Sophia escrita por znestria


Capítulo 3
O Primeiro Dia




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O dia seguinte não amanheceu muito mais bonito que o anterior: não chovia mais, mas ainda pairavam sob o céu nuvens cinzas escuras. Sophia e Georgie tomavam café sonolentas. Ainda era o primeiro dia de aula, então não haviam se acostumado com o horário, sem falar que foram dormir tarde por causa de todo o burburinho que seguiu o anúncio do Torneio Tribruxo na noite anterior. Nancy Clarke, que dividia o dormitório com elas, não parava de reclamar da injustiça que era não poder competir só porque fazia aniversário uma semana depois do Dia das Bruxas. Embora Sophia concordasse com o ponto, não conseguia solidarizar-se com a menina, que ficou falando a noite inteira e não a deixou descansar. 

Georgie passava, desanimadamente, manteiga em sua torrada. Olhou para o teto encantado e sorriu. 

“Lembra quando tínhamos que aprender os nomes dos tipos de nuvens?” 

Sophia fez um barulho que era uma mistura de grunhido com risada. “A única coisa que eu lembro era que uma delas se chamava Nimbus. E havia uma chamada Cumulunimbus, acho, devia ser uma Nimbus ainda pior…” 

“As senhoritas não ficam, então, satisfeitas de estar em Hogwarts, onde podemos aprender coisas úteis de verdade?” disse Sean, anunciando sua chegada para o café. Rogério se sentou logo depois dele.

“É, como transformar ratos em taças, por exemplo. Realmente, como consegui chegar até aqui sem poder beber em taças-rato?” brincou Sophia, fazendo Georgie rir.

Sean virou os olhos. “E qual a utilidade de saber os nomes das nuvens?” 

“Conseguir identificar os tipos diferentes e assim saber que tipo de chuva virá ou não”, retrucou Georgie. Sophia tinha certeza de que Georgie achava inútil estudar os tipos de nuvem; sabia que, se estivesse sozinha com a amiga, ela teria falado para deixar isso com os meteorologistas e só verificar a previsão do tempo, mas Georgie às vezes ficava na defensiva quando colegas bruxos faziam comentários de superioridade aos trouxas. 

Sean nada disse e passou a servir-se de cereal.

“Ah, olha, Flitwick já está distribuindo os horários”, apontou Sophia.

Sophia e Georgie acabaram de comer mais cedo e foram falar com o professor. O pequeno bruxo, ao vê-las chegando, começou a mexer na pilha de papéis em suas mãos.

“Laurie, Sophia…”, ele murmurou. “Ah! Aqui está. Ótimas notas, Srta. Laurie, foi aprovada em todas. Mas vejo que desistiu de Astronomia e História da Magia… Certo. Bom, continua então com Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas, Herbologia, Transfiguração, Poções e Estudo das Runas Antigas?” 

Sophia assentiu, e o professor lhe entregou seu novo horário.

“Ah, Srta. Kingsley. Vamos ver… Muito bem. Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas, Herbologia, Transfiguração… Ah, lamento, não poderá fazer Poções, o prof. Snape só aceita “Ótimos”… Certo. Não deseja matricular-se para Trato das Criaturas Mágicas? O prof. Hagrid ficaria feliz em tê-la em sua classe, fala muito bem da senhorita.” 

Georgie olhou para o professor, pega de surpresa. Sophia conseguia ver o cérebro da amiga trabalhando a mil, tentando decidir. 

“Hã… Acho que poderia”, ela concluiu, hesitante.

O prof. Flitwick sorriu, satisfeito. “Muito bem. Aqui está seu horário, Srta. Kingsley.” 

Georgie o recebeu, ainda com uma expressão meio vazia. As duas amigas analisavam os horários enquanto andavam para a porta do Salão. 

“Ah, eu realmente espero que Hagrid faça umas aulas boas, para variar. Criaturas mágicas são realmente fascinantes, mas Hagrid parece gostar só das perigosas e ‘incompreendidas’…” 

Sophia olhou para a amiga, com um sorriso pequeno. Não sabia o que dizer para consolá-la, pois suas preocupações eram muito reais - Hagrid já trouxera desde criaturas muito perigosas até criaturas extremamente entediantes. 

