Sophia escrita por znestria


Capítulo 28
Consequências




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“Viktor!” Sophia gritou, exasperada. Sua visão embaçou com lágrimas, mas ela correu e abaixou-se a seu lado, segurando o rosto do garoto. Ele está bem, ele está bem, ele está bem, ela repetiu em sua cabeça, mas Viktor continuava imóvel. 

“Estuporado”, ela ouviu Dumbledore dizer baixinho, e o aperto em seu peito afrouxou. Viu de relance uma forma prateada sair da varinha do diretor e voar para fora da Floresta, mas não conseguia se importar com qualquer coisa naquele momento.

Enervate”, murmurou Dumbledore. 

Viktor abriu os olhos, atordoado. Sophia soltou a respiração e soluçou, abraçando o garoto e secando suas lágrimas em seu ombro. 

“Ele me atacou!” Krum disse. “O velho doido me atacou! Eu estava olhando parra os lados parra verr onde Sophia tinha ido e ele me atacou pelas costas!” 

“Crouch?” Sophia perguntou, ao mesmo tempo em que Dumbledore mandou-o continuar deitado.

Viktor obedeceu.

Sophia pegou as mãos do garoto e as afagou. “Você está bem?” 

Ele acenou.

“Desculpa, desculpa, desculpa”, ela chorou. “Não imaginei que ele fosse te atacar, parecia tão fraco para fazer qualquer coisa! É culpa minha, eu deveria ter ficado aqui…” 

“Ecstá tudo pem”, ele dizia, apertando suas mãos de volta. 

Os dois se abraçaram, e, quando Sophia levantou a cabeça, percebeu que Hagrid e Moody se encontravam na cena. Antes que pudesse sequer processar a informação, os dois saíram: Hagrid em direção ao Lago, e Moody mais adentro da Floresta. Não se atreveu a falar qualquer coisa, somente segurar Viktor e perguntar repetidamente se ele estava bem. 

Ouviram sons de passos, e logo Hagrid reapareceu, mas desta vez seguido de outra pessoa. Era Karkaroff. O diretor de Durmstrang trajava peles prateadas muito elegantes e não parecia nem um pouco contente.

“Que é isso?” ele exclamou, ao ver Viktor no chão, mas seus olhos pareciam faiscar diretamente para Sophia. “Que é que está acontecendo?” 

“Fui atacado”, informou Viktor. “O Sr. Crrouch, ou que nome tenha…” 

“Crouch o atacou? Crouch atacou você? O juiz do Tribruxo?” 

“Igor”, Dumbledore começou, mas Karkaroff parecia que ia explodir.

“Traição”, ele urrou, o dedo erguido na cara de Dumbledore. “É uma conspiração! Você e o seu ministro da Magia me atraíram até aqui sob falsos pretextos, Dumbledore! Isto não é uma competição honesta! Primeiro, você sorrateiramente inscreve Potter no torneio, embora ele seja menor de idade! Agora, um dos seus amigos do Ministério tenta por o meu campeão fora de ação!” Karkaroff se virou diretamente para Sophia, seu dedo agora em sua direção. “E não pense que não sei que você também está dentro disso."

Sophia mal teve tempo de reagir, pois o bruxo logo continuou:

“Estou farejando falsidade e corrupção nesse torneio todo e você, Dumbledore, com a sua conversa de estreitar os vínculos entre os bruxos estrangeiros, de refazer velhos laços, de esquecer as velhas diferenças, isto é o que penso de você!” 

Karkaroff se aproximou e cuspiu no chão aos pés de Dumbledore. Quase imediatamente, Hagrid agarrou o bruxo pela gola das peles, ergueu-o no ar e empurrou-o contra uma árvore próxima.

“Peça desculpas!” o professor rosnou, enquanto Karkaroff se debatia tentando respirar.

“Hagrid, não!” Dumbledore ordenou, e Hagrid soltou o diretor estrangeiro. Karkaroff escorregou pelo tronco e desmontou em uma massa informe aos seus pés.

Dumbledore se voltou a Sophia e Viktor, que até então estavam acompanhando a cena em silêncio, chocados demais para fazer qualquer coisa. “Hagrid”, ele chamou, “tenha a bondade de acompanhar a srta. Laurie até o castelo”. 

Sophia girou para Viktor, com o olhar preocupado. Não queria deixá-lo novamente.

“Talvez seja melhor eu ficar aqui, diretor”, Hagrid começou.

