A moça e o dragão escrita por calivillas


Capítulo 16
O que você está fazendo aí?




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— Virgínia, o que você está fazendo aí? – Teresa quis saber, espantada ao ver aquela inesperada cena.

Virginia ficou de pé em um pulo e Jonas sentou-se no sofá.

— É que... é que Jonas não estava se sentido bem, achei que ele estive com febre, talvez, uma virose. Estava verificando se ele tinha febre – Virgínia inventou uma desculpa e Teresa os encarou um tanto incrédula.

 - Eu acho que não é nada demais, deve ter sido alguma coisa que comi mais cedo, já estou me sentindo um pouco melhor, agora. E você o que está fazendo acordada, Teresa?

— Estava com sede, vim pegar um copo d’água.

— Então, já que você está bem, Jonas, eu vou me deitar. Boa noite, Jonas. Boa noite, Teresa.

 Deitada, outra vez, no escuro, naquele sofá-cama, no seu quarto improvisado, Virgínia ficou toda animada ao escutar a porta do seu quarto abrir, imaginando que poderia ser Jonas.

— Virgínia, está acordada? – Toda sua alegria foi embora ao ouvir a voz de Teresa, pensou em ficar quieta, fingido que estava dormindo, mas ela não era assim.

— Sim, estou, Teresa – Sentou-se na cama, considerando que talvez fosse a hora de revelar a verdade a sua cunhada.

— Precisamos conversa, Virgínia – Teresa sentou-se ao seu lado, mesmo no escuro, podia imaginar a expressão de preocupação da recém-chegada, por isso, esperou a outra continuar. – Sobre a cena que eu presenciei na sala.

— Eu posso explicar, é que eu...

— Não precisa, eu entendo.

— Entende mesmo?!

— Sim, entendo essa afeição quase maternal, que você desenvolveu por esse rapaz.

— O quê?!

— Sei que você vai negar, mas está na cara, a maneira que se preocupa com ele, que cuida dele.

— É?!

 - Você ficou viúva, sem filhos, não tinha irmãos, nem família, por isso você faz isso.

— Isso o quê?

— Protege e cuida do rapaz, assim tão atenciosamente, precisa de ter alguém para cuidar, se dedicar, como se ele fosse uma espécie de irmão mais novo.

 - Então, você não achou que eu e ele poderíamos ter assim um... envolvimento amoroso?

— Você e Jonas? – Teresa soltou uma risadinha. – Com essa diferença de idade e do jeito que ele é, não seria típico de você, nem pegaria bem.

— Você tem razão, Teresa. É mesmo uma bobagem pensar, em algo parecido – Virgínia deu um sorriso dissimulado.

No dia seguinte, antes de sair para trabalhar, Virgínia mal conseguiu falar com Jonas, ele parecia que a estava evitando, isso a deixou bastante aborrecida. Durante o resto do dia, Virgínia tentou se comunicar com ele, por várias vezes, mas, sempre caía na caixa postal e ele não respondia suas mensagens, começou a ficar zangada. E foi logo depois da enésima tentativa frustrada que Sandra se aproximou.

— Que cara é essa, Virgínia? Algum problema com a sua sogra? Ela continua na sua casa?

 - Sim, ela está ainda lá em casa e está tudo bem.

— Então, é por isso que você está com essa cara, não está acostumada a ter ninguém em casa.

— Não é nada disso, só que...  Ah! Deixa para lá!

— Outra coisa, você sabe aquele primo do meu marido? – Sandra questionou, toda animada.

— Sim, eu me lembro, você já me falou dele – respondeu de um jeito entediado.

— Ele ainda está sozinho.

— Obrigada pela lembrança, mas, realmente, não estou interessada. Para falar a verdade, vou sair com alguém hoje – revelou, na tentativa que a colega parasse de aborrecê-la com essa história.

— Que bom! Eu conheço?

— Não, é só o irmão de um amigo.

Virgínia voltou correndo para casa, sem se importar com a condução cheia. A distância da estação até o seu prédio nunca foi tão longa, sua ansiedade era mais para encontrar com Jonas do que pelo iminente encontro. Entrou no elevador, relembrando como ansiava por suas paradas no 5º andar, tempos atrás, porém, ele seguiu direto. Entrou em casa voando, olhando ao redor, procurando por algum sinal da presença de Jonas, mas nada.

Judite apareceu na porta, que dava para o corredor.

— Que bom que você chegou, para poder se arrumar com calma.

— Oi, Jonas está em casa?

— Não, ele ainda não voltou.

— Hoje é sexta-feira, deve sair com os amigos – Teresa, que saiu da cozinha, respondeu. – Vá se aprontar, para ficar bem bonita para hoje à noite, Virgínia!

— Sim, sim, eu vou – respondeu um tanto chateada.

