Sophia escrita por znestria


Capítulo 23
Páscoa




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O trem de volta a Londres partiu no dia seguinte. 

A maioria dos alunos passava as férias de Páscoa na escola; naquele ano, entretanto, como boa parte já havia deixado de voltar para casa no Natal por causa do Baile de Inverno, o trem se encontrava mais cheio que o normal. Sophia e os amigos por pouco não conseguiram uma cabine só para eles. Acabaram, mais tarde, tendo que dividi-la com uns colegas da Corvinal que chegaram atrasados, o que não se importaram em fazer. 

Enquanto observava as paisagens do campo escocês correndo pela janela, Sophia não pode deixar de mergulhar em seus próprios pensamentos. Parecia tão surreal estar voltando - ainda que tão brevemente - para casa, para sua vida trouxa, depois de tudo que havia acontecido naquele ano. Havia presenciado um Torneio Tribruxo e conhecido um jogador internacional de quadribol, sim, mas, mais significativamente, tinha finalmente feito dezessete anos: poderia realizar magia quando bem desejasse! Não só isso, também tinha aprendido a aparatar: estava livre para ir aonde quer que quisesse.

“Pensando em Krum?” disse Sean, despertando-a de seus devaneios.

“Você bem gostaria”, ela retrucou. “Sabe, Sean, apesar de tudo, acho que você é o maior fã do nosso relacionamento.” 

Ele riu. “É claro que sim! Imagine quantos ingressos ele não conseguiria para a gente!” 

Sophia girou os olhos e entrou na conversa dos amigos. Divertiram-se pelo resto da viagem jogando partidas e partidas de Snap Explosivo, Rogério e Sean chegando até a apostar (doces, majoritariamente, mas uma ou outra moeda também). 

A viagem chegou ao fim algumas horas mais tarde. O trem parou na estação 9 e 3/4, como sempre, e Sophia e os amigos desceram ansiosamente. Pegaram seus pertences e correram para sair pela barreira da plataforma, todos muito animados em reencontrar seus parentes. 

Sophia avistou seus pais imediatamente. Os dois, ao identificá-la, saíram correndo e a envolveram em um abraço sufocante.

“Ah, Soph, que saudade!” chorou a mãe.

“Também”, ela respondeu, a voz abafada.

“Você cresceu!” o pai exclamou, assim que se afastaram.

“Não, pai”, ela riu. O pai sempre falava isso quando se reencontravam nas férias, mas Sophia já deixara de acreditar fazia alguns anos.

“Minha filha, uma bruxa adulta”, ele choramingou exageradamente.

Sophia riu. Mal cabia em si de excitação. 

Cumprimentaram os pais dos amigos - no caso de Sean, os avós - e despediram-se logo, todos querendo voltar para suas respectivas casas e aproveitar o tempo juntos. Sophia e os pais pegaram um táxi e chegaram rapidamente à casa em Greenwich; uma vez com os pertences arrumados, os três se juntaram para tomar chá, trocando notícias dos eventos dos últimos meses.

“Ah, eu passei no exame de Aparatação!” Sophia exclamou subitamente, fazendo o pai levar um susto e derramar sua bebida em si mesmo.

A mãe correu para dar-lhe um abraço. “Soph, parabéns! Sabia que conseguiria!” 

“Que orgulho, querida”, o pai apertou sua mão.

“Querem ver?” ela perguntou, vibrante.

Os dois concordaram entusiasmadamente, então Sophia se afastou e respirou fundo. Girou o corpo e - Craque!— apareceu na sala, a alguns metros de distância, fazendo os pais gritarem primeiro de espanto e depois de felicidade. 

Passou as próximas horas mostrando todos os feitiços que lembrava (e que não eram perigosos) para os pais. Era libertador poder usar magia para tudo a qualquer hora, e mostrar para a família o que aprendera durante os seis anos na escola - aquilo não tinha preço. 

 

 

 

 

Os dias seguintes voaram mais rápido que Sophia poderia ter imaginado. Até tentou adiantar as tarefas enquanto os pais estavam no trabalho, mas havia tantas coisas interessantes acontecendo no mundo trouxa! Combinou de sair com uma amiga de infância, Eliza, que não via desde Agosto, para irem ao cinema e alugarem filmes novos para assistir, mas é claro que não foi o suficiente para ficar a par de tudo.

“Não acredito que lá na sua escola não pega sinal de TV! Ah, Soph, cada episódio ótimo de Friends que saiu!” Eliza dizia, enquanto saíam da terceira sessão de cinema do dia (Forrest Gump). “Ah! E vão lançar uma mini série de Orgulho e Preconceito com o Colin Firth, acredita? Mais para o final do ano, acho que já vai ter voltado para a escola.” 

