Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 97
Processo Reverso


Notas iniciais do capítulo

Hello!!

Bom, estamos de voltaaa!! Agora já de férias!! Uhuuuul!!

"Enfim as coisas tomaram um rumo... Mas ainda poderá haver graves consequências se as meninas não conseguirem trazer o Doutor de volta"



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Ficaram em silêncio por alguns longos minutos. Luisa e Melissa afastadas, dando espaço à TARDIS. Estava certo que todas gostavam de Sofia, mas era mais do que obvio que a TARDIS era quem mais sofreria com tudo aquilo, portanto, a prioridade era dela.

Respeitar o luto de uma máquina do tempo, não era difícil. Agora, tentar respeitar o luto de uma máquina do tempo, ao ter a atenção desviada pelo choro de uma criança... Bem, isso sim dobrava o nível de complexidade.

Luisa começou a ficar agitada. Não conseguiria se conter por muito tempo em silêncio: o Doutor estava chamando! Claro que imaginou isso só para poetizar um poucos as coisas (o choro do neném não parecia nada com uma chamada de atenção), todavia, era o Doutor, e Luisa imaginou que, de uma forma ou de outra, ele deveria estar querendo chamar atenção. “Sou pequeno e bonitinho; Estou congelando em um berço desconhecido; Acho que deveria receber mais atenção! Por que será que ninguém vem me buscar? Garotas! Ei, garotas! Quero colo!!!” –Luisa imaginou-o pensando.

—TARDIS... –Quando deu por si, já estava em pé, tocando o ombro da ex-maquina do tempo. –Eu lamento muito pela perda de Sofia. Entendo que você esteja sofrendo, mas... O Doutor...

A TARDIS não se moveu. Continuou sentada, ao que apenas inclinou a cabeça brevemente na direção de Luisa, sem olhá-la nos olhos.

—Eu sei. –suspirou, pacientemente. –Vá pegá-lo. Depois você e Melissa devem levá-lo até a sala da Máquina de Retrocesso Biológico. Fica na primeira à direita. Lá dentro, vocês deverão colocar o Doutor sob a maca; puxar a alavanca maior e apertar o botão espiral. A máquina terminará o serviço para vocês...

—Espera –os olhos de Luisa tomaram-se pelo receio. –Máquina de Retrocesso Biológico? Para quê isso?

A TARDIS respirou fundo, depois fitou-a nos olhos.

—Para trazer o Doutor de volta. –explicou. –Me perdoem. Não estou em condições de ajudar... Sofia se foi; e eu estou prestes a voltar a ser uma caixa azul. Não consigo fazer muito mais. Meu tempo como “humana” está se esgotando...

—Certo. Tudo bem. Nós entendemos –Melissa se aproximou, já se interando para ficar por dentro do assunto. –Só dê as instruções mais uma vez, que a gente se vira como pode. 

A TARDIS concordou. Ela apertava o estômago de leve. A transformação de humana para, novamente, máquina do tempo, devia estar começando a afetá-la.

—Vocês devem ir até aquela sala logo ali –indicou com o dedo. –Colocar o Doutor sob uma maca e depois ativar a máquina de modo inverso. Só assim ele voltará a ser o Doutor de 1000 anos. Lembrem-se: a alavanca deve ser puxada na direção contrária e o botão deve ser girado completamente na direção oposta à que o marcador estiver indicando no painel de controles... Isso antes de ser apertado. Entenderam?

Ajustar alavanca e botão. O.k! Memorizado! –sorriu Melissa. E em seguida, as duas deram-lhe as costas, colocando mãos a obra.

Luisa e Melissa já haviam sumido de sua vista quando a TARDIS terminou, em um sussurro:

—Boa sorte... E adeus—disse, depois se ajoelhou calmamente no chão, aguardando pacientemente até a mudança para sua verdadeira forma se consolidar. Fechou os olhos, concentrando-se. Ela já podia sentir a cor azul voltando ao eixo...

 

*     *      *

Luisa e Melissa não hesitaram. Correram. Tiraram o neném do berço (Luisa envolveu-o com um roupão de adulto, que tirara de bolsinha rosa, só para aquecê-lo) e levaram-no diretamente para a sala indicada pela TARDIS. Rapidamente, Luisa passou com ele no colo e depositou-o na maca, embrulhado no gigante roupão, enquanto Melissa fechava a porta. Terminada a primeira etapa, as duas se encararam por um momento: seus olhos pareciam dividir o mesmo sentimento.

—E agora? –Luisa instigou. Tinha tanta adrenalina passando por seu corpo que ela nem conseguia raciocinar direito. Melissa arregalou os olhos. A respiração de Luisa acelerou: ela sabia que aquilo não era bom sinal. –O que foi?

—Eu hã... –a loira mordeu o lábio. –Esqueci.

VOCÊ O QUÊ!?—Luisa gritou, apavorada. –Como assim? Você disse que tinha ENTENDIDO o que a TARDIS falou! 

—E-eu disse sim –Melissa gaguejou. –Só que eu... Hã... Eu...

Hã?—Luisa semi-cerrou os olhos. –“Eu o quê?” Desembucha!

Eu menti. Pronto, falei!

—Você MENTIU!? –Luisa quase arrancou chumaços dos próprios cabelos. –Como assim? Por quê?

—Porque ela estava contando com a gente. E nossa obrigação devia ser tranqüilizá-la, certo? –Melissa supôs.  -Então eu pus toda a minha concentração em cima disso e... Meio que deixei o resto escapar... Não teve jeito. Tive que escolher uma das duas coisas... Foi mal. -Luisa assentiu atônita para ela.

—É, mas... Não dava pra facilitar e simplesmente fazer os dois? –arfou.

Melissa negou de imediato.

—É coisa demais pra se pensar! Afora que minha cabeça fica confusa... Eu tive que optar: “ou eu me concentrava em tranqüilizá-la” “ou eu prestava atenção no que ela estava dizendo”. –Melissa disse, simplesmente. –Você queria o quê? Fui diagnosticada com “síndrome de falta de atenção” aos nove anos de idade... É praticamente impossível pra mim conciliar mais de uma coisa ao mesmo tempo!

Luisa engoliu em seco e fez uma careta de pânico.

—Deus! O que vamos fazer agora? Precisamos seguir com o plano, mas não lembramos das instruções... Hã! Que pesadelo! —gemeu, jogando-se em uma cadeira: a única na saleta.

—Espera aí Luisa –Melissa aproximou-se dela. –Tem um painel de controles diante dessa cadeira... –seu rosto se iluminou. –Talvez isso tenha alguma coisa a ver com o que a TARDIS queria que nós fizéssemos!

—É mesmo! –Luisa levantou-se, espantada. –É! Agora estou me lembrando... Engraçado como a ansiedade faz a gente perder o foco.

—Exato. E, agora que estou olhando diretamente para esses controles... Eu acho que me lembro dela ter falado alguma coisa sobre uma alavanca e um determinado botão...

—É! Isso mesmo! –Luisa fechou os olhos por um momento, buscando o nome na memória. –“A alavanca maior e o botão espiral”. Alguma coisa assim...

—Tem razão! –Melissa sentou-se na cadeira. –Ela disse três coisas importantes “maca, alavanca e botão”. Você já colocou o Doutor na maca. Então agora acho que me resta ligar essa máquina e acionar a alavanca maior e o tal botão espiral.

Isso aí!—Luisa e Melissa fizeram um cumprimento jovial em comemoração. –Nada é páreo para nós duas!

