A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 14
Capítulo 14




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Se passaram duas semanas desde o início das aulas de Dulce Maria. Não era o mesmo Centro onde Cecília trabalhava.

Optaram por uma escola convencional e semi-integral, ela entrava pela manhã e saia no final da tarde. Cecília achava injusto Dulce tirar a vaga de uma criança que realmente necessitava do ensino, na Escola em que era voluntária. Ela tinha condições de arcar com os custos de uma escola, onde Dulce não tomaria a vaga de ninguém.

Gustavo não se opôs, contanto que ele arcasse com as despesas do colégio.

— Gustavo, não faz sentido você pagar o colégio dela, se nossa estadia aqui é temporária. – Doía muito, ela ter que dizer aquilo, mas era a realidade. – É mais justo que eu pague. Eu sou mãe dela.

— Nada disso, você é a mãe e eu sou o pai, mesmo que por tempo determinado, mas essa obrigação é minha e eu vou cumpri-la de bom grado.

— Bom, então que tal nós fizermos um acordo que estabeleça um mês para cada um de nós?

— Acho que nós já estamos muito cheios de acordos, mais um é demais! – Os dois riram da situação. – Nós nem devíamos estar debatendo sobre isso, só toquei no assunto para te dizer que passei por lá assim que você me disse que iria matricula-la lá e fiz um contrato de um ano com o colégio, que já está pago.

— Um ano, você pagou um ano? – Ela estava imóvel e nem percebeu que ele tinha se aproximado. – Você realmente é maluco.

Gustavo agarrou-a pela cintura e puxou-a para perto dele, deu-lhe um beijo de tirar o fôlego.

— Sim, eu sou maluco, capaz de qualquer coisa por aquela baixinha loirinha, que vive correndo pela casa atrás de um cachorro que é o triplo do tamanho dela.

Os dois riram, memorizando a cena de Dulce brincando com Rox. Ela estava feliz e eles também.

Dulce não era mais tão retraída, já era mais espontânea, fazia perguntas com frequência, abraçava-os e beijava-os a todo instante. Os momentos a três, eram extremamente felizes.

Ao mesmo tempo que Cecília se via radiante, ela lembrava de que aquilo era um aviso para ela parar de se iludir e se fosse esperta, acabaria com aquilo de uma vez.

“Ele não gosta de você, não se iluda, ele gosta da Dulce, vê nela o filho que você o negou, nada além disso. As coisas não mudaram Cecí. “

Cecília se atormentava com esses pensamentos. Não queria que Dulce sofresse com a separação, mas pelo andar da carruagem, seria inevitável.

Era uma segunda feira a noite quando Cecília chegou com Dulce, Gustavo já esperava em casa, preocupado com a demora das duas.

— Nossa, Cecília, vocês demoram bem mais do que de costume.

— O trânsito estava horrível hoje. Ainda bem que Dulce estava tão cansada e veio a maior parte do tempo dormindo, acordou qnd já estávamos chegando.

Dulce estava de mãos dadas com Cecília, com o olhar vago, mas devia ser o cansaço e a sonolência ainda.

— E cadê a menininha mais linda dessa casa? – Foi até ela e se ajoelhou para ficar da sua altura. – Essa não é a Dulce serelepe que eu conheço.

Dulce o abraçou forte, como se tivesse querendo tirar algum peso das costas.

— Eu só estou cansada, só isso. Mas jajá passa.

Gustavo olhou para Cecília, que fez um gesto, que indicava que depois conversariam. Dulce desvencilhou-se dele e olhou ao redor, os dois adultos já sabiam o que ela procurava. Gustavo se apressou em dar uma resposta antes mesmo que ela perguntasse algo.

— Esse olhinho curioso está atrás do Rox, acertei?

— Sim pim rim rim! – Ah, como ele adorava aqueles dizeres que só a sua menininha falava!

