A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 15
Capítulo 15




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Cecília estava no closet tentando escolher o que vestir. Se fosse para a escola, usaria roupas esportivas, que pudesse sujar de tinta e comida. Já se arrumar para o quartel-general de Gustavo era outra coisa. Pedia um tipo de roupa que ela evitava desde que o abandonou.

Não gostava de roupas de trabalho. Até agora, estava tirando tudo de adequado que encontrava, mas estava ficando sem opções.

Deu um suspiro. Devia fazer compras. Só misturar peças não seria suficiente para os quatro meses que passaria ao lado de Gustavo aprendendo os fundamentos do negócio para o qual ela dera as costas.

Dulce já estava na escola, foi difícil tenta-la convencer de que tudo daria certo e que as meninas malvadas não iam mais atormenta-la. Depois de muita conversa e uma promessa de sorvete depois da aula, ela decidiu ir, com a condição de que os dois a levassem.

Não houve objeção da parte de nenhum dos dois. Ao chegarem, Gustavo pediu para falar com a Madre Superiora. Enquanto isso, Cecília levou Dulce até sua sala, e por consciência, no caminho deu de cara com as duas meninas. Barbara e Frida, ela soube depois.

— Olha Barbara, a chatinha bastarda. – As duas riram. – Olá chatinha.

Cecília segurou na mão de Dulce que não demonstrou medo, só raiva.

— Bom dia meninas, meu nome é Cecília, eu sou a mãe da Dulce. – Enfatizando o nome da menina. – E posso afirmar com toda certeza que ela não tem nada de chata, muito menos de bastarda.

— Você é mãe dela? Mas ela mesmo disse que mora com os tios.

— Bom, ela não me chama de mãe por opção própria. – falou olhando para Dulce, que segurava firme sua mão. – Mas eu sou a mãe dela e a amo demais para deixar que a façam mal. – se abaixou na direção das meninas. – E sabe meninas?! O pai dela e eu viemos aqui para conversar com a Madre sobre certas meninas que estão praticando bulling com a Dulce? Vocês as conhecem?

— Não, não sabemos de nada. Vamos Barbara, estamos atrasadas para aula.

— Tchau meninas.

As meninas saíram correndo e pareciam estar preocupadas agora, Cecília não queria ameaça-las, e não o fez, eram só crianças com reflexos de más atitudes dos pais, mas de uma certa forma deixou bem claro que Dulce tinha quem a protegesse.

Dulce bateu a mão na de Cecília com um estalo no ar. E com um sorriso no rosto, entrou para a sala de aula, despedindo-se.

Ainda era cedo quando voltaram para casa. E ela se encontrava naquele verdadeiro campo de caça que era encontrar uma roupa adequada para um escritório como o dos Lários.

Ouviu um barulho no quarto, virou-se e viu Gustavo com uma pilha de papéis.

Ele deixou os papéis na penteadeira e lhe entregou uma folha.

— O meu horário no mês que vem. As datas marcadas são quando eu não vou precisar do helicóptero. Nesses dias, pode usá-lo para ir a escola.

Ela o olhou desconfiada.

Pensara que haviam chegado a um acordo na pizzaria, que o dia na escola o amolecera. Ele logo deixou tudo bem claro.

Nada mudou, dizia.

E, embora o sexo tivesse sido longo e carinhoso, aquilo não queria dizer nada. Gustavo era um amante generoso. Até quando a odiava.

— Então quer dizer que eu posso trabalhar na Escola durante os meses que estiver aqui?

— Pode.

— Pensei que fosse para eu ficar grudada no seu pé.

Ele esboçou um sorriso.

— Preferia que ficasse grudada no meu corpo inteiro.

Ela não conteve uma gargalhada e quase respondeu: “Eu também.” Quase.

Como ele dissera, nada mudara. Ainda não estava inteiramente humano, não quando continuava mantendo-a na cama como forma de punição.

— Estava no telefone com Cristóvão e combinei uma reunião com ele próxima semana. Você vai querer ir, não?

— Sobre o que se trata a reunião? – perguntou.

— Sobre a burocracia do Cruzeiro beneficente.

— É uma gentileza enorme, Gustavo.

— Nós vamos discutir sobre o roteiro e a programação, mas quem vai mandar em tudo será você.

— Sério?

— Você sabe como funciona. Encare como relações públicas. O nome dele vai ajudar na divulgação.

— Tem isso – admitiu.

Ela sentiu vontade de se beliscar para ver se não estava sonhando. Um pensamento lhe veio.

— Quando vamos encontrá-lo?

— Na sexta feira.

— Ah.

— Por quê?

— A última sexta é o festival de tinta. E prometi levar Dulce, já que ela não vai ter aula.

— Você vai levar uma criança para uma guerra de tinta?

Pela cara dele, parecia que ela ia levar Dulce para assistir a uma luta de UFC.

— Só para ver. Quando mostrei as fotos ela ficou encantada com as cores. Vamos Ficar sentadas num terraço com um saco de tinta para jogar nas pessoas. – O festival de tintas era uma festa anual da cidade de São Paulo.

Ele a encarou, pensativo.

— Você já pôs seu nome na lista.

— Sim, mas não se preocupe, não vou roubar seu helicóptero de novo.

— Você não teria sorte se tentasse. Meus pilotos não podem levá-la a lugar algum sem a minha permissão.

Só Gustavo podia dar com uma das mãos e tirar com a outra, parecendo sensível num segundo e depois lembrando-a da sua posição na vida dele. A diferença agora foi que ele falou brincando, e não naquele tom frio que Cecília detestava.

Ela teve esperanças de que ele estivesse amolecendo. Ela deu um sorriso maroto.

— Eu não ia roubar seu helicóptero. Ia roubar o seu Bugatti.

— Vou fingir que está brincando para a minha pressão não explodir.

— Você devia vir com a gente – disse ela, por impulso.

— Acho que não – respondeu, seco.

 – Por que não? Está com medo de sujar as roupas?

— Não.

— Então por quê?

— Ela o encarava.

— Não fica adequado para um homem da sua importância entrar numa guerra de tinta?

— Sabe muito bem que não. – Gustavo não conseguia pensar em nada mais grotesco do que fotos suas na imprensa coberto de gororoba.

— Vá disfarçado.

— Cecília, eu não vou tirar um dia de folga para ver um monte de gente se jogar tinta.

 – Não seja tão esnobe. É divertido.

— Eu não sou esnobe.

— É sem querer – concedeu.

Balançando a cabeça, ele foi até a penteadeira e pegou o resto dos papéis.

— Enquanto você estava aqui no quart, dei uma olhada no seu relatório.

— E que tal?

Gustavo sentiu uma pontada ao ver apreensão no olhar dela.

— Você fez um bom trabalho.

O rosto dela se iluminou.

— Sério?

Ele a abraçou e lhe deu um beijinho.

— Sério.

Gustavo estava surpreso com a qualidade do relatório.

Durante todo o casamento, acreditara nas habilidades inatas dela, sabia que precisava desenvolvê-las para conseguir algo substancial. E agora via que estava certo. Mas ela não acreditara.

Como não percebera antes que sua mulher não acreditava em si mesma?

Como não percebera suas inseguranças?

— Vamos – disse ele, dando-lhe um beijo antes de se afastar.

— Arrume-se, temos reunião em meia hora. -

Antes de sair do quarto, virou-se para ela. – Não precisa mais vestir roupas de trabalho. A reunião é com Estefânia e Vitor.

O coração dele ficou mais leve quando ela abriu um sorriso.

— Vou de dominatrix?

— Daria tudo para ver isso.

Ele saiu do quarto com ela às gargalhadas.


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