O medalhão de Salazar escrita por Sirukyps


Capítulo 11
O cavalheiro de armadura rosada




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Um pouco mais cedo, na hora do chá

 

— Preocupado, senhor? – Perguntava a garçonete, retirando a xícara do homem que já havia deixado à mesa.

— Aparento?

— Sim. – Respondia a moça de cabelos coloridos entre o laranja e o rosa. Equilibrando a bandeja com uma das mãos, utilizava o dorso da livre para repousar a cintura. Fazendo um sinal com a cabeça, complementava. - Aparenta precisar de algo mais forte que um chá.

Soltando um mínimo riso nasal, Remus concordava. Todavia, pouco tinha tocado na bebida, agora fria. O corpo doía e ele não sabia se era por conta da preocupação ou pelo aproximar da lua cheia. Sem mais ter o que falar, aguardando uma premonição como se ali fosse uma das famosas borras de café, voltava a observar o pequeno galho solitário boiar.

Curiosa, inicialmente, Tonks tinha aceitado se aproximar do desleixado indivíduo pelos cem galões que o desconhecido com cara de rato tinha lhe oferecido. Contudo, agora, observando os tímidos olhos sem esperança, queria ficar mais próximo para descobrir a verdadeira cor oculta pelos fios loiro palha. O casaco empoeirado, dois números maior, despertava nela um senso de proteção. Certamente, se tivesse o encontrado antes, faria aquele serviço de graça.

Esboçando o melhor sorriso, questionava numa ambígua sugestão:

— Eu sei o que você precisa e posso te oferecer. – Percebendo-o distraído, sentou-se na cadeira vazia, insistindo de modo perigoso. - Quando quer experimentar?

Piscando confuso, Remus repousou a xícara a mesa, refletindo sobre o que a juventude estaria usando para desligar. Na sua época, os marotos enfrentavam qualquer perigo por um bom whisky de fogo ou um pouco de conhaque Barril de Dragão. Esforçando-se para não parecer antiquado, arriscou, sem jeito:

— Não se preocupe. Até porque, creio que não tenho dinheiro o bastante.  

— Desta vez será por conta da casa. Se beber comigo, é claro.

— Você não está em serviço?

— Hoje é o seu dia de sorte. Meu expediente termina em cinco minutos. – Voltando a levantar, segredava suspeito. – Mas, deve me acompanhar sem perguntas.

— Desculpa... Agradeço pela boa intenção, mas eu sou... – Voltando a se afogar na amarronzada agua do chá, o longo respirar repleto em dúvida. Ponderando, - Eu acho que estou comprometido.

— Acha?

— É engraçado que sim. – Fazendo uma pausa, Remus continuava nostálgico. – Mesmo assim, eu o amo.

— Entendo, entendo. – Concordava a contragosto. Por Merlin! Parecia amaldiçoada, pois todos os homens interessantes que conhecia sempre estavam comprometidos. Dando de ombros, para a sorte daquele maltratado senhor, ela era paciente em esperar. Assim, dissimulando o desapontamento, brincou.  - Agradeço pela consideração, mas não precisa terminar seu relacionamento por minha causa. Embora eu seja engraçada, divertida, bonita e uma otima companhia, não precisa terminar. Pelo menos, não ainda.

Remus riu da última palavra. De certo modo, a sorridente garçonete o lembrava. A vivacidade em suas palavras, a dificuldade em aceitar um “não”, o convencido riso... Pelo menos, lembrava um antigo Sirius, menos ressentido, menos amargo e, o otimista amigo nada obcecado pelos segredos da Ordem.

Baixando o olhar preocupado, será que algum dia ela também ficaria assim? Seria segredo dos jovens não pensar tanto na vida? Aspirando o doce aroma do chá, talvez, ele nunca houvesse sido jovem.

Ainda...

Será que, algum dia, ele conseguiria ser?

Como enganar o relógio àquela altura?

— E para onde vamos? – Interpôs, tentando não pensar muito.

— Será amanhã. E te pego na sua casa às seis.  

— Desculpa, mas...

— Quando eu disse que seria por conta da casa, é porque o meu segundo emprego é numa empresa de buffet. E a casa onde trabalharei amanhã é muito refinada. Cheia de cortinas, comida farta e colunas com uns formatos estranhos, mas chique. A de hoje não será tão legal, por isto, é melhor que me acompanhe amanhã. Enfim, vamos beber bastante enquanto trabalho e os ricos trouxas que irão bancar. – Fazendo as aspas com os dedos, frisou. -Por isto o “por conta da casa”, gostou? 

— Isto é loucura! – Remus novamente ria calmo, bastante desacreditado. Pondo-se sério, como o adulto daquela situação, aconselhava. - Você não deve beber enquanto trabalha.

— Mas é uma festa. Ninguém nem vai perceber.

— Você tem um ponto. Mas não quero ser um penetra.

— Não. Você será o meu ilustre convidado especial. – Corrigiu apressada. Percebendo os desacreditados olhos recuar, a garota continuou. – Por favor, nobre desconhecido. Afaste-se desta preocupação uma única noite. Permita-me ser o seu cavalheiro de armadura rosada, o qual te arranca do castelo da infelicidade...

— Ok. Ok. – Remus interrompeu, divertindo-se com o nostálgico exagero. Se não conhecesse os membros da conflituosa família, apostaria que a garota tinha sangue Black. Vencido, – Suponho que não aceitará um não, estou correto?

— Talvez.

— Mas, você é jovem. Depois vai falar que não foi avisada e...

— Você não precisa de dinheiro? – Mediante o olhar interessado, - Posso conseguir um uniforme de garçom substituto e não será um encontro, será um trabalho. Com o seu ganho você até pode comprar um presente para esta tal pessoa do “eu acho”.

— Uma boa proposta, admito.

— Eu sempre tenho.  – Tonks deu de ombros como se muito escutasse aquilo. Passando o pano na mesa, piscava para o novo amigo, assegurando. - As seis, então? Ou podemos sair hoje também?

— Amanhã. As seis. - Remus ratificava, esboçando um fino riso, cansado e vencido. Até porque, ela já havia deixado claro que não escutaria uma resposta negativa.

E, realmente, talvez fosse bom se afastar...

Uma chance de ouro para os dois”. Recordava o conselho do amigo com pesar e...

Não!

Não o deixaria.

Precisava de Sirius.

O intenso homem só deveria estar estressado e... Ele logo melhoraria. Sirius sempre foi assim e... Desanimado, só queria um feitiço que obrigasse o teimoso Black parar e ter uma conversa sincera consigo.

Ele não era “qualquer pessoa”.

Ele era...

Baixando o olhar tristonho, não poderia culpá-lo, as pessoas não costumavam confiar em lobisomens. Se soubesse disto, será que animada moça ainda insistiria em convidá-lo?

Certamente, não.

Claramente, não.

 


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