Street Fighter: Victory Road escrita por Slash


Capítulo 4
Capítulo 3 - Lutas clandestinas




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 ♫♪♪

 

Ryu treinava em uma pequena praça local. O sol lhe queimava o rosto. Pressionados, por uma brutal série de flexões, seus braços tremiam.

— 98... 99... 100!

Se levantava em um salto. Os pássaros voavam tranquilamente, entoando alegres silvos. Ryu fechava os olhos e aspirava toda a vida que fazia aquele lugar tão sereno. Sentia os seus músculos pulsarem -- não só da série de exercícios matinais a que houvera jurado todo o dia se submeter, mas principalmente pela noite anterior, quando enfrentou O Leão.

— Boxe... É uma luta fascinante.

Centenas de imagens vieram em sua mente, todas fragmentos dos combates que travou com os boxeadores londrinos, imagens esparsas, que dançavam, deslizavam, e aos poucos formavam os contornos de funcionava o boxe.

— Se eu me posicionar assim, eu posso...

Assumia então a mesma posição que vira cada um daqueles oponentes lutar. Começava a socar o ar, esquivar, deslizar os pés à caminhar... E em poucos minutos já havia dominado a tecnologia do boxe. O garoto era um gênio. Os pássaros pareciam assisti-lo, a medida que lentamente pairavam ao seu redor. E os aplausos: Cantoras de alegria que formavam a natureza verdejante.

Após uma longa caminhada, Ryu voltava para o hotel. Lyon estava o esperando na recepção, com um enorme sorriso que ia de ponta a ponta no rosto.

— Sabia que você viria - Dizia Ryu, retribuindo o sorriso com um igualmente alegre.

— Como sabia? Eu podia muito bem pegar a grana que você me deu e dar o fora daqui. Sabe, foi uma boa quantidade de dinheiro...

— Como eu disse: Você é uma boa pessoa. Iria cumprir a sua promessa.

— Me pergunto como pode ter tanta certeza.

— Eu disse... Aprendi a sentir isso.

Não diziam mais nada. Os olhares de ambos completavam aquele diálogo quando se cruzavam, em uma exultação sem fim. Era como se eles tivessem se conhecido a muitos anos, como se fossem aqueles tipos raros de amigos que, apenas de um estar na presença do outro, já conseguiam adivinhar tudo o que o outro estava sentindo, de forma que perguntas não tinham como finalidade respostas, apenas serviam para com que um conversasse com o outro -- e que qualquer tipo de conversa, seja qual for o tema, tinham como finalidade extrínseca apenas dizer: Eu te amo, e sou seu amigo.

— O seu nariz está... - Lyon apontava para o nariz de Ryu, que havia sido quebrado. Não ostentava nenhum arranhão ou resquício de luta.

— Bem? Sim, eu me recupero rápido.

Ambos subiam em direção à suíte. Ryu ia tomar um banho e deixava Lyon esperando, que sentava-se em uma cadeira, desconfortavelmente. Aquele lugar era mais luxuoso do que a sua casa e isso o incomodava bastante. Ryu deixava o banheiro já devidamente vestido -- parecia usar a mesma roupa da noite anterior, mas era diferente.

— Então... Você prometeu me levar até o homem mais forte da Inglaterra. E em troca eu vou te ajudar.

— Você tem certeza disso? Quando me perguntou, achei que não era muito bom do juízo, mas agora eu tenho certeza.

— Sim... Por favor... Eu viajei o mundo só pra isso!

— Ok. O homem mais forte da Inglaterra não é um homem, é uma abominação. Ele é o líder de uma gangue de motociclistas chamada The Animals. Ela é pior do que o Hells Angels. O seu nome é Birdie, e ele é um monstro.

— B...Birdie?

— É. Ele não está ligado a nenhuma atividade especialmente perigosa, se fosse outra pessoa fazendo a mesma coisa seria só um baderneiro qualquer, mas ele é um cara perigoso. Os Animals são só um monte de punks que rodam suas motos por aí, ouvindo música alta o dia inteiro, se metendo em confusão, roubando algumas lojas de conveniência e usando drogas. Nada muito grande, são só uns moleques, contudo o tal do Birdie é uma monstruosidade da natureza, ele deve ter nascido com alguma espécie de mutação ou coisa do tipo. Como são baderneiros, a polícia já tentou os prender várias vezes, mas nunca conseguiu, por causa do Birdie. Dizem que o cara já tomou mais de 10 tiros e sobreviveu. Só usando as mãos arrancou um pedaço de carne do braço de um policial e, raios, já quebrou uma faca usando os bíceps! Tudo isso é lenda urbana, mas se sabe, é fato, que nas suas costas estão mais de trinta policiais mortos, e por isso ninguém paga pra ver se é verdade. O cara faz o que bem quer e quando quer, vivendo à margem da lei. A nossa sorte é que ele não passa de um punk qualquer, que deve ter levado os CDs do Sex Pistols a sério demais, e não tem nenhuma ambição de subir na vida do crime, então não representa uma ameaça concreta à sociedade. Digo, não uma ameaça tão concreta quanto, sei lá, tráfico internacional de drogas.