—Concordo! Especialmente quando podemos improvisar! –Melissa estalou as juntas dos dedos e acionou a alavanca. Nada aconteceu. –Ué? Eu fiz tudo direitinho... Essa é a ordem certa! O que pode ter dado errado agora?

—Eu acho que sei o que é –jogando na sorte, Luisa agachou-se, apanhando um fio comprido com benjamim na ponta e espetou-o na tomada, de modo que a máquina rangeu, ocasionando em fumaça e ligando instantaneamente o monitor do painel de controles. –YES!

—Que sabidinha –Melissa riu. –Me passa o número da loteria depois...

Luisa revirou os olhos, já com um ar brincalhão mais otimista e virou-se para a maca, onde uma grande redoma vermelha era baixada em tempo real, do teto.

—Vou ver se o Doutor está bem. Continue focada aí nos controles. –chegou até ele. O neném estava quietinho, observando a seqüência de coisas aleatórias acontecer à sua volta. Será que estaria entendendo alguma coisa, ou pelo menos, o propósito de tudo aquilo? Porque Luisa certamente ainda não entendera como aquela máquina poderia sozinha reverter tudo e trazer seu queridíssimo Doutor de volta. Contudo, eles todos iriam descobrir muito em breve. –Ele está bem. Só não estou entendendo essa redoma... Calma lá! Ela vai se fechar ao redor dele... NÃO! Melissa! Rápido! Reverta isso! Ele está preso lá dentro!

Estou tentando! Mas é inútil! Não sei qual botão apertar...

Luisa afastou-se, sentindo a cabeça pesar por um momento.

—Não sei o que fazer. Estou confusa... Estamos ajudando-o ou piorando sua situação, afinal?

—A TARDIS disse algo sobre “a máquina fazer o resto sozinha depois de nós darmos os comandos principais”. –argumentou a loira. –Bem, aparentemente, nós apenas ligamos tudo. Isso deve fazer parte do processo de alguma forma... Melhor não intervir.—averiguou Melissa, opinando sobre a redoma. Contrariada, Luisa acabou cedendo. –Bem, vejamos... O que devo fazer em seguida? Apenas acionar a alavanca e o botão ou tem mais alguma coisa? –ela já tinha a mão estendida para tocar a alavanca, quando Luisa interveio.

—Sim! Tem algo a mais: a TARDIS falou sobre acionar a alavanca na direção extrema oposta à que está no momento. E o mesmo devemos fazer com o botão.

—Certo. Então nós temos a alavanca erguida para cima. O contrário, suponho, seria impulsioná-la para baixo –e o fez, ilustrando sua fala. A máquina estalou de novo, apenas mais fumaça saiu, mas nada de realmente relevante aconteceu. Melissa encarou aquilo como um incentivo e prosseguiu –Vejamos: E o ponteiro do mostrador do botão espiral está totalmente torcido para a direita... Então devemos girá-lo para a esquerda! Assim!—e girou-o. Por fim, entreolhou-se com Luisa. –Só falta apertá-lo. –ela pousou as pontas delicadas dos dedos sob o botão sem fazer pressão alguma sobre ele. –Seja o que Deus quiser então?

Um por todos—Luisa instigou, colocando a mão encima da de Melissa. A loira sorriu largo. –Vamos lá... “O resto a gente sabe” –brincou Luisa, lembrando-se da fala dita pelo Doutor antes deles caírem no colchão d’água, improvavelmente materializado no solo do shopping.

E todos por um!—Melissa completou, e juntas, apertaram o último botão requerido. Em seguida, quase que com a intenção de desencorajá-las, um apito horroroso berrou em seus ouvidos e a máquina pareceu enlouquecer, de modo a produzir muito mais fumaça, ranger muito mais alto e também, promover um ruído, imediatamente avaliado como intragável. -Ai! Que barulho horrível!

Nem me fale—Luisa confirmou, tampando os ouvidos. –Só queria entender o motivo de tanta bagunça...

—Lu! Olha! Está acendendo! –Melissa apontou atônita para a redoma vermelha. De fato, ela estava mesmo brilhando, só que o brilho não era propriamente seu. Estava vindo de dentro para fora...

—Ah! –Luisa exclamou, perplexa. –Méli! Méli! É o Doutor! –chacoalhou o braço da amiga, chocada. –A TARDIS disse que a máquina o traria de volta...

—Espera. Então ela está tipo “des-desregenerando” ele?

Os olhos de Luisa se arregalaram.

Doutor!—ela correu desesperada na direção da luz. Chegando lá, tentou forçar a lateral da redoma para cima. Queria tirá-lo de lá a todo custo. O Doutor já havia sofrido demais para um dia, e certamente fazê-lo passar por todo aquele processo de novo (desta vez de uma forma inversa), parecia só piorar as coisas. –Abre! Abre! Eu preciso tirá-lo daí... ABRE!

Não adianta Luisa—Melissa gritou, do outro lado da sala. –Além do mais, quem pode nos garantir que ele viverá se você o libertar agora. Ele precisa ficar mais forte... Um recém nascido não iria conseguir driblar as conseqüências do processo regenerativo sozinho. Ele precisa da máquina. É sua única chance...

—Mas... –Luisa gemeu, encarando a redoma. –Ele vai morrer se não fizermos nada! Como podemos ter tanta certeza de que viramos os controles na direção certa? Pelo que entendi, em teoria, um dos lados da grande alavanca e do botão espiral serve para desregenerá-lo. O outro deve servir para trazê-lo de volta. Como podemos ter certeza absoluta de que o processo está retrocedendo e não avançando?—ao lançar a pergunta, Luisa bateu o cotovelo acidentalmente num pedaço da redoma, que cuspiu para fora uma tampa e revelou dois mini-botões (um verde e um vermelho), além de uma pequena tela apagada. Isso tudo sem atrapalhar o processo que a máquina se incumbia de executar. –Deus! O que é isso?

—Parece com uma nova seqüência de comandos. Sabe? Igual aos controles remotos lá da Terra... Alguns deles contem “botões escondidos”, debaixo de uma tampa na parte frontal, quase imperceptível. –Melissa sorriu com uma possível lembrança. –Eu mesma só fui tomar conhecimento disso depois de ter deixado-o cair de bico no chão, e da tampa seqüencialmente ter pulado para fora...

Luisa encarou os botões por um momento.

—O que será que isso faz? –e estendeu um dedo na direção do botão verde.

—Luisa! Não... -mas antes mesmo que Melissa pudesse terminar a frase, o botão já havia sido apertado. E, surpreendentemente, a tela pequenininha, embutida junto dos botões, se acendeu, revelando a imagem atual do que estava acontecendo do lado de dentro da redoma. Luisa recuou um passo.

Tim... –suspirou, alarmada. Ele já estava na forma do menino de 8 anos de novo, mas esbanjava uma expressão muito sofrida no rosto. –Tim! Tim! Sou eu! Eu estou aqui! Estou do seu lado! Tim!

Ele não conseguia escutá-la. O barulho da máquina estava muito alto. Luisa sentiu a respiração acelerar. Nervosa, e sem saber o que fazer, deu uma batida na carapaça da redoma.   

—Droga! Preciso me comunicar com ele... Ele precisa de incentivo para conseguir continuar!

Melissa levou a mão ao queixo, pensativa, enquanto caminhava até junto da redoma.

—E se experimentarmos apertar o botão vermelho? –e já foi apertando. O resultado foi o canal de som liberado. Agora ele poderia ouvir Luisa, porém, infelizmente, agora Luisa também poderia ouvi-lo gritar.

