A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 8
Capítulo 8




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Depois de tomar um banho rápido e fazer a barba, Gustavo encontrou Cecília e Dulce na sala de estar.
— Já estão prontas? – perguntou, impressionado por encontrá-la já à sua espera. Além disso, ficou impressionado com o que ela estava vestindo: calça jeans colada ao corpo e uma blusa preta lisa. Nos pés, um par de sapatilhas cor nude.
— Sim, estamos. – Levantou-se do sofá, pegou na mão de Dulce e passou em frente à janela, o sol do fim da tarde refletindo sobre ela, de modo que ele podia ver o sutiã preto de renda que usava sob a blusa aparentemente simples. – O que foi? – perguntou, com um tom de desconfiança.
— Você pretende mesmo ir ao jantar com essa roupa?
— Sim, Gustavo, pretendo. Por quê? Você tem alguma coisa contra?
— Estou surpreso, só isto. – Ela estava bem, estava linda, isto era inegável, mas não se lembrava de tê-la visto usando jeans desde que se casaram. Até agora, além do dia da festa e da manhã na casa dela, não vira nem um centímetro de suas pernas.
A Cecília com quem havia se casado jamais sairia para um jantar sem uma roupa de marca e um salto alto. Ou melhor: não sairia sem isso nem para um café da manhã.
— É o que tenho no guarda-roupa.
— O que aconteceu com o resto das suas roupas? – Cecília tinha uma parede atrás do closet cheia de sapatos.
Pensando bem, não havia como aquele pequeno apartamento no Centro poderia abrigar nem sequer um quinto daquelas roupas.
— Doei a maioria para bazares beneficentes.
— E por que fez isso?
Ela deu de ombros.
— Não há muito motivo para usar Dolce e Gabbanna na escola.
— Vou ligar para a Estefânia e ver se ela pode dar um passeio no shopping com você. – Pegou o telefone no bolso.
Cecília cruzou os braços e balançou a cabeça. A expressão não era mais de desconfiança, mas praticamente de tristeza.
— Eu não quero ir às compras. Estou satisfeita com o meu guarda-roupa.
— Cecília – disse, tentando manter a paciência –, ao longo dos próximos quatro meses nós vamos socializar e sair para restaurantes, jantares de gala como sempre fizemos. As roupas que você tem servem para suas atividades na escola, mas esse eventos dos quais citei. É minha esposa e sabe bem o que isso significa.
— Que preciso me vestir feito uma boneca?
— Não. – Ela estava se fazendo de boba. – Mas ser uma Lários implica manter certa
imagem...
— Por quê? Ele coçou a nuca e soltou o ar por entre os dentes.
— Já conversamos sobre isto assim que nos casamos. Minha família é altamente respeitada por aqui e nossos negócios estão entre os mais conceituados do mundo. As pessoas nos admiram.
Era para o bem dela que esperava que se adaptasse. Sabia bem como era sofrer julgamentos por não ser bom o bastante e não queria vê-la passar por isso. Não queria ver a mulher que ele amava se sentindo insegura com tudo ao participar de eventos sociais.
Havia disponibilizado para ela tudo que precisava para conviver na alta sociedade, como se fizesse parte dela desde sempre.
— Não consigo entender porque isso me obriga a andar como uma boneca.
— Não precisa “andar como uma boneca” – disse, os dentes cerrados. – Eu não consigo entender qual é o seu problema. Você adorava se vestir bem quando estávamos juntos.
Lembrava-se bem do brilho nos olhos dela da primeira vez em que foi às compras com Estefânia e seu personal shopper e das gargalhadas de Cecília enquanto tirava as peças das caixas para mostrar a ele.
Era uma alegria de verdade, disso ele não tinha dúvida. Os cantos dos lábios se curvaram em um sorriso delicioso, o mais perto de um sorriso verdadeiro que ele tinha visto em toda a semana, embora não houvesse nada de alegre ali.
— No começo, sim. Mas quem, com seus 20 e poucos anos, não adoraria poder comprar tudo nas melhores lojas da Europa com um cartão sem limites? – Então você admite que, sim, se casou comigo pelo dinheiro.
Ela sacudiu a cabeça, o cabelo esvoaçante sobre o pescoço.
— Não posso negar que sua fortuna mexeu com a minha cabeça. Mas casaria com você mesmo que morasse numa cabana.
Ele deu uma gargalhada forçada.
Cecília olhou-o fixamente.
— Se eu sou tão interesseira, por que abandonei você, deixando tudo para trás?
— Você ficou com dez milhões.
— Nunca pedi esse dinheiro – argumentou. – E, como você bem sabe, eu poderia ter exigido muito mais.
— E ambos sabemos que até o fim do nosso divórcio, você ainda pode exigir. – Estendeu a mão e passou-a pelo rosto dela, insatisfeito com a cutucada que levou.
Cecília tinha razão. Não havia pedido aquele dinheiro. Ele dera de bom grado.
Tampouco havia pedido os cartões de crédito e todo o resto dado por ele, tudo para vê-la ainda mais alegre do que da primeira vez em que foi às compras. Nada disso importava agora.
O único sorriso que queria ver em seu rosto era de prazer. Bastava passar uma noite na cama com ele e a teria de volta.
— Assim que tudo estiver pronto, o que vou querer é me ver livre de você. – Falou tão baixo, que quase Gustavo não entendeu, quase.
Cecília tinha receio que Dulce ouvisse.
— Sua liberdade será respeitada. – Incapaz de resistir à tentação de aproximar o rosto do pescoço dela e sentir aquele delicioso aroma de baunilha, acrescentou: – E a minha também.
— Gente, não precisa brigar por besteira. – Voltando-se para Cecília. – Tia, você fica linda de qualquer jeito, não precisa ficar brava com ele, ele só está tentando te ajudar, assim como você me ajudou quando comprou roupa nova para mim, não é Seu Gustavo?
Houve um silencio quebrado pelo riso de desculpas de Gustavo. A cada momento que se passava, ele ficava mais impressionado com a maturidade da menininha, ficou ainda mais impressionado por ela ver os dois lados e tentar apaziguar uma quase briga ali na sala.
— É sim Dulce. – Se abaixando para falar na direção dela - Nós não estamos brigando, só apenas conversando. E sabe que você tem razão? – colocando o indicador na ponta do narizinho dela como forma de carinho – Sua tia fica linda de qualquer jeito.
Dulce sorriu e se direcionou a Cecília;
— Viu tia Cecí, não se preocupe, você é linda de verdade.
Cecília não sabia o que fazer ou falar, aquela cena tocou seu coração, mesmo tendo a convicção de que aquele casamento sufocante, onde todos reprimiam seus sentimentos por conta das aparências para a sociedade, onde casamentos deveriam ser perfeitos aos olhos de todos. Sabia que uma criança não poderia viver ali, naquele emaranhado de corações gelados e incertezas, não poderia dar um filho a Gustavo, estando infeliz naquela vida, ela o amava, todavia detestava a vida que eles levavam fora da cama. Mas ao olhar a cena dele com Dulce, tinha certeza do pai maravilhoso que ele seria.
Ao pensar nisso, sentiu-se triste, pois sabia que ele iria constituir uma outra família e ter o filho tão desejado com outra mulher, quem sabe não seria Nicole ou outra modelo famosa...

Não Cecí, você não deve pensar nisso, seu casamento acabou e ele te ver como uma interesseira!

— Vamos gente?


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