— Nossa... Eu realmente quero muito conhece-lo! Pelo que disse parece ser um cara bem forte, onde ele está agora?

— Ei, não ouviu minha história? Você é maluco? Quer mesmo conhecer esse assassino?

— Já lutei com coisa pior. Te prometo que tenho algumas cartas na manga.

Lyon explicou que os Animals as vezes organizam algumas pelejas de boxe clandestino pela cidade, como a onde ele conheceu o seu interlocutor. Eles gostavam de ver sangue, isso era fato. O problema era simplesmente quando, e onde. Por isso iriam aderir a uma alucinada estratégia: Entrar em todos os circuitos de boxe clandestino da cidade, enfiar a porrada em todo mundo, até ter a sorte de encontrar o homem-pássaro. O plano parecia suicida para Lyon, ele não tinha a menor ideia de como um sujeito poderia ter disposição de lutar tantas vezes, por tantas noites seguidas, com tantos adversários diferentes, mas via no sorriso e na confiança de Ryu que ele não era normal, a velocidade com que o seu nariz se recuperou não o deixava pensar o contrário. Ambos combinaram que Lyon serviria como uma espécie de business man e iria introduzir o japonês no ramo do boxe clandestino, enquanto ele ficava com a parte pesada. Lyon sugeriu que ambos deveriam dividir o dinheiro meio a meio, mas Ryu jurava que tinha dinheiro o suficiente e dizia que não, o dinheiro seria todo do Leão, e ele ficaria só com as lutas.

Após isso, conversaram a tarde inteira. Ryu contou a sua história, que nunca conheceu os seus verdadeiros pais e que cresceu na ilha de Okinawa, sob os cuidados de um velho lenhador, e que treinava karatê desde pequeno. Contou sobre o seu amigo Ken Masters e de suas viagens pelo mundo. O velho boxeador tinha histórias incríveis, que também compartilhava, para deleite do japonês, que se maravilhava, mas não era difícil perceber, para ninguém que não o próprio Ryu, que todas elas eram desinteressantes perto da vida do karateka -- vida que ele contava com tanta inocência que era difícil duvidar de que tivesse contado alguma mentira.

Por fim, anoiteceu. Ambos deixaram o hotel, os luxos da Londres Alta, e iam em direção à Baixa Inglaterra, em busca de lutas. De fato, coisa de lunático. Cruzaram becos escuros, as docas, armazéns abandonados, e finalmente encontraram, ante um pátio com plantas mal-acabadas, onde alguns viciados costumavam fumar mentanfetamina, um movimento anormal: Era luta clandestina. O seu destino.

Os dois homens que lutavam não eram especialmente técnicos, mas eram brutais. Seus socos eram fortes como tijolos e arrancavam a pele. Era um espetáculo brutal, que invocava os instintos mais animalescos e psicóticos oriundos daquela platétia sanguinária de viciados e bandidos. Logo, um deles caiu. Começou a contagem. Estava deformado demais para continuar -- tinha perdido todos os dentes da frente e não conseguia respirar devido a enorme quantidade de sangue que lhe enxarcava a face. Desistia. E a platétia uivava, como um monte de lobos loucos por carniça.

— Algum voluntário para enfrentar o nosso campeão da noite?

— Sim, temos um! - Lyon abriu a multidão. Entrou no meio do ringue. Todos o olharam atônitos. A sua fama era proemininente nos circuitos ilegais.

— O Leão vai lutar? Senhores, teremos um espetáculo esta noite!

— Não. Quem vai lutar será o meu sócio. Ele, por sinal, é muito mais perigoso do que eu.

