Capítulo XI

Diana

Assim que Jade fez seu caminho para seu "encontro" com Luke, finalmente pude deitar na cama, fechar os olhos e absorver o que estava acontecendo. Por mais que minha melhor amiga estivesse feliz – o que, consequentemente, me deixava feliz também –, eu ainda estava sendo bombardeada por mensagens e ligações de Leonard, algo que me deixava extremamente irritada. Ele havia deixado claro que estava bravo comigo, então por que essa necessidade constante de atenção? Por isso, para tirar minha cabeça do problema, acabei silenciando meu telefone e dormindo durante a tarde, esperando que Jade me acordasse assim que chegasse no quarto.

Porém, quando eram 8:30 da noite, acordei sozinha e confusa ao ver minha melhor amiga deitada em sua cama, enrolada na coberta com apenas a ponta de sua cabeça à vista. Imediatamente, meus instintos me alertaram de que algo estava errado: caso o encontro tivesse ocorrido bem, Jade não hesitaria em me acordar e me contar todos os detalhes. Senti uma pontada no coração ao imaginar o que poderia ter acontecido, visto que ela e Luke pareciam ter bastante química entre si.

No final das contas, decidi deixá-la quieta, tendo certeza de que ela me contaria no dia seguinte e rezando para que, o que quer que tivesse acontecido, não tivesse sido muito grave.

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Acabei encontrando Jade só no almoço, porque nossos horários de manhã naquele dia eram incompatíveis. Ela estava sentada em uma mesa, sozinha, no fundo do refeitório, e assim que me sentei ao seu lado, ela me soltou um olhar triste. 

— Jade. – eu disse, simplesmente.

— Oi – ela respondeu. Após um tempo encarando-a com expectativa, ela se virou para mim e bufou. – Uh, você nem acredita.

— Conta tudo!

— Ok. Nós começamos muito bem, sabe, brincamos e conversamos como o usual, fizemos alguns exercícios... – Jade contou. – Enfim, eu estava com uma sensação boa e não estava prevendo nada que pudesse dar errado. E olha que eu tenho uma boa intuição pra essas coisas!

Eu assenti com a cabeça. Realmente, a intuição de Jade era infalível.

— Então tá, decidimos beber alguma coisa e até aí tudo ocorria perfeitamente. Tivemos até um momento bem intenso de troca de olhares, foi bizarro – ela disse, nervosa. – Até que, do nada, e eu não estou brincando quando eu digo que foi literalmente do nada, o Leonard apareceu! 

Se eu estivesse bebendo alguma coisa, aquele seria o momento no qual eu estaria engasgando. De raiva.

— Ele fez alguma coisa? – perguntei, ansiosa.

— Não exatamente. Ele chegou e falou que precisava falar com você, blá blá blá, choro de homem criança, nem dei ouvidos. O que foi totalmente estranho foi a interação dele com Luke – Jade chegou mais perto, temendo que Leonard subitamente chegasse. – Leonard disse que conhecia o Luke de algum lugar, e quando ele foi embora, o Luke ficou muito estranho. Inclusive arranjou uma desculpa super esfarrapada pra ir embora! 

— Sério? Por que o Luke teria ido embora assim tão de repente?

— Eu também não entendo! – ela exclamou, indignada. – Tipo, tá, eu sei que a presença do Leonard consegue enojar qualquer um, mas francamente, estávamos indo tão bem que eu nunca imaginei que ele fosse ir embora alegando que tinha que “lavar roupa”.

Pelo que Jade havia falado, estava óbvio que Leonard havia sido o motivo da ida repentina de Luke. Talvez os dois já tivessem entre si um histórico problemático – algo que era previsível vindo de Leonard –, mas ainda faltavam algumas peças para resolver o quebra-cabeças. A única coisa certa no meio daquilo tudo era que ele definitivamente estava envolvido. 

— Amiga, eu sinto muito. O Leonard às vezes parece que não raciocina, sabe? E ainda acabar com o clima entre vocês... Eu não sei o que dizer. – eu disse, olhando para o chão com vergonha.

