Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 92
Fugas, disfarces e lágrimas


Notas iniciais do capítulo

Oizinho! :3

Ok, não posso dizer muita coisa pois só traria spoilers... Só posso dizer que: COM CERTEZA vocês não esperavam por essa.



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Não se preocupe. Ele virá até nós. Só precisa de algum incentivo...—disse Rani. –Se ao menos os controles não tivessem fundido com o estouro das câmeras de segurança, ainda poderíamos monitorá-los.

Deixe estar—o Mestre fez um gesto leviano com as mãos. –Eu enviei uma mensagem ao Doutor. Ele saberá como nos encontrar. Foi uma gentileza que eu fiz à ele... Agora, é só questão de tempo até que ele perceba que não há outra saída, e que deve vir até mim, para podermos acertar as contas pela última vez! —decretou. -O tempo dele está se esgotando. Eu pressinto. Meus tambores batucam cada vez mais forte... A cada segundo, ele estará mais perto de fracassar!

“Fracassar! Fracassar! Fracassar...”

  “Doze horas é o máximo que o relógio pode marcar. Vamos ver se o homem do tempo é capaz de se salvar. Talvez ele resista, e até consiga a situação contornar... Mas não é pra sempre que conseguirá as horas atrasar”.

   Se quiser me encontrar, vai ter que ser astuto, pois os rostos estão acabando e o seu tempo é curto. Não seja idiota, nem fique na mesma, pois andares, sessões e galerias são marcadas pelo doze com clareza. Se for esperto, saberá o que fazer. Se hesitar, por apenas um momento, só lhe restará morrer.

Ass: M.

M” de Mestre; Mestre; Mestre...

“Meu inimigo jurado...”

“Jurado; Jurado; Jurado...”

“Eu enviei uma mensagem ao Doutor. Ele saberá como nos encontrar.”

“Encontrar; Encontrar; Encontrar...”

“Doutor... Doutor? DOUTOR, ACORDE!”

O Doutor abriu os olhos de relance. Estivera sonhando.

Doutor acorde!—a voz de Luisa preencheu seus ouvidos mais uma vez. Aquilo não fazia parte do sonho.

—Me ajudem, por favor –ele ergueu-se sentado, devagar. Luisa e a TARDIS ajudaram-no na tarefa. Agora ele estava muito mais fraco, cansado e impossibilitado. Tinha a aparência frágil de um velho senhor de idade, com cabelos brancos e marcas de expressão acentuadas, forjadas pelo tempo, espalhadas por todo seu rosto. Ele estava quase irreconhecível. Não sobrara aparentemente nada da fisionomia, carisma ou bom humor, do antigo Doutor que Luisa conhecia. Claro que isso não significava que ele tinha mudado por dentro. Não, isso nunca. Mas de certa forma, ainda que conservasse uma porcentagem amistosa, bastante significante, agora ele parecia dispor muito mais de um caráter ranheta e impaciente. 

Doutor?—Luisa tocou seu ombros, quase paralisada. –É você mesmo?

—Claro que sou eu, garota tola!—resmungou. –Deixe de brincadeira! Vamos Susan... Ajude-me a ficar de pé!

Susan?—Luisa repetiu, pensativa. –Eu já ouvi você dizer esse nome antes...

É claro que já ouviu! É SEU nome!—ele ponderou, como se fosse obvio. –Agora seja uma boa menina e ajude seu avô...

Meu AVÔ!?—a verdade invadiu a mente de Luisa imediatamente. –Ah! É mesmo... Susan era sua neta! Eu me lembro de quando falou sobre ela... Disse que foi exilado de seu planeta por ter salvo a vida dela.

Quem te contou isso?—ele franziu o cenho, mudando a abordagem para fitá-la com estranheza. –Se não é minha neta então quem é você? E onde ela está? Onde Susan está?

—Susan foi embora, lembra-se? –A TARDIS esclareceu, amistosa, tentando apaziguar o clima. –Ela quis tentar uma vida sem as viagens. Eu sinto muito, mas ela não está mais aqui.

Ele pareceu murchar aos pouquinhos.

—Ah. –terminou, desconcertado. –Então Bárbara e Ian devem ter partido também, estou certo?

—Sim. Já faz muito tempo que deixaram o pequeno divertimento para trás. –a TARDIS confirmou, usando um tom compreensivo. –No final, todos têm que seguir em frente com suas vidas... E você sempre acaba sozinho—ela acariciou-lhe o queixo, tristemente. -Meu pobre ladrão... Nossa trajetória foi tão longa, não é mesmo? Fizemos tantas coisas... Passamos por tantos apuros; Mas nós sempre conseguimos dar a volta por cima. Talvez seja por isso que ainda estejamos vivos, não é?

Ele fitou-a com um misto de ternura e confusão.

—Quem... Quem é você?

—A nave mais sortuda do universo, que teve o privilégio de ser pilotada pelo homem mais divertido, maluco e sonhador de todos... –ela sorriu amplamente. –O meu Doutor.

—Você é...? –ele franziu o cenho por um instante, inconformado. –Não, não pode ser... Você é a minha TARDIS? A mesma máquina do tempo que roubei da oficina de Gallifrey?

—Eu discordo dessa versão –ela ponderou. –Fui eu quem te roubei pra mim. –ela sorriu amplamente para ele, e ele fez o mesmo para ela, tocando-lhe a bochecha de leve.

—Mas... Você está toda rosada, e loira... E tem um corpo de verdade! Como... Isso é possível?

—É chocante não é? –ela comentou, mordendo o lábio. –Mas é real. Isso eu garanto a você, meu Doutor. O primeiro rosto que essa velha caixa realmente se empolgou em ter a bordo.  

Ele sorriu imensamente para ela também. Então começou a ter uma crise de tosse que fez o sorriso da TARDIS desaparecer em poucos segundos. Ela voltou-se para Luisa, como se implorasse por ajuda, e disse:

—Vamos tirá-lo daqui! Ele não pode ficar pegando friagem no chão... Isso só piorará o estado critico dele.

—Certo –Luisa inclinou-se para ajudá-la com ele, mas devido à sua velhice contraditória (já que era mais novo do que a sua 11ª versão, de rostinho jovem e mil anos de idade nas costas), ele estava muito mais lento e, com problemas para fazer movimentos que exigiam um certo grau de agilidade. Com dificuldade, colocaram-no de pé. Foi então que Luisa olhou por cima de seu ombro e ficou em êxtase ao ver ao longe, sombras de uma porção de Ratongos se aproximando em uma velocidade assustadora. –TARDIS, Doutor, CORRAM!

Quase que mancando, eles tiveram que apertar muito mais o passo para conseguir desvencilhar-se dos perseguidores, colados em seus calcanhares.

Vão pegá-los! E desta vez não os percam de vista!—ordenou o Mestre, na escuta de Capcioso, o rato que liderava o restante.

—Perfeitamente. Nós o faremos, meu senhor! –assentiu o rato, cerrando os dentes de concentração e gritando para os demais: –Peguem-nos seus molóides! Não podemos falhar novamente! Já estamos em dívida com nosso chefe... Vamos fazer bonito desta vez para ele se orgulhar de nós!

