Caos em Virgini escrita por Widowmaker


Capítulo 3
2. Prodígio


Notas iniciais do capítulo

Se alguém quiser saber como o Executor e o Criador se parecem, deixarei links nas notas finais



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Meu corpo ardia, sentia algo estranho em meu peito, como se meus pulmões estivessem sendo esmagados. Abri os olhos, hesitante, e esperei minha visão turva clarear. Não consegui processar o que estava ao meu redor, eu via fogo por todos os lados, e pilares de madeira da igreja se tornando brasa, caindo do teto. Não conseguia me mexer enquanto a capela se desmoronava ao meu redor, não compreendia a dor física que eu sentia. Confusa, fechei os olhos, tentando me cobrir com minhas asas, mas algo estava errado. Eu não conseguia movê-las. Esforcei-me para olhar para trás, notando uma grande viga de madeira em chamas sobre minhas asas, me queimando viva. Minha cabeça girava e eu tossia agonizada.

— Ei, você! – Ouço uma voz nada familiar vinda de trás de mim. Penso em responder, mas não consigo, minha voz me falha e minha visão se escureceu, mas uma vez – Moça, levante-se! O teto irá desabar! – Senti minha consciência se esvaindo, e meu corpo perder as forças até que eu apaguei, lacrimejando e tremendo.

Não sentia mais dor em meu corpo, porém meu rosto ainda ardia de forma estranha, como se chamas tivessem escorrido de meus olhos como se fossem lágrimas escarlate. Eu tossi antes de abrir meus olhos, evitando me mexer. Olhei ao meu redor, cercada por paredes de pedra e atrás de barras de ferro. Deitada em um colchão duro, meu corpo estava completamente enfaixado, e minhas asas sem uma pena sequer. A pele sensível se feria ao roçar no tecido do colchão, e toda a extensão de minhas costas doíam a cada movimento. Soltei um gemido, até que aceitei a dor e me apoiei nas pedras da parede ao meu lado, me sentando no chão gelado e duro. Me virei para as barras de ferro que me prendiam e me esforcei para ignorar todos os ratos e ouvir o que os humanos questionavam no corredor da prisão.

— É um demônio, eu digo! – Ouvi uma voz rouca, assimilei-a a um idoso – Mate-a enquanto está desacordada!

— Demônio ou não – Outro homem dizia, suspirando – é a única testemunha do massacre de Stone Creek.

— Pensei que tivesse deixado claro que foram os dois fora-da-lei que causaram o incêndio e o massacre – O senhor vinha caminhando ao lado do homem pelo corredor da prisão. Ambos usando chapéu e uma estrela na jaqueta de couro.

— Ambos morreram no incêndio – De repente, os dois pararam em frente à minha cela, virados um para o outro – Não acredito que tenham se matado. – Os dois se viram para mim e, rapidamente, se acompanham em seus pensamentos. Continuei olhando para eles, refletindo sobre o que fariam comigo.

— Acha que irá arrancar algo desta bruxa? – O mais velho grunhiu para mim.

— Não deixarei de tentar – o xerife suspirou, pegando um molho de chaves de seu cinto de couro e usando uma delas para abrir as portas de minha gaiola.

Ele se aproximou de mim, com cuidado, trazendo um artefato incomum em suas mãos, acorrentando-me ao meu pescoço. Me remexi, tentando me soltar destas estranhas algemas, mas ele me respondeu batendo em minha cabeça com o cabo de sua pistola. Ao me puxar para fora, como um animal acorrentado, pude dar uma olhada melhor aos meus arredores. Todo aquele ambiente escuro e quente, fedendo a morte e a sofrimento me doíam a cabeça e me partiam o coração. Não resisti durante meu percurso, distraída com os outros prisioneiros que me olhavam com ódio. Ou será que olhavam para o homem que me acorrentou?

Ao chegarmos em uma sala afastada, ele me sentou numa cadeira de madeira e amarrou meus braços e minhas pernas em seus suportes pesados, trancou a grande porta de aço em minha frente e se virou, ficando de pé diante de mim.

— Vamos começar com as apresentações, sim? – Disse, tirando uma de suas luvas sem olhar para mim – Meu nome é Willian, mas pode me chamar de Will – tirou sua outra luva – Como você se chama?

— Exijo que me liberte, Will – rosnei, balançando o que havia restado de minhas asas. Willian me respondeu batendo em minha bochecha. Apesar de sentir meus olhos se revirarem, não senti dor.

