Sophia escrita por znestria


Capítulo 36
Despedidas




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Enquanto corria escada acima, Sophia se sentia culpada, pois queria poder aproveitar melhor a última noite com Viktor, mas sabia que tinha urgência para conseguir executar sua nova ideia. Quando criava produtos novos para a loja dos gêmeos, geralmente levava dias, até semanas, mas agora teria só algumas horas. 

Chegou arfando à Torre da Corvinal e subiu correndo para os dormitórios. Ela se sentiu imensamente grata ao fato de que Hogwarts confiava nas meninas o suficiente para não colocar algum bloqueio na entrada do dormitório dos meninos, assim como havia no das meninas. Sabia que Rogério provavelmente estaria escondido em algum canto escuro com Miranda, pois era a última noite dos dois juntos também. E confiou que o amigo não ficaria ressentido por ela mexer em seus pertences; afinal, ele praticamente já o havia oferecido.

A maior parte dos alunos na Sala Comunal conversava em grupos - muitos ainda tentavam digerir as notícias de Dumbledore. Sophia sentou-se em um cantinho afastado, perto de uma enorme estante, e começou a trabalhar.

Ela não saberia dizer o momento exato em que caiu no sono. Só se deu conta do fato quando Georgie apareceu, na manhã seguinte, a sacudindo. 

“Soph? O que está fazendo?” A garota estava exasperada. “Tem que arrumar seu malão!” 

“Droga!” ela xingou, acordando imediatamente. Disparou para o dormitório e passou a balançar a varinha pelo cômodo, colocando todos seus pertences dentro de seu malão. Não podia estar mais grata por ter aprendido feitiços domésticos, mas agora ela não teria tempo para enrolar as meias, como fizera nas férias de Páscoa.

Fechou o malão e correu para o banheiro para escovar os dentes e jogar uma água na cara. Assim que se considerou suficientemente apresentável, desceu para a Sala Comunal e juntou-se ao grupo de amigos para o café da manhã. 

O Salão já estava uma zona. Como desceram atrasados, o café já estava quase acabando, e os professores já tentavam organizar os alunos para a fila de carruagens. Por estarem no sexto ano, seriam os últimos a entrar, então ainda tinham um pouco mais de tempo. Sophia pediu a seus amigos que fizessem o favor de trazer seu malão e disparou à procura de Viktor. 

Ela costurava por entre a multidão de alunos, mas não encontrava nenhum com o uniforme de Durmstrang. Viu a carruagem de Beauxbatons já se preparando para partir, e seu coração disparou. O navio ainda estava no Lago, mas ela não sabia se todos já haviam embarcado ou não. 

“Sophia!” uma voz chamou, e ela respirou aliviada.

“Ah, graças aos céus.”

Viktor corria em sua direção, e ela o alcançou e o abraçou.

“Desculpe sair correndo ontem à noite”, ela começou, ainda tentando recuperar o fôlego. “Vocês já estão saindo?” 

“Mais alguns minutos.”

“Ah, droga. Queria ter mais tempo…” 

“Eu também”, ele cortou. 

Sophia olhou nos olhos de Viktor, mas não sabia nem o que falar. Não conseguia nem mesmo conceber a ideia de não poder mais vê-lo depois que ele partisse. 

“Bom, hã… Eu tive que correr ontem à noite porque queria te dar isso.” 

Ela tirou do bolso uma correntinha prateada com um pequeno pingente em gota. 

Viktor franziu a testa. “É o seu colar”, ele disse, e automaticamente notou o colar em volta do pescoço de Sophia. “Quero dizer… É igual?”

Ela sorriu. “Eu o dupliquei. E… também troquei o pingente. Olhe”, ela puxou o colar do próprio pescoço, segurando o pequeno objeto que pendia do fio. “Sabe o que é um bisbilhoscópio?” 

Ele assentiu.

“Eu peguei emprestado o de Rogério - ou melhor, acabei tomando posse, vou ter que comprar um novo para ele depois… Mas, enfim, o pingente é um bisbilhoscópio. Estarei sempre usando o colar, e, caso algum dia eu fique em perigo, o seu colar lhe avisará. Espero que isso nunca aconteça, mas… Basicamente, a ideia é que você possa sempre ter certeza que eu estou segura.” 

Ele contemplava o pequeno objeto. “Então, se o bisbilhoscópio no seu colar apitar, eu saberei?” 

“Isso.” 

“Sophia, isso é incrrível.” 

