Uma batalha havia começado. Tinha espadas, samurais e muita adrenalina. O vilão era do pior tipo, mas fazia os corpos dos garotos estremecerem com ansiedade pelo embate que parecia ainda distante contra o herói em destaque. Ele falava de forma animada e completamente vergonhosa, mas não havia como não torcer para que ganhasse todas aquelas terras para comandar o seu país. Para Tobirama, o herói lembrava seu irmão Hashirama.
Também havia cavalos. As corridas eram de tirar o fôlego, e para Izuna, bastante fantasiosas. Ele nunca havia visto um cavalo pessoalmente, então, era ainda mais divertido poder imaginar tanto o cenário quanto os animais.
Naquele dia, começara o quinto capítulo de “Os Ventos do Oeste”. O herói teve dificuldades, mas a ajuda de um aliado improvável salvou sua vida. Eles estavam do mesmo lado desde o início, mas eram rivais e nunca se ajudavam, isso até aquele capítulo. Ambos eram orgulhosos, o que causou um estranho clima pós batalha. Tobirama esperou ansioso pelo agradecimento; Izuna, não achava que ele devia, mas, ainda assim, o herói sorriu e agradeceu. Seu rival não aceitou o aperto de mão, e se afastou em silêncio. Izuna ficou nervoso e o xingou em tom baixo, no mesmo momento em que Tobirama também se indignou com a atitude arrogante; o rival do herói lhe lembrava o primogênito do líder dos Uchiha, mas a semelhança nunca era comentada.
— Garotos, sem xingamentos, por favor — a voz divertida os interrompeu, fazendo os rostos dos pequenos shinobi se tornarem corados.
Eles assentiram, mas não se desculparam. Aquela não era a casa dos Uchiha, muito menos dos Senju, mas ainda era um pouco difícil abaixar a cabeça para pessoas comuns como os donos daquela pequena residência. A vitrola também não os pertencia, assim como o disco que parou de rodar quando o herói apenas sorriu para as costas de seu rival, marcando o fim daquele capítulo. O sorriso largo e carinhoso em suas direções trazia um estranho calor para os peitos dos garotos, que como nas últimas quatro vezes em que estiveram ali, aceitaram o suave carinho nos cabelos, assim como os bolinhos de arroz recém prontos.
A guerra entre os clãs estava em seu auge, e havia pouco para comer em ambos os lados, então, eles guardavam os presentes para comê-los longe dali, nos acampamentos, para dividir com os irmãos, escondidos dos adultos.
As desculpas não vinham, mas os agradecimentos saíam com facilidade naqueles momentos. A casa era bastante simples, mas confortável e o alimento que já era pouco para os moradores, era apreciado com emoção pelos garotos, que com cautela escondiam que faziam parte da destruição que as pessoas daquela área só ouviam falar. O casal jovem que eram donos da pequena casa não perguntavam, então, era ainda mais confortável estar ali, apesar de terem que dividir aqueles momentos curtos — os melhores que tinham em suas vidas — um com o outro.
No início, quando ouviram o primeiro capítulo rodar no disco pelo lado de fora da casa, foi difícil aceitar estarem no mesmo espaço. O interesse na história foi imediato, e Tobirama encostou as costas em uma das paredes para poder ouvir melhor. Não havia grandes intenções naquilo, ele só queria se distrair de um dia difícil, e foi incrível encontrar alguém com a raridade que era uma vitrola. Ele se sentou no chão barroso sem saber que Izuna fazia o mesmo do outro lado, tão interessado naquele esquisito herói quanto ele mesmo. As emoções logo no primeiro capítulo foram tantas que mal puderam se conter, e os chacras agitados logo foram sentidos. Eles rapidamente ficaram em guarda. Os pequenos pés deram a volta na casa. Os corações estavam acelerados e também decepcionados por terem que abrir mão daquela história tão cedo, porém, quando os olhares raivosos se encontraram, o dono da casa abriu a porta subitamente. Os olhos castanhos do jovem rapaz se arregalaram pelo susto, mas não fora pelas kunais nas mãos dos garotos, pois eles rapidamente as esconderam nas costas. Os rostos sujos e os pequenos machucados chamaram sua atenção, e agitou a esposa que viera logo.
Ela os arrastou para dentro da casa. Não houve perguntas, apenas cuidados enquanto ela se espantava ainda mais com a aparência tão magra dos garotos. O rapaz ofereceu o primeiro prato de bolinhos de arroz ali, e também notou o interesse idêntico nos olhos dos meninos em sua velha vitrola, herdada do avô.