Sophia escrita por znestria


Capítulo 35
Fim de Ano




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Sophia passou o resto do dia com Viktor, aproveitando o pouco tempo que ainda tinham até o final do ano letivo. Antes do jantar, passou na biblioteca e pegou alguns livros de Defesa Contra as Artes das Trevas avançados, pois era uma matéria que ela sempre teve dificuldade - mas que agora precisaria dominar. Ela se lembrava do ano anterior, durante o qual dementadores vagueavam pelos terrenos livremente, e quão desamparada se sentia, sem saber como se defender caso algum a atacasse. Também se lembrava do Clube de Duelos que Lockhart tentara restaurar em seu quarto ano. Apesar do fracasso do professor, o experimento acabou por deixar Sophia sentindo-se bastante insegura sobre suas habilidades de duelar. 

“Olha aqui, são vários feitiços de proteção diferentes”, mostrava Sophia a Georgie durante o jantar. “Fianto Duri, Muffliato, vários versões de Protego… A ideia é combinar todos. Vou tentar lançá-los assim que chegar em casa.” 

Georgie assentiu. “Sim, acho bom. Vou tentar usar esses na casa dos meus pais. E dos meus avós. E talvez eu visite meus parentes em Londres, talvez seja bom… Eles moram ali perto do Caldeirão Furado…”

“Vocês deveriam comprar um bisbilhoscópio”, sugeriu Rogério.

“O que é isso?” perguntou Sophia.

“É tipo um detector de perigo. Eu tenho um, mostro pra vocês quando voltarmos para os dormitórios.” 

Sean deu um grande gole de suco de abóbora. “Será que não estão exagerando um pouco demais? Quero dizer… Não temos nenhuma confirmação ainda. O Ministério não se pronunciou.” 

Sophia encarou o amigo. “Você está dizendo que não acredita que Você-sabe-quem voltou?” 

Ele deu os ombros. “Só estou dizendo que não temos confirmação.” 

“Viktor foi amaldiçoado! Cedrico está…” sua voz falhou. Ela pigarreou e então continuou. “Nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas era um Comensal da Morte infiltrado! Karkaroff está desaparecido desde a Terceira Tarefa, e estão dizendo que ele também era um Comensal da Morte!” 

“Bom, sabemos que os Comensais da Morte estão de volta. Não quer necessariamente dizer que…” 

“Sean!” Sophia o cortou, desacreditada. Olhou para os amigos, procurando apoio, mas eles desviaram o olhar. Sophia então levantou-se, bufando, e subiu para a Torre da Corvinal.

Sophia deitou-se em sua cama e tentou ler os livros que emprestara. Estava tentando entender como poderia aplicar o Feitiço Redutor em uma situação de perigo quando Georgie apareceu. 

“E aí”, a amiga a cumprimentou, sentando-se ao seu lado. 

Sophia sorriu sem muito entusiasmo.

“Sinto muito por Sean. Ele precisa de um pouco mais de tempo.” 

“Georgie, todos nós precisamos de mais tempo para processar isso. Mas não temos esse tempo. Se Você-sabe-quem voltar, precisamos estar prontos.”  

“Eu sei, Soph, mas… Tente entender. Sean perdeu os pais na guerra. Se Você-sabe-quem não foi derrotado durante a guerra, se ele realmente voltou… Significa que todos os sacrifícios que a família dele fez foi em vão. Significa que ele cresceu sem os pais por nenhum motivo.” 

Sophia engoliu em seco. “Desculpe. Não tinha pensado nisso.” 

A garota desceu e encontrou os meninos na Sala Comunal, jogando uma partida de xadrez com uns quartanistas. 

“Ei, Sean”, ela chamou. “Desculpe por sair daquele jeito. Tem sido uns dias muito estressantes.”

Ele abriu um pequeno sorriso. “Tudo bem, Soph. É um saco, só. Tudo isso. É um saco.”

Sophia concordou, e os dois ficaram em silêncio por um tempo. Acabaram assistindo às partidas de xadrez pelo resto da noite, em uma tentativa de distrair os pensamentos. 

A Festa de Despedida aconteceu no dia seguinte. O clima entre os alunos era deprimente; ninguém parecia se importar muito com o resultado do campeonato entre as Casas. Quando adentrou o Salão, Sophia percebeu imediatamente os panos pretos na parede ao fundo, onde ficava a mesa dos professores. Seu peito afundou. 

Ela se sentou com os amigos na mesa da Corvinal, mas ninguém dizia nada. Quando Dumbledore se levantou para falar, ele apenas teve que silenciar poucos burburinhos entre os alunos. 

“O fim de mais um ano”, ele começou. O professor direcionou seu olhar diretamente para a mesa da Lufa-Lufa. Sophia não se atreveu a olhar diretamente para os colegas. 

“Há muita coisa que eu gostaria de dizer a todos vocês esta noite mas, primeiro, quero lembrar a perda de uma excelente pessoa, que deveria estar sentado aqui festejando conosco. Eu gostaria que todos os presentes, por favor, se levantassem e fizessem um brinde a Cedrico Diggory.” 

