Cold Coffee escrita por amysantiagos


Capítulo 8
When you look me in the eyes


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, logo de manhã e já vim com mais um capítulo pra vocês! Esse também não vai ter personagens do cast imaginário. Enfim, aproveitem a leitura. Nos vemos lá embaixo!



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Capítulo VII 

Diana 

Depois de quase três semanas na faculdade, eu tinha certeza de que o tempo em Manchester passava muito mais rápido do que em Brighton. Eu mal estava notando os dias se passando, visto que meu horário era repleto de aulas e trabalhos para serem feitos. No entanto, diferentemente do colegial, eram tarefas para as quais eu realmente estava motivada. E, depois de ter resolvido meu problema com Leonard – meus pedidos de desculpa que bombardearam seu telefone surpreendentemente fizeram efeito – tudo finalmente parecia estar em seu devido lugar. 

Em um de nossos almoços, Jade e eu estávamos discutindo fervorosamente sobre nossa série favorita, Friends, quando Lisa – a veterana que havia nos convidado para a festa de boas-vindas –  subitamente sentou-se em nossa mesa. Ela nos encarou com seus olhos arregalados, um sorriso estranhamente gigante no rosto e, após alguns segundos, pude ver que ela carregava consigo uma centena de panfletos.  

— E aí, meninas? Diana, Janet... animadas com a faculdade? – ela nos perguntou. Olhei para Jade, que agora aparentemente chamava-se Janet, e segurei uma risada. 

— Com certeza! – Jade respondeu, mexendo suas mãos para enfatizar de forma sarcástica sua resposta. 

— Que ótimo, pois estão prestes a ficarem mais animadas ainda! – Com isso, ela nos entregou dois dos panfletos que carregava, e logo quando li o que eles estavam anunciando, comecei a rir. 

Festa gótica 

Hoje, às 20:00, no salão principal 

— É sério isso? – Jade perguntou em choque. 

— Eu e o comitê de organização de festas... – Fiquei surpresa com a existência de tal comitê, mas mantive minha boca fechada. – ...achamos que os alunos precisam relaxar antes que a semana de provas comece. E que melhor maneira de relaxar do que uma festa? 

Franzi a testa ao perceber a diferença entre a minha definição de relaxamento e a de Lisa, mas, depois de um tempo analisando a proposta, percebi que no geral não era tão ruim. O tema era um pouco não convencional, sem dúvida alguma, porém como se tratava de uma festa de faculdade, estava dentro dos limites. E, depois da confusão que haviam sido as últimas semanas, talvez uma festa não fosse uma má ideia. Levantei meu olhar para Jade e ela parecia estar pensando o mesmo. 

— E aí, posso confirmar a presença de vocês? 

Jade demorou alguns segundos para responder, então eu, inesperadamente, respondi por nós duas.  

— Claro, estaremos lá!  

Quando Lisa foi embora, Jade fez o movimento das mãozinhas que ela tinha usado na conversa anteriormente e ficamos rindo da atitude bizarramente otimista que a veterana possuía.  

— Com que roupa a gente vai? – perguntei enquanto saíamos do refeitório. 

— Ah, qualquer coisa preta que a gente tenha. Não vai ser difícil de encontrar... Lembra a nossa breve fase emo? 

— Como poderia me esquecer?  

Saindo do refeitório, fui em direção ao prédio 3, lugar no qual minha aula de Fotojornalismo aconteceria. Como eu já havia me acostumado com o campus, o caminho não demorou tanto quanto na primeira semana, por isso ainda me restavam alguns minutos antes de o professor chegar. 

Quando entrei no prédio, me surpreendi com a presença de Leonard em frente à porta que dava entrada para a sala onde eu iria. Ele estava impacientemente olhando seu relógio enquanto mordia seu lábio inferior. Assim que ele me viu, ele veio correndo em direção a mim. 

— Leo, o que você está fazendo aqui? 

— Tenho uns dez minutos antes da minha aula começar e achei que seria legal dar uma passadinha aqui – ele respondeu, sorrindo. – Por que? Não gostou da minha surpresa? 

— N-Não, mas é claro que eu gostei! – ele abriu os braços para me dar um abraço e ficamos assim por alguns segundos. O cheiro de seu perfume me deixou desorientada enquanto estávamos colados um ao outro. – Mas, e aí, te contaram sobre a festa gótica hoje à noite? 