— Di, não é sua culpa! Você e o Leonard são duas pessoas diferentes, não precisa ficar assumindo a culpa por ele em situações como essa. Vai que o Luke... – Jade pareceu estar seguindo uma linha de pensamento mas, no final, acabou se distraindo ou ignorando o que seu cérebro estava tentando concluir. – Enfim, tenho aula daqui a pouco.

Ela deu um beijo em minha cabeça e foi embora, deixando-me sozinha com meus pensamentos. A cada segundo que passava, minha raiva por Leonard aumentava, e eu não sabia o que fazer com esse sentimento. Estávamos brigados pela primeira vez e eu tinha certeza que, caso fosse confrontá-lo novamente, ele ficaria mais violento e acabaria me prejudicando mais do que já tinha. Porém, eu também não podia simplesmente tolerar suas atitudes, quando ele claramente estava errado. 

 Acabei decidindo que ignoraria Leonard até que uma ideia melhor surgisse em minha cabeça. Eu sabia que não era a melhor decisão a ser tomada, mas a situação estava delicada demais, e eu sentia que minhas energias estavam se esvaindo pouco a pouco à medida que pensava nele e em todos os problemas que ele havia causado. 

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— Estão liberados. Não se esqueçam do trabalho para semana que vem!

O professor Roberts terminou sua aula de redação e, quase que instantaneamente, um amontoado de estudantes saiu correndo em direção à porta. Eu estava tão exausta, tanto fisicamente quanto psicologicamente, que demorei um tempo para me levantar. Entretanto, assim que saí de sala e vi Leonard me esperando em frente à saída, desejei ter demorado um pouco mais.

— Diana! – ele exclamou, assim que me viu. Ignorei o seu chamado e andei na direção oposta a ele, porém ele foi mais rápido do que eu e me segurou pelo braço.

— O que você quer?

— Ei, que atitude é essa? Só porque estamos brigados não quer dizer que não estamos mais namorando. 

Namorando. Senti uma pontada de náusea me atingir.

— Leonard, eu perguntei o que você quer. Estou sem paciência pra bobeira. – ele me olhou surpreso e depois sorriu maliciosamente.

— Ah, mas acho que depois do que eu irei te mostrar, você vai mudar de atitude. – ele disse, pegando seu telefone e mostrando uma foto de Luke e Jade na mesa do Starbucks, os dois rindo.

— Por que você tirou essa foto? Qual o problema nisso?

— O problema, Diana, é que o Luke tem namorada.

Meu coração parou.

— Como assim ele tem namorada? Você tem certeza?

— Óbvio que eu tenho. Ela é da minha sala e já vi os dois juntos. Parecem estar bem apaixonadinhos, devo dizer.

Eu não sabia definir se o que ele estava me dizendo era verdade ou não, e minhas mãos começaram a tremer em alerta.

— Leonard, como vou saber que não está mentindo? 

— Você vai ter que acreditar em mim, Diana, porque dependendo da sua reação, essa foto pode ser mandada para o campus inteiro e em questão de segundos a reputação da tua amiga vai lá pro esgoto.

— Do que você está falando?

— Isso mesmo – Leonard chegou mais perto e passou sua mão em meu rosto. – Diana, eu te amo, mas você está agindo muito estranha ultimamente... Por isso tive que recorrer a meios como esse para impedir que nosso relacionamento acabe – ele confessou. – Caso você continue com essa atitude e termine comigo, eu mando essa foto pra todos os meus contatos na universidade e torno a vida da sua melhor amiga um inferno. É isso que você quer? Que sua amiga seja reconhecida como uma amante? Porque você sabe que a pessoa que todos vão odiar nesse caso é ela...

Parecia que Leonard estava prestes a me empurrar para dentro de um extenso labirinto; mas, apesar dos pesares, tive que admitir que sua alegação fazia sentido e explicava o fato de Luke ter ido embora quando Leonard o reconheceu. Porém, tudo só piorava o cenário para Jade: ela estava apaixonada pela primeira vez em um bom tempo e, caso a foto fosse revelada, ela descobriria a verdade da pior maneira possível. Eu não podia deixar que isso acontecesse, mesmo que isso significasse ter que continuar com Leonard.