“Como eu queria”, lamentou-se Sophia. “Ah, adoro a escola, mas lá é tudo tão antiquado! Sinto falta do cinema, da música…” 

Eliza franziu a testa. “Ainda não entendi por que gosta tanto dessa escola. Quero dizer, sei que gosta dos seus amigos de lá, mas é uma escola! As matérias são as mesmas!” 

Sophia desviou o olhar e murmurou algo em concordância.

“E você não se cansa de viver sempre com as mesmas pessoas?” a amiga continuou. “Não sei se aguentaria, minha irmã já me deixa louca, e olha que nós nem dividimos quarto.”

“Bom”, Sophia clareou a garganta. “Este ano vieram uns estudantes de fora, meio que um intercâmbio, sabe… Uma escola é francesa e outra da Bulgária.” 

“É sério?” riu Eliza, pegando seu braço. “Como são? Dizem que os franceses são um charme, não são?” 

“Ah, são”, respondeu, com a voz um pouco fraca, “mas não fiquei tão próxima deles. Tem esse cara, Viktor, que é búlgaro e…” 

Viktor?” A amiga a cortou imediatamente, fazendo uma cara engraçada. “Desembuche, Soph, quero saber tudo!” 

“Não é nada!” Sophia tentou escapar, mas Eliza estava lhe dando um olhar muito perfurador. “Ok. Olhe, teve essa festa no Natal, e cada um tinha que levar um par para dançar, e ele me chamou. Estamos meio que juntos desde então.” 

“Detalhes! Vamos lá, quero saber mais! Você não me conta nada desde aquele tal de Olívio, dois anos atrás! Você tem alguma foto desse Viktor?” 

Sophia pensou. Não tinha nenhuma foto sua de Viktor, mas havia uma figurinha dele que Sean lhe dera como brincadeira, e Viktor aparecia no livro que ganhara de Natal, Por Dentro do Quadribol Búlgaro, mas não podia mostrar nenhum dos dois para a amiga trouxa. “Ah, não tenho”, disse por fim, suspirando. “Quem sabe algum dia conhece ele pessoalmente?” 

Eliza arregalou os olhos. “Ele conheceu seus pais?” 

“Não! Não, mas… Me chamou para visitá-lo na Bulgária nas férias.” Antes que Eliza pudesse reagir exageradamente, Sophia acrescentou: “Não que estejamos fazendo planos para o futuro, ok?” 

“Ah, um relacionamento à distância!” A amiga a ignorou. “Que romântico! Podiam trocar cartas, que nem fazem nos filmes! E-mails são tão sem graça…” 

Sophia riu nervosamente. “Ah, sim. Cartas devem ser mais divertidas.” 

 

 

 

 

Antes que pudesse perceber, já era seu último dia na casa dos pais. Desta vez, no entanto, tinha o relógio que Georgie lhe dera, que já avisara sobre o horário do trem do dia seguinte, e ela também já terminara de fazer as malas, pois com um simples feitiço todas as suas roupas entraram no malão em uma questão de segundos. Conseguira até fazer com que as meias se enrolassem sozinhas, melhor do que ela faria com as mãos. E olha que os amigos pegaram no seu pé por querer aprender feitiços domésticos. 

“Ah, nem acredito que já vai, Soph”, a mãe apareceu na sola da porta. “Ficamos tão pouco tempo juntos…” 

Sophia abriu um pequeno sorriso. “Passou rápido.” 

“Mas tudo bem, porque as férias de verão vão chegar logo, e aí a teremos por dois meses inteiros!” 

O coração de Sophia começou a bater muito rápido, e a mãe já ia se afastando. “Mãe!” chamou, e ela virou-se. Não conseguiu, entretanto, falar nada. Não iria já falar com os pais sobre ir para a Bulgária, ainda faltavam meses, muita coisa podia acontecer até lá. “Nada”, disse, enfim.

A janta naquele dia foi animada; os pais beberam quase duas garrafas de vinho sozinhos (não deixavam Sophia beber, pois, no mundo trouxa, ainda era menor de idade). Foram se deitar relativamente cedo, para não perderem o horário, e no dia seguinte tudo correu bem - saíram de casa com antecedência e chegaram à estação com folga o suficiente para ficarem conversando com as famílias dos amigos de Sophia. 

Era engraçado de observar a nova dinâmica entre as famílias de Sean e Georgie agora que os dois estavam namorando. Os avós de Sean adoravam Georgie, então é claro que a acolheram de muitíssimo bom grado; os pais da menina, entretanto, ainda estavam um pouco apreensivos, embora contentes com a felicidade da filha.

“Acredita que minha mãe disse que gostaria que fosse o Rogério”, cochichou Georgie para Sophia enquanto entravam no trem. “Aparentemente, ela ainda está meio ressentida com a vez que Sean esqueceu uma daquelas xícaras que mordem o nariz em casa.” 

Sophia riu. “Mas isso foi faz uns quatro anos!” 

“É, mas ela não esquece. E Rogério é mais certinho, monitor, essas coisas.” 

