Capítulo X

Jade

Após um fim de semana cheio de expectativas, o domingo finalmente havia chegado, e a cada minuto que se passava eu ficava mais ansiosa. Não sabia explicar o que estava acontecendo comigo, mas eu podia afirmar que nunca havia sentido isso antes. Quando estava próximo ao horário marcado com Luke, comecei a me arrumar, enquanto eu e Diana conversávamos.

— Então, dona Jade. — ela começou enquanto escolhia o que vestir. — Você e Luke estudando juntos… o que posso esperar desse encontro?

— Pra começo de conversa, não é um encontro. — disse, apesar de saber que, no fundo, eu queria que fosse. — Nós só vamos estudar. Não fique enchendo suas expectativas.

— Minhas expectativas foram criadas no momento em que vi vocês dois juntos pela primeira vez e percebi o lindo casal que vocês formariam.

— Mas não deveriam ter sido. Nós somos só amigos!

— Jade, corta essa. — ela se levantou da sua cama e veio para o meu lado. — Eu te conheço há 16 anos e sei muito bem perceber quando você está gostando de um cara. Você pode me contar a verdade!

— A verdade é que eu ainda não sei, Di. — fechei meu armário ao pegar uma blusa preta e branca estampada e uma calça jeans, que comecei a vestir logo em seguida. — Por enquanto, é apenas uma tarde de estudos. Nada mais.

— Entendi… — mas eu sabia que não tinha convencido minha amiga, e muito menos a mim mesma.

— Mas e o Leonard? Desde sexta que vocês não se falam. — eu falei para mudar de assunto, e ela bufou ao lembrar do namorado. — Ele te mandou alguma mensagem?

— Ele me mandou umas mil mensagens, e me ligou várias vezes também.

— E você não respondeu nenhuma delas?

— Não. — ela disse, decidida como eu nunca tinha visto antes. — Eu cansei do jeito com o qual ele me trata e preciso de um tempo longe dele. Essa situação já foi longe demais.

—Isso aí, amiga! — fiquei muito feliz com a sua atitude. — Estou tão orgulhosa de você… uma pena que você só percebeu isso agora.

— O importante é que eu percebi, não é? — eu sorri e ela fez o mesmo.

— Mas e o Philip?

— O que tem ele?

— Ué, não óbvio? — comecei enquanto terminava de me maquiar. — Ele está solteiro, você está solteira…

— Não estou solteira ainda. — ela me interrompeu, mas tudo o que eu realmente captei foi o ainda. —E olha a hora, Jade. Já são quase 14h! Você vai se atrasar.

Percebi que ela estava me despachando e pensei em comentar algo a respeito, mas ela tinha razão. Além do mais, assim que ela tocou no assunto "Luke" novamente, senti uma onda de eletricidade percorrer por todo o meu corpo. Estava na hora do nosso estudo tão ansiado por mim. Peguei meu material, despedi-me da Diana e fui para o Starbucks.

Quando cheguei do lado de fora da loja, a primeira coisa que fiz foi olhar no relógio. Eram 14h10, o que significava que estava atrasada. Entrei correndo e vi que Luke já estava lá, sentado com seu material. Meu coração parou por um instante ao vê-lo, mas ignorei tal acontecimento e fui para a mesa onde ele estava sentado.

— Parece que a rainha da ética não é tão ética assim… — foi a primeira coisa que ele disse quando cheguei mais perto. — Pelo visto, pontualidade não é o seu forte.

— Foram só 10 minutos, não exagera. — sentei e peguei meu material na mochila, colocando-o em cima da mesa. — Mas é bom saber que Vossa Majestade é uma pessoa que respeita os horários.

Ele então deu aquele sorriso lindo e eu não pude deixar de sorrir também. Conversamos um pouco sobre nossas futuras provas e alguns assuntos bobos, até que eu disse que era hora de nós começarmos a estudar Matemática 1.

— Sim, senhora. Eu estava pensando em começar por essa matéria daqui. — ele disse e me apontou um conteúdo no seu livro.

E então nos concentramos quase que completamente em nosso estudo, tirando alguns momentos nos quais eu ou ele fazíamos um comentário ou uma brincadeira, o que tornou a tarde mais descontraída. Porém eu não me surpreendi, porque sempre me sentia em paz quando estava perto de Luke. Revisamos praticamente metade da matéria que, apesar de ter se passado apenas um mês de aula, era bem extensa.

— Acho que podemos fazer uma pausa, o que você acha? — falei por volta das 16h, e ele concordou. — Vou pedir um café. Vossa Majestade deseja alguma coisa?

— Eu aceito um frappuccino de chocolate, por gentileza. — ele respondeu rindo e eu me levantei, indo até o caixa e fazendo nossos pedidos.

— Aqui está, Alteza. — disse quando voltei e entreguei-lhe sua bebida.

— Obrigado. — ele agradeceu. — E obrigado por vir estudar comigo também.

— Eu adorei ter vindo estudar com você, Luke. — ele sorriu quando eu disse isso. — Só não entendi o porquê. Você é um ótimo aluno em Matemática 1.

— Eu só pensei que seria legal ter uma companhia na hora de estudar. Sabe, meus amigos aqui no campus não são os maiores fãs de exatas… a maioria é de humanas ou biológicas.

— Mas eu também não sou de exatas. — rebati. — Só gosto de matemática.

— Eu sei, mas é diferente. Eu… — ele me encarou e ficou em silêncio por alguns segundos. — Eu gosto de estar com você, Jade. De verdade.