Os outros ratos comemoraram, com o incentivo. O ruído chamou a atenção de Luisa.

Eles estão chegando perto!—gemeu ela, arriscando uma olhadinha suicida para trás.

—Não se preocupe –a TARDIS contestou. –Eu tenho um plano!

Regidos pela TARDIS, eles continuaram desviando, mas só conseguiram mesmo sumir de vista graças a uns manequins espalhados por um corredor, dentro de uma galeria circular. Com astúcia, misturaram-se às peças de chumbo (ao menos parecia ser chumbo) com estaturas variadas (apesar dos preços exorbitantes, lá as roupas tinham que ser diversificadas, feitas em tamanhos variados, já que seriam destinadas a todo o tipo de raça alienígena que visitasse o local). Aqueles manequins malucos com cinco braços, caudas, asas e vários outros atributos, foram quem salvaram suas vidas.

Sem pestanejar, os ratos cruzaram aquele espaço rapidamente, portando lanças e outras ferramentas pontudas, e nem se encabularam com a idéia de terem perdido de vista, momentaneamente, seus fugitivos. 

Ao terem certeza que eles já estavam longe o bastante, o trio respirou fundo e começou a descer dos pedestais, onde estavam os manequins.

—Isso. A barra está limpa.

—Vamos logo sair daqui antes que eles voltem!

Esperem... Por favor—Luisa e a TARDIS já iam recomeçar a correr, quando o Doutor chamou por elas. As duas voltaram-se para ele, às pressas, mas acabaram ficando sem reação ao velo cambalear, ofegante.

Ah, não—a TARDIS correu para socorrê-lo, seguida por Luisa. –De novo não!

—O que foi? O que ele tem? –Luisa prontificou-se, agitada.

—Ele não está muito bem. –explicou a TARDIS. -Não sei exatamente o que é... Cansaço, fadiga; Velhice talvez.

—Velhice? Mas ele está mais novo do que nunca em idade! –protestou Luisa.

A TARDIS fitou-a pacientemente. Como ela conseguia manter o controle diante de um problema desesperador daqueles?

—Estou vendo que você não sabe o verdadeiro motivo dele ter regenerado pela primeira vez. Veja bem: durante sua trajetória, o Doutor regenerou diversas vezes, e por motivos variados; Mas, o que ninguém nunca se lembra, é que no meio desta lista extensa, existe a “regeneração por causas naturais”. Isso significa que, em sua primeira regeneração, o Doutor precisou mudar de corpo porque aquele que ele vinha usando durante toda a vida, já estava muito velho. Entende? Ele precisou regenerar unicamente por velhice.

—Mas, se ele precisar se regenerar por causas naturais, de novo, então não haveria uma pequena possibilidade dele tornar a virar o segundo Doutor? Tipo, recomeçar a contagem novamente...?

A TARDIS ergueu-se do chão, muito séria.

—Sim. Haveria essa possibilidade, mas as conseqüências não seriam nada boas. Quero dizer, imagine se ele recomeçar e terminar a listagem de rostos infinitamente? Duvido que agüentaria o tranco, mesmo sendo um Senhor do Tempo.

Luisa piscou por um instante, receosa.

—Então, o que devemos fazer? Não podemos deixá-lo aqui.

A TARDIS coçou o queixo.

—Não vamos deixá-lo. Precisamos por em prática o plano “M”.

—M? –Luisa franziu o nariz.

“M” de Maca—a TARDIS esclareceu, apontando para uma base comprida com rodinhas embaixo. Na verdade, não era bem uma maca, mas funcionava como uma, e isso já bastava para elas. Correram e apanharam-na, certificando-se de que ninguém reclamaria por ela. Depois fizeram o Doutor deitar-se sob ela, e empurraram-na pela direção oposta à que os ratos percorreram.

Rapidamente, ativaram uma plataforma gravitacional (que estava funcionando agora, graças ao retorno da energia) e voltaram ao andar onde tudo aquilo havia começado, procurando desesperadamente por uma loja com provadores de roupa: precisavam fazê-lo se livrar daqueles farrapos imundos que ainda cobriam seu corpo; pelo menos assim, quem sabe, seus inimigos demorassem mais para reconhecê-lo no meio da multidão.

Aqui, venha comigo Doutor—Luisa acompanhou-o até dentro de um provador. (Passaram despercebidos, para que nenhuma atendente implicasse com eles). –Sabe? É irônico nós termos apanhado duas sacolas de roupas usadas, e você só estar trocando as vestes agora... –ela comentou, ajudando-o com a camisa. –Opa! –Luisa mordeu uma unha, ao rasgar sem querer o tecido que revestia o cotovelo do amigo. –Desculpe.

—Não tem problema –ele interveio, sério. –Essa roupa vai pra reciclagem.

Nem sei se serve pra isso—Luisa contrapôs, sorrindo de canto de lábios ao apontar para o estado deplorável das vestes. O Doutor sorriu um pouco para ela, depois depositou sua mão no ombro da garota.

—Você é uma boa menina. Refresque minha memória: Você viaja comigo atualmente ou só passou essa impressão por mero acaso?

Luisa alegrou-se com aquele comentário.

—Sim, nós somos companheiros de viagem –ela confirmou. –Mas não se preocupe em ficar semi-nu na minha frente. Eu garanto que temos intimidade suficiente para isso...

—Imagino que tenhamos. –foi à primeira vez que ela viu aquele rosto sorrindo largo de verdade.

—Certo. Então me espere aqui só um segundo... Eu vou ver se arranjo uma tesoura pra cortar esses farrapos fora. Confie em mim, vai ser mais fácil para remover a camisa... –Luisa se ausentou por um instante, em busca da bolsinha rosa que deixara no guarda volumes. Entretanto, de um segundo feliz para o outro, a alegria simultânea transformou-se em inquietude, quando o Doutor sentiu um aperto esquisito no peito, e depois sentiu-se sufocar de repente, esbarrando as costas na parede atrás de si, derrubando um espelho largo no chão e trincando a moldura. Alertada pelo barulho, Luisa pegou a bolsinha e voltou correndo ao provador, entrando imediatamente em desespero ao encontrar o amigo estirado no chão. –DOUTOR! Meu Deus... Doutor, fale comigo! Não! Não durma agora... Por favor. Resista! Vamos! Seja forte... Não me deixe... Por favor, não me deixe!—gesticulou, ofegante, amparando-o.

O Doutor soltou um último suspiro e fechou de vez os olhos. Luisa prendeu a respiração. Então era isso? Era assim que tudo terminava? Não. Não podia ser... Em meio ao desespero, muitas coisas passaram por sua cabeça, inclusive a TARDIS. O que ela iria fazer depois que soubesse da notícia? Ficaria despedaçada, com certeza. O Doutor era parte de seu circuito... Sem ele, ela ficaria literalmente incompleta e sem rumo.  

Chorando em silêncio, Luisa sentou-se ao lado do Senhor do Tempo, e cobriu a boca com as mãos, em choque.

