Capítulo VIII

Jade

Festas temáticas nunca foram o meu tipo favorito de evento, mas a Diana pareceu tão ansiosa para ir, que acabou me contagiando também. E foi exatamente por saber que minha amiga queria muito ir à festa que eu insisti tanto para que ela “desobedecesse" seu namorado e aproveitasse a noite. Fiquei indignada com o comportamento do Leonard, e dessa vez não tive como não comentar nada. Já não bastava todo o ciúme que ele sentia, agora ele ainda pretendia proibir minha amiga de sair, como se fosse o pai dela?

O importante era que a Di finalmente tinha tomado uma decisão por ela mesma, então lá estávamos nós. Duas calouras no meio de mil universitários, todos de preto, e mal conseguindo ouvir uma a outra graças ao volume extremamente alto da música eletrônica que invadia nos meus ouvidos como um furacão. Dei uma olhada rápida no local e logo vi Luke pegando uma bebida em um balcão ali perto. Como que um ímã, sua presença me  atraiu e quis ir até ele de qualquer jeito, então decidi seguir meus instintos.

Para não ter que explicar à Diana algo que nem eu mesma estava entendendo muito bem — os sentimentos que Luke fazia eu ter —, disse a ela que ia me encontrar com alguns colegas de sala e parti em sua direção, esquivando-me dos universitários bêbados e dos casais se beijando que atrapalhavam a minha passagem. Não me senti culpada pois no fim não estava mentindo, afinal de contas ele estudava mesmo comigo. Quando cheguei mais perto dele, Luke finalmente notou minha presença e me chamou para mais perto.

— Olha quem veio, a rainha da ética! — ele disse sorrindo e eu ri, tanto pelo apelido, que pelo visto estava marcado para sempre, como pelo sorriso dele, que desde o primeiro dia percebi o quão lindo era.

— Eu mesma, Alteza. — respondi ao estar do seu lado. — Aproveitando a festa?

— Mas é claro. Eu sempre me divirto muito em festas góticas. — Luke brincou.

— E em outros tipos de festa não?

— Depende… — ele fez um sinal com a mão para que nós sentássemos em um dos bancos vazios que estavam ali por perto. Lembrei da Diana antes de ir e dei uma olhada para a mesa onde ela antes estava, mas não a encontrei. Então segui Luke para sentarmos. — Festas de Halloween ou hippie eu até gosto. Agora, eventos de anos 50 ou 60 eu não suporto.

— O que você tem contra os anos 60? — entrei na brincadeira e fingi estar indignada.

— O que eu não tenho contra os anos 60, é isso que você quer dizer? — ele falou rindo e eu dei risada também.

Sentamos em um banquinho um pouco mais distante de toda a barulheira, mas onde ainda dava para ouvir o som da música ao fundo, o que a tornara bem mais agradável. Passamos alguns minutos em silêncio enquanto ele terminava sua bebida e eu apreciava a vista do campus. A universidade ficava perto de uma floresta, então era possível ver as grandes árvores, que perduravam por quilômetros, até mesmo do meu dormitório, coisa que eu simplesmente adorava, já que era apaixonada pela natureza.

— Me conta um pouco sobre você. — Luke falou de repente, quase me assustando.

— O que você quer saber?

— Sei lá… de onde você é seria um bom começo. — eu ri.

— Eu sou de Liverpool, mas com 2 anos me mudei para Brighton graças ao trabalho do meu pai e morei lá até me formar da escola. E você?

— Eu sou de Salisbury. — ele disse. — Sempre vivi lá com meus pais e meus dois irmãos mais novos. Até que vim para cá.

Assim começamos uma conversa que parecia ter durado muitas horas e, se eu pudesse escolher, teria durado bem mais que isso. Perguntei a ele dos seus irmãos e ele quis saber da minha família. Falamos sobre nossos amigos, e então contei da Diana e do Philip. Dessa forma começamos a descobrir muitas coisas sobre o outro, tanto assuntos importantes, como posições políticas e ideologias, como também curiosidades idiotas, como livros e filmes favoritos. O tempo passou voando e eu estava extremamente tranquila e relaxada. Nenhum garoto tinha me feito ter essas sensações antes, e eu estava adorando isso.

— Bom, acho que já está ficando tarde. — ele disse e, para a minha tristeza, tinha razão. Já se passava da meia-noite e no dia seguinte tínhamos aula, pois ainda era quinta-feira.

— Realmente, preciso ir. Amanhã tenho minha última aula de Geometria Gráfica 1 antes da prova da semana que vem, e eu não posso faltar porque quero tirar uma dúvida com a professora. — me levantei do banco e esperei ele fazer o mesmo.