Meu cérebro queria falar alguma coisa, mas meu coração me impedia de pensar em qualquer resposta. Por isso, ficamos apenas nos observando. A cada segundo que se passava, nossa troca de olhares se intensificava. Eu estava sentindo um milhão de coisas naquele momento: ansiedade, nervosismo, agitação, felicidade… O clima estava tão forte que eu podia jurar que ele ia me beijar naquele exato segundo. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu.

— Jade. — senti uma mão tocar meu ombro de repente. — Que bom te encontrar aqui.

— Leonard. — disse antes mesmo de me virar, pois nunca confundiria essa voz que tanto me irritava. — O que você quer?

— Preciso falar com você. — ele falou e sentou em uma das cadeiras livres da mesa, sem ao menos perguntar se podia. — A Diana não responde minhas mensagens e nem atende meus telefonemas.

— Por que será, né? — falei, duplamente irritada com ele. Pela Diana e pelo momento que ele estragara. — Ela precisa de tempo, Leonard. Deixa ela em paz, por favor.

— O que ela precisa é vir conversar comigo para resolvermos as coisas.

— Você não sabe de nada. Ela não quer falar com você e muito menos te ver agora. Então, pelo menos uma vez na vida, não força a barra. — a cada frase que ele dizia, eu só conseguia me estressar mais.

— Ótimo, então. Obrigada pelo apoio. — ele se levantou. — E você… ei, eu juro que te conheço de algum lugar.

Estranhei suas últimas palavras até entender que ele estava falando com Luke. Virei-me para ele e vi que seu rosto estava extremamente pálido. Como ele havia ficado assim de repente?

— Acho que não, cara. — Luke falou, mas eu pude sentir o quão trêmula sua voz estava. — Você deve estar me confundindo com alguém…

— Bom, se você diz. — Leonard respondeu, com um sorriso malicioso, o que me deixou mais confusa ainda. — Até mais, Jade. Diz pra Diana que eu quero e preciso falar com ela, de um jeito ou de outro.

— Espera na sombra, seu filho da puta. — sussurrei para que ele não ouvisse minhas palavras enquanto saía do Starbucks. — Enfim, Luke… onde estávamos?

Mas ele não me respondeu, pois estava muito ocupado encarando o nada. Estalei os dedos na frente de seu rosto e chamei pelo seu nome, até que ele piscou os olhos rapidamente e me olhou.

— Jade, foi mal. Acabei de lembrar que preciso ir. — ele falou, enquanto entulhava todo o seu material na mochila, e se levantou.

— Como assim? Nós só estudamos metade da matéria. — respondi, mas não era por isso que eu ficara chateada. Por que raios ele estava indo embora depois de um momento como aquele que estávamos tendo?

— Pois é, mas eu tenho que… lavar roupa. Te vejo amanhã na prova.

— Luke, eu…

— Ah, e obrigada pelo frappuccino. — ele me interrompeu e foi embora, sem ao menos olhar para trás.

Fiquei pelo menos uns 10 minutos sem me mexer, apenas olhando para o nada. O que diabos havia acontecido? Tudo estava indo tão bem. Eu podia jurar que ele ia me beijar e estava me sentindo nas nuvens. Mas, de repente, foi como se eu estivesse caído do paraíso e atingisse o chão duro. Não tinha entendido o que havia se passado, e isso era uma das coisas que mais me irritava no momento.

Sem ter mais o que fazer naquele Starbucks, juntei meu material e fui embora. Será que foi algo que eu disse? Ou melhor, que eu não disse?, era tudo o que eu conseguia pensar. Talvez Leonard tenha estragado o clima e Luke ficou chateado. Mas pra que ir embora assim?

Meus pensamentos me rodeavam e cada passo que eu dava em direção ao meu quarto me deixava mais triste. Eu pude ver tudo claramente naquele momento: sim, eu estava gostando de Luke pra valer, e eu achava que ele sentia o mesmo por mim. Afinal, tinha sido ele que marcara aquele estudo, e não eu. E fora ele que disse que gostava de estar comigo, o que acabou criando a intensa troca de olhares que tivemos.

Mas comecei a refletir… às vezes, ele só havia me chamado para estudar mesmo, nada mais. E talvez só tivesse dito que gostava da minha companhia como amiga, e não qualquer outra coisa que meu coração decidiu assumir. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas e eu fiz a maior força do mundo para não derrubá-las. Será que tudo não havia passado de algo que minha imaginação tinha inventado?

No momento que cheguei a essa conclusão, passei ao lado de um restaurante italiano muito bom do campus. Como não havia almoçado e nem comido nada no Starbucks, decidi entrar para olhar o menu e ver se algum prato me agradava. Mas a única coisa que vi foi mais uma decepção para acabar com meu dia.

Em uma das mesas que se localizavam bem no centro do restaurante, encontrei Philip simplesmente beijando uma menina morena, que, apesar da cor do cabelo ser parecida, infelizmente não era a Diana. Fiquei alguns segundos paralisada, principalmente pelo choque, mas logo depois não pensei duas vezes e saí correndo. O Philip estava namorando? Justo quando a Di estava prestes a terminar com o Leonard? Eu não podia acreditar que tudo isso estava acontecendo.

Parei de correr quando percebi que havia chegado na porta do meu prédio. Fiquei alguns minutos sentada em um banco que se localizava na frente da entrada do dormitório, com medo de subir para o meu quarto e encarar a Diana. Não sabia se conseguiria aguentar suas perguntas sobre Luke sem ter vontade de chorar, e eu não queria de jeito algum derramar lágrimas por alguém que nunca havia passado de um amigo. Além disso, não queria ter que contar para minha melhor amiga que o amor de sua vida estava namorando, principalmente agora que ela estava brigada com Leonard.

Por isso, simplesmente fiquei ali, ouvindo as vozes do meu pensamento e lamentando como tudo havia ido por água abaixo em uma única tarde.