Sophia escrita por znestria


Capítulo 2
Boas-Vindas




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Mal tinham adentrado o castelo quando foram surpreendidos por bombas de água. 

“Mas o que…” começou Georgie.

Olharam para cima e viram Pirraça, o poltergeist do castelo, rindo descontroladamente. Ele vivia para infernizar a vida dos alunos, foi lembrada Sophia a cada bomba de água que caía.

“Vamos, gente”, Rogério puxou os amigos para fora da mira de Pirraça. Os quatro se encaminharam em direção ao Salão Principal. Antes de passarem pelas portas, porém, Sophia soltou um “Ah!” e em seguida acenou a varinha para ela e os amigos, e eles ficaram secos em um instante. “Brilhante”, agradeceu Georgie, cujos cabelos voltaram a cair em cachos bonitos, e entraram. 

Sophia sempre se encantava com o Salão decorado para as festas. Lembrava-se muito bem da primeira vez que ali entrara e de como ficara maravilhada com as velas flutuantes e o teto encantado para parecer o céu. Tinha lido sobre o castelo previamente, mas vê-lo ao vivo fora uma experiência única.

Sophia e os amigos sentaram-se na mesa da Corvinal ao lado de Marcus Belby, do quinto ano, que encontrava-se ensopado e tremendo.

“Ah, alô!” disse ele animado, embora com a voz um pouco fraca. “C-c-como foram de f-férias?” Ele perguntou, com os dentes batendo. Rogério cumprimentou-o com um tapinha nas costas.

Sophia ouviu Georgie comentar baixinho: “Isso está me trazendo de volta o Quirrell”.

“Quem sabe não devíamos arranjá-lo uma toalha para amarrar em volta da cabeça?” sugeriu Sean, fazendo Georgie dar uma risadinha.

“Pirraça?” perguntou Rogério, com um sorrisinho empático.

Marcus concordou com a cabeça. 

“Ele não conseguiu se segurar nem um minuto, não é?” suspirou Sophia, e então fez um aceno com a varinha e Marcus ficou seco. 

Enquanto os alunos continuavam chegando ao Salão - Sophia cumprimentou Elena West, que lhe deu um aceno tímido de volta, e uns quintanistas também da Corvinal -, a expectativa aumentava. Georgie apontou que não havia nenhum professor novo para ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas (“Que não seja Snape, por favor” suplicou Rogério). Sean, ansioso, repetia “Vamos, andem logo, que demora para começar…”, e Sophia sabia que, dessa vez, não era o banquete que ele esperava, mas sim os avisos que o seguiam. 

Então a professora McGonagall apareceu, seguida dos alunos do primeiro ano - encharcados, coitados. “Já era hora”, disse Sean, sarcasticamente, “estava começando a pensar que tivessem sido pegos pela lula gigante - honestamente, não seria tão ruim, pelo menos poderíamos pular para o banque-” Mas foi calado por uma cotovelada de Georgie. 

À medida que a Seleção acontecia, o estômago de Sophia começava a roncar cada vez mais forte - os sanduíches da mãe e os doces do trem já pareciam muito distantes -, e seu humor caía em consonância. A música deste ano não foi muito boa, ela pensava amargamente, o Chapéu Seletor já fez melhor. Mas quando os alunos começaram a ser selecionados para a Corvinal, ela se animou um pouco e bateu palma entusiasticamente com os colegas.

Finalmente, a Seleção chegou ao fim. O professor Dumbledore se levantou e sorriu para os estudantes, os braços abertos num gesto de boas-vindas.

“Só tenho duas palavras para lhes dizer”, sua voz ecoou por todo o salão. “Bom apetite!” 

Houve vivas em concordância quando as travessas das mesas se encheram, e todos se apressaram para abastar eus pratos. Sean engolia garfadas de comida em velocidade assustadora. “Ah, francamente, Sean”, reclamou Georgie. “Não adianta se apressar, os avisos só vão começar assim que todo mundo acabar de comer”. 

Sean diminuiu levemente a velocidade em que comia. Georgie virou os olhos e então os quatro começaram a conversar entusiasmadamente. 

Passado um tempo, todos estavam com as barrigas cheias também de sobremesa, e o barulho das conversas começava a diminuir, já que os alunos, saciados, ficavam mais sonolentos. Não tardou até que Dumbledore se levantasse para dar os avisos.

“Então! Agora que já comemos e molhamos também a garganta, preciso mais uma vez pedir sua atenção, para alguns avisos.

“O Sr. Filch, o zelador, me pediu para avisá-los de que a lista de objetos proibidos no interior do castelo este ano cresceu, passando a incluir Ioiôs-Berrantes, Frisbees-Dentados e Bumerangues-de-repetição. A lista inteira tem uns quatrocentos e trinta e sete itens, creio eu, e pode ser examinada na sala do Sr. Filch, se alguém quiser lê-la.” 

Sean agora pisava um pé no chão freneticamente, ansioso.