“Você vai levar Sophia de volta ao castelo, Hagrid”, Dumbledore repetiu. “Diretamente à Torre da Corvinal. E, srta. Laurie, fique lá. Asseguro-lhe que Viktor ficará bem.” 

Sophia olhou, relutante, a Viktor. Não queria ir, mas não podia desobedecer o diretor. Abraçou o garoto fortemente e então levantou-se, seguindo Hagrid de volta ao castelo. 

Enquanto caminhavam pelo gramado, Hagrid começou a resmungar, mas Sophia já não prestava mais atenção, estava muito perdida em seus pensamentos. Ainda não estava conseguindo entender tudo que havia acontecido, não parecia ser real. Crouch havia aparecido do nada na Floresta, agindo que nem um louco, falando sobre Você-sabe-quem e Harry Potter… Dizendo que Berta Jorkins estava morta, e que era sua culpa! Sophia tinha a impressão que ele tinha até mencionado um filho. E depois havia atacado Viktor! O que era completamente sua culpa. Se não tivesse insistido em deixá-lo sozinho… Certamente a melhor ideia teria sido levitar o homem até o castelo, o Ministério iria entender dada a situação… Ou até mesmo deixá-lo sozinho. Se o homem sumisse, não teria sido culpa de nenhum dos dois. Mas não, Sophia decidiu na brilhante ideia de deixar Viktor sozinho, com um bruxo desequilibrado, no meio da Floresta à noite! E tudo isso por nenhum motivo… Se ela não tivesse sugerido que fossem dar uma volta, se não tivesse saído fora do horário para ir ao campo de quadribol… 

“Sophia?” Hagrid chamou, tirando a garota de seu monólogo mental.

“Hã, perdão?” 

“Que é que você estava fazendo andando pela Floresta à noite com esse Krum? Ele é de Durmstrang! Pode ser perigoso!” 

O tom do professor estava agressivo demais para que Sophia tivesse coragem de confrontá-lo. “Desculpe, Hagrid, foi minha culpa. Eu que o chamei para caminhar…” 

“Pensava que tinha um pouco mais de noção! Onde já seu viu, sair pela Floresta à noite… Já vi vocês passeando por aí de dia, mas à noite… Não vou te dar detenção, Sophia, mas poderia! Imagina se outro professor a tivesse pego.” 

Sophia lamuriou-se a lembrar de Snape. Ele com certeza a daria detenção até o final do semestre, mas ela não conseguia se importar o suficiente no momento. 

“E ainda mais com um aluno de Durmstrang!” Hagrid continuou. “Estou dizendo, quanto menos contato vocês tiverem com esses estrangeiros, melhor vão ficar. Diga isso para seu amigo Rogério. Não se pode confiar em nenhum deles.” 

Sophia franziu a testa, confusa. Ficou imaginando o que exatamente teria acontecido entre Hagrid e Madame Maxime. Ela se lembrava de Rogério dizendo que eles haviam brigado no Baile, provavelmente relacionado à questão dos gigantes, mas não imaginava que Hagrid estaria tão ressentido. 

Continuaram o resto do caminho em silêncio, com Hagrid apenas resmungando para si mesmo eventualmente. Quando chegou à Sala Comunal, que estava vazia, Sophia correu para os dormitórios para chamar os amigos e contar tudo que acontecera. 

 

 

 

“Espera, o quê?” chiou Sean assim que Sophia terminou. Ela havia feito os amigos se calarem até que terminasse a história, para que pudesse se lembrar de todos os acontecimentos, e Sean obviamente foi o primeiro a falar. 

Rogério e Georgie imitaram a reação de Sean com expressões de terror e confusão.

“Vamos só recapitular”, Rogério disse, as sobrancelhas muito juntas. “O Sr. Crouch, chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia, juiz do Torneio Tribruxo, simplesmente apareceu na Floresta, atacou Viktor e depois sumiu?” 

Sophia só deu os ombros, também sem conseguir acreditar. 

O quê?” repetiu Rogério, colocando as mãos na cabeça.

“E ele confessou ter matado Berta Jorkins?” Sean perguntou. 

Sophia deu os ombros novamente. “Foi o que eu entendi.”  

“Por quê? Por que ele teria matado ela? Ela nem era do Departamento dele, era do de Bagman!” Sean zuniu. 

“Não sei”, Sophia respondeu sem ânimo. “Ele também disse algo sobre seu filho. Vocês já ouviram falar algo disso?” 

Os dois meninos sacudiram as cabeças, e Rogério disse algo sobre perguntar a seus pais.