Não... Por favor, não...—ela acariciou seus cabelos brancos, com os olhos cheios d’água. -Isso não pode estar acontecendo. Não pode acabar assim... Nós íamos comemorar o Natal juntos! Você não pode me fazer uma desfeita dessas logo hoje... —sorriu afetada, comportando-se momentaneamente como se o amigo ainda estivesse vivo. Ficou parada, aparentemente esperando uma resposta, mas como não a obteve, levou a mão à cabeça, desamparada com o choque cultural. –Por favor... Por favor, volte. Abra os olhos, Doutor... Por favor... –segurou-lhe o rosto com as duas mãos. -Ei? Não vamos desistir de tudo sem lutar, não é? Você nunca resolve as coisas deste modo... É comum e tedioso demais pra você. –ela riu e chorou ao mesmo tempo. -Vamos Doutor. Não me deixe aqui falando sozinha... Dê um sinal de vida pelo menos... Só unzinho. –e, como ele não reagia, ela desabou a chorar, prensando sua testa contra a dele e deixando suas lágrimas escorrerem por seu rosto também, dividindo com ele a dor que estava sentindo. Depois abraçou-o, inconformada. Sentiu o volume de alguma coisa dentro do bolso da camisa esfarrapada dele. Triste, ela puxou o que quer que fosse, e deparou-se com a chave sônica, envolta por um pedaço de papel gasto. Doeu ainda mais contemplar o objeto naquele momento. Em geral, a chave sônica fazia-a se recordar dos momentos de ação, em que o Doutor estava ativo e sendo genial e criativo como sempre. Arrasada, guardou o objeto consigo, com um aperto no peito, pensando em como ele não precisaria mais dela.

Não queria aceitar sua morte. Não queria aceitar que nunca mais o veria tagarelando, rindo e abraçando-a... Por Deus, ela não queria!

Desconsolável, inclinou-se para beijar sua testa. Seu coração disparou. Não havia volta. Aquele era o momento de dizer adeus, mas se assim fosse, ela tentaria prolongá-lo o máximo possível. Não queria ficar longe do Doutor. Morto ou não, tudo o que ela sentia por ele estava entrando em ebulição dentro de seu corpo, para depois sair e se desmanchar na forma de lágrimas. Ela o amava demais, e em nome dele, teria que ser forte naquele momento difícil.

Entretanto, quando ergueu a cabeça novamente para contemplá-lo uma última vez, levou um susto, ao perceber que um rosto diferente jazia embaixo de si, desacordado.

Perplexa, afastou-se dele igual diabo foge da cruz.

Aaaaaaaah! —gritou, assustada.

Aaaaaaaah!—ele gritou também, acordando de sobressalto, igualmente surpreso. O movimento fez com que os restos da camisa vaporizassem por completo num fleche de luz regenerativa. Por fim, a luz encerrou-se e ele se sentou, ofegante. –Onde estou? O-o que houve comigo? Por que estou deitado no chão, sem camisa—e passou a mão pelo rosto. –E porque raios estou molhado?

O peito de Luisa subia e descia descontroladamente.

—É porque eu estive chorando... –explicou, com a voz fraca.

Chorando?—ele baixou a guarda, e fitou-a com interesse: –E por que você estava chorando?

Luisa suspirou, tentando acalmar seu coração.

Doutor... É você mesmo?—perguntou; uma mistura de incredulidade e esperança na voz. –Porque se isso for um sonho, eu juro que não quero acordar—fungou, por fim, com os olhos meramente inchados.

O rapaz observou-a demoradamente. Incentivada por ele, Luisa fez o mesmo. Agora que o observava com mais atenção, percebera uma leve semelhança entre ele e o primeiro Doutor. Talvez fossem os lábios finos ou a cor dos olhos; Não, não podia ser algo tão banal. Talvez fosse uma bobeira qualquer da cabeça dela, pois também havia visíveis diferenças, como por exemplo, o porte mais alto e enxuto, bíceps e músculos, o sumiço de rugas e marcas de expressão, furinho no queixo e também, o cabelo... Ele estava escuro como uma jabuticaba. Em geral, aparentava ter uns 40 anos, no máximo (apesar de que, uma idade equivalente à “40 anos terrestres”, simbolizasse algo próximo à escala dos 250 anos, para um Senhor do Tempo). “Diferente, talvez fosse a palavra chave.    

—Quem é você? –Luisa recomeçou, sentindo um tremor tomar conta de si. Será que aquilo era algum tipo de armadilha? Estaria ela a mercê do Mestre e sua comparsa, Rani? –O que fez com o corpo do meu amigo?

—O corpo... Do seu amigo?—ele pareceu ficar confuso. E olhou para si mesmo, intrigado. –Mas esse é meu corpo. Não há outro corpo aqui além do meu. E do seu, é claro.

—Mas... Se for isso mesmo, então isso significa que você é o meu amigo. E, sendo assim, a teoria da TARDIS estava errada... Você não morreu, após ultrapassar o último rosto –ela engatinhou até ele, tomada agora por uma curiosidade súbita, que era tão a sua cara. O rapaz recuou um pouco, intimidado com a proximidade inesperada dela. Luisa percebeu seu receio e adiantou-se: -Não tenha medo. Eu não vou machucar você.

—Certo. –ele assentiu de imediato, ainda em alerta. –Então... Você mora aqui?

Luisa sorriu.

—Não. Isso é um provador de roupas –ela disse com ar de riso. –Ninguém vive num lugar minúsculo como esse.

Ele sorriu torto.

Você não é de Gallifrey  –constatou. –Meu povo sabe como viver excelentemente em lugares apertados...

—Imagino que sim. –ela riu, menos tensa. –Olha... Será que eu posso me aproximar de você?  É que preciso acabar de ajudá-lo a se vestir... Acredite, eu sei que está tudo muito confuso, principalmente agora, mas nós precisamos mesmo agilizar –ela disse, resoluta. O Doutor, (se é que ainda era mesmo o Doutor) pareceu meio inseguro quanto a isso, e ela emendou, para tranqüilizá-lo: -Olha... Eu juro que não vou tocá-lo.—Luisa fez um sinal de promessa contra o peito. –Ainda mais agora que você vaporizou os restos da camisa... Nem vamos mais precisar da tesoura. –acrescentou, conclusiva. O rapaz analisou a proposta argumentativa e, depois de pensar um pouco, consentiu que ela se aproximasse.

Ah! Obrigada—ela suspirou, aliviadíssima. –Bom, vejamos... –a garota puxou as sacolas para junto de si e começou a revirá-las, entretida. O Doutor varria os olhos sob a tarefa constante dela. –Que tal essa daqui... –Luisa ameaçou tirar alguma coisa de dentro da sacola e o Doutor imediatamente imobilizou sua mão, enquanto utilizava-se da outra apontando a chave sônica ameaçadoramente na direção da menina.

Nánáná! Não faça... Não.—ele arquejou, inquieto, atrapalhado com as mãos, fitando constantemente a sacola e a mão da menina submersa nesta. Luisa revirou os olhos.