—Meu Deus... –Luisa fungou. Era demais para agüentar. –Méli... Ele está sofrendo tanto!

—Então ajude-lo. Você é boa com as palavras. Faça-o enfrentar isso. Você é a única que ele escutará agora...

—Não é verdade –Luisa gemeu, com a voz embargada. –Ele também escutaria você.

Melissa negou com a cabeça.

—Não do jeito que ele te escuta. Vamos ser francas: Você é mais importante pra ele do que eu seria em um milhão de anos. Então vá logo e trate de ajudá-lo! –Melissa guiou-a até o visor da mini-tela, depois afastou-se, sorrindo de leve: incentivando-a. -Ele precisa de você.

Luisa hesitou por um momento, então respirou fundo e começou a conversar com ele através do monitor.

—Tim? Ei... Shhhhh... Calma. Eu estou aqui. –ela sussurrou com uma voz calorosa. -Estou do seu lado, Tim. Não se desespere... Eu vou estar nessa com você.

Ela não imaginava que funcionaria, mas Timoty logo voltou-se para a direção do monitor, observando com inquietude, o interior da tampa que o mantinha fechado lá dentro, e Luisa pôs-se a se perguntar se ele também estaria vendo-a pelo lado de dentro da redoma, ou simplesmente estaria seguindo o som de sua voz.

—Lu-i-sa –ele choramingou lá dentro. Aparentemente, não havia sinal do roupão; ele devia ter escorregado atrás de suas costas. Luisa só conseguia ver a parte superior de seu corpo: e ele estava descoberto. Seus ombros desnudos chacoalhavam fortemente, conforme ele soluçava. –Estou com medo. Meu corpo todo dói... Você prometeu que não haveria mais injeção!

—Tim, fica calmo. –ela praticamente acariciou o monitor. As lágrimas escorreram de seus olhos e rolaram bochecha abaixo. Luisa queria tocá-lo. Queria muito poder pegá-lo no colo, abraçá-lo, dar-lhe um beijo na testa e dizer que ia ficar tudo bem, mas ela não sabia ao certo se tudo acabaria bem. Seria certo fazê-lo acreditar nisso? E se alguma coisa desse errado? E se ele não confiasse mais nela depois disso? Luisa ignorou essas hipóteses derrotistas: queria ajudar Tim acima de tudo. Afinal de contas, o Doutor já não mentira para ela antes? Então, talvez fosse hora de se utilizar das mesmas artimanhas e ver no que ia dar. A garota varreu as lágrimas para longe, limpou a garganta e sorriu, bancando a forte. –Tim... Você precisa me escutar: Vai dar tudo certo. Eu mesma já fiz as contas. Eu sei que deve estar doendo muito, afinal, estão reescrevendo suas células... Mas você precisa resistir. Precisa confiar em mim e resistir a isso. Você é forte Tim! Você consegue! Eu sei que consegue!

—Estou com medo –ele continuou soluçando. –Quero ir pra casa.

Não é a toa que Senhores do Tempo crianças não costumavam regenerar. É preciso ter maturidade para conseguir encarar isso.” –Luisa pensou por um momento.

—Você vai pra casa. Eu mesma vou te levar de volta. –Luisa garantiu. No fundo da sala, Melissa roia uma unha ao observar informações, gráficos, porcentagens e até a própria temperatura do corpo do Doutor estamparem o monitor central da máquina. Ela estava sem reação, mas mantinha, por via das dúvidas, os dedos cruzados.

Ao lado da maca, Luisa continuava consolando o melhor amigo, na forma de uma criança. Até que, repentinamente, o rosto de Tim mudou, e ele virou o adolescente rebelde.

Me tirem daqui!—ele gritava, esmurrando e esperneando do lado de dentro. Sua voz já não era tão infantil, mas mesmo assim, ele chorava deliberadamente. –Por favor! Me tire daqui! Sinto meu corpo arder em chamas!

—Eu sei. Eu sei. –Luisa procurou não ceder. Só Deus sabia o que aconteceria com ele se ela o deixasse sair. –Não posso tirá-lo daí. Sinto muito. Mas acredite... Isso é para o seu bem. Vai ajudá-lo a voltar ao normal...

Ele socou o topo da tampa, urrando. Aquilo fez Luisa estremecer.

—Me deixe sair! Me deixe sair! –sua voz se tornara mais agressiva, mas ainda sim, havia uma pontinha de desespero e medo, facilmente detectável. Ele estava sofrendo. Nada que ela dissesse mudaria esse fato.

—Fica calmo! Estou tentando ajudar... -a voz de Luisa tremeu brevemente. Novas lágrimas quiseram vir, mas ela se segurou. –Por favor... Não revide mais... Vai acabar se machucando e isso só vai piorar as coisas.

—E dá pra ficar pior? –ele perguntou, agora mais manso, com metade da face esmagada contra a maca. Ficou quieto por alguns segundos, observando com um único olho o exato ponto onde o monitor fora instalado, o que deu a Luisa sua resposta: sim, ele podia vê-la. O Doutor experimentou respirar fundo. Sua respiração vacilou algumas vezes, como em um soluço. –Eu estou nu. Por que eu estou nu?

Luisa sentiu as bochechas acenderem. Rezou muito para que, assim como ela só podia vê-lo em preto e branco, o mesmo se aplicasse a ele.

—Você era um bebê ainda há pouco. Só estava usando fralda. Era completamente previsível que ela tenha se tornado pequena para você.

—Estou com frio... –ele piscou os olhos por um instante, abraçando o próprio corpo. –Me fala: quando é que isso vai acabar?

—Logo, eu presumo. –Luisa mentiu. –Só... Tente se acalmar.

—Ah... Dói tanto –ele escondeu o rosto atrás das mãos, provavelmente para esfregar os olhos, mas depois as mãos foram subindo, até agarrarem seus cabelos com força. A expressão em seu rosto novamente era desencorajadora. Sobretudo para Luisa, que o observava sem poder fazer nada. –Está tão frio...

Foi então que Luisa lembrou-se.

—Vista o roupão que eu deixei com você. Ele deve ter caído por aí...

O Doutor ergueu a mão até atrás de si e puxou o tecido, para se cobrir. Depois fitou-a com arrependimento.

—Você deixou isso aqui dentro pra mim? –quando falou desta vez, sua voz soou tímida, embaraçado. De repente, não parecia mais o “adolescente rebelde” que ela conhecera. Havia algo novo em seus olhos, como se um peso enorme tivesse saído de suas costas.

—Deixei. Supus que você precisaria se aquecer. –Luisa assentiu, com um sorrisinho amigável nos lábios.

—Hã... Obrigado. -ele se encolheu, envergonhado. Então era verdade: ela se importava mesmo com ele. Descobrir aquilo fora uma surpresa enorme. Seu eu adolescente ficara meio revoltado durante uma parte da puberdade, justamente porque acreditava que as pessoas não se importavam com ele. Que ninguém estaria do seu lado, quando ele precisasse. Mas, quando Luisa arranjou-lhe o roupão, demonstrando a simples e pura intenção de mantê-lo aquecido... Todo aquele conceito rebelde meio que “derreteu” dentro dele, quase como se existir, já não fizesse mais sentido. Naquele momento, ele enxergou verdadeira bondade nela. Aquilo foi o suficiente para trazê-lo de volta.

—O que foi? –sorriu Luisa, estranhando. Ele estava contemplando-a de um jeito amistoso demais.

—Você foi gentil. –ele sussurrou, corando do outro lado. –Foi legal comigo... Já faz algum tempo que ninguém me trata assim.