“Quero dizer, eu só consigo acreditar que Crouch tenha realmente enlouquecido. Nunca tinha visto ninguém naquele estado…” Sophia estremeceu ao lembrar. “Elena tinha dito que, no passado, Crouch mandava matar Comensais da Morte… Talvez agora tenha pirado de vez? E começado a matar outras pessoas? Será que ele pensava que Berta era Comensal?”

Rogério fez uma careta. “Acho que não. Pelo que meus pais me contaram, ela era bem frívola. Não acho que alguma pessoa pensaria que era Comensal.” 

“Mas Crouch parecia tão normal quando o vimos. Lembra, na Copa, e depois aqui no Torneio?” apontou Sean.

“Exceto que… ele não tem vindo mais.” Sophia ajeitou a postura. “No Baile, ele já não estava mais lá, Percy Weasley estava sentado na mesa em seu lugar! E Weasley também o substituiu na Segunda Tarefa - é, lembro que ele foi correndo para o irmão quando ele apareceu com Potter e a irmã de Fleur!” 

“Então ele pirou de uns meses pra cá?” perguntou Rogério.

“Imagino que sim.” 

Os amigos ficaram um pouco em silêncio, absorvendo as informações, até que Sean retomou a fala:

“Mas se ele estava pirado, onde ele esteve? Se mandou Weasley em seu lugar, então sabiam onde ele estava, senão teriam achado que ele sumiu, não é? Então como é que chegou a Hogwarts?”

O grupo ficou novamente em silêncio.

“Talvez nem soubessem onde ele estava?” sugeriu Sophia. “Quero dizer, quando Berta Jorkins sumiu, ninguém ficou sabendo, não apareceu nem no Profeta. E isso já faz meses. Talvez os bruxos simplesmente não sejam muito eficientes com desaparecimentos.” 

Virou-se para Georgie e percebeu que a amiga estivera quieta o tempo todo. “Georgie?” chamou. “Você está bem?” 

A garota piscou, como se estivesse saindo de devaneios, e encarou os três. “Desculpa, eu… Estava pensando.” Demorou um pouco para continuar. “Ele disse que fugiu, não é? Suas roupas estavam rasgadas, e ele estava machucado. Talvez outra pessoa estivesse forçando-o a fazer essas coisas. Matar Berta, por exemplo. Não conhecia ou até simpatizava com Crouch, mas não faz sentido ele matar uma bruxa comum agora.” 

Os amigos esperaram, pois Georgie estava falando muito devagar.

“E se… e se?” Ela balbuciou, então levantou o olhar e encarou Sophia. Seus olhos pareciam vazios.

“O quê?” encorajou Sean, com o tom mais suave possível.

“E se Você-sabe-quem voltou?” Georgie soltou, quase inaudível. 

Sophia congelou. Os quatro endureceram em seus lugares, cada um sem querer sequer pensar na possibilidade daquilo ser verdade. Mas Sophia sabia que fazia sentido. Crouch tinha o mencionado, além de Harry Potter. Não poderia ser apenas um delírio.

“Olhem os fatos”, Georgie continuou, com a voz tremendo. “Primeiro, aquela aparição dos Comensais da Morte na Copa Mundial de Quadribol! No mínimo, significa que os Comensais ainda existem, ainda acreditam na ideologia e ainda mantêm contato suficiente para se organizar. Sem falar que conjuraram a Marca Negra! 

“Depois, o desaparecimento de Berta Jorkins. Não sei se ela era nascida-trouxa ou se tinha alguma coisa a ver, mas lembro-me de ter lido que, quando Você-sabe-quem chegou ao poder pela primeira vez, houve muitos desaparecimentos! E o Ministério agora estava completamente abafando o caso de Berta! O que pode significar que existem infiltrados lá, e em posições de poder. E Crouch poderia muito bem ter sido um infiltrado.

“Talvez ele estivesse trabalhando para Você-sabe-quem e surtou. Foi forçado a matar Berta, a fazer alguma coisa com seu filho e aí pirou de vez. Quis parar de trabalhar para Você-sabe-quem e fugiu. Veio para Hogwarts, para ficar com Dumbledore, onde estaria seguro.” 

Quando Georgie terminou de falar, ninguém seguiu. Nenhum do grupo se atrevia a olhar um pro outro, estavam todos tentando ingerir a teoria da garota. 