— A foto fica com você, e ninguém mais. Ok? Eu continuo sendo sua namorada se isso significar o bem da minha melhor amiga.

Leonard sorriu vitorioso e botou o telefone no bolso.

— Eu estava sentindo tanto a sua falta – ele disse, me abraçando. Uma voz na minha consciência estava gritando para que eu saísse dali, porém eu sabia que teria que me acostumar com aquilo dali pra frente. Ele me deu um beijo na bochecha e acariciou meu cabelo. – Tenho que ir, mas estou feliz que estamos juntos novamente.

E, assim, ele foi embora, pisoteando a minha dignidade como se ela fosse uma formiga inocente no chão. Algumas lágrimas desceram pelo meu rosto, mesmo eu tentando combatê-las, mas depois da ameaça de Leonard algo se fez claro em minha mente: eu não podia deixar que Jade continuasse se investindo em Luke. A relação entre eles não teria como dar certo até um futuro prévio, e minha melhor amiga só se prejudicaria. Então, do ódio que estava sentindo por Leonard, nasceu uma raiva direcionada a Luke, e naquele momento eu estava determinada a tentar resolver pelo menos uma parte dos aparentemente infinitos problemas rodeavam a mim e à Jade. 

Decidi confrontá-lo assim que suas aulas do dia terminassem, e fiquei esperando-o frente ao prédio no qual a maioria das aulas de matemática aconteciam. Eu precisava falar com Luke para ele se afastar; mesmo que Jade fosse ficar chateada primeiramente, seria tudo em prol de um bem maior.  

Assim que o vi saindo do prédio, mexendo no telefone, fui correndo em direção a ele. Quando ele me viu, ficou surpreso e confuso. 

— Diana, certo? Amiga da Jade? – Luke disse. Eu assenti com a cabeça.

— Olha, Luke. Eu preciso falar com você sobre ela – ele pareceu nervoso. – Eu acredito que você seja um cara legal, pelo que Jade me contou, mas... eu sei que você tem uma namorada.

Ele arregalou os olhos.

— C-Como...

— Não importa. O que importa é que eu preciso que você se afaste de Jade. Digo, você tem uma namorada! E iludir a Jade desse jeito...

— Nós somos só amigos!

— Luke, não se engane desse jeito. Eu só vi vocês dois no refeitório por alguns minutos e já percebi que vocês têm mais coisa rolando entre si do que gostariam de admitir. E eu não quero ver minha melhor amiga triste por causa de uma coisa que pode ser evitada.  Além disso, o que acontece se alguém vê vocês juntos e conta pra sua namorada? Vai ser um desastre!

Luke pareceu estar em conflito. Eu sabia que ele concordava com o que eu estava falando porque provavelmente já havia pensado da mesma forma, mas, por estar gostando bastante de Jade, presumi que ele preferiu ignorar seu juízo e seguir o que estava sentindo. 

— Enfim, eu te peço isso: deixe ela em paz.

Sendo assim, me virei e comecei minha caminhada em direção ao meu dormitório, sentindo meus olhos arderem e meu corpo implorando por conforto. Nada parecia estar correndo do jeito que eu queria: eu odiava estar com Leonard, odiava ter que mentir para Jade, e odiava estar agindo em segredo sem o apoio de ninguém. Entretanto, após ter falado com Luke, eu senti que pelo menos tinha feito alguma coisa para evitar mais tragédias, ainda que fosse algo que causasse em mim sentimentos conflitantes. 

Em algum ponto no meio do campus, olhei para o céu involuntariamente e me peguei desejando para que algo divino me ajudasse. A escuridão do céu e a falta de estrelas parecia refletir as circunstâncias da minha situação, como se nada nem ninguém pudesse me trazer luz nem com os meus mais intensos pedidos. Fiquei olhando para cima até que o frio finalmente me atingiu e me fez correr até o dormitório.

Quando cheguei e vi o prédio que durante todo aquele tempo havia sido minha casa, me perguntei como eu faria para olhar nos olhos da minha melhor amiga de infância e impedir que a culpa me tomasse por completo.