Street Fighter: Victory Road escrita por Slash


Capítulo 2
Capítulo 1 - A jornada continua: Inglaterra, onde estão os lutadores poderosos?


Notas iniciais do capítulo

Em um porto na Espanha, uma despedida de amigos. O adeus deixava para trás centenas de memórias que se convertiam em um turbilhão de sensações nostálgicas.

Despedidas nunca são alegres, mas as vezes podem ser felizes. Felicidade esta que podia ser vista no semblante de cada um: Estavam perseguindo o seu destino, e por isso tinham de partir. Se fossem outros, não Ken e Ryu, aquele adeus seria feito de lágrimas e tristeza. Mas não, eram espíritos livres, e por isso eram tão amigos -- pois como livres espíritos eram os únicos capazes de entender um ao outro. E sabiam que precisavam buscar a sua liberdade, a sua luz. Por isso, mesmo com o peso da despedida lhes apertando o peito, entendiam, no coração, o que ela significava. E por isso o seu adeus era formado de sorrisos calorosos.





Ryu: Dê um grande abraço na Chun-Li por mim, tá bom?




Ken: E pra onde pretende ir?




Ryu: Sei lá. Eu estou sem rumo. Vou pra qualquer lugar. Não quero me precipitar, tenho que refletir sobre a luta... Tenho que pensar na energia Hadou... Temos um novo poder. E quero usá-lo direito. Sinto que a nossa força não é muito diferente da daquele bandido.




Ken: Bison?




Ryu: É. Quando estivemos na Índia, pelo que Dhalsim havia nos ensinado, o poder que procuramos não tem a morte como finalidade... As palavras dele me tocaram muito.




Ken: Ultimamente andei causando muitas preocupações pro meu pai. Gostaria de embarcar com você nessa aventura, mas fica pra uma próxima vez... Quando você fixar residência eu lhe escrevo e a gente se encontra novamente!




Ryu: E lhe garanto que no próximo encontro estarei muito melhor na arte da luta!




Ken: E, óh o cara!




O barco partia. Agora Ryu estava no alto mar... Deixava a Espanha. Rumo ao encontro do mais forte.



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Em plenos pulmões gritava o capitão. O barco zarpava.

 

— Acorda, moleque! Chegamos à Inglaterra!

 

Dizia o marinheiro, sacudindo Ryu, que dormia no convés. Em um súbito seus roncos altos logo se transformavam em um grito imenso, que ecoava pelo silêncio do porto inglês.

 

— Inglaterraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!! Inglaterra! Já chegamos? Inglaterra!

 

Levantava-se rapidamente, com um pulo. Agradecia ao homem com uma batida forte no ombro, que por pouco não o desequilibrava, e corria em direção à proa, onde fitava com êxtase a terra firme. Ryu levantava o punho em direção aos céus, como se anunciasse a sua chegada.

 

— Inglaterra! Aqui vou eu! Vou derrotar todos os seus melhores lutadores! Me aguardem, eu estou chegando!!!

 

 

Então todos olhavam para o japonês e tinham certeza de que se tratava de um autêntico caipira.

♫ ♪ ♪

Ryu desembarcou em um porto de Londres, munido de um enorme saco branco, onde depositava a sua bagagem, que era guardado nas costas. Trajava uma camisa branca, uma calça jeans e sapatos comuns, vestimentas que não chamavam muito a atenção em uma das capitais mais ricas do mundo. No braço direito, um rosário budista em forma de pulseira, herança de sua amiga de infancia, Rinko, e de sua terra natal -- simbolo que serviria para lembrá-lo dos amores de sua casa, amigos e familia, todos guardados no coração.

 

Com um enorme sorriso no rosto desafiava o próprio céu, sentindo a brisa da manhã lhe refrescar. Que tipo de aventuras o esperavam naquela cidade enigmática, que já foi palco de embates mitológicos que encantaram centenas de heróis no decorrer da história, como as fábulas do Rei Arthur? O destino estava em sua frente, ardendo forte como a luz do sol, que resplandescia sob o lutador, como se estivesse prestes a revelar todos os desafios e aventuras que ele estava prestes a desbravar!