Sophia não queria acreditar. Não podia. Nunca nem se atrevera a pensar que Você-sabe-quem poderia voltar de verdade, todas as histórias pareciam tão distantes. Nunca acreditou que pudessem acontecer de novo. O cérebro de Sophia trabalhava a mil, tentando desesperadamente encontrar um furo na teoria de Georgie, contestá-la de alguma maneira. Mas ela sabia que os argumentos da amiga faziam todo o sentido. 

“Então…” começou Rogério, quebrando o silêncio e deixando Sophia grata. “Por que Crouch atacou Viktor? Quero dizer, ele estava tentando ajudá-lo, trazer Dumbledore.” 

Georgie sacudiu os ombros. Era óbvio que a menina não queria acreditar em suas próprias palavras, não queria encontrar sentido nessa ideia. “Talvez ele pensou que Viktor poderia estar trabalhando para Você-sabe-quem. Talvez ele tenha sido forçado a fazer isso.”

Os quatro ficaram em silêncio. Sophia não conseguia nem entender o que aquilo poderia significar se fosse verdade - parecia um problema de outra pessoa, algo que nunca aconteceria a ela. Mas percebeu que mais e mais peças começavam a se encaixar.

“É um padrão, não é mesmo?” Sophia expirou; seu coração começara a bater tão rápido que ela estava quase sem ar. “O episódio dos Comensais na Copa não foi a primeira vez. Dois anos atrás, a Câmara Secreta foi aberta e os nascidos-trouxas foram atacados. Ano passado, Sirius Black escapou de Azkaban e veio para Hogwarts. E agora temos isso? Não sei por que o Profeta mal fala mais de Black, mas ele poderia muito bem estar por trás de tudo isso. Quero dizer, ele foi preso porque seguia Você-sabe-quem e, inclusive, matou doze trouxas após seu mestre cair.” 

Os amigos assentiram, com expressões desoladas.

“Mas então Você-sabe-quem não precisa necessariamente ter voltado, não é?” indagou Sean nervosamente. “Quero dizer… Black e os demais Comensais podem estar fazendo tudo isso por conta própria!” 

Os três concordaram com a cabeça rapidamente. Era a melhor teoria até então, a mais confortável de se acreditar. 

“Sim… Imagino que os Comensais devem estar fazendo tudo isso sozinhos…” respondeu Rogério. “Quero dizer, se Você-sabe-quem tivesse realmente voltado, acho que estaria mais claro… Não imagino que ele iria querer ficar no anonimato; pelos relatos, ele parecia bem ambicioso.” 

“Ele era sonserino, inclusive”, complementou Sean.

Rogério acenou. “E Berta é um caso isolado. Se não me engano, ela não era nem nascida-trouxa. Muito menos alguém influente, em um cargo alto.” 

Sophia inspirou fundo, um pouco mais aliviada. A fala de Rogério fizera sentido, e ela começou a pensar que talvez Georgie estivesse exagerando. Crouch estava simplesmente delirando, aquilo era óbvio. Provavelmente estavam dando uma importância grande demais às palavras de um homem louco.

Um homem louco que atacou Viktor, lembrou, e a garota se encheu de culpa novamente. Não fazia ideia de como Viktor estava, se ele havia se machucado de algum jeito ou simplesmente estivesse transtornado mental e emocionalmente. E teria que esperar até a manhã seguinte para saber.

Sean e Georgie saíram para conversar a sós, e Sophia ficou com Rogério. O garoto abraçou a amiga, os dois em silêncio, sem se atreverem a continuar o assunto.

“Eu disse a Viktor que o amava”, Sophia disse, de repente, com uma risada nervosa. 

Rogério abriu um sorriso sincero. “Que demais, Soph.” 

Ela tentou retribuir o sorriso, mas seus lábios começaram a tremer, e novamente sua visão embaçou com lágrimas. Rogério apertou o abraço. “Vai ficar tudo bem”, ele disse. 

Quando finalmente subiram aos dormitórios, Sophia já foi direto ao seu malão, procurando pela Poção do Sono que ela deixava guardada para emergências. Ela sabia que, assim que fechasse os olhos, iria relembrar tudo que acontecera e pensar em tudo que poderia acontecer e nunca conseguiria dormir. 

Separou uma porção para Georgie, pois sabia que a amiga também precisaria, e tomou a sua própria. E ali, sem saber que tudo em sua vida iria mudar a partir daquele dia, Sophia adormeceu serenamente, em um sono tranquilo sem sonhos ou pesadelos que duraria até a manhã seguinte.


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