“Como sempre, eu gostaria de lembrar a todos que a floresta que faz parte da nossa propriedade é proibida a todos os alunos, e o povoado de Hogsmeade, àqueles que ainda não chegaram à terceira série.

“Tenho ainda o doloroso dever de informar que este ano não realizaremos a Copa de Quadribol entre as casas.” 

Rogério, que estivera até então ouvindo o diretor calma e pacientemente, soltou um “O quê?” um pouco alto demais, e Georgie virou para ele, em choque e indignada.

Dumbledore continuou:

“Isto se deve a um evento que começará em outubro e irá prosseguir durante todo o ano letivo, mobilizando muita energia e muito tempo dos professores, mas eu tenho certeza de que vocês irão apreciá-lo imensamente. Tenho o grande prazer de anunciar que este ano em Hogwarts…” 

Sean estava completamente inclinado sobre a mesa, antecipando a fala de Dumbledore, quando ouviu-se uma trovoada ensurdecedora e as portas do Salão Principal se escancararam. Todos levaram um susto e viraram-se para ver quem estava interrompendo o discurso.

Havia um homem parado à porta, apoiado em um longo cajado e coberto por uma capa de viagem preta. Quando ele baixou o capuz, sacudiu uma longa juba de cabelos grisalhos ainda escuros e revelou as feições mais perturbadoras que Sophia já vira. Cada centímetro de sua pele parecia ter cicatrizes. A boca lembrava um rasgo diagonal e faltava um bom pedaço do nariz. Mas o mais assustador de tudo eram os seus olhos.

Um deles era miúdo, escuro e penetrante. O outro era grande, redondo e azul-elétrico vivo. O olho azul se movia continuamente, sem piscar, e revirava para todos os lados - até para dentro da cabeça do homem - independentemente do olho normal.

Parecia que todos os alunos seguravam a respiração enquanto o estranho andava - ou melhor, mancava - em direção a Dumbledore, seus passos ecoando com um ruído metálico e abafado. Sophia supôs que talvez tivesse uma perna de pau, embora não conseguisse ver seus pés, e percebeu que o homem era quase uma caricatura bruxa de um pirata. Tal pensamento provavelmente lhe faria rir, se não fosse pela aparência assustadora do homem. 

Dumbledore e o homem, ao se encontrarem, apertaram as mãos e conversaram baixinho por um tempo. Dumbledore, então, assentiu com a cabeça e indicou ao homem o lugar vazio à sua direita na mesa.

Enquanto o homem começava a comer (de um jeito estranho, Sophia notou, porque cheirava a comida antes de colocá-la na boca), Dumbledore retomou sua fala.

“Gostaria de apresentar o nosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Professor Moody.” 

Dumbledore e Hagrid começaram a aplaudir, mas não foram seguidos nem pelos alunos, nem pelos demais professores, e rapidamente pararam. Muitos alunos pareciam ainda hipnotizados pela aparência de Moody, enquanto outros começavam a cochichar entre si.

“Moody? Alastor Moody?” repetia Sean, incrédulo. 

Sophia e Georgie se entreolharam, perdidas. 

“Você sabe quem ele é?” Sophia perguntou.

“E por que ele é… Bom, assim?” Georgie acrescentou, incomodada.

Sean assentiu, sério. “Ele é um auror. Ou era, não tenho certeza. Só sei que lutou contra Você-Sabe-Quem, junto com a minha mãe.” 

Sophia, Georgie e Rogério trocaram olhares e não falaram nada. Sean não falava muito de seus pais, ambos falecidos, mas os amigos sabiam que eles tinham sido mortos na 1a guerra bruxa, lutando contra Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, e que era por isso que Sean morava com os avós paternos, que eram os únicos que tinham conseguido escapar dos Comensais. 

Dumbledore então pigarreou.

“Como eu ia dizendo, teremos a honra de sediar um evento muito excitante nos próximos meses, um evento que não é realizado há um século. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos um Torneio Tribruxo em Hogwarts.” 

Rogério e Sean comemoraram, ao mesmo tempo que Sophia ouviu um dos gêmeos Weasley gritar “O senhor está BRINCANDO!” da mesa da Grifinória. Sean aproximou-se de Sophia e disse “Viu, você estava certa”, com um sorriso no rosto. 

Dumbledore continuou:

“Não estou brincando, Sr. Weasley. Embora, agora que o senhor menciona, ouvi uma excelente piada durante o verão sobre um trasgo, uma bruxa má e um leprechaun que entram num bar…” 

A professora McGonagall pigarreou alto.

“Hum… Mas talvez não seja a hora… Não… Onde é mesmo que eu estava? Ah, sim, no Torneio Tribruxo… Bom, alguns de vocês talvez não saibam o que é esse torneio, de modo que espero que aqueles que já sabem me perdoem por dar uma breve explicação, e deixem sua atenção vagar livremente.