 

— Mas primeiro... Acho que preciso de um hotel. Preciso de um banho, estou fedendo muito... E estou morto de fome!

 

Ryu pegou um táxi em direção ao centro da capital. Quando treinou com Ken, este havia o ensinado inglês, e por isso conseguia se virar um pouco na Inglaterra. Este foi um dos motivos pelo qual escolheu, dentre todos os países da Europa, desbravá-la primeiro, pois agora estava sem a companhia do seu amigo, e por isso precisava encontrar um destino com uma lingua em comum, ou iria ter mais dificuldades do que gostaria de ter no começo de sua viagem.

Enquanto o táxi caminhava, lembrava do prazer que era viajar com Ken e por um instante sentia a sua falta, mas logo que olhou a paisagem de imediato esqueceu das saudades. Mesmo enxergando por trás do espelho aquilo era extremamente lindo. Londres era uma cidade antiga, que parecia originada das fábulas de um conto heroico. As pessoas eram bem vestidas e conservavam um aspecto brilhante. Tinham poucos carros na rua e o lugar não parecia tão agressivo quanto as outras metrópoles que desbravou. O jovem japonês ficou tão encantado que abriu o vidro e soltou um imenso grito no ar.

Chegou em um hotel bastante luxuoso. Ken havia lhe emprestado muito dinheiro para viajar. Lá, uma suíte o esperava -- ainda maior do que as que eles ficaram na Espanha. Tomou logo um banho, trocou de roupas e se fartou com um almoço extremamente apetitoso.

 

— Ok... Isso foi incrivel mas eu não posso aproveitar dessa vida para sempre. Tenho o mundo a percorrer e o meu dinheiro é limitado -- vai ser só essa vez. Da próxima, vou dormir em uma espelunca... Vou tentar fazer a minha própria grana lutando em um campeonato ou coisa assim.

 

Apesar de ter comido do melhor que a culinária inglesa tinha a oferecer, ainda tinha fome. Estava lá em busca de boas lutas, e só iria se saciar quando encontrasse um adversário verdadeiramente poderoso. Deixava, então, a bagagem dentro do quarto e partia em busca do mais forte.

Nas ruas, todos pareciam pacatos. Pacatos até demais.

 

— Ei! Me leve ao homem mais forte da Inglaterra! Eu quero enfrentá-lo! Você sabe onde está o mais forte?

 

Perguntava Ryu a um grupo de jovens que caminhavam pela rua, que o olhavam com uma postura extremamente confusa, antes de continuar caminhando, deixando algumas risadinhas inseguras no ar.

 

— Ei! Quem é o homem mais forte da Inglaterra? Me leve a ele!

 

Perguntava a um executivo extremamente bem vestido que estava andando, apressado, carregando uma mala. Ele ignorava completamente o japonês e suas palavras se perdiam no vento.

 

— Ei! Vocês! Quem é o homem mais forte da Inglaterra?

Um casal de jovens que se vestiam de uma forma extremamente singular encararam Ryu com desdém. O rapaz tinha dezenas de tatuagens pelo corpo, do pulso até o pescoço, tal como diversos piercings pelo rosto, era magro. A garota, extremamente branca e ostentando uma pérola presa no septo, abraçava o rapaz, como se buscasse alguma proteção diante do japonês, que estava bastante exaltado.

 

— Tá tirando, fera?

 

Dizia ele antes de levar um cigarro para a boca e inalá-lo. Era um blefe, estava morrendo de medo e Ryu conseguia sentir isso. Ele era enorme perto do rapaz, provavelmente isso havia o assustado.

 

— Droga! Com o Ken era muito mais fácil! O que será que eu estou fazendo de errado?

Decepcionado, Ryu abaixou os ombros e deixou o casal para trás, completamente confuso. Caminhou sem rumo pelas ruas de Londres, se perguntando se aquela cidade realmente guardava adversários poderosos, dignos da maestria do seu karate.