Leonard fez uma cara esquisita. 

— É, Diana, era sobre isso que eu queria falar – ele coçou a cabeça. – Você sabe que as provas estão começando e tal, e eu estava querendo passar a noite estudando... Meu pai tá realmente pegando no meu pé, é uma merda. 

— Ah, que pena, Leo... – eu disse, enquanto segurava sua mão. – Mas... 

— E eu queria que você não fosse. 

Suas palavras foram como um tapa na cara.  

— Como assim? 

— Eu sei que pode ser estranho, mas você não pode me culpar por estar preocupado sendo que aquele bostinha do Waters está à solta. Entende? 

Não, Leonard, eu não estava entendendo e não conseguia entender o motivo de seu pedido. As palavras de Jade referindo-se ao nosso namoro como um passarinho numa gaiola nunca se encaixaram tão bem numa situação quanto aquela. 

Eu queria ter negado, queria ter me defendido e ter dito a ele o quão estúpido ele estava sendo; mas, como sempre, engoli minha insatisfação e acenei com a cabeça.  

Ao ter visto minha resposta, ele deu um sorriso e se despediu após dar um beijo na minha testa. As palavras que eu tive medo de dizer estavam entaladas na minha boca, implorando para que fossem ditas. Entretanto, os anos de experiência sendo namorada de Leonard me confortaram com a segurança de que o pior tinha sido evitado. Caso eu tivesse expressado qualquer tipo de contestação, ele provavelmente teria extravasado toda a sua raiva em mim. 

Sendo assim, entrei na sala, fingindo estar feliz apesar de estar sendo dominada por um sentimento totalmente oposto a isso.  

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Quando abri a porta do quarto, vi três vestidos pretos estendidos sobre a cama de Jade. Ela estava com a mão no queixo e parecia estar fazendo uma lista de prós e contras de cada um deles. Assim que notou minha presença, ela soltou um suspiro aliviado e me puxou para dentro. 

— Eu já escolhi o meu – ela apontou para o único que estava no cabide: um de mangas curtas com uma saia tule. – Para você, estou em dúvida entre esse e aquele. 

Jade apontou para um vestido longo e tomara-que-caia, e para outro que ia até o joelho de manga comprida e tinha uma espécie de gola rolê.

— Desde quando trouxemos tanta roupa preta pra faculdade? Não me lembro disso na mala... – comentei.

— São quatro no total, Diana. Temos o dobro lá em Brighton provavelmente no seu sótão.  

Me distrai olhando para os vestidos e por um breve momento me esqueci de que Leonard havia me pedido para não ir à festa. Temendo a reação de Jade, respirei fundo antes de contar. 

— Hm... Jade? 

— Eu! 

— É... Então, o Leonard.... 

— Ih, lá vem. –  Jade me interrompeu, quase que prevendo as circunstâncias das minhas próximas palavras. 

— O Leonard não quer que eu vá pra festa. 

Ela revirou os olhos. 

— Um filho da puta mesmo. Você não tá pensando em seguir a ordem dele, ou está? 

— Bom, ele me pediu... 

— Pediu o cacete! Diana, acompanha o meu raciocínio – Jade começou. – Sabe o movimento feminista, lá do século passado? Então, foi por causa de homens como o Leonard que ele aconteceu. Tá entendendo?  

— Mas Jade, você não entende... 

— Você que não entende, meu amor, e você vai sim! Você faz tudo por ele, dá até raiva... Então, essa noite você vai fazer coisas pra si mesma. Primeira coisa: pega esse vestido... – ela disse, com raiva, enquanto me entregava o tomara-que-caia. – ...e arrasa com ele. A noite é uma criança! 

Eu não sabia o que fazer. Por um lado, odiava mentir para Leonard, porque eu teria que lidar com as consequências depois; por outro, odiava me sentir naquela gaiola metafórica que ele havia criado. Jade estava certa, e naquele momento não consegui pensar em nada que argumentasse o contrário. 

Foi assim que, num ato de impulsividade, coloquei a roupa que ela havia escolhido e enchi meu rosto de delineador e sombra preta. Jade ficou surpresa com minha atitude, o que a deixou triplamente animada para a ocasião. 

— Isso aí, amiga! Vamos aproveitar! 