—Será mesmo? –Luisa duvidou. –Ou é você que não enxerga gentileza nos outros? -aquilo deixou-o mais embaraçado. Ele desviou os olhos, quieto. Luisa suspirou, depois sorriu para ele. –Ei... Você é legal do jeito que é. Muito legal, na verdade. Por que não experimenta ser você mesmo de novo e deixar de lado essa fama de “rebelde irredutível”? Tenho certeza de que você se sentirá muito melhor...

Ele ergueu a cabeça na direção dela. Sua expressão parecia renovada. 

—Você... Acha mesmo? Mas como pode saber que eu sou mesmo muito mais legal sendo um cara tímido? Você não me conhece tão bem assim... –as sobrancelhas se franziram sob seu cenho. –Ou conhece?

Luisa inclinou a cabeça e tocou o monitor, com carinho.

—Acho que você sabe a resposta. –e sorriu. –Que bom que nos entendemos. Pensei que tudo isso acabaria sem ter me acertado com sua versão adolescente. 

O rapaz sorriu.

Enganei você.

Por um momento, os dois sorriram um para o outro, mas a alegria logo se dissipou quando o próximo rosto deu indicio de que queria chegar, e o garoto tornou a gritar de dor. Luisa cobriu os lábios, detendo uma exclamação. Lá estava ele: O mesmo rosto adolescente, só que agora numa versão mais madura, crescida e adulta.

—Está ficando cada vez mais difícil de prosseguir –ele gemeu. Os cabelos escuros desgrenhados colavam em sua testa, molhada pelo suor. –Não sei se posso continuar...

—Pode sim! –Luisa incentivou. –Você é adulto agora. Tem um porte ainda mais forte do que os anteriores... Não desista. Vai conseguir encarar isso, você vai ver! É só acreditar em si mesmo...

Ele bufou do outro lado, estressado. 

—Tudo bem. Vou tentar. Mas músculos não ajudam muito nesse quesito... –avisou.

—Eu sei. Só precisa manter o controle. Não deixe a dor tomar conta de você. Não permita que ela o consuma. Entendido?

—Entendido. –ele assentiu, convicto. Pouco depois, vieram as primeiras contrações por causa da re-configuração das células. Ele gritou e depois trincou o maxilar, resmungando.

—Fique comigo, Doutor! Resista! Vamos! –Luisa batia na superfície da redoma, chamando-lhe a atenção para não desistir. Por incrível que pareça, aquilo ajudou a mantê-lo focado durante todo o tempo, até que ele deu um último berro e transformou-se no senhorzinho de cabelos brancos: sua primeira regeneração. –Vamos lá! Vamos lá, Doutor! Não desista! Agora falta pouco...

—Eu... Não sei. Eu... Não tenho mais força. Estou cansado. –ele desmontou na maca, de olhos quase fechados: realmente, estava exausto.

—Por favor, Doutor. Não desista agora... –Luisa deixou as lágrimas virem. Sua voz ficou embargada de um momento para o outro. –Eu... Eu amo tanto você. Por favor... Lute! Continue lutando... –ela soluçou, deitando a cabeça sob a lateral da redoma, desconsolada.

Foi então que uma coisa bastante inusitada aconteceu: De repente, uma luz vermelha muito forte reluziu de dentro da redoma, acendendo-a por inteiro, mostrando a sombra do corpo do Doutor, deitado do lado de dentro. Luisa recuou, assustada.

—Mais o que é isso?

—Lu! É a máquina! Acho que a programação sofre algum tipo de mudança daqui pra frente... –disse Melissa, meio intrigada. –Os botões travaram... Todos eles! Não sei, mas... Acho que isso não é bom sinal.

Luisa permaneceu atônita, olhando da maca, para Melissa. Alguma coisa estava prestes a acontecer, e não prometia ser algo positivo.

Foi então que uma voz mecanizada anunciou para todo o ambiente:

“ATENÇÃO. PREPARAÇÃO PARA INICIAR ESTÁGIO DOIS: CONCLUÍDA. INICIALIZAÇÃO DO PROCESSO, LIBERADA. ATIVAR PELO MODO AUTOMÁTICO E... FUNCIONANDO. ESTÁGIO DOIS, JÁ EM FLUXO.”

Estágio Dois? O que é o “estágio dois”? Por que a TARDIS não falou nada sobre ele?—Luisa encarou a amiga, pasma. Melissa retribuiu com um olhar assustado. No segundo seguinte, o Doutor recomeçou a gritar. –Ah, meu Deus!—Luisa correu para junto da redoma vermelha, e deparou-se, horrorizada, com cada rosto do amigo mudando de forma descompassada, de modo que não haveria mais intervalos entre as transformações, para conversas, incentivos ou palavras amigas. Agora, era tudo ou nada. Ou ele sobreviveria sozinho a tudo aquilo, ou então, morreria tentando. Luisa viu o segundo rosto, o terceiro e o quarto se formarem de modo tão ligeiro que chegou a se sentir assombrada. O grito do rapaz ia mudando, conforme a voz de cada um ressonava pelo espaço, avisando que tinham passado por ali. Melissa tampou os ouvidos e desviou o rosto, evitando olhar. Luisa estava em negação. Balançava a cabeça a toda hora, como se não quisesse crer no que estava vendo. E lá estavam o quinto rosto, o sexto, o sétimo e o oitavo. Um a um, os rostos vinham vindo, deixando o Doutor louco com a dor e o descontrole de ser reescrito. Quando chegou ao oitavo rosto, ele agarrou os cabelos com força, e enterrou a cabeça entre os cotovelos, chorando desconsoladamente. Aquilo cortou o coração de Luisa. Ela tocou novamente a tela do mostrador, onde estava a imagem do amigo, e se pôs a chorar também.

—Ah, Doutor... Meu Doutor... –de olhos fechados, a garota encostou a testa contra o mostrador. Seu corpo tremia muito e várias lágrimas lavaram seu rosto, borrando a pouca maquiagem que ela usava. Mesmo perdido em pensamentos, o Doutor foi capaz de reconhecer aqueles soluços. Mansamente, largou os cabelos e ergueu a cabeça, na direção do mostrador. Quando Luisa abriu os olhos e tornou a encarar a imagem, surpreendeu-se ao vê-lo observando-a do outro lado, com seus olhos profundos e intensos. Aqueles segundos em que se mantiveram em silêncio, se contemplando, foram os mais significativos. Não demorou muito, logo ela encostou a palma da mão contra a câmera do visor, como se desejasse tocá-lo a partir dela. De dentro da redoma, o Doutor esticou a mão e fez o mesmo. Luisa mordeu o lábio, com a demonstração de afeto de ambos. Eles estavam se tocando através dos monitores. Estavam interligados, acima de tudo, passando uma mensagem de força, um para o outro. A única coisa entre eles era um pedaço de aço revestido superficialmente com plástico vermelho... Foi durante aquele momento emotivo, que tiveram certeza: nada seria resistente o bastante para conseguir ficar entre eles. Sua amizade queimava mais do que um sol em ebulição... Nada no universo conseguiria mantê-los afastados, se assim eles desejassem.

E desejavam...

E como!

Luisa... –ele balbuciou, com dificuldade.

—Shhh... Está tudo bem. Eu estou aqui com você—ela engoliu uma nova ânsia de choro que vinha chegando. –Você vai ficar bem... Acredite em mim.