—“Cuidado nobre senhor, ou poderá se ferir gravemente com essa perigosíssima, camisa velha.” –ironizou, puxando o tecido para fora, fazendo cara de nada. O Doutor fez uma careta, recuando e guardando a chave sônica, embaraçado. Luisa balançou a cabeça, descrente. –Sério mesmo que você pensou que eu ia apunhalá-lo com alguma coisa? Que raios, Doutor! Você pode não se lembrar, mas nós somos amigos! –chiou, ofendida. –Poxa! E pensar que eu até fiz uma jura...

O Doutor encolheu os ombros.

—Foi mal.

Luisa respirou fundo. Não podia deixar um inconveniente desses fazê-la perder a cabeça. No momento, ela tinha prioridades maiores do que se aborrecer à toa.

—Certo. Vamos tentar de novo... –recomeçou. –Que tal essa daqui? –e colocou a camisa por cima do peito dele, só para ter uma idéia geral. –Ah! Credo! Não. Não. Não.  

Quanto negativismo—ele brincou. Luisa sorriu com o jeito dele. –Qual o motivo de amplificar tanto uma negativa?

—É que você é magro, e olha só o estado dessas mangas: parecem asas!—ela mordeu o lábio, indecisa. - Hãm... Acho que vamos precisar de um número menor. Que coisa... Por que não peguei nada menor?

MENOR AINDA!? Pela Lua Minguante, desse jeito eu vou SUMIR!—ele exclamou, exageradamente, o que foi o bastante para fazer Luisa quase ter uma taque de riso.  

—Hum-hum –ela se recompôs, e tornou a analisá-lo com outra peça de roupa. -Hamm... Tsc, tsc... Não. Muito distinto. Nós precisamos de algo mais... Conveniente. Mais discreto, sabe? Algo como... Ah! Isso aqui é legal!—ela animou-se, aproximando dele outra peça. Logo, o Doutor mais parecia uma bonequinha de vestir. Luisa não parava de cobri-lo de roupas diversificadas, e o clima variou rapidamente de crítico, para extrovertido em poucos segundos.

Ou!—protestou o Senhor do Tempo, quando Luisa se aproveitou de uma brecha, em que ele estava sem camisa novamente, para lhe fazer cócegas. –E quanto ao tal do juramento?

—“Se o Doutor mente, meu querido, eu também posso usufruir das mesmas artimanhas!” –ela interveio, fingindo aborrecimento, mas ao mesmo tempo, revelando-se brincalhona.

O Doutor bufou, com ar de riso.

Mas eu sou o Doutor.

Luisa aproximou ainda mais seu rosto do dele.

Então seja o Doutor e me deixe trabalhar—provocou, divertida. O rapaz sorriu, fingindo tirar um cisco do olho, e com isso, Luisa deixou-o em paz por algum tempo, tornando a concentrar-se somente nas vestes.

Decidiu?—especulou ele, depois de uns dez minutos de foco completo.

—Não! É quase impossível decidir... Hã! Ao menos que você deseje usar um suéter com estampa de ursinho, tudo aqui é muito chamativo! –concluiu, desesperançosa.

—Suéter? –ele esticou o pescoço. –É esse aqui? –disse, vestindo-o logo após ela confirmar. –Sabe... Eu gosto de suéter.

Sério?—Luisa ergueu uma sobrancelha, achando graça. –Você gostou mesmo deste aí? Mesmo com o ursinho!?

—É! –ele riu, olhando-se no que sobrou do espelho. -Parece besteira, mas até que é bem a minha cara...

Luisa riu e abraçou-o por trás, contemplando o reflexo dos dois juntos no espelho.

—Você não muda mesmo –ela brincou, dando-lhe um beijo na bochecha. –Obrigado por não ter me deixado quando eu pensei que estava tudo perdido...

—Eu? Deixar você? Hã! Mais que idéia... –ele riu, fazendo-a rir também. –Seja lá quem você for, é muito amável comigo. E você deve saber que eu não dispenso atenção.

Por mais incrível que pareça, Luisa não se chateou ao ouvi-lo dizer que não a conhecia. Em geral, ficaria sim, meio incomodada... Mas depois de tudo o que passaram nos últimos instantes... Todo o medo que ela sentiu com a possibilidade de perdê-lo para sempre; Todo o desespero, toda a angustia e a incapacidade de poder ajudá-lo mexeram muito com ela.

Sim, decididamente não considerava “divertido” a pratica de ser confundida com outras companheiras. Deste modo, é óbvio que simpatizaria menos ainda com a idéia de ser completamente esquecida por ele. Mas, a urgência em tudo aquilo a fez abrir os olhos, para somente enxergar o que de certo importava: o Doutor continuar vivo, e permanecer bem ali, ao seu lado.

Aquilo fazia toda a diferença.

Independente do rosto que estivesse usando, do estilo, altura ou a idade que tivesse... Só dele estar ali, falando, sorrindo e respirando... Aquilo já era um verdadeiro milagre. E Luisa estava acostumada a pensar que milagres não aconteciam duas vezes, assim como os raios não caem sete vezes no mesmo lugar...

—Vocês aí, estão prontos? –sondou a TARDIS, do lado de fora do provador. –Já estão aí a mais de vinte minutos... Se continuarem assim, vão estourar o limite de tempo estimado para ocupação de provadores!

—O quê? Quem está chamando? –o Doutor perguntou. Para não ter que explicar tudo de novo pela centésima vez, Luisa resumiu.

—É só outra amiga nossa que você provavelmente esqueceu. Mas, Anime-se! Seu cérebro vai estar com muito mais espaço livre para armazenagem, do que você já vem tendo em muitos séculos! Então, vá pensando em quais coisas poderiam ocupar esse espaço extra, enquanto eu vou dar uma palavrinha com a minha colega lá fora, tá bom?—ela sorriu, disfarçando.

—Está sim. –ele sorriu comportado, acenando para ela. Luisa nem deu-lhe as costas direito, já começou a mastigar uma unha, nervosa.

—Ó céus!

Mal pôs o rosto para fora do provador, já deu de cara com a TARDIS, toda alegrinha.

—Ah! Olá! –ela sorriu de imediato. –Como vão as coisas? Estão indo bem lá dentro?

Ah...—foi a melhor coisa que Luisa conseguiu dizer, sem contar que não sabia o que fazer com as mãos, então ergueu-as e abaixou-as diversas vezes, pouco à vontade.

Hã?—a outra enrijeceu um pouco a expressão, desconfiada. –Ai, ai, ai... Não estou gostando nada do rumo que isso vai levando! Vai, desembucha: O que foi que saiu errado desta vez?

—Errado? –Luisa não esperava por aquilo. Concentrara-se de tal forma na regeneração improvável do Doutor, que já até esquecera do verdadeiro motivo de estar dentro de um provador por tanto tempo. –Ah! Você se refere às roupas? Não, não... Deu tudo certo. Ele está agora mesmo vestindo as calças. Foi o que deixamos por último... Acho eu. –disse, meio atrapalhada. –Enfim, de qualquer forma, não há com o que se preocupar... Exceto...

Exceto...?—a TARDIS instigou, ainda mais desconfiada.

Luisa mordeu o dedo.