Andou por minutos, horas, enquanto refletia sobre a cidade ao seu redor. Todas aquelas pessoas eram completamente diferentes dele. Apesar de cada uma possuir as suas singularidades, aspirações e sonhos, todas simplesmente só queriam viver a própria vida, "ficar bem". Não queriam lutar, não queriam se machucar. Todos tinham isso em comum, desde os pequenos adolescentes ao estranho fumante. Todos temiam, de uma forma ou de outra, a luta, e não por fraqueza interior, mas porque só queriam viver em paz. As palavras de Dhalsim ecoavam loucamente pela cabeça de Ryu, completando a sua epifania: Você é uma fera.

Ele estava certo. Ryu sabia que era uma fera, uma fera louca para devorar uma presa. Violência era o que movia a sua vida, a adrenalina de um combate... Isso, de certa forma, o perturbava, pois ele sabia que ser um lutador era a sua natureza, mas não queria machucar ninguém. Não era a morte que os seus punhos buscavam, mas outra coisa, algo que não sabia duzer o que era... Essa dúvida foi o que o fez ir do Japão até a Inglaterra, na outra parte do mundo. Só poderia obter paz de espirito quando obtivesse a sua resposta.

Andou mais do que havia se percebido andar. Quando deixou os seus pensamentos e se deu conta da realidade, notou que a paisagem havia mudado completamente. Estava agora na parte pobre de Londres. As paredes, ainda antigas, não pareciam mais gozar do mesmo beleza do que antes, eram acabadas. O ar não mais relaxante, mas uma atmosfera funesta, sob a forma d'uma fina neblina, tomava o lugar, que parecia composto por infinitos becos que formavam um labirinto sem fim, mediante a iluminação incipiente, que contrastava com o crepúsculo do sol que já estava se pondo, que tingia o chão mal-acabado de vermelho. Alguns homens mal-encarados o olhavam, encostados nas paredes dos becos, já noutras, alguns viciados olhavam até demais para os próprios pensamentos, tão imersos na alucinação que o cachimbo que ostentavam na boca lhe proporcionavam que sequer pareciam sentir o tempo passar, ou entender o estágio de deterioração em que estavam. Era um ambiente hostil. Ryu sabia disso, mas não se sentia intimidado. Pelo contrário, sentia que tudo aquilo, de certa forma, o desafiava, e isso o animava. Tais sensações, outrora dignas de tanta alegria, agora o deixavam completamente desconfortável. Não havia nada ali que pudesse ser digno de um sorriso. E ele sentia uma enorme culpa por isso.Quando deixou os seus pensamentos e se deu conta da realidade, notou que a paisagem havia mudado completamente. Estava agora na parte pobre de Londres. As paredes, ainda antigas, não pareciam mais gozar do mesmo beleza do que antes, eram acabadas. O ar não era mais relaxante, mas uma atmosfera funesta, sob a forma d'uma fina neblina, tomava o lugar, que parecia composto por infinitos becos que formavam um labirinto sem fim, mediante uma iluminação incipiente, que contrastava com o crepúsculo do sol que já estava se pondo, tingindo o chão mal-acabado de vermelho. Alguns homens mal-encarados o olhavam, encostados nas paredes dos becos, já n'outras, alguns viciados olhavam até demais para os próprios pensamentos, tão imersos na alucinação que o cachimbo que ostentavam na boca proporcionava que sequer pareciam sentir o tempo passar, ou entender o estágio de deterioração em que se encontravam. Era um ambiente hostil. Ryu sabia disso, mas não se sentia intimidado. Pelo contrário, sentia que tudo aquilo, de certa forma, o desafiava, e isso o deixava excitado. Tais sensações, outrora dignas de tanta alegria, agora o faziam completamente desconfortável. Não havia nada ali que pudesse ser digno de um sorriso. E ele sentia uma enorme culpa por isso.