“Bom, vejo você no próximo período”, despediu-se Georgie, que corria para fora do castelo, enquanto Sophia subia as escadas para a aula de Runas Antigas.

 

 

Assim que acabaram de comer o almoço, Sophia e os amigos saíram correndo em direção à sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Na noite anterior, muitas pessoas comentavam ansiosas na Sala Comunal sobre o novo professor. Apesar de sua aparência assustadora - ou por causa dela, talvez -, o estranho homem inspirava certa confiança a alguns alunos, pois com certeza tinha muita experiência na área. 

“Ah, mas ouvi falar que ele está ficando biruta, isso sim”, comentara Marietta Edgecombe, do quinto ano. “Minha mãe me disse que ele teve um incidente logo antes de vir para cá, falando que fora atacado por latas de lixo.” 

De qualquer modo, todos estavam na expectativa para conhecer o famoso auror. Era provavelmente a primeira vez que Sophia via os alunos se amontoarem em frente à porta antes mesmo do professor chegar. 

“Moleza esse horário, hein?” disse Sean, alegre. “Temos muito tempo livre. Vou poder usar para treinar para o Torneio…” 

Sophia ia comentar sobre a montanha de tarefa que já tinha recebido em sua primeira aula  de Runas Antigas quando uma voz grave disse, atrás dela:

“Ah, vocês vão se inscrever também?” 

Sophia virou e deparou-se com Cedrico Diggory, da Lufa-Lufa. Era um garoto alto e bonito do seu ano. Eles tinham feito, até então, Trato das Criaturas Mágicas juntos, e Rogério e Georgie o conheciam mais por serem também monitores e do time de quadribol. Agora, no entanto, as aulas do nível N.I.E.M. eram para quem se matriculasse nelas, independente da Casa.

“Pode apostar que vamos!” respondeu Sean, rindo. “Bom, eu e Rogério, pelo menos. A pequena Sophia aqui não tem idade.” ele disse, dando palmadinhas em suas costas de um jeito paternal irônico.

Antes que Cedrico pudesse responder alguma coisa, os gêmeos Weasley se materializaram do lado de Sean.

“Também somos menores, por enquanto”, Fred disse (ou pensava que fosse Fred, ainda tinha certa dificuldade em diferenciá-los), e piscou.

“Mas pode apostar que vamos nos inscrever”, Jorge completou.

Sophia franziu. “O que vão fazer? Uma poção para envelhecer?” 

Fred, que tinha aberto a boca para falar, não disse nada e então virou-se para o irmão. Os dois se entreolharam por um segundo e então saíram metendo-se entre os alunos, gritando “Lino!” 

“Acho que você acabou de dar uma ideia para eles”, suspirou Georgie.

“Dúvido que vá funcionar”, Sophia balançou a cabeça. “Dumbledore disse que ele mesmo cuidará para que nenhum aluno menor se inscreva, e ele nos conhece.” 

A amiga deu os ombros.

“Sem quadribol, hein?” Cedrico voltou a puxar assunto.

“Ah, nem me fale”, lamentou Rogério. “Passei boa parte do verão pensando em táticas pra equipe, e ainda reformulei tudo depois da Copa.” 

Cedrico concordou. “É, eu também. Suponho que o Torneio vá compensar, mas estávamos com um time muito forte este ano, tem uns dois que vão sair no próximo.” 

Os dois continuaram a conversar, mas logo a sineta tocou, e entraram na sala. O prof. Moody apareceu, mancando e apoiando em seu cajado. Fez a chamada e mandou os alunos guardarem os livros. Sophia sabia que todos na sala não aguentavam de expectativa, seus corações batendo muito rápido.

“Hum. O prof. Lupin mandou uma carta dizendo que estudaram contra-azarações, feitiços defensivos… Ah, sim, e iguanas e vampiros.” Moody começou, e os alunos concordaram. Sophia sabia que tiveram sorte em ter o único professor decente em Defesa Contra as Artes das Trevas até então durante o ano dos N.O.M.s. “Naturalmente, no sexto ano… Passaremos para as maldições.” 