Exceto que ele regenerou de novo.—soltou de uma vez. -Desculpe! Mil perdões, não consegui evitar...

Do contrário do que esperava, a TARDIS não deu-lhe uma bronca, tão pouco chamou-a de irresponsável ou criticou-a. Contraditoriamente, ela ficou boquiaberta e deu pulinhos de empolgação.

—SANTO COSMOS! –comemorou, aparentemente. –ENTÃO ELE NÃO MORREU? É ISSO QUE VOCÊ ESTÁ ME DIZENDO? O DOUTOR SOBREVIVEU AO FIM DA CONTAGEM REGENERATIVA!? ELE ESTÁ VIVO!!!

—Sim, sim, ele está! Mas tenha calma... –e lá estava Luisa agora em outra situação inesperada: tendo que contê-la ao invés de consolá-la. –Olha. Ele está bem, mas não se lembra de nós. Não se lembra de você, muito menos de mim. Portanto, ao invés de recomeçarmos a tentar explicar nosso papel em sua vida, talvez seja melhor só demonstrarmos ser gente de confiança e mais nada. Confie em mim, será melhor para poupá-lo de mais esforço físico e mental...

—Sim. Claro. De acordo –ela disse, tentado se conter, mas não conseguiu, de modo que recomeçou a sorrir com as mãos na frente dos lábios, quase histérica. –Mas ele sobreviveu ao final das regenerações. Como isso é possível? –indagou, com os olhos maravilhados. –Quero dizer, eu sabia que ele era esperto, mas também nem tanto! Como pôde enganar o próprio DNA? –e aproximou-se de Luisa, para sussurrar-lhe: -Não há regenerações anteriores. Eu tenho certeza. O rosto mais velho é o primeiro. Mas, se ele voltou mais ainda em sua linha do tempo, então quer dizer que não está mais seguindo a escala regenerativa... –foi aí que ela recomeçou a mudar a expressão de volta para tensa. –Não... Isso não pode estar certo. Se ele passou da escala regenerativa, então quer dizer... Oh, não!—gemeu.

Luisa ficou séria, de repente.

—O que foi? Qual o problema agora TARDIS, hein? Me fale! –insistiu, preocupada. –Por favor... Seja sensata: O perigo já passou. Ei... Por que continua com essa cara amedrontada? –e segurou-a pelos ombros, com delicadeza. -Escute: o Doutor está bem. Acredite. Só continua com aqueles tais lapsos de memória que você mencionou, mas fora isso ele está ótimo... Verdade! Palavra de... O quê? TARDIS! Ei... Por que você está chorando?

Porque eu sei o que vem a seguir—ela fungou, inconsolável.

—Como assim? Do que você está falando?

Eu me enganei —ela baixou a cabeça, com vergonha de si. –Assisti a ele arriscar a vida diversas vezes e não percebi o obvio—disse, com a voz embargada. Luisa continuou parada, ouvindo-a. A TARDIS recompôs-se mais ou menos, e prosseguiu, abalada: -Durante esse tempo todo, eu pensei que só se tratasse do ciclo regenerativo refazendo sua trajetória. Estive receosa quanto a ele chegar ao primeiro rosto porque sabia que o resultado só se consolidaria ao passar por uma das duas prováveis opções: Ou o processo regenerativo pararia de uma vez por todas e ele se veria livre dessa tortura; o que considerei um resultado relativamente neutro. Ou então, ele morreria. O que seria muito mais radical e também faria muito mais sentido ao nos lembrarmos do objetivo principal do Mestre e Rani, que consistia unicamente em destruir o Doutor. –a TARDIS fez uma pausa, olhando bem fundo nos olhos de Luisa. Sua doçura agora dissolvia-se em uma urgência recém chegada. Algo realmente intenso e preocupante que deixou Luisa significativamente aflita.

Não... Você está exagerando!—Luisa recuou, com a mão no peito, respirando acelerado. –TARDIS! O Doutor sobreviveu! Ele está bem. Está vivo, agindo daquele jeitinho dele... Você sabe: tagarelando como sempre... Ei! Pare! Não me olhe assim... Até aprece que você preferiria que tivesse acontecido o contrário.

A TARDIS fitou-a fixamente, tentando não transparecer o nó que se formava em sua garganta.

—Até onde sei, teria sido melhor mesmo—anunciou, deixando Luisa passada. –Que o universo me perdoe por eu dizer uma coisa dessas... Mas é verdade. Digo isso porque eu o estimo demais, e odiaria vê-lo sofrer ainda mais...

—Mas eu não entendi... O quê de pior ainda está por vir?—Luisa indagou, exaltada.

A TARDIS não agüentou manter as aparências por muito mais tempo, “bancando a fortalecida”, e disparou a dizer tudo o que sabia:

—Escute: O Doutor não está só se desregenerando. Ele está retrocedendo completamente. Não somente os aparentemente intermináveis anos de exílio e viagem no tempo, mas também todo o resto de sua linha de tempo. Entende? Não sei como fazê-lo parar agora. Não há nada que o impeça de continuar... O rosto número um ainda era minha esperança, mas agora que ele atravessou a “divisa” que separava sua vida pós-Gallifrey, à anterior... Só o universo sabe onde essa loucura vai terminar.

Em meio às palavras da outra, Luisa também começou a sentir-se um pouquinho desamparada.

—Mas... Isso quer dizer que ele vai continuar assim, nesse retrocesso maluco infinitamente?

Não infinitamente—a TARDIS alegou. –De acordo com meus cálculos, o Doutor irá retroceder até chegar no ponto em que tudo teve inicio em sua vida... Basicamente, quando Ele começou.

—TARDIS, não brinque comigo... Isso é muito sério.—Luisa não tinha absoluta certeza, mas não estava gostando do rumo que tudo vinha levando. –Se for mesmo verdade, então isso significa que o Doutor...

GAROTA! GAROTA DE FRANJAAA! VOLTE AQUI! EU JÁ TERMINEI O EXERCÍCIO!

Luisa e a TARDIS recompuseram-se instantaneamente. A voz do Doutor pareceu trazê-las de volta de um transe dramático e interminável. De certa forma, também serviu de consolo para ambas.

—Vamos! –Luisa puxou a outra para dentro do provador de roupas. Tentaram deixar seus pensamentos agitados para trás, e foi o que de fato aconteceu, quando depararam-se com um Doutor sorridente esperando-as.

—Olá! Eu terminei o exercício –ele disse, empolgado. –Quer ver: Suéteres, suco de pêra, ursinhos de pelúcia, garotas de franja...

—O que está fazendo? –Luisa perguntou, sem perder o ar de riso.

—O que você me disse –ele sorriu amavelmente. –Lembra? Nós conversamos e você me instruiu a tentar ocupar o espaço extra que meu cérebro ganhou... E foi o que eu fiz! –terminou, orgulhoso de seu trabalho.

Com a testa franzida, a loira voltou-se disfarçadamente para Luisa.

—O quê? Do que ele está falando? –a TARDIS perguntou, intrigada.

Nada... Eu explico mais tarde. –Luisa desconversou. –Então, já terminou de se aprontar?