Ele apenas sorriu do outro lado. Um sorriso sereno, mas que logo se partiu, quando seu rosto começou a brilhar novamente. Ele apertou os olhos e tornou a gemer, sua mão erguida escorregou monitor abaixo. Lá estava o Doutor da Guerra do Tempo. Ficou poucos segundos naquela forma, então foi passando para o nono rosto: a primeira mistura oficial do conhecido rosto “Três em Um” com quem Luisa e Melissa interagiam diariamente. A regeneração mutante estava se aproximando. A máquina tinha que ser cuidadosa de agora em diante. Não podia permitir que ele passasse do ponto da regeneração atual... Foi então que Luisa congelou, paralisada, pois uma idéia assustadora lhe ocorreu: Será que a máquina sabia o momento certo de parar o processo?

—Arrrr! –o grito mudara de intensidade, trazendo Luisa de volta à realidade: Lá estava o décimo rosto, agora assumindo o posto. Faltava apenas um rosto entre meio para que sua versão atual se estabilizar. Mas, por algum estranho motivo, Luisa não estava se sentindo muito empolgada quanto aquilo... Não que ela não quisesse que seu Doutor voltasse ao normal. Não. De jeito nenhum. Mas é que, á cada mudança consecutiva, parecia pressentir que alguma coisa sairia fora dos planos... Angustiada com aquela sensação, voltou-se para Melissa, com urgência. 

—Méli! Prepare-se para parar a máquina. Ele está quase chegando...

—Ué? Eu pensei que a máquina faria isso sozinha! –Melissa retorquiu, abismada. Luisa pôs as mãos nos quadris.

—O que você acha? “Ela sabe a hora certa de parar? –sondou. Queria ouvir a opinião da amiga. Quem sabe isso a deixasse mais calma...

Mas infelizmente, a única resposta que recebeu foi Melissa encarando-a da mesma forma que ela estava fazendo: quase como se devolvesse a pergunta só com o olhar.

—Por que você acha que ela não saberia? Afinal, a TARDIS não mencionou nada sobre isso. Ela só disse que a máquina faria tudo sozinha após nossos comandos iniciais... E é o que de fato está acontecendo. Não temos nada para nos queixar.

—Sim, só que... –outro grito interrompeu sua fala: o décimo primeiro rosto chegara. Melissa endireitou as costas na cadeira do painel de controles da máquina.

—É isso. O próximo é o nosso Doutor.

—Mas... –Luisa começou, só que o Doutor tornou a gemer e isso desconcentrou-a novamente. –Hã... Espere só um minutinho—avisou à Melissa. Então, suspirando, a garota saiu correndo para checá-lo. –Doutor? Consegue me ouvir?

Por favor, pare a máquina—ele gemeu, quase sem forças. –Por favor. Esse é o rosto certo. O último rosto. O meu “verdadeiro rosto atual”... A versão que você conheceu é um erro. Uma mutação de efeito colateral, que nunca devia sequer ter existido. Entenda: Não posso voltar para ela... Não devo. Por favor... Me ajude.

Luisa refletiu por um momento, pensativa. Até então, nunca tinha visto aquele rosto antes –provavelmente, não estivera ao lado dele para conferir sua aparição da primeira vez, no shopping. O mais intrigante, contudo, talvez fosse o simples fato de alguma coisa nele ser extremamente familiar para ela, enquanto que, ao mesmo tempo, causava-lhe estranheza. Não. Definitivamente, aquele não era o seu Doutor. Sem dúvida, era um dos rostos que compunham o Doutor, mas não o principal. Pelo menos, não para ela.

De fato, ela queria muito mesmo poder ajudá-lo, porém, uma pequena parcela de sua consciência resistia com a possibilidade de não se acostumar a vê-lo diariamente diferente: Luisa estava indecisa.

Em meio a tudo aquilo, pegou-se contemplando os olhos do amigo, através do monitor. Apesar de todo aquele “preto e branco”, era possível notar que eles estavam muito mais claros agora –evidentemente, não havia mais “castanho” na composição, o que, de certo modo, fazia falta. Mesmo assim, a profundidade de seu olhar era tal qual a do Doutor que ela tanto conhecia. A partir disso (em uma pequena fração de segundos), começou a perceber semelhanças entre os dois: Além do intenso olhar, ainda havia a tão habitual “cachoeira de cabelos”, porém, eles estavam ainda mais volumosos agora, sobretudo na franja –onde faziam parte de um topete desmanchado; Contudo, também havia diferenças: As orelhas, por exemplo, eram bem menos salientes. As sobrancelhas, bem, quase não existiam. (Deus! Como ele pretendia erguê-las daquele jeito cômico agora? Teria que alterar aquela mania... “Só se planejasse erguer o queixo, de agora em diante!”);

Seu peito desnudo revelou o mesmo porte de sempre, com que Luisa já estava acostumada, o que a fez supor que, talvez o Doutor “mesclado”, com quem ela tanto convivera, fosse em grande parte, aquele rapaz, deitado na maca.

Num piscar de olhos, o choque cultural passou, e algo mudou para sempre dentro dela. Em parte, a forma particular como encarava o melhor amigo. Luisa finalmente entendeu que, acima de todas as suas preferências, aquela era à vontade do Doutor; E quem seria ela para negar estabilizá-lo naquele rosto?

Agora, mais que convicta de sua decisão, Luisa assentiu para ele.

—Está bem. Como eu paro a máquina?

—Puxe a alavanca amarela. Ela é responsável por encerrar o processo –instruiu ele, com a voz exausta. Parecia querer evitar mexer qualquer músculo do corpo, com medo de sentir mais dor.

—Tudo bem –Luisa enxugou as mãos suadas nas vestes e correu novamente para junto de Melissa. Só que desta vez, acenava histericamente com as mãos erguidas acima da cabeça. –PARE A MÁQUINA! PARE A MÁQUINA!

—O quê? –Melissa endireitou as costas. –Não! Espere! Falta pouco... Só mais um rosto...

—Nada disso! O Doutor me contou toda a verdade. Aquele rosto que nós duas conhecemos, e com quem passamos tanto tempo, não devia existir! Foi um efeito colateral. Um erro. Que precisa ser acertado agora...

—Mas então... Quer dizer que “esse aí” é o verdadeiro ele? –Melissa fez uma careta.

—Não exatamente o “verdadeiro”. Na verdade, meio que não existe esse termo para o Doutor. De certa forma, todos são ele. Só que o décimo primeiro rosto é o “atual correto”, e precisamos estabilizá-lo, antes que mude de novo.

—Entendi –Melissa observou as estatísticas no mostrador, uma última vez. –Certo. Então, como paramos a máquina?

—Aquela alavanca ali –Luisa indicou, e juntas, seguraram-na. –Pronta? Empurre!

Mas a alavanca parecia ter endurecido e oxidado também. Estava rígida como pedra e não cedia nem por suplica.

Não está funcionando!—gemeu Melissa, com os nós dos dedos ficando brancos. Luisa não estava em situação melhor: usava todo o peso de seu corpo para forçá-la a seu favor, só que aquilo não estava adiantando. Mesmo com muita persistência, a única coisa que conseguiram, no final das contas, foi marcar os dedos e ficar inquietas quando a máquina registrou que a próxima regeneração já estava a caminho. Num piscar de olhos, ele já havia mudado. Lá estava o seu Doutor de sempre. O “Três Em Um”. A mutação que unia, de forma criativa, suas três últimas encarnações (9º, 10º e 11º) em um só corpo.  De certa forma, aquilo soou como um alívio para o coração aflito de Luisa. Não haviam conseguido estabilizá-lo, mas pelo menos, daquele ponto ele não passaria. Se tudo aquilo finalmente acabasse, eles poderiam se sentar e discutir uma nova forma de trazer o 11º rosto de volta (de preferência, sem a ajuda da tal máquina maluca). Contudo, as engrenagens rangeram e a máquina não desacelerou; Pelo contrário: continuou a todo vapor.