— Qual é o seu nome, coisa? – Eu estava com a cabeça abaixada, mas ele me segurou pelo queixo, levantando meu rosto e olhando fixamente para os meus olhos. Eu mantive meu terceiro olho fechado, pois o mesmo ainda queimava profundamente.

— Virgini – soltei – Deusa Virgini. Solte-me, mortal estúpido – havia perdido minha paciência com o homem quando ele me socou pela segunda vez. Esbocei um sorriso repleto por raiva e comecei a gritar – Você não sabe no que está se metendo! O Executor irá chegar e irá cortar a cabeça de todos vocês!

Ele ignorou meu aviso, mantendo seu olhar fixo em mim – O que aconteceu naquela igreja, “Deusa Virgini”? – Willian pegou algo numa mesa próxima, mas só pude ver com clareza o que era quando ele voltou para a luz, exibindo seus novos punhos vestidos com um par de socos inglês.

— Um par de assassinos entraram e massacraram meu templo – Disse, inexpressiva.

— E o incêndio?

— Não sei o que aconteceu depois, acordei e estava presa embaixo das brasas – Respondi francamente.

O xerife se virou para trás e começou a caminhar de um lado para o outro da cela, pensativo. Permaneceu em silêncio por um tempo e então voltou a falar:

— Sabe o que é, Virginia?

— Virgini – O corrigi e ele me ignorou.

— Eu não estou acreditando muito nesta sua história. Parece tão conveniente, não é? Você apagar justamente quando o crime começou.

— Mortal – Eu o encarei profundamente – O Matador de Deuses está me caçando neste exato momento e a cada segundo que passo discutindo um acontecimento insignificante com você, ele fica mais perto de me decapitar – Por mais que eu quisesse que ele acreditasse em mim e terminássemos com isso de uma vez, ele não o fez, me dando mais um soco no rosto com o soco inglês.

— O velho George tem razão, você é uma bruxa.

Olhe Virgini, finalmente alguém que te vê como você realmente é.

Você deveria recompensá-lo por permanecer tão cético em relação a você.

Humanos são tão patéticos.

Sim, não surpreende serem adoradores da Virgini.

Deusa patética.

Deusa falsa.

Fraca.

Minha cabeça estava prestes a explodir, então eu gritei, gritei o mais alto que pude, abrindo bem todos os meus olhos e sentindo minhas emoções fluírem através de minha mente. Senti meu corpo queimar, e então senti meu terceiro olho arder novamente enquanto lágrimas escorriam de minha face. Ao pingarem no chão, faíscas se formavam, mas logo se apagavam por não queimarem a rocha fria no chão da cela. Pude notar Willian se desesperar ao meu lado, sacando ambos os seus revolveres e os apontando para mim. Ele hesitou, mas atirou, mirando em minha cabeça. Senti as balas entrarem, penetrando meu crânio e gotas de fogo vazarem de minhas feridas enquanto meus olhos e boca queimavam ainda mais. Willian gritou em desespero, mas quando a ajuda chegou, já era tarde e tudo estava queimado, minhas correntes derreteram e seu corpo estava irreconhecível. Ninguém ousou se aproximar da cela, temendo se queimar nas pedras do chão, ao invés disso, mantiveram a distância, disparando em meu corpo com suas armas inúteis.

Reuni forças e me levantei, caminhando em direção à porta de aço derretida. Meu corpo inteiro vazava fogo e pude ouvir os gritos dos queimados enquanto eu atravessava a prisão. Todos os prisioneiros desesperados tentando se proteger do fogo enquanto suas celas eram destruídas por completo. Todos os oficiais corajosos que ficavam para trás, tentando inutilmente me parar e todos os oficiais covardes que corriam para fora da prisão, montando em cavalos e fugindo de mim. Atrás de mim, um rastro de brasa e destruição, e em minha frente, uma trilha de medo. Por mais que eu tentasse, meu corpo já não me obedecia, flamejando de forma selvagem, libertando o pássaro flamejante de sua gaiola de ferro, incendiando todos os que se colocavam em meu caminho.

Eu me sentia furiosa.

Carceris.


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Notas finais do capítulo

Criador > https://cdnb.artstation.com/p/assets/images/images/008/187/971/large/ching-yeh-.jpg?1511050812
Executor > https://cdna.artstation.com/p/assets/images/images/008/314/608/large/ching-yeh-.jpg?1511949909



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