—Sim Senhorita! –ele deu um salto, ficando em pé. –O que acha? Fiquei bonito?

Luisa inclinou a cabeça, pensativa, mas foi a TARDIS quem respondeu:

—Ficou fofinho com esse suéter. Eu particularmente adorei!

—É mesmo? Você gostou? –inesperadamente, ele pareceu super interessado nela. Os dois riram um para o outro e Luisa sentiu-se no lugar de vela.

—Tá certo, né? Bora continuar, ou pretendemos alugar o provador de roupas pra passarmos a noite?

A TARDIS riu.

—Não, tem razão. Vamos indo embora... –e ajudou-a a apanhar as sacolas. O Doutor fitou-as por um momento, confuso. Esperou-as levantarem e saírem do provador, deixando-o sozinho novamente.

Meio minuto depois, Luisa reapareceu do outro lado.

—Você vem com a gente?

O Doutor abriu um sorriso.

Estava esperando um convite—e caminhou radiante, atrás delas.

—Tome. Coloque isso. –o rapaz mal alcançou-as, Luisa já prontificou-se em colocar um boné em sua cabeça. –Vamos melhorar o seu disfarce...

—Sim! Ótima idéia –a TARDIS aprovou. –Ficou muito mais discreto agora... –ela tirou uma poeirinha do suéter dele, delicada, e o Doutor observou seu gesto atentamente.

Iam recomeçaram a andar, porém, como os dois não se moveram, Luisa deu meia volta e perguntou:

—Tudo bem com vocês?

—Sim. –ele respondeu. –É só que, você não me apresentou à sua amiga... Qual o seu nome?—ele perguntou à TARDIS, que corou um pouquinho.

—TARD... Uh! –sua fala foi cortada por Luisa, que tapou a boca da outra subitamente. Depois deu uma risadinha para o Doutor, tentando demonstrar que estava tudo bem, e então largou a TARDIS, emendando:

O nome dela é Tarsila. E eu, me chamo Luisa. Somos suas amigas de confiança. Pode confiar em nós pro que der e vier —ela riu forçado, copiada igualmente pela TARDIS.

—Ah! Que bom. Ótimo, na verdade. E eu sou o Doutor. Só Doutor, a propósito. –e apertou a mão das duas, sorridente. –Prazer em conhecê-las! –terminou, prosseguindo com a caminhada e deixando-as para trás, de queixo caído.

Ficaram em silêncio por alguns segundos, até terem certeza que ele havia se afastado o bastante (ocupando-se em analisar uma pilha de meias coloridas, com os pares misturados sob um balcão) para não ouvi-las cochichar:

—Sério, quando você disse que ele não se lembrava de nós... Eu não interpretei dessa forma. –estranhou a TARDIS.

—Pois é. Talvez agora comesse a prestar mais atenção no que eu digo. –Luisa contornou, também saindo andando. –Ah. E cuidado com a questão do nome! Você quase disse a palavra com “T”. Se ele souber o seu verdadeiro nome, vamos ter que começar a explicar tudo de novo e, cá entre nós, nós já perdemos muito tempo nessa prosa...

—Certo. –A TARDIS assentiu. –Não vou esquecer. Se ele perguntar, de agora em diante me chamo “Tarsila”.

—Ótimo. –Luisa disse satisfeita. –Agora vamos, antes que ele comece a nos apressar... 

 Saíram da loja. Caminharam à paisana, por mais algum tempo. Tinham sim, uma boa chance de escaparem ilesos, e justamente a carta na manga seria o rosto atual do Doutor: ninguém suspeitaria que aquele homem era o Senhor do Tempo. Nem mesmo o Mestre, que até onde Luisa sabia, não tinha como suspeitar do novo rosto do Doutor. Porém, ela não tinha conhecimento de que a rivalidade dos dois vinha desde os tempos de Gallifrey, e que os dois se conheciam desde crianças. Sendo assim, seria consideravelmente mais complicado escondê-lo. Mas, de uma forma ou de outra, eles ainda tinham uma chance: o Mestre não tinha mais acesso às câmeras de segurança, graças à ação rápida da TARDIS, portanto, mesmo que pudesse reconhecê-lo, ele não fazia a menor idéia de onde eles estavam. Mesmo assim, não estavam totalmente fora de perigo: é obvio que também havia os Ratongos bancando as sentinelas. Entretanto, havia a colocação de que eles eram meio bobocas, e independente do tamanho de seu Q.I, seria quase psicótico imaginar que aquelas criaturas carregariam consigo uma ficha completa constando todas as fotos de cada fase do Senhor do Tempo. Pelo menos, o trio contava com esse impasse. Se esse fosse realmente o caso, ainda haveria uma grande chance de conseguirem passar despercebidos por entre os outros. Se não fosse o caso, eles teriam que improvisar.

Caminhavam tranqüilamente quando a TARDIS olhou por cima dos ombros e enrijeceu o corpo de imediato, ao voltar a olhar pra frente.

Apertem o passo —disse, com a cabeça entre os ombros. –Vamos! Subam as golas das roupas... Acho que vi um Ratongo se aproximando.

De novo? Como nos reconheceram!?—Luisa exclamou, indignada.

—Por que disse “de novo”? Nós já fizemos isso antes? –o Doutor questionou.

Desculpe: Encaminhe perguntas com propensão a respostas longas para a nossa secretária eletrônica. Retornaremos mais tarde fornecendo-lhe todo nosso pacote completo de informações sigilosas. Obrigada.—Luisa soltou, arrastando-o para longe dali.

Esquivando-se da multidão, entraram no primeiro beco que viram pela frente e ficaram bem quietinhos. Entretanto, não precisaram esperar muito, já que quatro segundos depois, o rato passou ligeiro por eles, seguindo na direção da massa sem suspeitar do esconderijo improvisado do trio.

Suspirando aliviados, Luisa passou a mão pelos cabelos.

Isso é ridículo. Como ele pode ter nos localizado agora? Tenha santa paciência! Nós fizemos até o Doutor trocar de roupas...

Exato...—a TARDIS assentiu com cara de quem tinha desvendado o dilema. –Mas, nós só disfarçamos a ele. Com toda a nossa ansiedade de cair fora da loja, esquecemos de nos disfarçar também.

Puts! É mesmo!—Luisa gemeu, estapeando a própria testa. –Como pudemos ser tão descuidadas? Temos que nos livrar dessas roupas extravagantes. Pensando por esse lado, agora ficou muito claro que fomos nós duas que chamamos a atenção do Ratongo. Ele sabe como estamos vestidas. Precisamos trocar de roupa!

—Mas como? Não temos mais roupas femininas, lembra? –interveio a TARDIS. Os olhos de Luisa cintilaram.

—Sim. Mas nós temos roupas masculinas. –e imediatamente começou a tirar a blusa. O Doutor arregalou os olhos, e virou para o outro lado, sem saber o que dizer.

O quê? Não! Tantos séculos para conseguir um corpo adequado para poder me embonecar, e agora você vem com essa de andarmos por aí parecendo três marmanjos?—a TARDIS estrilou.