“O Torneio Tribruxo foi criado há uns setecentos anos, como uma competição amistosa entre as três maiores escolas europeias de bruxaria - Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. Um campeão foi eleito para representar cada escola e os três campeões competiram em três tarefas mágicas. As escolas se revezaram para sediar o torneio a cada cinco anos, e todos concordaram que era uma excelente maneira de estabelecer laços entre os jovens bruxos e bruxas de diferentes nacionalidades - até que a taxa de mortalidade se tornou tão alta que o torneio foi interrompido”. 

Sophia e Georgie trocaram um olhar.

“Durante séculos, houve várias tentativas de reiniciar o torneio, nenhuma das quais foi bem-sucedida. No entanto, os nossos Departamentos de Cooperação Internacional em Magia e de Jogos e Esportes Mágicos decidiram que já era hora de fazer uma nova tentativa. Trabalhamos muito durante o verão para garantir que, desta vez, nenhum campeão seja exposto a um perigo mortal.

“Os diretores de Beauxbatons e Durmstrang chegarão com a lista final dos competidores de suas escolas em outubro e a seleção dos três campeões será realizada no Dia das Bruxas. Um julgamento imparcial decidirá que alunos terão mérito para disputar a Taça Tribruxo, a glória de sua escola e o prêmio individual de mil galeões.” 

Sean assobiou alto, e Rogério se virou para os dois rirem, alegres. Até Georgie parecia impressionada: “Mil galeões… Realmente.” 

Alguma parte de Sophia começou a pensar… E se ela se inscrevesse? Não iria tão mal; como falara Rogério, já estavam no penúltimo ano da escola, já tinham aprendido a maior parte… E Sophia ainda sabia muitos feitiços que os colegas desconheciam, porque se interessava por coisas que muitas vezes não eram passadas em sala… O próprio examinador do N.O.M. de Feitiços havia ficado impressionado…

Dumbledore recomeçou a falar, interrompendo seu pensamento:

“Ansiosos como eu sei que estarão para ganhar a Taça para Hogwarts, os diretores das escolas participantes, bem como o Ministro da Magia, concordaram em impor este ano uma restrição à idade dos contendores. Somente os alunos que forem maiores, isto é, tiverem mais de dezessete anos, terão permissão de apresentar seus nomes à seleção.”

A energia de Sophia murchou. Bom, isso decide por mim, ela concluiu amargamente.

Muitos protestos começaram a surgir dos alunos (Sean e Rogério continuavam sorrindo satisfeitos, pois ambos já haviam feito dezessete), e Dumbledore teve que elevar sua voz para continuar sendo ouvido:

“Isto é uma medida que julgamos necessária, pois as tarefas do torneio continuarão a ser difíceis e perigosas, por mais precauções que tomemos, e é muito pouco provável que os alunos abaixo da sexta e sétima séries sejam capazes de dar conta delas. Cuidarei pessoalmente para que nenhum aluno menor de idade engane o nosso juiz imparcial e seja escolhido campeão de Hogwarts. Portanto peço que não percam tempo apresentando suas candidaturas se ainda não tiverem completado dezessete anos.

“As delegações de Beauxbatons e de Durmstrang chegarão em outubro e permanecerão conosco a maior parte deste ano letivo. Sei que estenderão as suas boas maneiras aos nossos visitantes estrangeiros enquanto estiverem conosco, e que darão o seu generoso apoio ao campeão de Hogwarts quando ele for escolhido. E agora já está ficando tarde e sei como é importante estarem acordados e descansados para começar as aulas amanhã de manhã. Hora de dormir! Vamos andando!” 

Todos foram se levantando e lentamente saindo do Salão Principal. 

“Dá pra acreditar?” Rogério ainda falava, excitado. “Um Torneio Tribruxo! Ah, eu nunca achei que isso fosse acontecer! Ei, espera! Alunos do primeiro ano! Aqui!” E saiu desesperado atrás de um grupo de calouros perdidos.

“Bem interessante”, comentou Georgie, que continuou andando junto a Sophia, já que Rogério conduzia os alunos ao dormintório. “Achei bem válido colocarem uma restrição de idade - imagina uma criança de onze anos competindo! Até mesmo alguém do quarto ou quinto ano. A gente aprende muita coisa em um ano, não dá pra deixar alguém despreparado competir.” 

Sophia concordou com a cabeça, mas não falou nada. Ainda estava um pouco desapontada de não ter a menor chance de competir.

“Ah, mas a parte das outras escolas… Estou muito ansiosa! Vi pela primeira vez bruxos de outros países na Copa, e eram todos muito interessantes… É uma boa chance de conhecermos pessoas diferentes, isso que nos faz crescer, sabe?” 

“É o mais próximo que Hogwarts tem de um intercâmbio”, Sophia comentou.

Georgie guinchou, dando uma risadinha. “É verdade! Imagina só? Se tivéssemos intercâmbio? Poderíamos ir para aquela escola do Japão, ouvi dizer que os alunos nem dormem lá! Ou aquela do Brasil, parece que é dentro da floresta Amazônica! O que será que eles vão fazer se continuarem desmatando? Ah, enfim. Gostaria muito que isso fosse possível, seria…” 

“Muito interessante”, Sophia completou, dando um bocejo. 


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