“Foi bem simples, na verdade. Primeiro, usei o Feitiço do Encolhimento para conseguir encaixar o bisbilhoscópio no colar. Depois utilizei o Feitiço de Duplicação para fazer uma cópia, e daí usei o Feitiço de Proteu para vincular os dois colares. Foi bem parecido com os pergaminhos que eu enfeitiçava para conversar com meus amigos…”  

Viktor colocou o colar em seu pescoço e o encobriu com a gola da camisa. “Então eu semprre terei focê aqui.” 

“Essa é a ideia.” Sophia sorriu. “Ah!” ela exclamou. “Antes que eu me esqueça, também queria te dar isso aqui.”

Ela tirou um embrulho do bolso e o deu para o garoto.

“É o espelho que tenho usado para conversar com os meus pais. Achei que nós poderíamos tirar mais proveito, agora que… Bem, estaremos mais distantes.” 

“Sophia…” ele começou, mas ela o interrompeu.

“Eu amo você, Viktor, e quero estar com você. Não importa como.” 

Ele se aproximou e a beijou. “E eu amo focê”, ele sussurrou, quando se afastaram. 

Ficaram abraçados até o navio de Durmstrang soar um apito alto e perfeitamente claro: estavam de partida. Com muita relutância, os dois se separaram e se despediram pela última vez. 

“Até logo”, ele disse, antes de se virar e correr para o navio. 

Sophia observou o garoto até ele desaparecer do convés. “Até”, ela tentou dizer, mas já não tinha mais voz. 

Quando retornou ao pátio do castelo, percebeu que só havia algumas poucas pessoas do sexto ano esperando. Entrou em uma carruagem vazia e estava a aguardando andar quando duas pessoas subiram apressadas.

“Soph!” os gêmeos a cumprimentaram.

“E aí”, ela riu. “Estavam quase perdendo o trem.” 

“Nunca”, Fred respondeu, com um sorriso divertido.

“Como vocês estão? Parece que faz dias que não nos falamos. Ah, parabéns pelo show de fogos, inclusive, foi lindo!” 

“Era o mínimo que poderíamos fazer”, Jorge respondeu, com um olhar soturno.

Sophia observava o navio, que já estava desaparecendo no horizonte do Lago, enquanto a carruagem de Beauxbatons alçava voo. 

“Que ano, não é mesmo”, comentou, forçando uma risada. “Ei, e o que aconteceu com Bagman? Vocês chegaram a falar com ele antes da Terceira Tarefa?” 

“Ah, falamos”, respondeu Fred energicamente. “Ele não ficou nada feliz com o artigo d’O Pasquim. Recebeu várias cartas, algumas até ameaçadoras, de outras pessoas a quem ele estava devendo.” 

“Recebemos algumas cartas de Fairfax também, esquecemos de lhe mostrar!” 

“Pois é. No final das contas, Bagman estava devendo tanto dinheiro que teve que pedir empréstimos para os duendes. Por isso que eles estavam tão infelizes aquele dia em Hogsmeade, lembra?” 

Sophia assentiu. “Então estávamos meio que certos? Realmente tem alguma coisa a ver com os duendes?” 

“Bom, o que aconteceu é que, como estava cheio das dívidas, o idiota apostou com os duendes que Harry iria ganhar o Torneio Tribruxo.” 

“Mas os duendes jogaram sujo com ele. Disseram que, como foi tecnicamente um empate, ele não tinha realmente ganhado a aposta. Então ele teve que se mandar para salvar a própria pele.” 

“Nossa”, Sophia suspirou. “Quem diria? Acho que ninguém vai chegar a ver qualquer quantia do que Bagman estava devendo, não é?” 

Os dois balançaram a cabeça.

“Não”, respondeu Jorge. “Mas vamos conseguir outras formas de juntar o dinheiro que precisamos.” 

A carruagem finalmente chegou à estação, que já estava vazia, e os três correram para dentro do Expresso de Hogwarts. Os gêmeos se despediram de Sophia para se juntar aos amigos da Grifinória, e ela caminhou pelas cabines à procura de seu grupo. Foi somente no terceiro carro que os encontrou.

Sean e Georgie sentavam, de um lado, abraçados, a cabeça de Georgie apoiada no ombro do namorado. Do outro lado da cabine, Rogério se encontrava com Miranda, os dois de mãos dadas enquanto conversavam animados. Quando viram Sophia, a cumprimentaram alegremente e gesticularam para que a menina sentasse a seu lado. Sophia acabou sentando do lado de Georgie, que pegou o braço da amiga e o apertou. 

“Tudo bem?” Ela perguntou, encarando Sophia, tentando desvendar sua expressão. 