—Desculpe, mas é isso ou entregamos o Doutor de mão beijada –Luisa resumiu, abotoando uma das camisas que rejeitara deixar o Doutor vestir, anteriormente. –Isso! Essa ficou ótima... –sorriu, arregaçando as mangas. Ela já sabia qual seria a decisão da TARDIS. –Tome! Experimente essa. –e jogou uma outra camisa para a loira, que vestiu-a fazendo um bico gigantesco. Aquele segundo descontraído fez Luisa lembrar-se de Melissa. Será que ela ainda usava o mesmo macacão coça-coça, ou já aproveitara a primeira oportunidade que tivera para surrupiar algumas peças de roupas e vesti-las para poder andar tranqüilamente por aí? Seguindo deste raciocínio, acabou pensando em uma coisa de peso muito maior e também, de grande importância: Melissa teria encontrado alguma forma alternativa para conseguir voltar para casa?

Melissa. Por onde andaria aquela garota...?

Distraída, Luisa pôs-se a abrir o zíper da calça, e sincronizadamente, o Doutor cambaleou para trás.

—Ai não! –ele ponderou, levando a mão à testa.

Pare de frescura—Luisa cogitou, revirando os olhos. –Até parece que nunca viu uma mulher trocar de roupa na vida! –ela encarou aquilo como uma tremenda babaquice da parte dele. Especialmente porque, no geral, conviviam diariamente com um nível aceitável de intimidade. Que por sinal, até que era bem discutível, já que sua relação costumava mudar de modo bipolar. Mas isso era material para outra prosa...

—Não é isso não! –ele defendeu-se, fazendo uma careta.

—Então o que foi? –Luisa disse num tom arrogante, enquanto a TARDIS terminava de se trocar. Porém, a arrogância logo transformou-se em preocupação, quando ela se virou e deparou-se com o estado deplorável em que ele se encontrava. –Deus! O que há com você?

Eu definitivamente não estou me sentindo bem...—ele afirmou, enjoado, batendo as costas contra a parede, num tranco leve, mas que o deixou zonzo e desorientado. Luisa veio ao seu amparo, mas já era tarde. Da parede, ele começou a escorregar até o chão, com as mãos na cabeça, e o rosto foi tomado por uma expressão de pura confusão. De repente, queixou-se de estar sentindo falta de ar. Tudo na verdade, ocorreu em uma fração de segundos, mas para o Senhor do Tempo, pareceram horas a fio de angustia.

—Feche os olhos! Rápido, feche os olhos! –orientou a TARDIS, chegando esbaforida. –Vai ajudar a se concentrar...

—Concentrar? –Luisa voltou-se para ela. Sua cabeça estava embaralhada de perguntas. Em seus braços, o Doutor se contorcia de olhos fechados. Ao seu lado, a TARDIS fitou-a com um olhar apaziguador.

—Agora não, querida.

Não... –o Doutor gemeu, quase chorando. Estava grogue, mas ainda sim, persistia lutando contra a dor e o cansaço que queriam derrubá-lo. -Tália... Não.

Luisa franziu o cenho. O Doutor remexeu-se bruscamente em seus braços e ela deixou a questão escapar. Aflita, observou a TARDIS estender a mão para tocá-lo. Quase dava para sentir seu sofrimento. 

—Shhh –a mulher passou a mão em seus cabelos, como se estivesse acalmando um animal ferido. –Está tudo bem. Concentre-se e deixe vir.

Ah... Não... –ele repetia, entre soluços. Em geral, Luisa não tinha certeza de que o Doutor ainda podia escutá-las. Ele parecia tão judiado... A garota nunca tinha-lo visto daquela maneira, tão jogado a esmo. E pensar que tudo tinha alcançado as proporções atuais por causa de uma aterrissagem forçada, em uma droga de um Shopping infernal, localizado no fim do universo.

Tália—ele murmurou, inconscientemente, para depois tossir e contorcer o rosto com uma pontada que sentiu.

Desta vez Luisa voltou-se para a TARDIS com a agilidade de um furão.

—O que ele disse?

—Não dê ouvidos. Está blefando, querida... –a outra aconselhou, calma como sempre. 

Tália... –ele chamou novamente, perturbado.  

—Ele está dizendo o nome de alguém! –Luisa analisou, erguendo as sobrancelhas. –“Tália. Que estranho... Tenho impressão de já ter ouvido esse nome antes.

—Chega, Luisa. –pediu a TARDIS, com educação. –Deixe pra lá. Ele não está dizendo coisa com coisa...

—Sim, ele está! –Luisa protestou, fitando-a com fibra. –E eu acho que entendo o que significa... –ela ponderou prosseguindo, para o descontentamento da TARDIS. –Ah! Agora eu me lembro: Ouvi esse nome na Prisão do Tormento; Na época, o Doutor teve as lembranças manipuladas e eu entrei em sua mente para libertá-lo... A maioria delas eu só conferi de relance, pois estava determinada a salvá-lo, mas havia uma cena em especial, em que uma garota se aproximara dele. Uma garota loira. E ele parecia gostar muito dela...

A TARDIS levou a mão à têmpora, de olhos fechados, como se quisesse cortar o efeito de uma enxaqueca ferrada. Luisa supôs que ela alteraria a voz quando respondesse, irritada pela sua insistência no assunto, mas ao invés disso, sorriu um pouco abatida, e disse, mantendo os padrões habituais:

—Tália era o nome da esposa Gallifreyana dele. –explicou com cautela. Esperou Luisa digerir aquilo, então, prosseguiu. -A primeira mulher que o Doutor amou verdadeiramente. A Lady do Tempo com que se casou e permaneceu ao lado, prosperando durante toda a vida. Com quem teve filhos, que geraram filhos... Da qual, uma delas era Susan, sua neta querida. –fez uma pausa, como se escolhesse as palavras. –Tália, é a mais pura recordação que vem à cabeça dele, quando deseja se lembrar de sua família. Que pena... Até isso a Guerra do Tempo tirou dele—disse, com um tom triste na voz. -Sua família. Seus amigos... Ele perdeu tudo. O único lugar em que as coisas ainda permanecem como eram, é em sua memória saudosista.

Foi então que Luisa percebeu: a TARDIS não estava com enxaqueca. Estava usando seus poderes telepáticos para dar uma introdução melhor sobre a importância daquela mulher na vida do Doutor. Ela não estava somente poetizando... Estava lendo os pensamentos dele.

Aquilo, somado aos prantos quase silenciosos do Senhor do Tempo ao chamar por Tália, fizeram lágrimas começarem a brotar dos olhos de Luisa. Apesar de doloroso, era espetacular saber da ligação forte que ele dividia com quem mais amava. Contemplando-o agora, a garota tinha certeza de que ele deveria ter sido um pai e um avô maravilhoso, sobretudo para Susan.

Na intenção de confortá-lo, Luisa sorriu para ele e segurou sua mão. Inesperadamente, ele se aquietou, e apertou sua palma em retorno.