“Obviamente, ela não o conhece tão bem”, Sophia bufou, e a amiga riu.

Acomodaram-se em uma cabine e os dois meninos logo se juntaram a elas. 

“Sua mãe não parecia muito feliz em me ver”, Sean disse ao sentar-se.

“Imagina!” protestou Georgie, um pouco exageradamente. “Essa é a cara dela, só isso.” 

Ele não parecia inteiramente convencido, então Sophia interveio: “É verdade, Sean. A Sra. Kingsley sempre parece que está meio brava, mas não é necessariamente o caso. Lembra quando achávamos que Viktor era carrancudo e rabugento?” 

“Ah, Viktor!” exclamou Sean, retomando seu jeito satírico de sempre. “Como foi passar uma semana sem ele, Soph?” 

Sophia o ignorou. Não demorou para o trem partir; despediram-se de suas famílias pela última vez e ingressaram na jornada de volta a Hogwarts. Jogaram partidas de Snap Explosivo, xadrez bruxo e comeram muitos doces do carrinho, e o clima estava quase tão agradável quanto ao de início de ano letivo - a única diferença, é claro, é que já sabiam o que os esperava na escola: montes e montes de deveres acumulados.

Chegaram à estação de Hogsmeade no final de dia e pegaram as carruagens encantadas para o castelo. No caminho, Sophia avistou o navio de Durmstrang no Lago Negro, e seu coração já acelerou o passo, ansiosa para reencontrar-se com Viktor. Sean havia brincado sobre essa separação de uma semana, mas era realmente estranho, pois, desde que se conheceram, nunca haviam passado tanto tempo sem se ver. 

Encontrou o garoto pouco tempo depois, quando estavam a caminho do Salão Principal para a janta. Rogério, Sean e Georgie continuaram e deixaram os dois a sós para se cumprimentarem com privacidade; Sophia então pulou nos braços de Viktor, que a envolveu em um abraço.

“Quanto tempo!” Sophia riu.

“Parrece”, ele respondeu, e aproximou seu rosto e a beijou. Quando se separaram, ele perguntou: “Como forram as férrias?” 

“Ah, ótimas! Foi muito bom ficar com meus pais um pouco. E consegui sair com uma amiga minha da infância, Eliza, e vimos muitos filmes no cinema.” 

“Que pom”, ele disse, segurando suas mãos. “Focê falou com seus pais sobre ir à Bulgárria nas férrias?” 

Sophia congelou. Demorou alguns segundos antes de responder, com a voz alguns oitavos mais aguda que o normal, “Não.” 

  As sobrancelhas de Viktor se juntaram. “Por que non?” 

“Eu… esqueci.” 

A expressão dele se suavizou. “Eu entendo. Focê estava ocupada com sua família.” 

Sophia sentiu um nó formando em sua garganta enquanto o acompanhava para o jantar. Por que havia mentido? Ainda estava muito confusa - não só por não ter falado a verdade a ele, mas também porque não sabia ao certo o motivo de não ter falado com os pais. Não era como se eles não soubessem de Viktor, afinal. 

Sentou-se à mesa da Corvinal e sussurrou para Georgie que precisava falar com ela mais tarde. A amiga fez uma cara apreensiva e perguntou se estava tudo bem, desviando rapidamente o olhar para Viktor. Sophia fez que sim. 

À noite, no dormitório, as duas puderam finalmente conversar. 

“O que é?” perguntou Georgie, com uma expressão preocupada, sentando na cama.

Sophia respirou fundo. “Não sei bem. Não é nada sério, não se preocupe. Mas é que… Bom, lembra que Viktor me chamou para ir à Bulgária nas férias?” A amiga concordou com a cabeça imediatamente. “Então, ele me perguntou hoje se eu tinha falado com meus pais sobre isso e eu disse que não. E realmente não falei com eles sobre isso, mas não porque me esqueci, o que foi o que contei a Viktor, mas porque… Bom, não sei o porquê.” 

Georgie mordeu o lábio, pensativa. “Soph… Você quer ir à Bulgária?” 

“Sim!” exclamou. “Sim, eu quero! Eu fiquei tão animada quando ele me convidou.” 

“Então não vejo nada para se preocupar! Ele quer que você vá à Bulgária, você quer ir, você só não falou com os seus pais porque deve estar procastinando. Quero dizer, é meio estranho falar com os seus pais sobre seu primeiro namorado.” Sophia abriu a boca e Georgie girou os olhos e se corrigiu: “Ok, ele não é exatamente o seu primeiro namorado, mas é o primeiro sério. A questão é que você não precisa ficar se remoendo por isso.” 

Sophia fez um bico. “É. É, acho que você tem razão.” 

Georgie sorriu, satisfeita, e foi para sua cama, apagando as luzes no caminho, deixando Sophia imersa na escuridão do dormitório com seus pensamentos. 


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