimulando o falso riso, retomava o olhar para os quadros, questionando casual:

— Então é verdade? – Arriscando fitar o mal-humorado distraído, continuava devagar. – O Ranhoso descobriu que o James não está morto?

Permanecendo de olhos fechados, Sirius não respondeu. Nem mesmo um músculo naquele rosto esboçou qualquer reação. Curioso, o homem gordinho erguia a sobrancelha em falsa indignação:

— Eles estão juntos? Isto é abominável! 

— Se está tão curioso, por que não telefona pro James e pergunta? – Voltando a fitá-lo, devolvia amargo. - Não foi você “o fiel do segredo” da última vez que a casa foi atacada?

— Mas... – Atrapalhando-se, realmente, Sirius estava mais ressentido desde a última vez que conversaram. Organizando os pensamentos, repetia a desculpa. – Eu já fui interrogado e inocentado. – Indignando-se, - Eu só... Só estou... – “Preocupado”? Não seria do seu feitio. Afastando-se um pouco, o medo deformava a face num quase choro. Respirando fundo, unia as sobrancelhas atordoado. - Eu tenho medo, Sirius. Lily pode está em perigo. Severus é um perigoso comensal.

— Desculpa. – Relaxando os ombros, Sirius concluía que o amigo não merecia. Eles estavam igualmente desnorteados e... – Eu estou muito preocupado. Perdido. Desde que tentaram matar o James e, agora, com esta história de alma em mil pedaços. Eu só... Venho perdendo a cabeça e não sei em quem confiar.

— Padfoot, você sabe que sempre pode confiar em mim.

— Eu quero muito acreditar nisto, Wormtail. – Sorriu ao recordar tempos melhores quando eles criaram os apelidos. – Recostando as costas contra o estofado, o herdeiro desabafava. – Mas... Sei lá... Até o Moony. Eu sinto raiva, pois já não conversamos como antes. Contudo, eu não quero colocar o Prongs em perigo de novo. Dói pensar que alguém poderá nos trair. Por qual motivo alguém trairia os próprios amigos? 

— Por inveja.

Sirius ponderou. Mordendo o lábio, arrependia-se em visível conflito:

— Eu não acho que o Remus seria tão filha da...

— Ele sempre nos invejou. Sempre estava reticente nas nossas comemorações, eu percebia um brilho em seus olhos quando nossos planos davam errados. Sem contar, – Percebendo o raivoso homem duvidar, o rato continuava. - Que ele se sente injustiçado já que foi amaldiçoado quando criança. Inclusive, confesso que a minha visita é por conta disto.

Retirando uma fotografia do paletó, escorregou pelo sofá, depositando nas maltratadas mãos um frame onde Remus sorria junto a uma desconhecida de cabelos coloridos. 

Mediante o franzir de sobrancelha intrigado, Peter explicava:

— Faz uns dias que encontro Remus com esta menina e ela... – A pausa. Mais calmo, constatava. – Ela me parece suspeita, Sirius.

Analisando a imagem, aquela cafeteria não ficava distante dali. O entardecer deixava o licantropo ainda mais bonito e, há quantos dias não encontrava aquele sorriso? Tocando-lhe o rosto discretamente, o coração aquecia em saudade e admitia certa alegria que ele pudesse estar se divertindo com alguém.

Amigos.

Ou amiga.

Talvez, ele também...

Reparando o cabelo oscilar entre o rosa e o alaranjado, aquela menina, não era uma de suas primas?

Amassando as extremidades da fotografia num contido ódio, então suas suspeitas estavam certas? O maldito passava informações para comensais e ainda se divertiam enquanto planejava o fim DOS PRÓPRIOS AMIGOS?

Tocando-lhe o ombro, Peter aparentava igualmente decepcionado. Suspirando entristecido, regava a semente da desconfiança naquele amargurado coração.

— É triste imaginar que... Talvez...

 Remus me paga! — Sirius rangia entredentes.

— Acalme-se, amigo. Quer uma água?

— Como ele pode confiar neste tipo de praga? Uma Black. Depois de tudo que passamos, ele...

— Acalme-se. – Apressando-se, frisava. - E, você não deve mencionar que vim aqui, lembre-se que a lua cheia está chegando e... – Apertando o tenso ombro em falsa solidariedade, dissimulava a vontade de sorrir num angustiado pedido. – Tenha calma, Sirius. Ele só deve está ludibriado com as promessas que você sabe quem...

— Você tem um bom coração, Peter. – Tocando-lhe a mão, retirava. Não era o consolo que ansiava naquele momento. Pensativo, ratificava. – Não me surpreende que Lily tenha deixado o cabeça dura do James para ficar com você. – Fitando-o de esguelha, - Acho que é o único que ainda posso confiar. Ainda mais agora que o James... – Pausou, mordendo a própria lingua em punição. Apesar de tudo, seria errado continuar. Por mais que ele confiasse no Peter, não poderia comprometer o melhor amigo por andar com cobras. Temia que as bobas palavras proferidas ao vento fossem retornar na forma de mais problemas. Assim, desconversou. – O James anda tão ocupado com as coisas da Ordem.

— Entendo. Eu só o alertei também, pois fico preocupado com o Harry. – Levando a mão ao peito, Peter continuava. – Minha pobre Lily jamais me perdoaria se algo acontecesse.

— Não irá acontecer. – Voltando a fitar a fotografia, prometia. - Esta história morreu aqui.

— Muito obrigado. Eu... – Unindo as mãos, Peter retribuía um mínimo riso esperançoso quanto à vitória sobre aqueles idiotas. Estreitando os olhos, confessava. – Eu, realmente, só espero que esta guerra chegue logo ao fim.

— Sim. – Suspirando fundo, Sirius concordava. Havia perdido tanto desde que o maldito lorde das trevas resolveu aparecer. E, agora... Refletindo: Será que o namorado, realmente, teria ido à casa de James? Por que Remus se associava aquele tipo de gente? Angustiado, embora não soubesse que estava em lados opostos daquele tabuleiro de xadrez, compartilhava o sentimento. – Eu também só espero que esta porcaria acabe. 


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