No seu quarto tentou, mais uma vez, falar com Jonas sem sucesso.

Na hora marcada, Virgínia apareceu na sala.

— Você vai assim? – Judite perguntou, espantada, ao vê-la com um vestidinho simples, quase sem maquiagem.

— Não está bom?

— Claro que não! Volte lá para dentro e coloque mais um pouco de pintura na cara! – Judite ordenou, mas nesse momento, a campainha tocou, deveria ser Samuel, era melhor acabar logo com isso.

— Ele chegou – anunciou, indo direto abrir a porta.

Samuel estava parado do outro lado, todo arrumado e cheiroso.

— Boa noite – disse, com um sorriso luminoso, quando foi convidado a entrar. - Você está muito bonita, Virginia. Não gosto dessas mulheres que enfeitam muito ou passa um monte de pintura na cara.

— Ah! Que bom – Virginia respondeu, sem graça.

— Meu irmão não está?

— Não – Virgínia respondeu, com um fio de voz.

— Podemos ir?

— Sim, claro – Virgínia saiu reticente, pois até agora, não tinha nenhuma notícia de Jonas.

— Espero que goste desse lugar, Virgínia. Foi o rapaz do hotel que me recomendou, não conheço nada por aqui – ele explicou, assim que chegaram e tomaram seus lugares, em uma das mesas do simpático restaurante, e o garçom oferecia os cardápios.

— Está ótimo para mim, Samuel. Parece ser um lugar muito agradável.  Eu também não costumo sair muito – ela respondeu, enquanto tentava escolher, mas seu estômago estava embrulhado, aflita por não saber do namorado.

— Deve ter sido muito difícil para você, ficar sozinha em uma cidade estranha – Samuel começou a falar com gentileza.

— Sim, foi bastante, tinha vezes que eu queria voltar para a minha cidade, mas não podia viver mais naquele lugar, depois do que aconteceu com Theo. Tudo lá me traz muitas lembranças boas e ruins. Eu estava muito sozinha até Jonas aparecer, ele me trouxe de volta vida.

— Acho que você fez bem para o meu irmão, também. Ele era um menino difícil, tímido, mas muito criativo e inteligente, bastante diferente dos outros garotos do lugar, que não o entendiam, por isso o maltratavam muito, batiam nele e chamavam ele de bichinha e esquisito.

— Eu não sabia disso – Virgínia disse, penalizada, com o coração apertado pelo pequeno Jonas.

— Jonas não conta essa história para ninguém, mas ele era muito forte e determinado, e assim que pode foi embora, saiu aí pelo mundo, sozinho.

— Disso eu sei.

— Levou tempo para eu aprender a conhecê-lo melhor, mas acho que ele nunca me perdoou por não o defender contra todos, afinal, eu era o seu irmão mais velho. Era esse o meu dever.

 - Ele nunca falou sobre isso, aliás ele quase nunca fala da cidade de vocês e da sua família.

— Acho que nunca nos perdoou.

— Eu penso que ele só quer esquecer.

— Vocês parecem ser muito chegados.

— Realmente, nós conversamos muito, fazemos companhia um ao outro.

 Fizeram os seus pedidos, enquanto Virgínia reconhecia Jonas em Samuel, em pequenos gestos e detalhes.

— Você é uma boa pessoa, Virgínia.

— Como pode saber isso?

— Está nos seus olhos quentes e cativantes.

 Virgínia deu um sorriso sem graça, não gostando do rumo que essa conversa tomava.

— Muitas vezes, os olhos enganam.

— Não a mim, eu consigo ler as pessoas, o que se passa no coração delas.

— Como fez com o seu irmão?

— Eu mudei muito desde então, mas não se pode negar que Jonas é no mínimo diferente, principalmente, para um lugar pequeno e tradicional como o nosso.

— Sim, ele é mesmo uma pessoa diferente e adorável, inteligente e muito gentil – Virgínia rebateu com indisfarçável veemência.

— Não fique irritada! Eu gosto de Jonas, só não aceito muito a maneira dele ser.

— Pois, você deveria aprender com ele! – Virgínia estava realmente aborrecida, quando o garçom chegou com os pratos pedidos, Samuel se calou e a olhou de modo estranho, depois, mudou de assunto.

Durante o resto da noite a conversa tornou-se superficial, evitaram assuntos perigosos e comprometedores.

— Obrigada pelo jantar, foi uma noite muito agradável.

— Obrigado você, por fazer companhia a um pobre homem do interior perdido, nessa cidade grande. Gostaria de manter contato, podemos ser amigos.

— Claro que podemos ser amigos, Samuel.

— É que eu gostei muito de você, Virgínia, e ...

— E o quê, Samuel? – Eles se voltaram para ver Jonas parado, bem atrás deles, olhando fixamente para os dois.


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