Aturdida, Luisa tornou a encarar a redoma vermelha e tomou um susto. O material estava acendendo de novo. O amigo estava começando a assumir uma forma desconhecida. O Décimo Segundo; O próximo Doutor... Seu futuro. O homem que ele viria a se tornar, estava antecipando sua chegada, bem ali, na frente delas.

Desesperada ela correu até a redoma, com receio de olhar através do visor, porém, mesmo assim acabou olhando. E a sensação que teve foi ainda mais avassaladora do que esperava.

—Não! Não pode ser você... –ela gelou, recuando assombrada. Já vira aquele rosto antes. Encontrou-o apenas uma vez, e nem houve tempo hábil para que pudessem conversar. Na verdade, só havia visto-o de relance, da janela de seu quarto, um dia antes da formatura... Nunca esqueceria a manchete daquele jornal. O jornal que ele depositara em seu gramado.

Exato: aquele homem estranho era o Doutor. O futuro dele, pelo menos. Isto devia soar tranqüilizador para ela, porque, de um modo geral, significava que ele haveria de ter um futuro, certo? Luisa estava pasma demais para se concentrar nas probabilidades... Como poderia assimilar aquilo? “Quer dizer então que ele viera exclusivamente do futuro, para avisá-la do perigo que ela ainda estaria correndo, no passado? Tudo não passava de um tremendo paradoxo.

Seja como for, o fato era quê, desde que toda aquela confusão com os Slitheen e os Bane se seguiu na formatura, a garota nunca deixara de se perguntar sobre quem havia deixado o aviso para ela; Contudo, agora que descobrira, não conseguia reunir forças suficientes para agradecer. Faltava-lhe o ar; Estava petrificada.

—Mas o quê é que está havendo? –ele perguntou rudemente, depois de encarar a redoma por dentro e perceber quão preso estava. –Quem foi o idiota que me trancou aqui? Exijo uma audiência com o carcereiro deste lugar!

E olhou sisudo para a imagem da tela lateral. Deparou-se com Luisa, acenando gélida, do outro lado.

—Ah, “então temos companhia”! Será que pode fazer o favor de chamar o “cérebro de pudim” que comanda essa nave? Eu gostaria de fazer uma reclamação...

Luisa sentiu um arrepio próximo à espinha. Tinha que dizer a ele.

—Dou-tor? –finalmente balbuciou. –Sou eu. A Luisa.

—Luisa? –ele analisou por um instante, buscando o nome na memória. –Você é o carteiro? Porque se tiver me seqüestrado a mando de uma intimação por eu não ter um teto fixo, então vou processá-lo por falso testemunho!

Luisa sorriu inesperadamente –até para ela mesma.

—Não sou o carteiro. Sou só uma garota que queria muito lhe agradecer. Eu poderia estar morta hoje, se não tivesse recebido o seu jornal. A sua manchete me salvou: “Festa de Formatura é cancelada antes do início da madrugada por investida extraterrena; Colégio Michael Richard Kyle; dia 30 de novembro; às 23 e 45 da noite”. Essas são todas as informações. Sei que vai precisar coletá-las um dia, para poder me enviar o jornal...

Jornal? Mas você disse que não era um carteiro! –protestou o Doutor, confuso.

—E não sou. Mas talvez você, de fato, seja um mensageiro. –ela sorriu para ele. –Só que daqueles amigáveis, e com o desejo de ajudar as pessoas pulsando nas veias.

Improvavelmente, aquele homem grisalho, magricela, de olhos claros, expressões fortes e sobrancelhas grossas impiedosas, assentiu para ela, satisfeito.

—Vou me lembrar disso.

—Que bom. –Luisa assentiu em retorno. Ficaram se contemplando por um momento, até que a voz de Melissa quebrou o silêncio.

—Lu! Vem aqui! Acho que consegui destravar a alavanca amarela! –gritou a loira, ao longe.

De repente, o olhar de Luisa tornou-se ansioso e ela ficou agitada. Rapidamente, lembrou de dizer ao amigo: –Fique calmo, Doutor. E não se preocupe: Eu já vou tirá-lo daí... –já ia dar-lhe as costas, quando ele perguntou:

—Eu te conheço, então. Ao menos, é o que parece.

Luisa voltou-se para ele, taciturna (ou pelo menos, o quanto conseguira ficar).

—Sim. Você sem dúvida me conhece. Mas não esquente muito a cabeça tentando se lembrar... Garanto que no momento certo, tudo virá à tona e fará o devido sentido. Ao menos, eu espero... Para o bem dos alunos do Colégio Michael Richard Kyle!

Ele assentiu, mordendo o lábio, pensativo. Essa foi à deixa para ela se retirar, deixando-o sozinho com seus pensamentos. Sem pestanejar, correu para junto de Melissa, mais uma vez.

—Por que demorou tanto? Eu já ia desligar a máquina sozinha... –reclamou Melissa, num primeiro momento.

—Ora, eu cheguei, não cheguei? –Luisa tratou de posicionar-se novamente. –Certo. Vamos lá... De novo: Um, dois, três! Empurre!

Fizeram até mais força do que da primeira vez: mas valeu a pena. O décimo segundo rosto ameaçou tornar-se décimo terceiro, mas parou no meio do processo e, gradativamente, a luz foi se apagando, deixando-as em uma tensão enorme: qual rosto prevalecera no final? Teria sido o 11º? Ou até mesmo o 12º? Ou qualquer um dos outros? O que a máquina teria aprontado desta vez? A única coisa que sabiam, era que ela finalmente desacelerara os motores e começara a dar sinais de que ia parar. Com um pouco de paciência, o barulho horrível parou de atormentá-las, e a fumaça que restou começou a ser expelida devagar, pelas saídas de pressão.

Ansiosa, Luisa correu na direção da maca, sem olhar para trás. Estava com o rosto todo brilhante de suor e sujo de óleo, mas se desligou completamente daquilo: queria saber se estava tudo bem com o melhor amigo. Por longos segundos, que mais pareceram intermináveis, a garota observou a redoma vermelha em silêncio, com receio de que algo podia ter dado errado. Entretanto, após a máquina esfriar, a tampa desprendeu-se automaticamente da maca e começou a ser erguida lentamente, também liberando fumaça pelo vão que se formava embaixo. Enquanto a redoma vermelha era retirada, a menina permaneceu parada bem ao lado, prendendo a respiração de preocupação. Melissa observava tudo de pé, espichando o pescoço na direção da maca, ainda ao lado da cadeira onde estivera sentada desde o principio do processo. Luisa entreolhou-se com ela algumas vezes. Começou a roer uma unha automaticamente, depois disso. Não conseguia se sentir calma sabendo que havia tanta coisa em jogo.

Só conseguiu respirar fundo quando, finalmente, a tampa já estava longe o bastante, e já era possível ver o corpo do rapaz por inteiro (agora devidamente vestido com o roupão). Os olhos dela ficaram cheios d’água e, exatamente por conta disso, embaçados também, mas mesmo assim, Luisa foi capaz de distinguir perfeitamente o rosto do amigo e sorriu imensamente com a feliz revelação: o Doutor por quem ela tinha tanta estima, carinho e apego, estava de volta. O misturado “Três Em Um”. O seu Doutor. Sim! De alguma forma, a máquina conseguiu retroceder o eco da regeneração futura e retorná-lo ao rosto atual, antes de ser desativada. Este podia até ser “errado”, como o 11º dissera, mas fora ele quem Luisa conhecera em primeiro lugar, e jamais poderia renegá-lo, mesmo se quisesse.