Logo quando chegamos no salão principal, percebi a dedicação do comitê de Lisa ao terem decorado o local tão brilhantemente. Os ornamentos pretos e trabalhados que estavam pendurados e espalhados no teto eram apenas a ponta do iceberg. 

Passamos pela pista de dança, tentando não ser pisoteadas até a morte pelos diversos indivíduos que dançavam como se estivessem tendo uma convulsão. A música estava a ponto de estourar meus tímpanos e meus sapatos já estavam começando a destruir meus pés. Por isso, quando vi uma mesa vazia no fundo da sala, agradeci aos deuses. 

— Jade, tem uma mesa ali! – gritei para que ela pudesse escutar, ainda que estávamos perto uma da outra. 

— Eu sei! Deixa eu falar com o pessoal da minha turma antes! Já te encontro! 

Jade seguiu para o grupo de sua sala e me deixou sozinha. Eu teria ficado triste caso não tivesse feito a mesma coisa com ela na última festa, então decidi ir correndo para a mesa antes que alguém a pegasse. 

Fiquei ali por um bom tempo, escaneando a sala de vez em quando para ver se Jade estava bem, porém o escuro e a multidão me atrapalharam na maior parte das tentativas. Enquanto esperava, me perguntei se realmente valia a pena mentir para Leonard sobre não ter ido sendo que eu não estava aproveitando quase nada. Por isso, temendo que eu fosse sair daquele lugar surda, preferi procurar um lugar vazio e silencioso, de preferência com ar fresco e não repleto de calor humano.

Quando saí do salão, decidi fazer meu caminho para o chafariz que ficava a uns cinco minutos dali. Tirei meus saltos, não ligando para o chão sujo no qual eu estava pisando, e comecei a me arrepender de ter saído quando fui atingida por uma rajada de vento frio. Ainda assim, melhor do que estar lá dentro

No momento em que cheguei no chafariz, vi que já havia alguém lá. Me aproximei da silhueta estranha para então descobrir que, na verdade, se tratava de Philip. 

— Philip? –  perguntei, apesar de já ter certeza. 

— Diana? Oi! – ele respondeu, feliz. – Fugindo da festa? 

Sorrindo, me sentei ao seu lado. 

— Nem me fala. Estava um inferno lá dentro. 

— Verdade... Festas de colegial são nada comparadas a isso. É tudo bizarramente exagerado aqui.

— Sim! – respondi, rindo. Senti meu corpo tremer por causa do frio e Philip olhou para mim, preocupado. 

— Tudo bem? – ele perguntou, e eu assenti. Contudo, ele percebeu que eu estava congelando e tirou seu casaco, botando-o em mim logo depois. 

— Phillip... Não precisava... Sério. 

— Você estava prestes a virar uma escultura de gelo! Óbvio que precisava! 

— É... valeu. Por tudo – ele me olhou confuso e esperou que eu continuasse. – Por ter sido compreensivo com Leonard e comigo, principalmente. E por não ter agido estranho comigo por causa da nossa briga. Quer dizer, você teve até que se mudar... Achei que estivesse me odiando! 

Philip olhou para o chão como se estivesse em busca de palavras; evidentemente aquele tópico ainda era sensível.

— Diana... Eu não me mudei por sua culpa. Foram os meus pais. Eu fiquei muito mal depois da briga, obviamente, mas no final das contas...  – ele sorriu para mim. –  Não foi você. 

Senti um peso enorme saindo das minhas costas. Depois de tanto tempo tendo acreditado que eu havia sido a causa da mudança de Philip, e me odiado tanto ao ponto de ter me culpado pelo fim de nossa amizade, senti um alívio inexplicável quando descobri que tudo não havia passado de um mal-entendido. 

— Sério? 

— Sério – ele me garantiu, rindo da minha expressão. – Eu vejo como talvez você tenha se sentido culpada, mas acredite, não é o caso. Aliás, no início eu não queria ter me mudado, até porque estaria me afastando de você... e de Jade.  

Seus olhos azuis de alguma forma estavam mais azuis sob aquela luz, algo que teria me hipnotizado por completo caso ele não estivesse me chamando na conversa. 

— Terra chamando Diana?  

