Nico está fugindo. É bom nisso, até. Desde a morte de Bianca, fugir havia se tornado sua segunda natureza, que ele, afinal, acolhera de braços abertos.

Bianca. Morte.

Até alguns meses atrás, seria incapaz de ao menos pensar nas duas palavras juntas sentir um calafrio lhe percorrendo a espinha. Bianca havia sido família, seu porto seguro. E então, Hades a descartara como uma peça de xadrez quebrada.

“Bianca não serve para o trabalho” ele havia dito singelamente, girando um de seus inúmeros anéis. “E não vou ter viva uma filha que me traz vergonha”.

Seu olhar havia sido gélido, impassível, e Nico quase o mandou ir para a merda. Hazel tremia ao seu lado, anestesiada pela ameaça no tom cortês do pai. Hades era sempre assim. Ele não trazia a morte como o prelúdio de uma tragédia. Não. Ele a apresentava em uma bandeja de prata e os que a bebiam sentiam o veneno com o gosto de vinho. A morte para Hades era uma arte — e aqueles que ele julgava incapazes de praticá-la era automaticamente descartável.

Nico era um semideus, embora não fizesse muita ideia do que aquilo significava. Seu pai adotara o nome de um deus antigo — grego, igualmente macabro — mas afirmava não ser o mesmo. Tudo o que Nico sabia era que sentia a morte correndo por suas veias, por sob sua pele. Sentia-a quando mastigava a comida sem gosto e quando vislumbrava por algum acidente o sangue escuro que escorria quando ele se machucava.

Embora cruel e insensível, Hades era um bom pai — ao menos, para os dois que ainda estavam vivos. Havia concedido à Nico e Hazel a oportunidade de livrarem-se dele para sempre, se assim desejassem, embora com uma condição.
— Me façam orgulhoso — Hades dissera. — E caso contrário, me dêem as suas almas.
Nico não era um apostador, mas desfizera-se de todas as suas cartas com aquela jogada.