Fazendo uma inevitável careta de dor, ele sentou-se sobre a maca; Seus olhos finalmente encontraram os de Luisa –parecia que não se viam há séculos. Mal cabendo em si, a garota antecipou-se em sua direção, dando alguns passos cautelosos. O rapaz tentou ficar de pé, para recebê-la, mas seus joelhos cederam. Ele teria caído, se a garota não tivesse agido rápido e ajudado-o a se equilibrar.

—Opa! Espera... Peguei você. –ela disse, sorrindo. Quando deu por si, já estava segurando-o pelos braços. –Oi.—disse, esperançosa.

—Olá de novo –ele sorriu em resposta. Luisa abriu ainda mais o sorriso.

—Você está bem? –perguntou, tocando-o delicadamente. –Coitadinho... Está tão pálido.

—Eu vou ficar bem –ele assentiu, amigavelmente. Suas pálpebras estavam meio pesadas, o que por sinal, revelava cansaço, mas ele continuou parado, observando-a incessantemente, com cara de bobo. Luisa porém, não conseguiu se segurar: lágrimas tornaram a tomar conta de seus olhos e, desta vez, ela as deixou escapar, aliviada por saber que estava tudo bem com ele. O rapaz não demorou a ficar com os olhos marejados também. Esfregou a nuca, disfarçando. Os dois ficaram nesse chove não molha por algum tempinho, até que, finalmente, Luisa criou coragem e aproximou-se ainda mais dele, encolhida. Sabendo que seria bem recebida, encostou a cabeça em seu peito. Tomado pela emoção, ele a abraçou, com toda a força que conseguiu arranjar, e ela retribuiu de imediato, desabando em chorar. Ambos ficaram assim por uma eternidade. Ou por alguns minutos talvez. De certa forma, o tempo pareceu desacelerar para eles. Ainda chorando, Luisa enroscou uma das mãos por entre os cabelos dele, enquanto a outra afagava as costas do rapaz. O Doutor permaneceu na mesma posição inicial do abraço. Seu corpo tremia levemente enquanto ele soluçava baixinho, com a cabeça enterrada nos ombros dela. Não dava para esquecer o que acontecera e simplesmente deixar tudo no passado. O rapaz saíra muito afetado de tudo aquilo, e Luisa, por mais que não tivesse passado pelos mesmo guaiús que ele passou, podia afirmar que sofrera junto com ele. Depois de um longo tempo acariciando seus cabelos, a menina tornou a abrir os olhos. Da posição em que estava, era possível ver Melissa esfregando o braço, meio sem jeito, ao observá-los à distância. Sem se desgrudar do amigo, Luisa fez um sinal para ela se aproximar, mas Melissa negou com a cabeça, recuando um passo. Parecia inquieta, para não dizer assustada. Alguma coisa a estava detendo. Rapidamente, a garota da bolsinha foi acertando a postura, de modo a anunciar o fim do abraço. O Doutor compreendeu seu movimento e copiou o gesto.

Separaram-se, ainda não completamente recompostos. Sorriram emotivos, um para o outro, então Luisa desviou o olhar para algo atrás de seus ombros, e acenou, insistentemente. Automaticamente, o Doutor virou-se e deparou com Melissa. Ela imediatamente arregalou os olhos, quase como se não acreditasse no que estava vendo. Também ficou com o corpo rígido, e prendeu a respiração. O Doutor olhou fixo para ela.

Melissa—ele sorriu, feliz em revê-la. –Pensei que não estivesse aqui. Estava tão quietinha aí atrás... –ele dirigiu-se a ela, caminhando, meio vacilante, em sua direção. Aquilo deixou a garota mais alarmada.

—Não! Fique onde está! –ela hesitou, trêmula. –... Não quero que se machuque.

—Machucar? –o Doutor suspirou, com a mão sob as costelas, lançando-lhe um sorriso irônico. –Acredite, não vou ficar pior do que já estive. Pode confiar em mim. –e ameaçou caminhar até ela novamente.

Melissa empertigou-se. Sentiu a dor de algo entalado na garganta, como um segredo: algo que precisava muito mesmo ser revelado; Não dava mais para sufocar, ou então, ela explodiria. Ao tentar ignorar aquela sensação incômoda, começou a esfregar o pulso compulsivamente, num tipo de tique nervoso. Assim que o rapaz insinuou chegar mais perto, ela novamente o barrou, erguendo a mão e negando com a cabeça.

—Não! Fique onde está! Eu já falei pra você ficar longe! Droga, não seja teimoso! –protestou relutante, tentando não transparecer seus sentimentos: fracassando mais e mais a cada palavra e gesto executado. –Será que vou precisar desenhar pra você entender que não quero que você se aproxime!?

—Nossa! Para quê tanta arrogância? –ele interveio, intrigado. –O que eu fiz pra você?

Você! Você... Seu grande...—Melissa deteve-se. Queria insultá-lo. Queria muito mesmo brigar com ele. Seu instinto implorava por uma discussão... Mas pensou melhor, e acabou mudando de idéia. Como conseqüência da não estimulação de seu ego genioso, Melissa começou a ter um tipo de crise de “abstinência”, em que todo o sentimento verdadeiro que ela ocultava por detrás desta mascara turrona, acabou vazando e transparecendo por completo. De um segundo para o outro, sua expressão facial mudou completamente de irredutível, para emotiva. –Seu grande bobo. –terminou, fitando-o com carinho. Desta vez, lágrimas escorreram avidamente por suas bochechas, mas Melissa não se atreveu a limpá-las. Aquela era a primeira reação positiva que tivera em tempos, ao expressar o que realmente sentia, sem um sentimento de culpa assombrando-a. Nunca sentira-se tão bem na vida.

O Doutor sorriu de um jeito fofo. Tornou a caminhar até ela. Luisa levou as mãos unidas aos lábios, em silêncio, respeitando a interação dos dois. Estava cheia de expectativas: um estranho pressentimento lhe dizia que alguma coisa muito boa estava prestes a acontecer.

—Ei! O que aconteceu? Você não me xingou. Eu cheguei até a ficar preocupado... –ele brincou, aproveitando a oportunidade para secar as lágrimas de Melissa com o polegar. A garota não impediu-o. Muito pelo contrário; Aderiu perfeitamente ao gesto de carinho... E fez algo realmente surpreendente: Abriu um sorriso tímido e segurou a mão dele que tocava seu rosto. O Doutor exalou, impressionado. –O que aconteceu com você? 

Melissa piscou por um momento para ele. Nunca fora tão íntegra e sincera em sua presença, quanto naquele instante. Alguma coisa mudara nela, sobre ele. Talvez Melissa tivesse mesmo aprendido alguma coisa com todas as dificuldades que passaram.  

—Ah, cara! Eu só... Eu só quero proteger você... –ela gaguejou, emotiva. –Fiquei preocupada... Tive medo que você pudesse... –desviou os olhos por um instante. Quando voltou a encará-lo, novas lágrimas escorreram por suas bochechas. -... Pudesse nos deixar.

O Doutor riu, definitivamente maravilhado com aquela admissão. Ficou tão contente que a abraçou sem aviso. Melissa hesitou, ficando completamente imóvel enquanto ele a envolvia em seus braços. Luisa levou as mãos à cabeça, abafando uma exclamação. Sentia-se assistindo a um filme intenso, de final imprevisível. Ficara totalmente empolgada com o rumo que as coisas estavam levando, mas não se atreveu a interferir. Queria muito ver onde aquilo ia dar.