Apontou em direção à Ryu. Todos o olharam com muita desconfiança. Ele ficou um pouco envergonhado, o que fez com que a desconfiança aumentasse ainda mais. Timidamente ia em direção ao centro da arena. Ryu não era nenhum moleque franzino, tinha estatura mediana, um metro e setenta e cinco e músculos bastante rijos, mas perto do Leão ele era, sim, uma figura decepcionante. Ninguém ali parecia saber o que pensar, exceto confiar no julgamento do Campeão. Ele voltou ao meio da turba e o juiz acenou para a luta começar.

— Isso vai doer mais em você do que em mim, chinês.

Dizia o adversário de Ryu antes de tentar acertá-lo com um direto. Queria terminar a luta rápido. Mas foi surpreendido com uma esquiva e um soco no queijo. Caiu cambaleante e não conseguiu se levantar.

— O... O vencedor... Menino, qual o seu nome?

— Ryu.

— Ryu o que?

— Ryu Hoshi.

— RYU! RYU THE DRAGON HOSHI!

A multidão foi à loucura. E a loucura se transformava em delírio toda vez que o japonês nocauteava um oponente diferente -- era rápido, preciso e ninguém conseguia tocá-lo. Parecia invencível. Todos começaram a apostar dinheiro nele, pois não se recordavam de ter visto, jamais, um lutador tão bom naqueles circuitos moribundos. Ele era melhor do que o próprio Leão.

Contudo, após mais uma vitória, uma voz rouca cortou a exaltação da multidão.

— Farsa! Você é uma farsa!

Toda aquela turba parecia se encolher a medida que o homem falava. A multidão de sujeitos que, de certa, não eram aprazíveis, sim párias que ostentavam certo perigo, se encolhia, a medida que tremia de medo. Medo? Mas eles deviam ser o medo! Os olhos, atônitos e arregalados, fitavam a sombra que emanava da escuridão, enquanto as luzes fortes dos postes da cidade iluminavam seus contornos. Um dos marginais começava a gritar e saía correndo.

— Você não é um boxeador. Está desonrando o nosso glorioso esporte. Vá embora agora.

Era um homem extremamente alto, de pele negra, com músculos tão poderosos e bem trabalhados que pareciam esculpidos à mão. Seus olhos eram de um azul penetrante que parecia olhar no fundo da alma.

— Quem você pensa que é pra dizer isso? - respondia Ryu.

— Você é um karateka. Os seus socos não são socos de boxeador. Vocês artistas marciais são uma piada, se acham os maiores, só porque no nosso esporte nós não usamos chutes. Mas como você é teimoso, vou te mostrar o verdadeiro boxe, moleque.

Ele estava sem camisa, o que evidenciava ainda mais o seu corpo torneado, tão imenso que parecia uma máquina de matar. Vestia uma calça de boxe e sapatos surrados, também do esporte. Suas mãos estavam cobertas por bandagens que pareciam bem desgastadas. Tinha uma barba bem aparada e os seus cabelos eram um imenso black power.

  

— Ryu... Vá pra casa... Por favor, não se meta com esse cara... - Dizia Lyon. Suas pernas tremiam. Como alguém, alguma pessoa humana, era capaz de fazer um campeão sentir tanto medo? Continuava.

— Ele é... Dudley. O insano. Por favor, lute com Birdie mas não enfrente esse cara... Ryu? Ryu!

Lyon olhava o japonês. Era tarde demais. Olhos olhos de Ryu e Dudley haviam se encontrado. Uma tensão precipitava o ar e podia ser sentida por todos os presentes. A atmosfera se tornava pesada, quente, como se enunciasse um violento massacre. Os espíritos dos dois guerreiros se encontravam e entoavam hinos militares gloriosos, em direção à glória.

— Muito obrigado, Lyon. Eu encontrei. Encontrei, finalmente, o homem mais forte da Inglaterra.

Aos poucos, tudo ia se apagando. Os pensamentos, os sonhos, os desejos, as dúvidas... Existia, ali, apenas aqueles dois guerreiros, que se encaravam. E sob as suas almas dançavam o reflexo de um futuro brilhante que estava destinado a acontecer.

[CONTINUA]


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Notas finais do capítulo

Rá! Achou o Dudley diferente? Pois é. Essa história se passa cerca de dez anos antes do Street Fighter 4, então sim, ele está completamente diferente. Inclusive não é o mesmo gentleman dos games. Eis aqui o personagem em seu estado primordial. A sua evolução será abordada nos próximos capítulos! Então fique ligado!
PS: Esse capitulo ficou meio curto pois estou o escrevendo junto com o 4 e parti ambos ao meio.



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