— Por falar em prova, — ele disse enquanto começou a caminhar em direção aos dormitórios, e eu o segui. — nós temos uma de Matemática 1 na segunda.

— Sim, nós temos. Obrigada por me lembrar de mais um dos mil exames que vou ter semana que vem. — brinquei e ele riu rapidamente.

— Não é só por isso que comentei da prova. Eu queria saber se você não queria estudar comigo no domingo, já que claramente você é o gênio da matemática.

Ignorei a sensação de mil borboletas se mexendo no meu estômago pela pergunta que ele tinha me feito. Seria esse um convite para algo mais do que um simples estudo? E por que eu havia ficado tão animada com essa proposta?

— Eu sou mesmo o gênio da matemática, obrigada por reconhecer. — falei sarcasticamente, mas logo fiquei séria. — Mas sim, podemos estudar juntos. Se você estiver tão desesperado assim.

Ele me deu a língua e disse que seria legal estudarmos juntos. Então, sem que eu nem percebesse, havíamos chegado na porta do meu dormitório. Nós nos despedimos e marcamos de nos encontrar no Starbucks do campus às 14h no domingo. Subi as escadas e entrei no meu quarto, sem nem acreditar na noite maravilhosa que eu tinha tido. Não conseguia parar de sorrir por um instante sequer, e foi nesse momento que eu percebi a furada na qual estava me metendo.

Eu estava realmente começando a gostar de Luke Edwards.

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— Me conta mais, Diana! — falei para minha amiga. Já estávamos no refeitório, almoçando após uma sexta-feira extremamente maçante, pelo menos era o que eu estava achando. Provavelmente porque eu queria logo que domingo chegasse, mas ignorei esse detalhe.

— Não tenho mais o que te contar, Jade. — ela respondeu e eu revirei os olhos. — Nós só ficamos conversando, nada demais. Além do mais, temos que falar baixo, vai que o Leonard ouve nossa conversa e descobre que eu fui na festa ontem!

— Eu não dou a mínima para o Leonard. — bufei.

— Mas eu sim. Ele é meu namorado!

— Além do mais, — ignorei suas últimas palavras. — você disse que ele não vem almoçar hoje porque está fazendo prova. Graças a Deus!

— Jade! — ela me repreendeu. — Bom, você tem razão. Ele não vai ouvir isso, felizmente. O Leonard nunca pode saber que eu fui nessa festa, ou então ele vai me matar.

— Isso é o cúmulo do absurdo. — falei, dessa vez séria. — Diana, ele não tem direito algum de te proibir de fazer as coisas. Estou começando a ficar cada vez mais preocupada com o relacionamento de vocês.

— Já te disse um milhão de vezes que você não precisa se preocupar. Eu sei o que estou fazendo. O Leo pode ser muito ciumento e um pouco possessivo às vezes, mas ele sempre esteve aqui para mim. E eu admiro ele por isso.

Desisti de falar qualquer outra coisa sobre esse assunto, pois sabia que não ia mais adiantar. Ela nunca me escutava, mesmo eu só falando essas coisas para o bem dela. Decidi então mudar de assunto.

— Enfim, Di… você lembra do Luke?

— O garoto bonitinho da sua sala? — ela falou já animada, sem ao menos saber do que o assunto se tratava. — Claro que eu lembro!

— Então, ontem, quando você sumiu da festa…

— Nem vem! — ela me interrompeu. — Não foi eu que sumi, e sim você. Fiquei te esperando naquela mesa e nada de você aparecer. Por isso fui procurar outro lugar para ficar.

— E acabou encontrando o Philip! — disse feliz e abaixei para pegar meu celular, que estava na minha mochila. — Vê se não é o destino vocês ficarem juntos? Ir nessa festa só te fez bem, tá vendo. Uma pena que você não se toca. Prefere ficar com esse embuste que você chama de namorado quando tem um garoto que te acompanha até a porta do seu quarto para se despedir e faria literalmente qualquer coisa por você. E você ainda dá um beijo na bochecha dele, querendo me dizer que não significou nada. Estou te falando, o destino tarda mas não falha. Além do mais…

Foi nessa hora que eu finalmente levantei e vi a Diana mais branca do que a neve. Não entendi porque ela ficou assim de repente, e já ia perguntar se ela estava passando mal ou se precisava ir até a enfermaria do campus quando ouvi uma voz muito familiar bem atrás de mim, e percebi a burrada que tinha feito.

— Quer dizer que você foi na festa mesmo eu te proibindo de ir? E ainda se encontrou com o Waters? Que merda é essa, Diana?

Sim, era o Leonard. E ele havia ouvido a nossa conversa.