— Ah – eu suspirei, rindo e sentindo minhas bochechas esquentarem. – Estou lembrando aqui, aquele dia em que nós brincamos de doces ou travessuras por volta da nossa vizinhança e acabamos irritando um dos velhinhos. 

— Que aleatório – Philip comentou. – Foi tudo culpa sua, viu? Você no Halloween vira uma outra pessoa! 

— Eu? Ele que começou! Ficou enrolando sobre a Segunda Guerra pra três crianças de oito anos... Quem faz isso? 

Nós dois rimos.

— Ele estava lembrando os velhos tempos... Eu achei divertido! Ao invés de termos ganhado doce, ganhamos conhecimento. Foi o jeito especial dele de nos presentear. 

Enquanto o tempo passava, conversamos livremente sobre o passado. Descobri que ele estudou em Liverpool e participou de uma banda cover dos Beatles, fato que durou um ano antes de ele desistir alegando que: a vida de rock star não era pra mim. Ele me contou sobre o curso de engenharia química que estava fazendo; eu contei para ele sobre o meu, e ele comentou que era algo que encaixava o meu perfil de curiosa. As estrelas brilhavam no céu e nossa conversa parecia nunca ter fim, quase como uma cena de um filme.  

Porém, quando vi o horário em meu celular e percebi que estava tarde, me dei conta de que ainda estava mentindo para Leonard. Philip ainda era meu amigo e nada mudaria isso, mas a sensação de estar com ele por trás de uma mentira era horrível e sufocante. 

— Está tarde... Acho que vou pro meu quarto. – aleguei, bocejando. Philip se levantou junto a mim e por um momento o olhei confusa. 

— Que foi? Um cavalheiro não pode acompanhar a dama até o seu destino? 

Fiquei surpresa com seu comentário, mas como estava tarde e eu apreciava sua companhia mais do que gostaria de admitir, não contestei. Sendo assim, caminhamos em silêncio até o dormitório feminino, levemente próximos um ao outro por conta do frio. Nossas mãos se encostaram em alguns momentos e eu me esforcei para acreditar que os arrepios que senti foram por causa da temperatura e não por causa dele. 

Quando chegamos, olhei para ele em agradecimento. 

— Você é um cavalheiro digno, Philip. Obrigada novamente. 

— De nada, madame. 

E, naquele momento, algo dentro de mim pegou fogo. Não sei se foi por causa da nossa caminhada ou por causa do jeito que estávamos encarando um ao outro, mas por algum motivo eu senti a necessidade de dar um beijo em sua bochecha antes de entrar no quarto. Ele me olhou aflito quando agi conforme o impulso, mas acabou sorrindo. 

— Boa noite, Diana. 

— Pra você também. 

Assim, abri a porta do quarto e entrei, não conseguindo esconder meu contentamento. Fiquei surpresa ao ver Jade, deitada na cama, sorrindo sozinha, quase não notando a minha presença. Quando ela se levantou e perguntou o motivo de minha felicidade, não hesitei em responder: 

— Estava conversando com Philip. 

— ISSO SIM! Meu Deus! E do que vocês falaram? 

— Sobre coisas... Várias coisas – Jade estava sorrindo de orelha a orelha. – Mas e você, campeã, por que estava tão sorridente quando entrei? Será que... 

— Ah, não é nada demais... – ela respondeu, e seria aquilo na sua voz... incerteza? 

— Se não é nada demais, por que está tão animada? 

— Di, para! – ela riu. – É só que foi algo meio inesperado. Quer dizer, não inesperado, mas foi... Uma surpresa interessante, sabe? 

Abracei ela em meio a minha felicidade imensa. Mesmo que Jade não tivesse me contado, só por sentir que ela estava genuinamente feliz, meu coração estava pleno. 

— Não preciso nem falar que, seja lá o que tenha acontecido, estou tão animada quanto você, né? 

— Calma, Di! Não tem garantia de que isso vai dar certo... Eu nem sei o que é exatamente... 

— Ah, mas vai! Estou sentindo! 

E era verdade. Naquele instante, senti que os planetas estavam se alinhando, e o sentimento de invencibilidade que caiu em mim foi o suficiente para me fazer acreditar que tudo daria certo. 


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Nós particularmente amamos esse capítulo... agora é só torcer para que as coisas continuem dando certo para a nossa Diana. Será? Um beijo e até a próxima! ♥