Melissa mordeu o lábio. Demorou um pouco a conseguir retomar o controle de seus membros. Assim que conseguiu, contudo, tratou de retribuir o abraço –não com tanto entusiasmo quanto o próprio Doutor. Determinantemente, de uma forma meio contida, (que era uma característica propriamente sua) –certamente, Melissa nunca fora tão animada quanto Luisa. Só em festas, quando podia beber alguma coisa envolvendo álcool, ou quando, de uma forma ou de outra, estava prestes a “cair na gandaia”.

Não se sabe qual dos dois ficou mais impactado com a investida um do outro, mas uma coisa era certa: o Doutor ficou muito contente por saber que Melissa, de fato, se importava com ele; e Melissa, realmente, ficou satisfeita em finalmente admitir; Sentir-se bem ao atormentá-lo, na verdade, não passava de uma ilusão boba. Uma auto-sabotagem, que só serviu mesmo para mantê-la distante do rapaz. Assim que tomou consciência disso, parou de criticá-lo por algum tempo, e surpreendentemente, um peso invisível pareceu abandonar suas costas. Ao menos, isso comprovava que não era preciso muito mais do que um momento significativo para se promover uma grande evolução em si próprio.

Logo, Melissa percebeu que ser legal –ao menos de vez em quando —e pegar mais leve com o rapaz, não era, evidentemente, algo tão absurdo ou mesmo intragável para ela. Na verdade, chegava a ser surpreendente o fato de ambos acharem agradável a companhia um do outro.

Abraçada com o Doutor, Melissa fechou os olhos e mergulhou fundo em si própria, procurando compreender seus sentimentos mais íntimos. Estava tudo bem agora. O Doutor estava bem. Estava vivo, acima de tudo... Contudo, ainda havia algo importunando-a. Demorou um pouco, mas acabou encontrando o fio da meada. Impressionada, acabou descobrindo que o motivo que a deixara atualmente inquieta e receosa quanto ao Doutor, tratava-se simplesmente do choque cultural que tiveram ainda há pouco. Em menos de quinze minutos, o Senhor do Tempo estivera tão perto da morte, e agora estavam ali, quase agindo como se nada tivesse acontecido. Com exceção de um ou outro efeito colateral, tudo aparentava não ter passado de um sonho ruim. E para ela, empurrar com a barriga a assimilação de todas aquelas informações soava como irrelevância, e definitivamente, não havia o que se pudesse ignorar no conjunto da obra.

O fato era quê, a simples menção de perder o amigo mexera muito com ela. Melissa nunca pensou que se importaria de verdade... Só que ela se importava. Sempre fora muito decidida e segura de si, só que agora, naquele instante, diante das atuais circunstancias, e de seus próprios sentimentos entrando em colisão, ela não sabia como reagir. Só conseguia pensar em como o rapaz sofrera por causa das desregenerações. Seus gritos de desespero ainda ecoavam, perturbadores, dentro de sua mente. Tudo aquilo ainda era muito recente para eles. Melissa não entendia exatamente o porquê, mas sempre que olhava para ele, as lembranças atormentadas viam-lhe à tona, projetando-se no rapaz, naquele exato momento atual. Isso fazia com que ele parecesse muito mais frágil e vulnerável aos seus olhos. Por mais inacreditável que fosse, ela estava com receio de tocá-lo. Temia que pudesse machucá-lo de algum modo. Sentia como se ele fosse se desfazer em seus braços...

Por mais que fosse só delírio seu, aquilo a deixara meio instável, o que, pra começo de conversa, abriu caminho para todos esses sentimentos verdadeiros conseguirem se rebelar.

Sim. “A menina irritante” tinha um coração, e naquele momento, ele estava manifestando-se: Falando por ela. Ainda assim, estava meio preocupada em abraçá-lo forte demais, ou até mesmo em tocar algum membro seu machucado, mas... Impulsionada pelo próprio choro, que lhe vinha tão espontâneo, e também, pelo próprio Doutor, que incentivava-a com o abraço, Melissa acabou cedendo, por entre soluços, intensificando seu toque ao redor dele. Foi aí que compreendeu: o rapaz precisava daquele carinho. Daquele toque. Realmente, estava debilitado, como ela mesma imaginara que estaria; E a melhor maneira de passar-lhe conforto e confiança, era justamente na forma de calor. Num abraço caloroso e interminável.

Vem aqui Doutor—ela sorriu, desgrenhando seus cabelos e deitando a cabeça, preguiçosamente, ao lado de seu pescoço. O rapaz fechou os olhos, com os lábios achatados contra o ombro dela. Nunca se sentira tão bem ao lado de Melissa.

—Que coisa... Acho que não devo mais te chamar de “menina irritante”. O apelido meio que perdeu o sentido, de uma hora para a outra. –ele avaliou, pensativo. Melissa deu risada.

—Mais nem pense nisso! Eu adoro esse apelido. Além do mais, nem pense em ir se acostumando comigo sendo “boazinha” a toda hora... “A Menina Irritanteainda é o meu maior lado manifestado!

O Doutor abafou o riso, de modo defeituoso.

—Que gratificante ouvir isso!

Melissa deu-lhe um cutucão brincalhão. Rindo, separaram-se, mas não por completo –ainda tinham um braço nas costas um do outro, como bons amigos –seus olhos encontraram a silhueta de Luisa exatamente ao mesmo tempo e, agitando as mãos livres animadamente, chamaram-na para se juntar a eles. Entusiasmada, a garota abriu um enorme sorriso e correu ao encontro dos dois, ocupando o espaço vago entre eles, ao som de *Viva La Vida –Coldplay. Assim que chegou, foi logo envolvida e aconchegada por seus braços, amigáveis e acolhedores –um novo abraço grupal estava a caminho.

A menina estava radiante, encantada e emocionada com o progresso de seus dois melhores amigos. Desde que começaram a viajar juntos, seu maior desejo sempre fora sentir que os três podiam conviver em perfeita harmonia, se respeitando e sabendo aceitar suas diferenças... E hoje, isso finalmente fora concedido, como em um sonho mágico.  

E foi assim –isolados ali, naquela salinha apertada... Felizes, por novamente estarem juntos; emotivos, ao lembrarem da tremenda barra que tiveram que enfrentar; completamente absortos nos afetos que compartilhavam entre si; –que ambos ficaram em silêncio, só se curtindo.

Nenhum deles disse mais nada...

Nem precisavam.

 


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Notas finais do capítulo

Tcharam!! kkkk

E aí, surpresos com a aparição do Capaldi por essas bandas? kkkk Pois é galera, era mesmo ele (do futuro) que entregou o jornal com a manchete da formatura para a Lulu! O nosso Doutor, sempre protegendo seus amigos :)

E com isso o nosso trio voltou a ser como era antes... Mas as coisas ainda não terminaram.
Dessa vez, a galera tá querendo finalizar ep de Natal NO DIA de Natal kkk, então, atendendo a pedidos, "let's do it, let's do it tonight!!"

Durante a próxima semana eu devo postar o penúltimo capitulo, para depois finalizar dia 24 de dezembro (porque a turma Who aqui AMA uma véspera de Natal!!) e eu tinha que armar essa confusão kkk

Então, aproveitando o clima mágico e açucarado... Vamos todos nos preparando para entrar de cabeça nessa época maravilhosa, cheia de luz e esperança!!

Beijos e até loguinho!!





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