 

Queria voltar ao hotel, para pensar, mas estava perdido. Cruzou então séries de becos em busca da saída, mas somente encontrou mais degeneração. O seu coração apertava. Logo, se deparou com um local semelhante ao quintal de um galpão abandonado. O chão era feito de areia e a luz lá era pouca. Uma multidão imensa estava dispersa na forma de um círculo, e eles vibravam. Pareciam estar apostando dinheiro.

 

Não sabia dizer se foi o destino que o trouxe ali, ou mesmo a energia Hadou, presente em todos os seres vivos, que o guiou de forma a findar a aflição que lhe tomava o coração, mas sentiu-se atraído pela multidão e simplesmente entrou no meio. Deparou-se com uma luta.

Dois indivíduos estavam trocando socos. Um deles era bastante forte, de estatura média, com cabelos ruivos e sardas extremamente aparentes. O outro era um brutamontes careca, meio gordo, mas que ostentava músculos extremamente rígidos por de baixo da gordura. Ambos tinham vários hematomas pelo corpo e estavam sem camisa. Ambos trocavam socos. Mas a despeito do que seria uma peleja em um lugar tão decadente, os dois eram detentores de uma técnica invejável, uma velocidade incrível e pareciam imunes ao cansaço e a dor.

 

— O que... O que é isso?

Perguntava Ryu a um dos sujeitos que estava vendo a luta. Ele respondia, empolgado.

 

— Nunca viu uma luta de boxe, rapaz?

 

— B... Boxe?

 

— Você não é tira, é? Se for vamos quebrar a sua cara!

 

— Não, não senhor, não sou tira. Por favor, o que é boxe?

 

— Você é alguma espécie de caipira ou o que? Ah, estou vendo, é estrangeiro... Então, china, boxe é uma luta onde só se poder usar os punhos, nada de pés. Esse aqui é um circuito de boxe clandestino. Eles lutam sem luvas e não há regras, exceto pelo fato de que não pode chutar e não vale nenhum golpe da cintura pra baixo. Você é bem grandinho, eim? Por que não tenta a sorte? Ou tá com medo?

 

— Eu? Eu posso lutar?

 

— Qualquer um pode desafiar o vencedor. Daí começam as apostas. Não tem rounds ou limite de tempo, vai até cair. Tá vendo aquele careca ali? Ele é Lyon The Lion Schaefer. Ele é o nosso campeão invicto. Vem gente de todo o país lutar aqui e todo mundo apanha. Olha só como ele é rápido, apesar de tão grande!

 

E era mesmo. Ele era como um leão atacando uma presa. Rápido, eficiente. Todos os seus golpes não eram em vão, ele sabia onde encaixá-los da forma mais precisa possível. E letal. Aquela luta, algo nela era diferente das artes marciais orientais com as quais Ryu conviveu a vida inteira. Acima de tudo, parecia existir uma espécie de economia de movimentos, sem nenhuma plasticidade desnecessária. Cada golpe existia unicamente para golpear e estraçalhar o inimigo. A velocidade dos punhos deles eram absolutamente incríveis.

E antes mesmo que pudesse piscar, acabou. O leão destruía o rosto do ruivo com um soco, fazendo os seus dentes saltarem pra fora da boca. Ele caía no chão e uma poça de sangue se fazia no solo. A multidão vibrava. Os gritos contagiavam o espirito de Ryu.

 

— Lyon The Leon Schaefer, nosso campeão! Quem quer desafiá-lo? Alguém? Alguma alma viva!

 

— Eu vou!

Dizia Ryu. Todos se surpreendiam com a sua bravura. Ele era grande, forte, mas The Leon já havia comido coisas muito maiores no café da manhã. Ele olhava para o rosto do japonês com um sorriso sarcástico. Faltavam-lhe alguns dentes e o seu nariz era bastante amassado -- cicatrizes de batalha.

Ryu respondia a provocação com uma saudação.

 

— Oss!

[Continua no próximo capitulo]

 

 

 


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