Sophia se levantou, segurando sua taça. Sua visão estava completamente embaçada por lágrimas, e sua voz tremia quando ecoou o nome de Cedrico. 

“Cedrico era o aluno que exemplificava muitas das qualidades que distinguem a Casa da Lufa-Lufa. Era um amigo bom e leal, uma pessoa aplicada, valorizava o jogo limpo. Sua morte nos afetou a todos, quer vocês o conhecessem bem ou não. Portanto, creio que vocês têm o direito de saber exatamente como aconteceu.” 

O coração de Sophia batia loucamente, e ela tentou respirar fundo. 

“Cedrico Diggory foi morto por Lord Voldemort.” 

Sophia sentiu um calafrio em todo o seu corpo. Começou a sentir tontura e focou intensamente na taça em sua frente, tentando recuperar o equilíbrio. Apesar de ser introduzida aos acontecimentos da guerra bruxa apenas após ingressar em Hogwarts, Aquele-que-não-deve-ser-nomeado havia propagado uma cultura de medo tão forte entre a comunidade bruxa que até ela havia assimilado a fobia ao ouvir seu verdadeiro nome. 

“O Ministro da Magia”, continuou Dumbledore, ignorando o murmúrio de pânico entre os alunos. “não quer que eu lhes diga isto. É possível que alguns pais se horrorizem com o que acabo de fazer, ou porque não acreditam que Lord Voldemort tenha ressurgido ou porque acham que eu não deva lhes informar isso por serem demasiado jovens. Creio, no entanto, que a verdade é, em geral, preferível, às mentiras, e qualquer tentativa de fingir que Cedrico Diggory morreu em consequência de um acidente ou de algum erro que cometeu é um insulto à sua memória.

“Há mais alguém que deve ser mencionado em relação à morte de Cedrico. Estou me referindo, naturalmente, a Harry Potter.” 

Todas as cabeças do Salão se viraram ao quartanista, que parecia perfeitamente calmo. 

“Harry Potter conseguiu escapar de Lord Voldemort. E arriscou a própria vida para trazer o corpo de Cedrico de volta a Hogwarts. Ele demonstrou, sob todos os aspectos, uma bravura que poucos bruxos jamais demonstraram diante de Lord Voldemort e, por isso, eu o homenageio.” 

O diretor brindou o nome de Potter, e os alunos o seguiram.

“O objetivo do Torneio Tribruxo era aprofundar e promover o entendimento no mundo mágico. À luz do que aconteceu, o ressurgimento de Lord Voldemort, esses laços se tornam mais importantes que nunca.” 

O contínuo uso do nome d’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado por Dumbledore deixava Sophia cada vez mais incômoda. Ela sabia, sabia que ter medo de um nome era algo fútil, mas agora ele representava mais que uma cicatriz na história do mundo bruxo. Agora, este nome representava uma ameaça à sua vida, uma ameaça à sua família e aos seus amigos. Representava a possibilidade dela perder tudo que conquistara nos últimos anos. 

“Cada convidado neste Salão será bem-vindo se algum dia quiser voltar para cá. Repito a todos, à luz do ressurgimento de Lord Voldemort, seremos tão fortes quanto formos unidos e tão fracos quanto formos desunidos.

“O talento de Lord Voldemort para disseminar a desarmonia e a inimizade é muito grande. Só podemos combatê-lo mostrando uma ligação igualmente forte de amizade e confiança. As diferenças de costumes e língua não significam nada se os nossos objetivos forem os mesmos e os nossos corações forem receptivos.

“Creio - e nunca tive tanta esperança de estar enganado - que estamos diante de tempos negros e difíceis. Alguns de vocês, neste salão, já sofreram diretamente nas mãos de Lord Voldemort. As famílias de muitos já foram despedaçadas.” Sophia olhou de relance para Sean, e viu que Georgie segurava sua mão. “Há apenas uma semana, um aluno foi levado do nosso meio.

“Lembrem-se de Cedrico Diggory. Lembrem-se, se chegar a hora de terem de escolher entre o que é certo e o que é fácil, lembrem-se do que aconteceu com um rapaz que era bom, generoso e corajoso, porque ele cruzou o caminho de Lord Voldemort. Lembrem-se de Cedrico Diggory.” 

 

 

 

O resto do banquete foi marcado pelo profundo silêncio que permeou entre os presentes. Muitos ainda murmuravam entre si, pois era a primeira vez que algum dos professores havia se pronunciado sobre os acontecimentos daquela terça-feira. Sophia e o grupo de amigos, como ficaram sabendo por Fred e Jorge, comeram a refeição sem muita animação. 

Já estavam quase terminando quando ouviram um estouro fora do Salão. 

“O que foi isso?” perguntou Rogério, mas ninguém respondeu. 

Muitos se levantaram, olhando para as portas. Rogério e Georgie, por serem monitores, encaminharam-se em direção à saída. Ao se aproximarem o suficiente, viraram-se animados e gritaram, chamando pelos amigos.