— Ele foi para o pet shop hoje a tarde, um pouco antes de você chegar, mas amanhã ele está de volta para vocês brincarem. Todo mundo precisa de um bom banho afinal. – Piscou para ela, que continuava com aquele olhinho triste.

— Poxa, queria tanto vê meu amigo. Eu mesma poderia dar banho nele, nem precisaria ir pra esse tal de shop ai.

Cecília e Gustavo acharam graça. E Dulce ficou sem entender, mas também riu. Foi o primeiro sorriso que Cecília viu no rosto da menina, desde quando a pegou no colégio.

— Pet Shop, o nome certo é esse. – Cecília se envolveu na conversa. – Meu amor, você ainda não dá conta de dar banho nele sozinha, e no pet shop eles fazem o serviço completo. Dão banho, escovam os dentes, limpam os ouvidos, cortam as unhas, além de uma série de coisas que o Rox também precisa. E sabe quem também precisa de um banho? Você. Vamos lá, eu te ajudo. Eu também estou precisando de um.

— Tudo bem.

Elas subiram as escadas em direção ao quarto do casal, Cecília deu banho em Dulce e a vestiu em um pijama solto. Não fazia sentido vestir uma roupa formal apenas para jantar na sala de casa. Mesmo contrariando a criação que Gustavo teve e tentava passar para Dulce. Suas intenções eram boas, mas Cecília não queria que a menina se sentisse como ela se sentia, naquela bolha de aparências, onde tudo era perfeito. Queria que Dulce tivesse uma vida simples e feliz, que não precisasse se sentir insegura nem inferior.

Ela era só uma criança e precisava se sentir como tal. Era muito exigir dela algo que nem Cecília aguentou. Ao tomar banho e também vestir uma roupa leve, não um pijama, mas um short jeans e uma blusa regata, elas desceram e encontraram com Gustavo na sala de jantar.

Se ele fez objeção a algo, nada comentou. Estava no celular, provavelmente resolvendo negócios.

Cecília estava de cabelo solto e de sandália rasteira, bem natural sem nenhum resquício de maquiagem no rosto. E ao olhar Dulce, percebeu que ela já estava de pijama. Em outros tempos, ele iria achar aquilo um absurdo, se sua mãe as vissem tão à vontade assim na mesa do jantar, certamente se reviraria no túmulo.

Mas a verdade que ele se sentia mais feliz quando estavam assim. Isso fazia ele relembrar da Cecília de antes do casamento, ela era desse mesmo jeito. Não se importava com roupas finas e elegantes, muito menos com maquiagem.

Gustavo foi interrompido de seus pensamentos, por Dulce que estava faminta.

— Tio Gustavo, o jantar já está na mesa? – Fez um gesto com as mãos em sua barriga. – Minha “rabiga” já está roncando de tanta fome.

Eles acharam graça e Gustavo a respondeu.

— Sim minha linda, o jantar nos espera, sua barriga não vai mais roncar.  

O jantar foi mais silencioso do que de costume, o que deixava Gustavo cada vez mais tenso, sem saber o que estava acontecendo. Ele sabia que algo não estava normal, Dulce geralmente tagarelava o jantar inteiro, os bombardeava de perguntas, e agora estava calada. Ele detestava ver sua menina assim, triste. Não queria que nada a entristecesse, ela era especial demais para isso.

Ele olhou para Cecília, que entendeu seu olhar de desespero por não estar a par do que estava acontecendo. Ela deu-lhe um leve sorriso para que ele se acalmasse, o que funcionou de imediato.

Gustavo tinha a impressão de que apenas aquelas duas mulheres ali a sua frente, tinham o poder de tranquiliza-lo apenas com um sorriso ou olhar.

Cecília colocou a mão sobre a de Dulce e fez carinho, encorajando-a a dizer o que estava acontecendo.

— Meu amor, porque você não conta para o titio o que está acontecendo.

Dulce a olhou, com o olhinho marejado, se negando a chorar, em silêncio, olhou para Gustavo, que também fez o mesmo gesto de Cecília ao pegar na mãozinha de Dulce.