—Tália. –repetiu, ainda de olhos fechados, sorrindo de canto de lábios. Luisa hesitou, levando a mão livre ao lábio que tremia: sem querer, ela estava se passando por sua esposa. Ficou com pena de enganá-lo, mas quando pretendia se afastar, a TARDIS segurou seu ombro, incentivando-a a permanecer ali, ao seu lado. Luisa acabou aceitando. Se aquele fosse o único jeito de acalmá-lo, então ela daria o seu melhor pela causa.

—Ajude ele a não se esquecer –incentivou a ex-máquina do tempo, segurando Luisa pelos ombros. –O processo está desacelerando. É nessa hora que ele tem que se agarrar nas lembranças, ou então, elas poderão se perder para sempre...–disse, deixando Luisa agitada. Sem perceber o que fizera, a TARDIS emendou: –Não se preocupe. É só ficar com ele. Pode ser a única forma dele não perder a memória, como aconteceu das outras vezes.

—Ele não está desregenerando, como das outras vezes. –reparou Luisa. –Não há energia regenerativa explodindo na nossa cara, nem nada.

—Boa observação –concordou a TARDIS. –Mas isso tecnicamente não significa que ele esteja a salvo... Infelizmente.

Luisa acariciou o rosto do amigo, pensativa.

—Quantos anos ele tinha quando conheceu Tália? –perguntou, num sussurro meio vacilante.

Foi amor à primeira vista—revelou a outra, com uma expressão sonhadora. –Uma paixão que começou na juventude, e que foi se tornando cada vez mais forte, com o passar dos tempos.

Luisa sorriu. Aleatoriamente, lembrou-se de uma situação em que Melissa e ela estiveram especulando sobre quais bens o Doutor carregava consigo, e ele alegara que além do papel psíquico, da chave de fenda sônica, e da própria TARDIS, não havia outras coisas de mais valor. Foi só então que Luisa compreendeu o verdadeiro significado daquilo que o rapaz dissera, há tanto tempo atrás. Porque para ele, as coisas materiais não tinham a mesma importância, que para os humanos; Mas suas lembranças? Sim, essas tinham valor inestimado. Era por isso que não podiam deixar aquilo se apagar. Era provavelmente, o que de mais importante ele possuía consigo. E Luisa lutaria para que permanecessem ali com ele, independente do que viessem a encarar pela frente...

Por entre calafrios, gemidos e caricias das amigas, o Doutor mudou novamente de rosto. Mas, assim como ocorrera da última vez, com o último rosto (que aparentava uns 40 anos), ele também não desregenerara. Infelizmente, as suspeitas da TARDIS estavam corretas: Agora que atravessara o “muro divisório” entre suas regenerações oficiais e seu próprio desenvolvimento biológico, fora-lhe atribuído também um novo método de retrocesso, que envolvia simplesmente “rejuvenescer”. De modo que continuava a voltar em sua própria linha de tempo, mas agora, a partir de um tipo de “ordem involutiva”, que neste caso, não era tão violenta quanto a transformação celular do processo regenerativo, mas que, tão pouco deixava de ser desgastante.

De um jeito ou de outro, era só uma forma complicada de explicar que o Doutor estava há um passo de deixar suas conquistas adultas para trás, e assumir uma postura completamente inovadora, da qual as garotas ainda não tinham lidado. Aquela idéia paralisava-as, mas com a velocidade avassaladora que vinha acontecendo ultimamente, Luisa e a TARDIS acabavam rapidamente se adequando aos novos desafios e perspectivas. Coisa que o Doutor não conseguia, já que, a cada retrocesso, deixava de se recordar de detalhes importantes sobre sua própria vida.

E lá estava ele novamente tendo de encarar aquela situação desagradável. Porém, não parecia estar fisicamente tão diferente: mesma estatura, ainda magro, cabelos escuros e ligeiramente compridos. Um pouco sardento, no fim das contas; Curiosamente, continuava a conservar um certo quê exclusivo do rosto do 1º Doutor, assim como acontecera com seu antecessor. No entanto, a impressão que passava era de tratar-se dele mesmo, praticamente permanecendo ali com a desculpa de estar ficando mais jovem a cada transformação. Sua versão atual aparentava ter pelo menos uns 25 anos a menos que seu ultimo rosto adulto, e ambos eram muito parecidos. Isso sustentava a tese.

Vamos Doutor... Lute! Resista! Não deixe que suas lembranças escapem de você—Luisa sussurrava ao pé de ouvido. Não fazia idéia, mas estava diante de um típico adolescente de Gallifrey, com 127 anos de idade (equivalendo respectivamente a um jovem de 15 anos da Terra); Sem perspectivas, ou idéias maduras. Relativamente desorientado; Completamente tomado por um instinto impulsivo de adrenalina e inconseqüência. Mesmo com o amigo de olhos fechados; Mesmo sem saber de todas essas novas informações; Luisa ainda podia enxergar “O Doutor” nele. Sim! Estava convicta de que tudo terminaria bem...

Aaaah!—inesperadamente ele berrou, sobressaltando-se a si mesmo e as outras duas. Parou sentado, agora com os olhos também abertos. Só então, Luisa percebeu que, com o susto, havia soltado sua mão. Por um segundo, entrou em pânico. Será que ele tinha conseguido permanecer com as memórias? Um silêncio cresceu entre eles. Ela esperava que nada tivesse saído fora do esquema. Não queria que ele esquecesse Tália, nem mais ninguém...

Doutor?—ela piscou diversas vezes ao contemplá-lo. Ele estava muito mais jovem. -E-está tudo bem?

—E por que não estaria? –ele devolveu a pergunta, sorrindo espontâneo. –Certo. Certo. Vamos lá! Onde é que nós paramos meninada? —disparou, cheio de energia: o que era, por si só, muito esquisito. 

Luisa e a TARDIS trocaram olhares tensos e intrigados. Dentre tantas perguntas que poderiam ter feito, a única que conseguiram contestar, foi:

Meninada?

É!—ele disse, animadamente. Elas continuaram sérias, e desta vez ele percebeu. –Qual o problema de vocês? É o meu penteado, não é? É muito extravagante? Tem alguma coisa de errada com a franja, ou...

—Oh, não –a TARDIS corrigiu rapidamente. -Está perfeito. –sorriu, esperançosa, entrelaçando as mãos. 

—Bom, então não vejo problema em continuarmos! –ele caminhou na direção contrária, irrelevando tudo aquilo.

Luisa na suportou ficar em silêncio.

Mas e quanto à Tália!?—manifestou-se, dando um passo a frente. Sua voz estava quase desesperada por uma resposta. Será que todo o seu esforço tinha sido em VÃO?

O rapaz caminhou até ela, fitando-a quase de igual para igual no quesito altura (seu “eu” adolescente agora com apenas nove ou dez centímetros de vantagem) piscou por um momento, então ponderou:

—Tália? —sacolejou a cabeça. Em seu tom de voz, não havia sentimento algum. -Que Tália?

Naquela fração de segundos, Luisa sentiu-se morrer um pouquinho.


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Notas finais do capítulo

...

EU SÓ QUERIA ESTAR VENDO A CARA DE VOCÊS AÍ DO OUTRO LADO

KKKKKKK

Até domingo Meninadaaa!!



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