Muitos cochicharam entre si, inquietos.

“O Ministério da Magia acha que só no sexto ano que conseguirão lidar com as Maldições. Isto é um atraso, um atraso muito grande. Vocês deviam já saber disso a esta altura. Vocês precisam saber com o que estão lidando. Precisam entender o inimigo. Precisam estar em VIGILÂNCIA CONSTANTE.” Ele gritou nas últimas palavras, assustando os alunos nas primeiras carteiras. “E agora… Quem sabe me dizer quais são as maldições ilegais?” 

 

 

O jantar aquele dia foi bem mais silencioso que o costume, pelo menos para os quatro amigos. Sean, que normalmente era o mais barulhento, estava quieto desde a aula de Moody. Tinha sido uma aula muito intrigrante, porém pesada emocionalmente. Sabiam que Sean devia ter sentido-se desconfortável ao assistir de primeira mão o modo como sua família tinha provavelmente sido assassinada. 

“Não acreditei quando ele as realizou”, comentou Georgie mais tarde, no dormitório das meninas. “Afinal, se elas são ilegais, como que podem ser realizadas em sala de aula?” 

“Bom, tecnicamente, ele disse que são ilegais se realizadas em um semelhante humano, e ele usou uma aranha”, corrigiu Sophia. “Mas isso não é o pior”, e deu um longo suspiro. “Sabe quando tentamos realizar um feitiço novo? Demora um pouco para conseguir, não é?” A amiga concordou. “Então como é que ele conseguiu lançar aquelas Maldições? Imagino que elas sejam muito mais difíceis de realizar…” 

As duas ficaram quietas, pensativas. Até que Elena, que estivera quieta em sua cama, murmurou:

“Ouvi dizer que os aurores tinham permissão para matar no passado.” 

Georgie se virou. “Matar?” 

Elena acenou. “Aquele Bartô Crouch, que agora é Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia… Meu pai disse que era responsável no Ministério na luta contra Você-Sabe-Quem. E que deu permissão para os aurores matarem os Comensais da Morte.” 

Georgie bufou, sacudindo a cabeça. “Mas qual a lógica disso? Ah sim, para mostrar aos assassinos como é errado matar, vamos matá-los!” 

Elena se encolheu um pouco em sua cama.

“Não estou dizendo que concordo com eles, Georgie…”, Sophia começou. “Mas talvez se tentássemos entender um pouco como estavam se sentindo… Imagine, eles provavelmente haviam perdido muitos entes queridos para os Comensais. E estes são facilmente identificados, então não tinha risco dos aurores atacarem alguém inocente… E, no final, mandar alguém para Azkaban não é exatamente algo misericordioso.” 

As três meninas tremeram ao lembrarem-se dos dementadores que ocuparam a escola no ano anterior. Fora a pior sensação que já tinham sentido.

Georgie não se demonstrou inteiramente convencida, mas não discutiu.

“Mas aquela Maldição Cruciatus…” Sophia fez uma careta ao lembrar. “A Avada Kedavra, apesar de matar, não é tão horrível, no sentido de que me pareceu uma morte instantânea e indolor. Mas a Cruciatus… Não consigo imaginar como deve ser. Não foi só cruel, foi sádico.” 

Georgie assentiu. “Doentio. Não consigo nem imaginar. A pessoa tem que gostar de ver a dor alheia…” E, pela expressão no rosto da amiga, Sophia imaginou que ela devia estar se recordando do episódio da Copa Mundial de Quadribol, dos Comensais torturando os trouxas sem motivo.

As meninas foram deitar-se ainda um pouco abaladas depois da conversa, e Sophia demorou para cair no sono. As primeiras 24 horas desde que tinha voltado a Hogwarts tinham sido repletas de surpresas, nem todas boas. Deitada naquele dormitório tão familiar, ela adormeceu se perguntando se o resto do ano que estendia-se à sua frente seria remotamente parecido com os anteriores. 

 


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