Ao olha-la, Gustavo falou;

— Meu amor, nós estamos aqui para te ajudar e dar apoio sempre que você precisar, mas você precisa sempre nos contar o que está de afligindo.

— Eu não quero mais ir para aquele colégio, tem duas meninas lá que implicam comigo o tempo inteiro. Eu juro, eu nunca fiz nada para elas. Mas elas vivem dizendo que as outras meninas só falam comigo porque tem pena de mim, e que eu sou sozinha no mundo, que eu não tenho pai nem mãe.

Gustavo estava abismado com a maldade dessas meninas. Como alguém teria coragem de falar algo assim para alguém? Principalmente para Dulce que não fazia mal nem a uma mosca morta.

— Dulce, não jure, nós confiamos em você e você sabe que o que elas dizem não é verdade, não é?

 Cecília colocou Dulce em seu colo e Gustavo se aproximou, sentando na cadeira ao lado delas.

— Eu sei, eu posso não ter papai e mamãe, mas eu tenho vocês e no meu coração, vocês são meus papais. Mas é que isso me machuca, porque minha mãe dizia a mesma coisa. E eu não quero que ninguém tenha pena de mim.

— Dulce, me diga uma coisa...- Gustavo pensou um pouco antes de falar, como se tivesse medindo suas palavras. – Alguém aqui já disse que tem pena de você?

— Não tio Gustavo, pelo contrário, vocês sempre dizem que me amam e é verdade porque eu sinto, eu amo vocês também.

— Então meu amor, não há motivo para tristeza, o que importa é o que você sente e o que sentimos por você, nós te amamos. Nós somos seu papai e mamãe do coração.

Cecília a abraçou forte e disse;

— Meu amor, você tem que encarar seus problemas de frente, como o Gustavo falou; nós estamos aqui para te ajudar e dar apoio sempre que você precisar. Se você realmente quiser sair do colégio, nós vamos te tirar de lá, mas em todo lugar que você for, você vai ter que lhe dar com pessoas assim, com sentimentos ruins no coração. Essa não será a primeira nem a última vez. Mas eu tenho certeza que você vai superar essa chateação, sabe porquê? Porque você é inteligente, carinhosa, aonde passa, transborda amor, não tem quem não goste de você.

Gustavo a ajudou;

— Sim Dulce, você é muito especial, não vão ser essas duas meninas que vão te derrubar, você é forte, é linda por dentro e por fora, por onde passa leva alegria e é cheia de bondade no coração.

— Nossa, eu sou isso tudo? Mesmo?

— Sim minha vida, você é tudo isso e mais um pouco. E o mais importante é que o seu tio e eu te amamos demais e vamos sempre estar do seu lado.

Eles se abraçaram, os três, por um bom tempo, parecia uma eternidade. Não se via mais choro nem tristeza no olhar de Dulce Maria, mas sim um olhar feliz e a tagarelice nata que eles amavam.

Ao leva-la para a cama, ela pediu que os dois ficassem lá até que ela dormisse e eles ficaram, zelando pelo sono daquele anjinho que tanto amavam.

Ao caminho do quarto do casal, Gustavo disse;

— Cecília amanha mesmo eu vou nesse colégio, esse episódio não pode se repetir, isso é bulling e eu não vou aceitar que ninguém o pratique com Dulce.

 - Calma, eu já falei com a madre superiora que dirige o colégio. Ela me garantiu que tomaria medidas a respeito disso. Vou esperar, acaso continue acontecendo isso, falarei com os pais dessas meninas.

— Observaremos o comportamento dela, se persistir, eu mesmo resolverei esse problema.

— Que protetor!

— Você não imagina o quanto.

Ralhou-o e ele a respondeu no mesmo tom zombeteiro, enquanto a puxava para mais perto, encostando-a em uma parede e beijando-a com ardor.

Hoje a noite seria longa e prazerosa!


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