“Tudo.” Sophia deu um pequeno sorriso. Estava, é claro, triste em se despedir de Viktor, mas também sentia-se… esperançosa. Como se, apesar de tudo, aquilo não fosse um desfecho, apenas o início de uma nova etapa. 

“Jules disse tchau”, comentou Sean.

“Ah, droga! Me esqueci completamente.” 

“Não tem problema, Soph, você estava muito ocupada…” 

Sophia girou os olhos, e o resto dos amigos riram. Passaram o resto da viagem jogando Snap Explosivo, comendo todas as guloseimas do carrinho de doces e relembrando as melhores histórias daquele ano. Quando o trem finalmente chegou a King’s Cross, Sophia sentiu um aperto no coração. Aquele era sempre o momento que ela menos gostava - a hora de se despedir de mais um ano em Hogwarts. 

Desceram do trem, carregando os pesados malões por entre a massa de pessoas que ocupava a plataforma. Atravessaram a barreira da plataforma nove e três quartos. Sophia logo avistou seus pais, que acenavam animados, e correu para abraçá-los.

“Como você está, Phi?” eles perguntaram enquanto a seguravam.

Sophia afundou a cabeça no peito dos pais, aproveitando a energia contagiante que eles ainda tinham. Então se afastou, os olhos já marejando. “Eu tenho tanta coisa para contar.” 

Deixou o malão com os pais enquanto juntava o grupo de amigos novamente.

“Nos vemos ano que vem, hein?” disse Sean. 

Sophia apenas sorriu e abraçou cada um deles, lutando para conter as lágrimas. Ela queria muito poder acreditar que tudo continuaria como normal, mas sabia que tudo estava prestes a mudar. Os jornais ainda não haviam noticiado nada, nem mesmo o falecimento de Cedrico. Ela sabia que, a partir de agora, estaria em perigo, e não tinha como garantir que Hogwarts continuaria um lugar seguro para ela.

“Você conseguiu um O em Poções, Soph, já vai se preparando! Os N.I.E.M.s vêm logo aí!” dizia Rogério, enquanto se afastava com sua família. 

Sophia riu e se juntou aos pais.

“Vamos, querida?” perguntou a mãe.

Sophia concordou com a cabeça. Já estavam saindo da plataforma, caminhando em direção à entrada do metrô, quando Sophia ouviu gritarem seu nome.

“SOPHIA! ESPERE!” 

Ela se virou e rapidamente identificou duas cabeças ruivas voando em sua direção. 

“Fred? Jorge? Vocês estão bem?” 

Os gêmeos tentavam recuperar o fôlego o suficiente para conseguir falar. Tinham sorrisos enormes nos rostos, e suas expressões eram eufóricas. Percebeu que Fred carregava uma pequena bolsa de couro que parecia muito pesada.

“O que é isso?” 

“Isso, minha cara”, ele respondeu, ainda arfando, “é a chave para o lançamento da nossa loja.” 

Antes que ela pudesse perguntar, o garoto abriu o fecho da bolsa o suficiente para que Sophia vislumbrasse um mar de moedas douradas resplandescentes. Seu queixo caiu, e ela mal conseguiu formular uma frase completa.

“O que… Como?” 

“Harry”, ele respondeu simplesmente.

Sophia continuava chocada demais para elaborar uma relação além de seu queixo caído. Os dois deram uma risada e começaram a se afastar. “Espere por nossa carta!” um deles gritou, saltitando e dando piruetas no ar enquanto desapareciam no trânsito de passageiros apressados que caminhava por entre as plataformas nove e dez. 

Sophia riu enquanto atravessava a estação com os pais. Por um momento, era como se fosse mais um fim de ano qualquer: centenas de alunos se dissipando na multidão, empurrando seus malões gigantescos e carregando corujas engaioladas sob olhares alarmados de trouxas. Os três desceram até o subsolo, onde ficava o metrô, e aguardaram o próximo trem.

O vagão estava vazio, então Sophia e seus pais puderam sentar – o pai lutando para encaixar o malão em um canto que não atrapalhasse muito os demais passageiros.

“Foi um ano bom, querida?” perguntou-lhe a mãe, afagando seu cabelo. 

Sophia respirou fundo. Pensou nas últimas semanas, nas detenções, no encontro com Crouch na Floresta, em Cedrico e n’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Mas também se lembrou das aulas de Aparatação, das idas a Hogsmeade, de Edimburgo, da loja dos gêmeos, do Torneio, do Baile, e de Viktor. Não conseguiu conter um sorriso.

“Sim”, ela disse finalmente, “Foi um bom ano.” 

Sophia apoiou a cabeça no ombro da mãe, e o trem deslizou silenciosamente para fora de King’s Cross.


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