Sophia e Sean levantaram-se e correram para a porta. Uma vez perto o suficiente, Sophia pode ver clarões coloridos no céu. Agora, boa parte do corpo estudantil já havia se levantado das mesas e disparava para o pátio. 

Lá fora, o espetáculo era impressionante. Dezenas de fogos explodiam na escuridão da noite, voando e faiscando em toda a matiz cromática. Os fogos colidiam e explodiam em espetáculo, deixando um rastro de estrelas muito familiar a Sophia. Ela imediatamente percebeu que não havia visto os gêmeos no banquete, e agora entendia o porquê. Não demorou para que surgisse um enorme texugo no céu - os fogos personalizados que haviam feito para Cedrico. Sophia deixou cair uma lágrima. 

Um foguete final subiu. De sua explosão, a figura brilhante de um jogador de quadribol em uniforme amarelo e preto saiu voando, dando voltas e piruetas até desaparecer em um pontinho luminoso - confundindo-se com as outras estrelas no céu. 

Ao final do espetáculo, ninguém aplaudiu. Sophia olhou ao redor e distinguiu várias outros rostos chorosos, mas também muitos sorrisos - principalmente de alunos da Lufa-Lufa.

Sophia permaneceu no pátio, abraçando os amigos. Aos poucos, a multidão ia voltando para o castelo. Ela escaneou os arredores e encontrou Viktor em um canto distante. Correu para encontrá-lo, e os dois deram as mãos e sentaram-se na mureta. 

Sophia respirou fundo. No dia seguinte, estaria se despedindo de Viktor neste mesmo pátio. As delegações de Beauxbatons e Durmstrang partiriam no início da manhã, e, às onze horas, o Expresso de Hogwarts viajaria de volta a King’s Cross. 

Desde que haviam voltado, Sophia ainda não havia conversado propriamente com Viktor sobre a relação. Acabaram reatando em vista das terríveis circunstâncias que seguiram a Terceira Tarefa - ela não imaginaria como teria conseguido lidar com as notícias apavorantes sem o apoio do garoto. Não que estivesse lidando tão bem. 

“Que horas vocês partem amanhã?” 

“No começo da manhã”, ele respondeu, franzindo a testa. “É uma viagem longa.”

Sophia assentiu. “Vocês conseguem comandar o navio sem Karkaroff?” 

Ele bufou. “Karkaroff não fez nada. Ficou em sua cabine e deixou todo o trrabalho conosco.” 

“Devia ter imaginado”, ela disse, soltando uma risadinha. 

Os dois ficaram observando o céu por um tempo. A ansiedade de Sophia estava chegando a um nível alarmante, ela não podia estar mais receosa com a conversa iminente: afinal, da última vez que o casal havia conversado sobre o futuro, acabaram terminando o relacionamento. 

“Como vai ser o ano que vem para você?” ele perguntou, rompendo o silêncio.

Sophia sacudiu os ombros, indecisa. “Não sei. Espero que consiga solucionar a situação - ou melhor, a segurança dos meus pais. E espero que eu consiga voltar para terminar o meu último ano em Hogwarts. E você?” 

“Vou voltar para o time. Agora vou conseguir trreinar em período integral. Devo estar muito fora de forma”, ele riu.

“Os treinos são muito pesados?” Sophia levantou uma sobrancelha. 

“Ah, sim. Você vive reclamando do Rogério, mas não faz ideia do meu técnico. Ele não nos dá folga.” Os dois riram, e o garoto continuou: “Mas ainda temos vários sábados livrres.” 

Ele a encarava sugestivamente.

Sophia abriu um sorriso. “Aqui em Hogwarts temos alguns sábados livres, também.” 

O garoto sorriu e pegou sua mão. 

“Eu só espero que fique segura. Pelo que meus pais já me contaram sobre os tempos de Grindewald… Não quero que nada aconteça com focê.”

“Hogwarts é o lugar mais seguro do mundo, exceto talvez por Gringotts”, ela apontou, lembrando o que havia lido em Hogwarts: Uma História. O que parecia absurdo, considerando tudo que havia acontecido dentro dos limites do castelo em todos os anos em que havia estudado ali. 

Viktor fez uma careta, não muito convencido. “Não vá passear pela Florresta sozinha no meio da noite.” 

“Vou passar bem longe.” 

Ele ficou sério. “Eu semprre estarei preocupado com focê.” 

Sophia suspirou. Queria prometer a ele que ficaria bem, mas sabia que não podia. Ela não fazia a menor ideia do que ia acontecer dali para frente, e, após o discurso de Dumbledore, saberia que não seria fácil. 

E então, como se uma chave tivesse acabado de girar em seu cérebro, Sophia teve uma ideia. Seu rosto se iluminou, e ela se levantou em um sobressalto. 

“Focê está bem?”

“Eu… tenho que ir!” ela balbuciou. Levantou-se e saiu correndo de volta ao castelo. “Vejo você amanhã!” ela gritou por cima do ombro, deixando Viktor com uma expressão muito confusa. 


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